Fanfic: O BANQUETE | Tema: Clarice Lispector
Da provinciana Bretanha à Paris, viera Rosina, moça raquítica, solitária e sonsa.
Vivia em sua alienação e apreciava ouvir a rádio relógio, gostava de cinema e
tinha o sonho de estrelar um grande filme romântico. No entanto, era datilógrafa,
possuía uma vida medíocre com um passado inexpressivo, sem coragem de ter
esperança.
O ano era de 1898, quando, porventura, Rosina deu a si própria a chance de
mudar de vida e quem sabe ficar mais próxima de seu grande sonho. Foi quando
conheceu a Condessa Mary, que lhe convidou para ser sua acompanhante. Mary
era determinada, muito elegante e possuía alto patamar entre as classes
francesas.
De forma inocente, Rosina aceitou prestar serviços à Condessa. Ambas
possuíam a mesma idade, porém eram destoantes lado a lado. Apesar disso,
Rosina possuía uma essência graciosa, era delicada e muito justa em suas
atitudes, prezava muito pelo bem comum e adorava a companhia de sua nova
amiga. Não estava ali somente pelo interesse de se relacionar com pessoas de
classe alta que nem sabiam de sua existência, estava ali porque acreditava pela
primeira vez pertencer a uma verdadeira amizade, e se sentia finalmente notada.
Mas a Condessa delimitava limites, todavia tolerava por pena muitas coisas que
Rosina fazia para lhe agradar.
Na manhã do dia em que aconteceu, Rosina saiu para seu trabalho correndo
atrapalhada e segurando algumas guloseimas para mais tarde. Quando chegara,
a Condessa não estava presente, perguntou à governanta que lhe informara da
saída de Mary há duas horas atrás. Rosina ficou preocupada, a ansiedade lhe
consumiu e começou a engolir as guloseimas uma atrás da outra, sem saber
nenhuma notícia de onde sua amiga estava. Ficara nervosa, imaginando se
havia feito algo para que a Condessa sumisse. Não conseguia imaginar sua vida
sem sua adorada amiga.
Foi quando a Condessa chegou, séria, inquieta com olhos vermelhos. Assim,
ficara um silêncio total.
Passou-se algumas horas, e o grande buffet da janta fora servido. Mary e Rosina
se juntaram aos demais na mesa, contudo ninguém havia comentado uma
palavra sequer sobre o ocorrido. Rosina estava se deliciando com a janta, já
havia até mesmo esquecido o sumiço da Condessa, estava feliz por sua amiga
aparentemente ter melhorado.
Os demais da casa estavam todos conversando, estava um ar de harmonia entre
a família. Quando, de repente Mary fica vermelha de raiva e grita:
- Vocês todos são grandes hipócritas! Ninguém se preocupa comigo, estão todos
aqui por interesse!
Rosina engasgou-se com a comida, quis falar, começou a gaguejar, estava
surpresa com o palavreado e a agressividade da Condessa. Rosina diz:
- Como assim, Condessa? Estamos todos aqui querendo o seu bem. Somos
amigas!
A Condessa levanta-se da mesa de jantar, e diz em alto e bom som:
- Você não é minha amiga. Você me irrita com esta sua vida tediosa. Contratei
uma moça sem graça como você, apenas para me acompanhar e me deixar
parecer mais bela ainda.
Rosina empalideceu, e estava com a comida ainda parada na boca.
Foi então que Rosina começou a despertar e enfureceu, não entendia como sua
amiga podia desprezar tanto a sua amizade e ter mentido por tanto tempo. Logo,
agora que ela estava se sentindo pertencente a um lugar. Todos aqueles
momentos de alegria que haviam passado juntas, agora já não importavam mais.
A moça sonsa ficara cega de ódio, havia se doado tanto a Mary, fazendo todas
as suas vontades e de tudo para agradá-la.
Levantou-se da mesa, não aguentava mais aquela humilhação. Jogou seu prato
longe e saiu. Todos se exaltaram e notando a gravidade do fato foram atrás de
Rosina. A Condessa sentiu-se aliviada e ao mesmo tempo cruel demais por ter
dito aquilo, aquela moça só estava tentando agradá-la.
Todos estavam à procura dela. Foi quando ouviram um menino gritar: “Ela está
lá em cima”, apontando para a varanda. E lá estava Rosina, de pé no parapeito
da varanda do castelo pronta para protagonizar o ápice de sua cena de cinema,
nunca esperou que seria de terror. Mary vendo aquilo, gritava arrependida para
que a “amiga” não fizesse o pior. Mas já era tarde demais, Rosina estava
decidida como nunca esteve em sua vida. Seu fim fora testemunhado por
inúmeros espectadores que se aglomeram em torno dela. Havia chegado, enfim,
a hora da estrela.
Mary ficou inconsolável. Restaram-se apenas os boatos que naquela amizade
bem que havia dente de coelho.
Autor(a): vitiulli
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