Fanfic: ~A face oculta do amor ~

Dedos frios tocaram seu ombro.

- Tinha que saber, srta. Perroni. Assim como pode ter certeza de que Guido não vai parar de me ver.

- Mas... mas vamos nos casar! - O nó na garganta quase a impediu de falar.

- Ele estará ligado a você apenas por um pedaço de papel. E a mim por muito mais - Bárbara disse, com suavidade. - O que pode lhe oferecer, srta. Perroni? Uma criança ingênua que não sabe nada do mundo. Esse escrúpulo inoportuno de Guido não vai impedir que ele acabe se cansando. Comigo ele tem prazer, uma vida sexual excitante. Acha mesmo que Guido vai desistir disso tudo? E então, Maite, ainda vai se casar com ele?

Maite virou-se com raiva, desvencilhando-se da mão que a segurava. Seu rosto parecia esculpido em cera. As lágrimas continuavam presas em seus olhos castanhos, fazendo-os brilhar como nunca.

- Não lhe devo nenhuma resposta - disse, controlada. - Seja qual for minha decisão, ela ficará entre mim e Guido.

- Mas..

- Isso é tudo o que tenho a dizer. Saia já daqui, Bárbara Mason. Agora!

Quando a porta se fechou, MAite dirigiu-se para a janela. Normalmente gostava de apreciar a vista, o jardim tropical, o oceano incrivelmente azul. Agora tudo lhe parecia tétrico.

Tinha que pensar, e pensar rápido. O casamento era dali a dois dias. Não havia tempo para incertezas ou indecisões. Bárbara teria falado a verdade? Sua crueldade era tão intensa quanto sua beleza. Não poupara esforços para feri-la.

Poderia conversar com Guido, claro. Seria a atitude mais sensata. Podia contar-lhe o que havia acontecido e então ririam juntos daquele absurdo. AmavaGuido, e confiava nele. Pelo menos havia confiado até aquele dia.

Se tivesse um pouco mais de certeza do que estava sentindo, pegaria o telefone e diria a Guido que queria vê-lo. Se ao menos soubesse que tudo aquilo não passava de uma invenção daquela mulher! Bárbara parecia ser do tipo que não hesitava em mentir. O problema é que muito do que ela havia dito tinha um toque de verdade. Como poderia afirmar uma coisa daquelas se o próprio Guido não tivesse lhe contado?

Era verdade que era virgem quando se entregara a ele; era verdade que só depois disso Guido a tinha pedido em casamento. Era verdade que nunca havia dito que a amava... E também era óbvio que uma mulher experiente como Bárbara Mason tinha muito mais a oferecer a ele do que uma garota ingênua de dezoito anos.

Maite correu para o telefone e começou a discar. No último número, parou. Não poderia falar com ele agora. Se tentasse, provavelmente explodiria em lágrimas. Guido acabaria por consolá-la, de um modo ou de outro, e o casamento continuaria de pé. Contudo, as dúvidas e as suspeitas permaneceriam. Toda vez que ele saísse, ficaria se perguntando onde e com quem ele estaria.

Foram dois dias de inferno, até que ela finalmente decidiu desistir do casamento. Não teve coragem de enfrentar Guido pessoalmente, nem por telefone. Aos poucos, as palavras de Bárbara Mason foram se tornando mais e mais contundentes, a ponto de fazê-la passar mal, só de lembrar. Convenceu-se de que fazia o melhor rompendo com Guido sem maiores explicações.

Três semanas mais tarde, Maite descobriu que estava grávida. Nesse meio tempo, muita coisa havia acontecido: a carta que explicava a Guido sua decisão, a visita dele. Ele havia ficado furioso quando soube que ela não desejava vê-lo. Sem contar a raiva de Christian e a preocupação de Anahí.

Então decidira construir vida nova em Poinsettia, o sítio dos pais que ficava na costa sul de Natal. Christain e Anahí ainda tentaram dissuadi-la. Diziam que o sítio era muito isolado, que estava em péssimas condições, e que Christian até pensara em vendê-lo. Seu irmão não conseguia entender que precisava de um lugar onde pudesse deixar que as feridas cicatrizassem, um lugar onde pudesse chegar a uma conclusão sobre tudo o que acontecera. Além disso, Guido jamais poderia encontrá-la lá. Já deixara bem claro que ele não deveria saber de seu paradeiro.

Anahí se mostrara mais compreensiva, embora concordasse com o marido de que Maite estava errada em se isolar tanto. Às vezes seus olhos azuis pousavam no rosto abatido da cunhada, intrigados, como se desconfiasse de que Maite não lhe tinha contado toda a verdade.

Uma parte de Maite ansiava por se abrir com a moça a quem amava como se fosse a irmã que nunca havia tido. Mas havia outra parte, uma parte mais forte dela, que insistia em dizer que devia enfrentar seus problemas sozinha.

Sua primeira reação ao saber que estava grávida havia sido de puro pânico. Teve vontade de correr para as pessoas que amava: Christian, Anahí. . E Guido. Contudo, após o choque inicial, soube que não recorreria a nenhum deles. Não era difícil imaginar qual seria a reação de Guido. A nobreza de sentimentos que o obrigara a pedi-la em casamento, sem pensar duas vezes, voltaria com mais força. Pois agora não se tratava mais de um caso de “virgindade perdida”, e sim de uma criança, cujo pai era ele.

Decidiu que também não contaria nada a Christian e Anahí. Não por enquanto. A verdade não poderia ser escondida de sua família por muito tempo, mas, com um ímpeto de independência e teimosia,Maite resolveu que criaria o filho sozinha. Enfrentaria qualquer coisa.

E de algum modo havia conseguido, embora não sem dificuldades. Pôde contar com o dinheiro deixado pelos pais. Não era muito, mas, com os lucros que a plantação de frutas do sítio lhe rendia, conseguira sobreviver dignamente.

Agora Lucas estava com dois anos. Christian e Anahí, que a princípio mostraram-se profundamente magoados por não terem sido informados de sua gravidez, adoravam o sobrinho. Para surpresa de. Maite, o povo de Sea View também a recebeu de braços abertos. Havia muitas pessoas na cidadezinha que a conheciam desde pequena, mas ninguém pareceu chocado com sua situação.

Por muito tempo, Guido esteve presente em seus sonhos, levando-a quase ao desespero. Agora, no entanto, isto acontecia cada vez com menos freqüência. Seu maior problema, no momento, era a saúde do filho. Lucas havia nascido com um problema de coluna que, embora não fosse muito grave, não deixava de lhe causar grande preocupação. Ela não podia esquecer que ele precisaria de uma cirurgia. A data foi confirmada na consulta que fez naquela tarde. Se tudo desse certo, a operação aconteceria em poucos meses.

E isso significava muito dinheiro. Dinheiro... que Maite não tinha. Não podia nem mesmo recorrer a Christian, pois sabia que o irmão atravessava dificuldades. E se ele soubesse da situação delicada de sobrinho, sem dúvida moveria mundos e fundos para tentar ajudar. Maite não queria isso, pois tal ajuda, com certeza, os sacrificaria. Precisava arranjar outro modo de conseguir o dinheiro.

A tempestade tropical descarregou sua fúria na terra e no mar. A chuva açoitava as árvores, impiedosamente. Os trovões ribombavam no céu carregado e, embora o mar ficasse a quase um quilômetro dali, Maite podia ouvir a violência do quebrar das ondas. No entanto, não se deixou abalar pelo quadro assustador que via à sua frente. As tempestades eram rotineiras por ali, naquela época do ano. Eram violentas, mas breves. Logo o sol voltaria a brilhar entre as nuvens, e a terra ganharia nova vida e frescor.
O que a preocupava era a presença de Guido, tão perto. O que o havia trazido até ali? Não a certeza de que a encontraria, disso Maite estava certa. Não havia razão para que Guido fosse procurá-la. No entanto, a presença dele era mais um problema... e dos grandes.
Lucas já dormia há mais de uma hora, quando uma batida na porta rompeu o silêncio. Maite sentiu-se enrijecer. Não precisou pensar muito para saber quem estava ali. No fundo, já o aguardava.

Continuo?