Fanfic: ~A face oculta do amor ~

- Por acaso viu algum fantasma? - Chistopher riu, bem-humorado.

- Oh, não. - Maite sorriu para o amigo, sem jeito. - Entre. Ucker.

- Esqueceu que prometi passar aqui quando estivesse voltado para casa?

- Não... claro que não. É que já é tarde e pensei que não viesse mais.

- Eu teria chegado mais cedo se uma determinada vaca não tivesse demorado tanto para dar cria. - Christopher franziu a testa ao ver a palidez da amiga. - Maite, há alguma coisa errada?

- N-não... Verdade. Vou fazer um chá para você.

- Aceito. - Ele a olhou preocupado. - Levou Lucas ao médico?

- Sim. Ele vai ter que ser operado.

- Logo?

- Em poucos meses.

- Não é à toa que está tão pálida. . - Num minuto, Christopher estava ao lado dela. Quando seus braços a envolveram, Maite encostou a cabeça no peito forte. Precisava de conforto.

- Eu sabia que a operação teria de ser feita mas, assim mesmo, foi um choque - confessou angustiada.

- Imagino. - Christopher ficou em silêncio por um instante. - O médico disse quanto vai custar?

- Disse.

- E isto também está preocupando você, não é?

- É.. - Maite levantou a cabeça e olhou o amigo, com ar de determinação. - Mas vou dar um jeito.

- Vai falar com seu irmão?

- Não. - Uma sombra passou pelos olhos castanhos. - Não, a menos que seja absolutamente necessário.

Quando sentiu a pressão da mão dele em seu ombro, mai soube o que estava por vir. Não conseguia entender por que Christopher nunca lhe despertava emoções, a não ser um misto de ternura e afeto. Era tão diferente do que sentia com Guido.

- mai, querida. Vou lhe perguntar mais uma vez.

- Não, Ucker - ela se afastou dele, com delicadeza.

- Por que não? Sabe que quero me casar com você. Não tenho muito dinheiro, mas poderíamos dar um jeito, Maite - Os olhos castanhos-claros a olharam, aflitos. - Pelo menos tenho o direito de ajudar, não tenho?

Não era a primeira vez que Christopher a pedia em casamento, e como das outras vezes, Maite tinha ficado tentada a aceitar. Talvez sua vida com ele não fosse excitante como teria sido com Guido; talvez jamais esquecesse a paixão louca que existira antes, mas ao menos encontraria um pouco de tranqüilidade. Não havia pessoa mais aberta e descomplicada do que Christopher. No entanto, sempre que ele fazia aquela proposta, a imagem de Guido se colocava entre eles.

Desta vez, a tentação de dizer “sim” estava mais forte do que nunca. Christopher adorava Lucas; jamais havia feito perguntas indiscretas a respeito do garoto e, sem dúvida, o amaria como se ele fosse seu próprio filho. Não seria o fim de seus problemas financeiros, mas Christopher lhe daria o apoio emocional de que tanto necessitaria nos próximos meses.

- Ucker... - ela falou, a voz embargada. - Sempre foi tão bom para mim.

- Bom?! - Uma sombra de frustração passou pelos olhos castanhos. - Maite, eu te amo! Será que não entende?

- S-sim, mas... Por favor, Ucker, não me pressione. Eu não posso!

- Se existisse outra pessoa em sua vida, talvez eu entendesse. - Ele a encarou, intrigado. - Mas vive sozinha. Não há ninguém mais, pelo que eu saiba. Não pretende se casar nunca?

- Um dia, talvez. Mas por enquanto prefiro não pensar nisso. Venha, tome o chá antes que esfrie.

Resignado, Christopher concordou, sentando-se à mesa e pondo-se a falar sobre seu trabalho. Ficou satisfeito quando um sorriso amenizou a preocupação nos olhos castanhos de Maite. Ela contou as últimas travessuras de Lucas, falou da viagem e da consulta.

Finalmente, ele olhou o relógio e levantou-se para ir embora. Estava na porta, quando se voltou para ela.

- Vi uma luz naquele chalé, na parte alta da estrada. Sabia que ele havia sido alugado?

- Sim. - Ela virou o rosto, tentando parecer natural, mas Christopher a fitou, desconfjado.

- Já viu o novo inquilino?

- Rapidamente. - Maite hesitou, amaldiçoando o rubor que lhe subiu às faces. - O nome dele é Guido Laris. Ele... ele é um artista.

- Sei... - Christopher permaneceu no mesmo lugar, observando o brilho intenso nos olhos da amiga. - Parece... agitada. Por acaso teve algum problema com esse cara? Ele lhe passou alguma cantada?

- Graças a Deus, não! lsto é... bem, é que fiquei surpresa de reencontrá-lo.

Uma nova expressão suavizou os traços bonitos de Christopher.

- Então já conhecia esse tal de Laris.

- Mais ou menos. - “Chega, Ucker, pelo amor de Deus!”, ela implorou em silêncio. “Não posso falar disso. Não agora. Talvez nunca!”

Christopher ainda olhava para ela, desconfiado. Era óbvio que percebera seu mal-estar e estava ansioso para fazer perguntas, mas em vez disso, com o tato e a delicadeza que faziam dele um homem encantador, aproximou-se e deu-lhe um beijo rápido no rosto.

- Durma bem, meu anjo. Passo aqui amanhã, se tiver tempo.

Ela estava exausta, louca para se deitar, mas assim mesmo o sono custou a vir, com tantos problemas e imagens povoando sua mente. Tanta coisa tinha acontecido em tão poucas horas.Não queria nem pensar no que ainda estava por vir.

A necessidade de Lucas ser operado tinha se tornado uma realidade. Precisava acostumar-se com a idéia, por mais apreensão que lhe causasse. A presença de Guido não era menos real. E teria que se adaptar a isto também, lutando para mantê-lo a distância. Precisava mostrar-se inflexível, sem deixar-se arrastar pela emoção. Devia ser a mulher madura que Guido esperava encontrar depois de três anos.

Não ia ser fácil. Naquela tarde, havia tido uma demonstração de como ele ainda podia dominá-la. Quando ele lhe puxou o corpo e os dois ficaram praticamente grudados, chamas de desejos, que ela não acreditava que ainda existissem, correram por suas veias. Guido agira tomado pelo ódio, pelo desejo de vingança, talvez, mas o corpo de Maite havia respondido como se tivesse recebendo carícias de um amante.

Se pudesse se casar com Christopher ! Era só dizer uma palavra e ele daria andamento nos papéis. Tantas vezes ele a tinha ajudado pensar com clareza, a enxergar as coisas de outro modo.

Não. Não podia fazer isso. Pelo menos até ter certeza de que estaria sendo leal com ele. E com ela mesma.

Mais uma vez, a imagem de Guido lhe voltou, clara e nítida. à cabeça. Ele aparecia com um sorriso sarcástico, satisfeito pelo desespero que provocava. Com um suspiro profundo Maite pulou da cama e correu para a janela aberta onde pôde respirar o ar fresco da noite.