Fanfic: Uma herança para dois - Ponny, AyA | Tema: rebelde, rbd

O barulho da chuva era o único som que se ouvia naquele escritório de advocacia. Alfonso olhava o relógio a cada minuto. Onde estava aquela garota? Ela era sempre tão estranha, atrasada, inconstante… Mal teve tempo de completar seu pensamento, lá estava ela, entrando pela porta do escritório com um enorme guarda-chuva cor de rosa que molhava todo o hall.

- Desculpem o atraso. 

Ela sorriu nervosamente e começou a girar ao redor do seu próprio corpo, tentando descobrir onde deixar aquele guarda-chuva. Resolveu encostá-lo junto à porta, ainda pingando.

- Já esperávamos seu atraso, Anahí. - Alfonso pontuou secamente, sem deixar de olhar para o advogado a sua frente.

- Sofia estava impossível hoje, Alfonso. Não quis me atrasar. - Anahí revirou os olhos antes de sentar na cadeira ao lado de Alfonso.

- Certo. O que importa é que os dois estão aqui. Precisamos falar sobre Angelique e Sofia.

- Estamos aqui para isso. - Anahí forçou um sorriso sem graça.

- Bem… Angelique sabia que iria morrer. Então… - o advogado deixou dois envelopes sobre a mesa. 

- Angel escreveu cartas? - Anahí perguntou confusa.

- Sim. Para os dois.

Anahí afundou na cadeira. Aquele envelope parecia assustador. “Annie”, ela reconheceu seu apelido escrito, do lado de fora do envelope, com a letra de Angelique, a letra que ela conhecia tão bem. 

Elas sempre trocaram cartas, desde que eram crianças. Mesmo que não houvesse necessidade, mesmo que morassem a poucas casas de distância, sempre encontraram na escrita uma boa forma de dizer tudo o que era preciso. Mas, agora, aquilo era diferente. Angelique não estava mais ali e ela estava sendo vivendo em uma casa onde era chamada de Anahí.

Ela sempre foi Annie. Para os pais, para a família, para os amigos, os alunos, para Sofia e até para os colegas de trabalho, mas não para Poncho. Ele não era seu amigo e, ultimamente, mal era um ser humano, vagando pela casa em silêncio, enquanto Sofia necessitava da atenção dele. Era irritante! E ele ainda a chamava de Anahí, para irritá-la, ela tinha certeza, da mesma forma que ela o chamava de Poncho para irritá-lo.

 Mas, naquele momento, diante daquele advogado silencioso e daquelas duas cartas, Annie sentia que entendia Poncho. Eles sentiam dor e raiva. Dor pela saudade, pela partida de Angelique, por entender que a vida é um sopro e que não é possível segurá-la. 

Sentiam raiva do câncer, das doenças que aparecem e derrubam tudo. Sentiam raiva de Angelique por ter ido embora, por não ficar, por deixar cartas, por achar que qualquer papel escrito poderia bastar, por não estar ali.

Poncho podia jurar que viu Anahí olhar para ele pelo canto do olho. Ele sabia a infinidade de emoções que passava por ela. Sabia, porque essas mesmas emoções também passavam por ele e aquele era um dos poucos momentos em que eles pareciam ter algo em comum.

- Não precisam ler agora. - o advogado decidiu prosseguir, diante do silêncio dos dois.

- Não vamos ler e não precisamos disso. - Alfonso empurrou o envelope para longe. - Somos colegas de profissão, Alex, pode ser gentil e ir direto ao ponto? Pelo menos por respeito a outro advogado.

- Alfonso, com todo o respeito, não está neste caso. Sua irmã procurou por mim, porque precisava que todos os seus desejos fossem atendidos mesmo depois que ela partisse. Ela imaginou, Alfonso. Imaginou que você estaria irritado e silencioso, que acharia tudo isso mais uma de suas extravagâncias, mas ela se foi e deixou apenas seus últimos desejos. Então… - Alex empurrou o envelope de volta para Alfonso. - Ela deixou suas últimas palavras. É um presente, Alfonso.

Alfonso continuou em silêncio, pegou o envelope sobre a mesa, abriu sua pasta e guardou ali, ainda sem dizer qualquer palavra.

- Certo. - Annie pegou o envelope com seu nome e guardou na bolsa. - O que mais Angelique deixou para nós.

- O apartamento onde vocês duas viveram até que ela descobrisse sobre a doença é seu, Anahí. Ela mesma dizia que sempre foi de vocês duas. 

- Eu… Angelique não deveria ter feito isso…

- Sempre estiveram juntas, Anahí. - Poncho respondeu secamente. - Meus pais deram aquele apartamento para ela, mas sempre souberam que estariam juntas. E sempre estiveram juntas, não faça caso por bobagem, não dramatize.

- Angelique deixou o baú dos tesouros para você, Alfonso. Ela disse que você saberia o que é. 

- Angel… - Alfonso não pôde deixar de sorrir. - Sim. Eu sei do que se trata. - ele balançou a cabeça pensando na irmã e no baú de tesouros que eles dividiram na infância.

- Vocês moram na casa que foi dos seus pais, certo?

- Sim. Pensamos em vender, mas acabei não tendo coragem. Angelique estava feliz vivendo no apartamento com Anahí, então, aluguei meu antigo apartamento e me mudei para lá…

- Quando descobrimos que Angel estava doente, começamos a passar muito tempo na casa do Alfonso. Depois de um tempo, ficou mais fácil distrair Sofia em um casa com balanço, piscina e quintal.

- Já têm experiência em cuidar da pequena Sofia juntos…

- Temos nos virado neste último mês. - Alfonso respondeu desconfiado.

- Angelique deixou a guarda da menina para vocês. Para vocês dois. Juntos.

- Juntos? - Anahí olhou para Alfonso.

- Não estamos entendendo muito bem, Alex.

- Angelique acreditava que o mínimo de mudanças na vida de Sofia seria o melhor e também acreditava que a menina precisava de vocês dois.

- Ela já havia dito algo assim… - Anahí relembrou as últimas conversas com a amiga.

- Angelique sugeriu que nós dois vivêssemos juntos. É isso?

- Nós três. - corrigiu Annie.

- Vocês já moram juntos, não é mesmo?

- Sim. Mas era uma solução temporária. - Annie respondeu rapidamente.

- Um ano. O que ela desejava era que as coisas mudassem o mínimo possível para Sofia, pelo menos, por um ano. 

- Continuar na casa por um ano. - Annie repetiu como se tentasse entender.

- Sofia precisa de mim. - Alfonso virou-se para Annie.

- Ela precisa de mim também.

- Eu sei. - ele respondeu sinceramente.

- As jóias dela e a parte dela nas propriedades dos pais, tudo é de Sofia e vocês são igualmente responsáveis pelos bens dela até que ela complete 18 anos.

- Claro… - Anahí ainda estava perdida com as últimas informações.

- Mais alguma coisa, Alex?

- Preciso que assinem alguns documentos, deixando claro que tomaram ciência de tudo, que estão de posse das suas heranças e que concordam com os termos da guarda da criança.

- E podemos não concordar? - Annie questionou ironicamente.

- Na verdade, Anahí, vocês podem, mas nós precisaríamos levar o caso ao juizado, o que demandaria muito mais tempo e desgaste.

- Para nós e para Sofia. - Alfonso completou olhando para Anahí.

- Sim. Além disso, não seria o desejo de Angelique.

- E Sofia sentiria falta de algum de nós de qualquer forma.

- Um ano não é tanto tempo, Anahí. E a casa é enorme, podemos respeitar o espaço um do outro. Assim fica mais fácil dividir as obrigações com Sofia. Além disso, seu apartamento estará lá para quando quiser fugir de mim.

- Sim. Meu refúgio. - Anahí sorriu. - Mas e sua noiva? Outra mulher vivendo na sua casa por um ano… Não sei… É difícil.

- Dulce é outro problema. Minha irmã acabou de morrer, minha sobrinha acabou de perder a mãe. Por mais difícil que sejam as coisas, ela vai precisar entender.

- Ah, claro. - Anahí riu. - Não é tão simples, senhor mandão! Mas… Que seja! Seu relacionamento não é problema meu. Sobreviveremos aos doze meses. - ela estendeu a mão para apertar a dele.

- Obviamente. - ele apertou a mão dela.