Fanfic: Uma herança para dois - Ponny, AyA | Tema: rebelde, rbd

Anahí e Alfonso assinaram os documentos, depois de conferirem tudo com cautela. Poncho despediu-se de Alex com um aperto de mão breve e firme. Annie cumprimentou o advogado com um sorriso, enquanto apertava a mão dele.

A jovem conferiu a hora, precisava ir buscar Sofia na escola, era a primeira vez que a menina voltava aos estudos desde o falecimento de Angelique. Saiu apressada do escritório do advogado e quase não ouviu Alfonso chamar seu nome.

- Anahí!

- Ham? Oi! - ela virou-se finalmente.

- Você é tão esquecida! - ele estendeu o guarda-chuva para ela.

- Sou. - ela forçou um sorriso. - Quero chegar à escola antes que Sofia seja liberada. É o primeiro dia dela desde que…

- Já chamou o táxi? - ele a interrompeu.

- Estou tentando. - ela mostrou a tela do celular. - Dias de chuva. Sabe como é. 

- Sim. Sei. 

- Não pode me dar uma carona?

- Sabe que preciso voltar ao trabalho, Anahí.

- É o primeiro dia da sua sobrinha de volta à escola. Se você não ajudar, vou chegar atrasada. 

- Sua afilhada. O combinado era você buscá-la.

- Para variar. - Annie revirou os olhos.

- O que quer dizer?

- Não quero dizer nada, Alfonso. - ela abriu o guarda chuva e caminhou para fora do prédio. - Vou andando. Acho que chego mais rápido. 

Alfonso passou a mão nos cabelos irritado. Como ela era irritante e teimosa! Algumas vezes, como essa, manipuladora. Ela sabia muito bem que ele não a deixaria andar por aí debaixo de chuva, ainda mais com Sofia.

- Anahí. - ele chamou firme, mas ela fingiu não ouvir. - Que droga, Anahí! - ele chamou um pouco mais alto. - Eu não posso ficar ensopado de chuva, garota! Ainda preciso ir para o escritório.

Annie continuou andando, calmamente, com um sorriso debochado nos lábios, enchendo seus sapatos de chuva. Alfonso, vendo que ela não pararia com seus gritos, pôs-se a correr até ela, puxando Anahí pelo braço.

- Olha só o que você fez! - ele apontou para sua própria roupa.

- Hum. - ela o olhou de cima a baixo e o puxou para debaixo do guarda-chuva. - Eu disse que iria sozinha, veio para baixo da chuva porque quis.

- Nossa! Adoro seu senso de humor. - ele respondeu com um tom irônico. - Queria que eu morresse de culpa por deixar você andando na chuva com Sofia.

- Sei lá. - ela deu de ombros. - Não sei se você sente culpa. 

- Vamos logo, Anahí. - ele mostrou a chave do carro. - Agora nem posso ir para o escritório nesse estado.

- Sofia vai adorar saber que o tio terá tempo para lanchar com ela em casa. - Anahí piscou para Alfonso. - Vamos! - ela pendurou o braço no braço dele, caminhando para o carro enquanto sorria satisfeita. 

- Tio? 

Sofia pareceu confusa por ver o tio ali, mas logo abriu um sorriso imenso, daqueles capazes de derreter até mesmo a maior das geleiras. E Alfonso, que na maioria das vezes era uma geleira, virava picolé sob o sol quando estava com Sofia. 

A menina correu na direção do tio que agachou no chão, ignorando a chuva, e abriu os braços para a sobrinha. Anahí olhava a cena sorrindo. Ultimamente, era difícil ver qualquer um dos dois sorrir.

- Não acredito que você veio! - Sofia pulou no colo do tio que levantou com ela no colo, girando a menina no ar.

- Seu tio me disse que não abria mão de vir buscar você hoje. Ele estava ansioso.

Annie dizia cada palavra com um sorriso nos lábios, enquanto Alfonso olhava para ela com um semblante fechado. Anahí se aproximou dos dois com o guarda-chuva, evitando que eles Poncho e Sofia ficassem muito molhados.

- Como foi sua aula? - perguntou Alfonso, ignorando Annie.

- Foi boa. - a menina deu de ombros desanimada. - Quero ir para casa.

- Você costumava gostar da escola. - Alfonso colocou a menina no chão, olhando nos olhos dela.

- É, tio, eu gostava. - Sofia permaneceu séria, com o mesmo olhar distante que a mãe fazia quando estava triste com algo, mas não queria dizer nada.

- Eu vim lanchar com você. - Alfonso exclamou sorrindo e olhando de rabo de olho para Annie.

- Ah, é mesmo, Ponchito? - perguntou Anahí com um tom irônico na voz.

- Ponchito. - Sofia soltou uma gargalhada gostosa. 

- Você quer mesmo falar de apelidos? - Poncho resmungou para Annie.

- Idiota. - Annie revirou os olhos.

- O que quer comer, Soso? 

- Bolo de chocolate! - Sofia abriu um imenso sorriso enquanto falava.

- É claro. - Poncho achou graça da escolha óbvia de Sofia. 

- Hum… Uma torta de chantilly com morango… - Annie suspirou lambendo os lábios.

- Ah, você também vai? - perguntou Poncho com um sorriso nos lábios.

- Você vai, dinda? - Sofia pulou sorrindo na direção de Annie. 

- Ah, sapeca! Lembrou que eu existo, né? - Annie abaixou, dando um beijo no rosto da menina. - Só tem olhos pra esse seu tio sem graça. Mas eu vou sim, não vou perder a oportunidade de comer de graça. - Anahí piscou para Sofia que sorriu. 

- Então, vamos! 

Sofia sorria dando uma mãozinha para Poncho e outra para Annie, enquanto a madrinha tentava proteger os dois com o guarda-chuva. Era um momento raro em que era possível arrancar um sorriso da pequena. Ela, que sempre fora luz, risadas e amor, havia se apagado um pouquinho desde a partida da mãe.

Enquanto caminhavam de mãos dadas, Annie olhou disfarçadamente para Alfonso. Ele era sisudo. Tinha uma expressão tão fechada que, em alguns momentos, parecia ter mais do que os 32 anos que, de fato, tinha. Ele quase nunca sorria e Anahí achava aquilo irritantemente pretensioso, sentia como se ele achasse que era bom demais para sorrir.

Na verdade, Annie pensou melhor, ele quase nunca ria de verdade ou gargalhava, mas, muitas vezes, tinha um sorriso irônico e pretensioso nos lábios. Como ela odiava aquilo! Apesar disso, duas pessoas faziam nascer um Alfonso que Anahí mal reconhecia, Angelique e Sofia. As duas faziam com que ele parecesse quase suportável. Pelo menos até um tempo atrás, antes da partida de Angelique, quando ele ainda era um ser humano. 

Anahí sabia que Alfonso estava fazendo um grande esforço para animar Sofia. Nos últimos dias, ele havia falado muito pouco, mesmo com sua noiva, Dulce, ou com Sofia. Ele era apenas silêncio e reflexão. Parecia distante, perdido, com olhos de quem já não sabe mais para onde vai a vida. De certa forma, por menor que fosse a simpatia que tinha por Poncho, Annie o entendia, ele havia perdido tanto! Havia perdido quase tudo e, mesmo assim, estava ali, pensando em bolos de chocolate para a sobrinha, porque entendia que era um dia difícil para ela.

Apesar disso, Anahí não estava disposta a facilitar as coisas para Poncho. Ela também estava sofrendo. Havia perdido sua melhor amiga, seu porto seguro, sua companheira, sua confidente. Não podia e não ia cuidar sozinha de Sofia, enquanto ele se escondia em seus próprios sentimentos. Ele precisava estar ali, era obrigação dele também e ela cobraria isso.