Fanfic: Uma herança para dois - Ponny, AyA | Tema: rebelde, rbd
O carro parou e Annie despertou de suas lembranças. Olhou para Alfonso que utilizava o controle remoto para abrir o portão da garagem. Depois, olhou para Sofia, no banco de trás do carro, olhando pela janela, distraída. Aquilo ali era o resumo de onde a amizade com Angelique a fez chegar. Anahí sempre repetia para si mesma que nunca entregaria sua felicidade nas mãos de alguém, mas, desde muito tempo, sua felicidade dependia do bem-estar de Sofia e Angelique e, desde a partida de Angel, nada estava bem.
- Vamos?
Assim que Poncho estacionou o carro, Anahí desceu e voltou-se para Sofia, que estava no banco de trás. Annie sorriu e estendeu a mão para que a menina descesse.
- Princesa, vá direto tomar seu banho. Ainda quer comer alguma coisa?
- Não, dinda.
- Está com essa barriguinha cheia de bolo de chocolate, não é mesmo? - Annie sorriu, enquanto fazia cócegas na barriga de Sofia.
- Sim! - Sofia gargalhava com as cócegas.
- Ela não é a única que se fartou de doce. - Poncho comentou enquanto terminava de fechar o carro.
- E não me arrependo! - respondeu Annie sorrindo. - Agora vai, Sosô. - Anahí entregou a mochila para a afilhada. - Já vou ao seu quarto ajudar com o dever de casa.
- Tá bom, tia.
- Nós precisamos conversar. - assim que a pequena Sofia sumiu em direção ao interior da casa, Annie voltou-se para Alfonso.
- Nós? Conversar sobre o que?
- Sobre Sofia.
- O que tem Sofia? - Poncho recostou-se no carro, olhando para Annie.
- Bem… Há muitas coisas sobre Sofia que são dignas de conversa, mas, neste momento, falo do fato de dividirmos a guarda dela.
- Sim. Isso já está decidido, certo?
- Certo. Mas quero saber se você entende o conceito de dividir. - O meio sorriso de Annie denunciava que seu tom era irônico.
- Não comece com suas ironias, Anahí. Vá direto ao ponto.
- Hoje, depois que Sofia dormir, você e eu teremos uma reunião e vamos definir, por escrito, todos os termos da divisão de tarefas com relação à criação e aos cuidados da Soso.
- O quê? - Poncho soltou uma risada. - Você não tá falando sério, né?
- Estou falando muito sério.
- Anahí, eu trabalho muito, e tem a empresa…
- Blablabla, pobrezinho do Ponchinho. - Annie viu a expressão de Alfonso fechar. - Eu também trabalho e tenho uma vida, mas agora Sofia é nossa prioridade. Não é?
- É claro que é. - Ele respondeu ainda com a expressão fechada e a testa franzida.
- E nós precisamos viver em paz por ela. Certo?
- Certo.
- Então, Poncho, acertar tudo e dividir tudo deixará menos pesado e evitará brigas. Eu não posso e não vou cuidar da Sofia sozinha.
- Eu nunca pedi isso.
- Não. Mas esteve ausente.
- Anahí, eu… - Poncho começou a alterar o tom de voz.
- Fale baixo. O que passou passou e não importa. Estamos todos nos recuperando de uma grande perda e não sabemos como agir. É por isso que vamos resolver tudo e deixar tudo bem claro. Você está de acordo?
- Certo.
- Ótimo! - Annie sorriu e piscou para ele. - Vejo você assim que Sofia dormir.
Annie entrou em casa sentindo-se pesada. Era sempre cansativo conversar certas coisas com Alfonso. Viver com Angelique era fácil e elas quase nunca brigavam. Eram sinceras e diretas, muitas vezes eram até grosseiras uma com a outra, mas tudo era resolvido rápido e terminava em bons sorrisos, a vida era boa. Enquanto Angelique ainda era viva, sua doçura e paciência dissolvia o mau humor de Poncho. Ela sabia lidar com ele. Mas desde que Angel partira, Annie sentia a tensão que era viver naquela casa e ter que discutir a todo o tempo e por tantos motivos.
Alfonso nem sempre foi assim. Annie lembrava um tempo em que ele era gentil, agradável e sarcástico de um jeito charmoso. Ele era popular e querido por todos e, por mais que eles trocassem farpas, Poncho também era cuidadoso e prestativo com ela. Então, Tereza e Paulo, pais de Poncho e Angel, partiram, de uma hora para a outra, mostrando que a vida é um sopro.
A partir dali, Anahí viu Alfonso mudar. Ele tinha acabado de completar 19 anos, quando perdeu os pais. Era janeiro e, como sempre, a família estava viajando para a casa de praia. Angelique não quis ir, não queria perder nenhuma festa com os amigos.
Foram dois carros. No primeiro carro, estavam apenas os pais de Angelique e Alfonso. No segundo carro, Poncho dirigia, acompanhado por Nathália, além de Lucas e a namorada que viajam no banco de trás.
O final de semana foi ótimo, mas Poncho aproveitou muito mais do romance com Nathália e da parceria com Lucas do que da companhia com os pais. Nada disso era incomum ou errado, mas depois de tudo, ao remoer tantas vezes aquela viagem, Alfonso sentiria culpa por cada momento que desperdiçou.
Na volta, os pais seguiram na frente, acompanhados pelo carro de Poncho que vinha logo atrás. Pararam por um instante para comprar uma coca-cola para Nathália que sempre enjoava na estrada. Foi apenas um pequeno instante que fez com que o carro de Tereza e Paulo estivesse mais adiantado.
Então, após comprar a coca, Alfonso voltou a seguir viagem e não demorou muito até precisar reduzir novamente. Um acidente. Um carro da mesma cor do carro dos seus pais. Não podia ser, ele pensou, isso não seria possível. Mas era.
Alfonso ficou ali, de pé, sentindo um gosto estranho na boca e tentando entender como era possível que ele sentisse que podia ver a si mesmo de fora, como se sua alma e seu corpo não estivessem no mesmo lugar.
Ele não se lembrava de ter visto seus pais, nem ao menos sabia dizer se eles já estavam mortos quando ele chegou. Para dizer a verdade, se não fossem as palavras de Nathalia, Poncho nem saberia que foi ele mesmo quem ligou para a emergência.
Depois disso, Alfonso mudou. Annie percebeu que ele havia mudado no instante em que pôs os olhos nele, já no velório de Paulo e Tereza.
Anahí estava com Angelique, quando Alfonso ligou para a irmã pedindo que ela voltasse para casa porque seus pais haviam sofrido um pequeno acidente. Ele não disse o tamanho do acidente. Ele nem de longe falou em morte. Então, Angel pediu que Annie a acompanhasse até em casa.
Alfonso esperou até que a irmã chegasse e contou a ela, com o maior cuidado e controle emocional que alguém poderia ter, tudo o que havia acontecido. E então Angelique desmoronou. Ela ruiu como uma grande construção, fazendo um estrondo enorme e abalando a todos à sua volta.
Enquanto isso, Alfonso permaneceu como uma daquelas construções condenadas que está de pé, mas não deveria. Seu semblante era fechado todo o tempo, as sobrancelhas permaneciam franzidas e a mandíbula parecia sempre trancada, mas nenhuma lágrima saía de seus olhos. Na verdade, ele ficava todo o tempo ajudando o tio a resolver tudo sobre o velório ao mesmo tempo que preocupava-se com Angelique e tentava estar sempre perto dela.
No dia em que ocorreu o velório, Annie dormiu na casa de Angelique e Alfonso, no quarto da amiga. Angel, por sua vez, adormeceu abraçada a Anahí, depois de chorar por horas.
Já passava das duas da manhã, quando Annie decidiu desvencilhar-se delicadamente de Angel e ir até a cozinha beber água. Afinal, não era tão fácil dormir com Angel sobre ela daquela maneira.
Quando desceu as escadas, Annie estranhou ver a luz da sala acesa. A casa estava tão silenciosa e já era tão tarde que ela estava certa de que Alfonso dormia abraçado a Nathália da mesma forma que Angelique havia dormido sobre ela. Mas não. Na verdade, ali estava ele, sentado no sofá, observando, silenciosamente, um álbum de fotografias que repousava sobre seu colo.
Annie aproximou-se do sofá sem fazer muito barulho, mas tentando não ser tão silenciosa a ponto de surpreende-lo. "Sem sono?", ela perguntou delicadamente, fazendo com que Poncho se virasse para ela e abrisse um meio sorriso.
Depois de olhar para Annie por alguns segundos, Alfonso levantou o álbum para que ela pudesse visualizar melhor a foto que ele admirava. Na fotografia, Paulo, pai dele, parecia explicar algo sobre uma das obras de arte do museu, enquanto Anahí prestava atenção e Poncho e Angelique faziam pose para a foto. Eram todos crianças. Alfonso não parecia ter mais do que doze anos.
"Você sempre deu mais atenção às histórias deles", foi o que Alfonso conseguiu dizer, antes de deixar escapar um sorriso triste que cortou o coração de Anahí. "Filhos… Eu não sou tão legal assim com a minha mãe", Annie sorriu, desejando aliviar qualquer culpa que Poncho ousasse sentir.
"Não me lembro de tudo, mas sei que foi um dia muito divertido", Annie continuou, recordando a data da foto, "Eu nunca tinha ido a um museu, por isso me marcou muito", ela caminhou até ele e sentou-se ao seu lado no sofá. "Lembro de coisas boas desse dia. Lembro de prendermos a respiração enquanto estávamos passando pelo túnel. Coisa do seu pai, claro", Poncho sorriu ao ouvir aquela lembrança.
"Lembro da minha calça clara que sujou toda com sorvete de chocolate e eu morri de vergonha, mas você me emprestou seu casaco para que eu amarrasse na cintura e disfarçasse a sujeira", Annie completou percebendo que, de fato, tinha mais lembranças daquele dia do que imaginava e tinha mais outras centenas de recordações com Poncho, Angelique e seus pais, a maioria maravilhosas.
"Eu não lembrava mais de nada disso", Alfonso refletiu antes de abrir um belo sorriso. Então, ele ficou ali, passando algumas fotografias, em silêncio, sob os olhares atenciosos de Anahí. "Eles eram pais incríveis", ele declarou finalmente.
"E vocês são ótimos filhos. Aliás, eu negarei que um dia disse isso, mas, eu adoraria ter um irmão como você", ela disse e empurrou Poncho com seu ombro, brincando com ele.
"Eles amavam você", Alfonso teve o cuidado de dizer essa frase olhando nos olhos dela, como se quisesse ter certeza de que estava sendo compreendido. Annie ouviu aquelas palavras com carinho, mas também com um vazio que ela não podia explicar.
"E eu os amava", ela respondeu finalmente, com um nó na garganta, "A todos vocês". A última frase saiu dela quase que como um suspiro e Annie não teve certeza se havia sido possível ouvi-la. De qualquer forma, Poncho devolveu com outro de seus quase sorrisos tristes e virou-se para frente novamente, mirando outra vez o álbum.
Depois, ele recostou suavemente sua cabeça sobre o ombro de Annie e ela sentiu que, de alguma forma, precisava mesmo estar ali naquele momento. Ela tomou uma das mãos de Poncho na sua e a acariciou até sentir que ele relaxava em seu ombro.
Não demorou muito até que Anahí sentisse que Alfonso chorava. Era um choro baixo, quase sem som, cheio de lágrimas pesadas que molhavam o ombro de Annie. Ela apertou a mão dele como se quisesse dizer, sem palavras, que estava ali para ele. Aquela foi a primeira e a única vez que ela o viu chorar pela morte dos pais.
Depois de um tempo, Anahí sentiu o sono pesar sobre o corpo de Poncho. Ele, finalmente, estava se permitindo sentir. Sentir tristeza, dor, lamento, saudade e cansaço.
Annie arrumou seu corpo no sofá e conduziu Alfonso para que ele deitasse em seu colo. O rapaz não ofereceu qualquer resistência, deitou sua cabeça sobre as pernas dela como uma criança que busca conforto e chorou mais, até, finalmente, adormecer.
Anahí ficou ali olhando para Alfonso em seu colo, tão imóvel, tão frágil, tão vulnerável. Anahí o olhou por mais um tempo e pensou em algo que a apavorou, ela ainda sentia algo por ele e sentia cada fibra do seu corpo responder à proximidade entre os corpos. O tempo havia passado, Annie já havia namorado outra pessoa, mas, aparentemente, Poncho ainda mexia com ela.
Abanando a testa como quem tenta afastar os pensamentos impróprios, Anahí levantou lentamente a cabeça de Alfonso do seu colo e posicionou, no lugar onde antes estavam suas pernas, uma das almofadas da sala. Depois, tomou uma das mantas que estava sobre o outro sofá e cobriu o corpo de Poncho com ela. Antes de sair, deixou ainda um beijo sobre a testa dele e disse, quase num sussurro, "Eu te quero tanto bem…".
Agora, ali, mirando seu próprio reflexo no espelho, morando sob o mesmo teto que Alfonso sem nem ao menos trocar mais que meia dúzia de palavras por dia com ele, Annie se perguntava se aquela lembrança era mesmo real. Depois de tudo o que acontecera, aquela vida em que ela e Poncho dividiam algo além da guarda de Sofia, parecia um sonho, um filme antigo que a gente esquece o nome.
Não, não podia ser. Aquele homem ocupado que andava pela casa a passos largos e parecia ficar irritado com cada detalhe da existência de Anahí não podia ser o mesmo rapaz que adormeceu em seu colo, enquanto ela acariciava seus cabelos. Ela não podia um dia ter sido apaixonada por ele.
De fato, depois daquele dia em que ele chorou na presença dela, Alfonso agiu como se tudo aquilo houvesse sido um delírio. Na manhã seguinte, ele começou a ignorar qualquer proximidade entre eles e, aos poucos, eles foram se afastando até que a única coisa que tivessem em comum fosse Angelique.
No início, Annie sentiu-se confusa. Chegou a pensar em tentar um diálogo. Mas, aos poucos, o Alfonso que ela um dia conhecera foi desaparecendo e aquele noite foi ficando cada vez mais turva na mente de Anahí, como um devaneio.
Autor(a): maryannie
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De qualquer forma, Annie não esquecia. Não esquecia a paixonite, as lembranças de infância, nem a noite em que Alfonso chorou em seu colo. Não esquecia, ela lembrava agora, ali, no banheiro, enquanto lavava as mãos e mirava seu próprio reflexo. Só não parecia que o Poncho de suas lembranças fosse aquele mes ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 35
Para comentar, você deve estar logado no site.
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justlary Postado em 06/12/2024 - 14:09:20
Continua
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justlary Postado em 06/12/2024 - 14:09:09
Finalmente o primeiro beijo
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beatris_ponny Postado em 04/12/2024 - 16:34:57
Nossa graças a deus vc voltou e continuou a história kkkk Manda mais por favor
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justlary Postado em 23/11/2024 - 14:17:12
Finalmente a Dulce percebeu se tocou e terminou com ele
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justlary Postado em 23/11/2024 - 14:16:32
Que bom que você voltou
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justlary Postado em 09/11/2024 - 20:21:48
Queria tanto mais capitulos
maryannie Postado em 19/11/2024 - 17:14:16
Desculpe o sumiço. Voltei!
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justlary Postado em 21/09/2024 - 02:05:06
Continua
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justlary Postado em 18/09/2024 - 00:30:41
Posta mais
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justlary Postado em 18/09/2024 - 00:30:27
Comecei a ler hoje e já to viciada
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beatris_ponny Postado em 19/08/2024 - 22:23:20
Mulher cadê vc