Fanfic: Uma herança para dois - Ponny, AyA | Tema: rebelde, rbd

De qualquer forma, Annie não esquecia. Não esquecia a paixonite, as lembranças de infância, nem a noite em que Alfonso chorou em seu colo. Não esquecia, ela lembrava agora, ali, no banheiro, enquanto lavava as mãos e mirava seu próprio reflexo. Só não parecia que o Poncho de suas lembranças fosse aquele mesmo homem que agora morava na mesma casa que ela.

- Então, pequena, já tomou banho? - Annie entrou no quarto de Sofia com um sorriso nos lábios.

- Sim. - Sofia esboçou um sorriso para Anahí.

- Então… - Annie sentou-se ao lado da afilhada na cama. - O que temos de dever de casa para hoje?

- Precisa tomar minha leitura. 

- Hum… Alguém está aprendendo mesmo a ler. - Annie sorriu para a afilhada.

- Sim, tia… Estou na alfabetização, né?

- Eu sei, espertinha! - Anahí fez cócegas na afilhada que gargalhava, rolando na cama.

         Annie ficou com Sofia até que ela acabasse todo o dever de casa. Mais tarde, na hora do jantar, Anahí e a afilhada também ficaram a sós. Bento permaneceu trancado em alguma parte da casa, alheio a qualquer senso de socialização.

Assim que Sofia acabou de comer, Annie levou a menina para escovar os dentes e a colocou na cama. Depois, leu para a pequena um dos livrinhos que Angélica um dia comprou para ela. 

- Boa noite, pequena! - Annie beijou a testa da menina já adormecida na cama. 

Logo que se certificou que a afilhada estava dormindo, Annie caminhou até o banheiro, escovou os dentes e prendeu seus longos cabelos cacheados em um rabo de cavalo. Ela sabia que não seria uma conversa fácil com Alfonso e ela desejava estar preparada e tranquila, embora soubesse que ele a irritava com certa facilidade. 

- Alfonso? - Annie empurrou lentamente a porta do escritório depois de bater algumas vezes.

- Ah… - ele pareceu ter esquecido da conversa que havia marcado. - Entre.

- Obrigada. - Anahí deu um sorriso irônico e caminhou até a mesa onde Alfonso estava sentado, sentando-se de frente para ele. - Podemos conversar?

- Se isso é mesmo necessário… Vai insinuar novamente que eu sou ausente para a Sofía?

- Aff, Alfonso! - Annie bufou impaciente e revirou os olhos. - Você faz um esforço danado para distorcer tudo o que eu digo, né? - ela cruzou os braços. - Você conhece suas falhas e seus problemas, Alfonso, sabe que nunca tem tempo pra nada e sabe que, no final das contas,  nossas vidas mudaram drasticamente e é isso. Precisamos dividir tudo.

- Anahí, eu estou aqui para fazer qualquer coisa pela minha sobrinha. Sabe que tento conseguir tudo o que ela precisa.

- Sim. Eu sei. Mas, agora, nós duas precisamos que você esteja mais presente. 

- Eu faço o meu melhor, mas eu trabalho muito. Não dá simplesmente pra abrir mão de tudo e...

- Eu vou interromper você por aí, Poncho. - Alfonso bufou e cruzou os braços ao ouvir seu apelido. - Eu também trabalho e muito. Sou professora, meu horário na escola pode ser flexível, mas eu trago trabalho pra casa também. Além disso, eu tenho minha vida, meus amigos, quem sabe um dia voltar a ter encontros…

- Encontros?

- É, Alfonso, encontros, sabe como é? Eu não vou ficar sozinha a vida toda. 

- Então, você quer mais tempo para encontros. É isso? - ele deu um sorriso de canto de boca.

- Ah, qual é, Alfonso? - Annie alterou o tom de voz. - Tá debochando? Eu não vou aturar palhaçada não. Não interessa o motivo de eu precisar de tempo. Eu tenho um trabalho, projetos, estudos e, sim, uma vida social. Deveria me envergonhar disso? Eu não tenho culpa se você mal tem tempo para a sua namorada.

- Agora sou eu que vou para você por aí. Eu já disse que Diana é problema meu.

- Ótimo! E minha vida é problema meu e nossa guarda é compartilhada. Podemos começar um acordo?

- Certo. 

- Ótimo! - Annie deu um meio sorriso. - Vamos lá! - ela colocou, sobre a mesa, um bloco de papel que carregava consigo.

- Você estava com isso todo o tempo? - Alfonso não pôde deixar de rir.

- O que você acha? É claro! - Annie retribuiu o sorriso de Alfonso. - Podemos ter uns minutos de paz e dividir tudo da melhor forma para os dois. O que acha?

- Eu concordo.

- Além disso, Alfonso, eu pensei bastante sobre tudo isso e Angélica queria que Sofía convivesse com nós dois.

- Presumo que sim.

- Ela já me falou algumas vezes sobre achar interessante que a pequena convivesse com duas influências tão fortes e distintas.

- Angélica tinha um jeito gentil de ver as coisas.

- Sim… - Annie sorriu.

- Mas aonde você quer chegar com isso?

- Acho que, pelo menos em algumas atividades importantes, precisamos tentar estar com a Sofia, os dois, juntos. Eu sei que você vai dizer que não tem necessidade e…

- Primeiro, você não sabe o que vou dizer. Segundo, isso faz sentido sim. Como dissemos no escritório do Alex, Sofia precisa de nós dois e precisamos estar lá para ela. Concordo com seu ponto.

- Uau… - a boca levemente aberta de Annie revelava sua surpresa. - Ótimo. - ela começou a escrever no bloco. - O que podemos considerar como atividades importantes? Apresentações da escola?

- Sim. - ele concordou e ela anotou. - Reuniões de pais talvez…

- Ótimo. Consultas médicas, caso os dois estejam em casa. 

- Certo. Parece justo. Todos os aniversários dela. Acredito que nós dois desejaremos estar com Sofia. 

- Com certeza! - Annie voltou a anotar. - Alfonso, tem outra coisa… Sofia me parece triste, desanimada.

- Sim… E não é pra menos, né?

- Sim, claro. Mas, eu pensei em procurarmos uma psicóloga, alguém que possa cuidar da saúde mental da nossa pequena.

- Acha mesmo necessário?

- Você não acha? Ela tem seis anos, não sabe quem é o pai e acabou de perder a mãe.

- Certo, como achar melhor. Você pode procurar alguém?

- Sim, com certeza. Mas iremos juntos à primeira consulta. Certo?

- Certo. Mais alguma coisa em que devemos estar juntos?

- Datas comemorativas em geral. Páscoa, festa junina, Natal, Ano Novo… Claro, desde que você não precise viajar ou algo do tipo.

- Evitarei ao máximo. Pelo menos neste primeiro ano.

- Sim, eu agradeço.

- Não precisa. Sofia é a pessoa mais importante do mundo pra mim.

- Para mim também. Mas eu não tenho uma noiva.

- Eu já disse que…

- Seu relacionamento é problema seu. Desculpe. - Annie fingiu passar um zíper na boca. - Não tá mais aqui quem falou.

- E o restante das coisas?

- Certo. A escola da Sofia é semi-integral. Não posso buscá-la às três da tarde todos os dias. Então, pensei que poderia levá-la ao colégio e você ficaria na incubência de buscar.

- Sim. Consigo lidar com isso. 

- Ótimo! O dever de casa fica comigo nas segundas, quartas e sextas e com você nas terças, quintas e sábado.

- E domingo?

- Domingo é dia de descanso, Alfonso.

- Claro. - ele sorriu. - Seria legal levá-la para sair então, acho que ela precisa fazer alguma coisa, se distrair.

- Eu concordo. Alternamos os domingos?

- Me parece justo. Mais alguma coisa?

- Sempre que estivermos em casa, jantaremos todos juntos. Sofia pergunta por você.

- Pergunta? - Annie fez que sim com a cabeça e Alfonso suspirou. - Certo. Janto com vocês.

- Também colocamos ela para dormir. Os dois.

- Tudo bem. Mais alguma coisa?

- Festas de coleguinhas. Eu levo e você busca? 

- Sim. Não me parece bom vocês duas sozinhas à noite.

- Quê? - Annie gargalhou. - Estou falando de festas de crianças, Poncho. Nunca terminam depois das dez da noite. 

- Mesmo assim.

- Que seja! - Annie sorriu e assinou o papel. - Toma. - ela estendeu o bloco para Alfonso.

- Sério? Quer que eu assine?

- Claro. 

- Isso não tem valor, Anahí.

- Para nós, tem. 

- Tá… - ele bufou. - Como quiser. - Alfonso assinou ao lado do nome de Anahí.

- Muito obrigada pela sua cooperação, Senhor Herrera. - Annie levantou-se e estendeu a mão para Alfonso.

- Eu que agradeço, Senhorita Portillo. - ele apertou a mão dela.