Fanfic: Uma herança para dois - Ponny, AyA | Tema: rebelde, rbd

- Aquele dia parece tão turvo agora… - Anahí disse com dificuldade.

- Você me ouviu. Me ouviu com a mesma paciência que você tinha para as histórias repetidas dos meus pais. - ele levantou a cabeça para olhar para os olhos marejados de Annie. - Me consolou, reavivou boas lembranças, me deu colo e me fez dormir.

- Eu faria qualquer coisa para você se sentir melhor.

- E eu me senti. Pelo menos naquele momento… - de repente, o olhar de Alfonso ficou vago e distante.

- E depois, tudo mudou. Eu nunca mais consegui me aproximar de você e fomos nos afastando até chegar ao ponto em que estamos hoje.

- A vida demonstrou ser mais difícil do que eu imaginei, Annie. - ele olhou novamente para ela. - E você era só uma menina. Eu não podia simplesmente transformar você em minha confidente. 

- Eu não era uma criança, Alfonso. Eu já tinha dezesseis anos. 

- Era uma adolescente, Anahí. Era só uma adolescente.

- Você sempre me viu assim, né? - a irritação de Anahí, somada às taças de vinho, faziam com que um tom de vermelho vivo tomasse seu rosto e seu colo. - Sempre me viu como a coleguinha chata da sua irmã. Como Nathália dizia, sua quase irmãzinha.

- Nathália… - ele olhou para Annie e sorriu de lado. - Ela tinha ciúmes de você, sabia?

Annie esperava ouvir muitas coisas de Alfonso, ainda mais de Alfonso assim, bêbado, coisa que ela não presenciava há muito tempo. Mas, de forma alguma, esperava que ele dissesse que Nathália, sua ex-namorada, tão madura, linda, sexy e cheia de si, um dia teve ciúmes dela. Logo dela, sempre tão desengonçada, perdida, boba… Ela que era só a melhor amiga da irmã caçula.

- Por que Nathália teria ciúmes de mim? - ela fingiu tranquilidade, no intuito de não assustá-lo.

- Porque você vivia atrás de mim, sempre que possível, e parecia gostar de mim. Quer dizer… Você sabe que não era discreta.

Annie congelou. Com os olhos arregalados e a boca entreaberta, ela não conseguia dizer coisa alguma e também não conseguia desviar o olhar que estava fixo em Alfonso. Tudo aquilo era tão constrangedor! Ela sentia como se, de repente, o relógio girasse ao contrário e ela tivesse 13 anos outra vez.

- Eu não sei do que você está falando. - Annie respondeu rapidamente, como se as palavras saíssem apressadas da boca e tomou outro gole de vinho.

- Foi quando eu te salvei, não foi? - ele olhou tão profundamente para Anahí que, de repente, ela sentiu-se nua, despida de qualquer proteção. - Naquele dia você me olhou de um jeito diferente… E eu te olhei diferente também. - ele disse a última palavra desviando o olhar e Annie quase duvidou se havia mesmo escutado aquilo.

- Você me olhou diferente! - ela levantou ansiosa como quem ouve uma coisa que sempre esperou ouvir. - Eu senti. Olha pra mim. - Annie caminhou até Alfonso e fez com que ele olhasse para ela. - Não foi coisa da minha cabeça?

- Não foi. - ele, finalmente, olhou para ela. - Eu nunca me senti tão culpado.

- Culpado?

- Você era só uma criança, Annie. Uma criança que até outro dia brincava de bonecas com a minha irmã. E eu ali… Desejando ser o cara que te daria o primeiro beijo.

- Como é? - Anahí passava as mãos pelos cabelos, deixando os fios ainda mais ouriçados. - Não é como se você fosse um velho flertando com uma garotinha. Você só tinha 16 anos.

- Eu JÁ tinha 16 anos. 

- Você… Eu não acredito que você… - Annie tentava assimilar tudo o que havia acabado de escutar. - Eu não acredito que você olhou para mim. Que você me notou.

- Você… - ele engoliu algo que pensou em dizer. - Você me fazia bem.

Naquele momento, nenhum dos dois desviou o olhar, como se ambos tentassem provar para o universo que, finalmente, tinham coragem para libertar cada palavra aprisionada. Mas, eles ainda carregavam muletas. Ainda se escondiam na escuridão da noite e na insensatez do álcool.