Fanfic: Filho da Fúria e Ruina — Período Estival | Tema: Ficção com conteúdo místicos, agressivos em um toque de humor.
A lua está em seu ápice. Nem o vento ousa interromper o movimento das folhas nas árvores. Tudo está tão tranquilo que estrangeiros que desconhecem tais perigos da floresta chegam a comparar o momento a pacífico. Mas a aqueles que andam descuidados tem sua morte entalhada.
A floresta perdida. Assim chamada desde os primórdios, ela representa o medo e a punição de toda Morbil — esse pequeno país perdido em meio aos mares.
E aqui estou eu, bem no coração dela. Sozinho, porém com a garantia de duas mil moedas no bolso para executar meu trabalho. Antes do assassinato, eu era ferreiro. Projetava as melhores armas de todo o reino de Dante. Até cheguei a lutar por ele em algumas de suas guerras, antes de me pôr como inimigo. A fama se alastrou de tal forma que generais e guerreiros vinham de longe comprar minhas armas. As mesmas que hoje usam para me caçar.
Não posso fabricá-las novamente, não livremente, o que me deixou sem muito o fazer no início. Tive que adotar um novo ofício. Um que apenas os mais destemidos, ou suicidas, são selecionados para Dromeda.
Caçador de demônios, ou mercenário. Não só a mim, mas também a todos em Dromeda, foi espantoso o modo como me habituei a isso. Nem me lembro como era o tempo em que o sangue de bestas primitivas não escorriam por meus dedos. Foi um ótimo modo para descontar todo o meu ódio em algo que valesse a pena, além de manter o sangue frio para não enlouquecer.
O vento sopra mais forte e tudo o que ouço além minha respiração é o canto de uma coruja. Minhas pernas adormeceram com o tempo em que estive abaixado em meio às folhagens esperando. O vento frio fez de minhas vestes nada, o que só me fez ansiar mais pelo calor de uma fogueira. Tudo pelo volume valioso em meu bolso que em retorno uma cabeça deve ser entregue. Há dois dias fui contratado por um grupo de homens dos Montes Gelados que tiveram seus parentes mortos e sequestrados pelo o que eles dizem ser uma besta selvagem. Todas as vítimas eram mulheres entre 17 e 30 anos (11 no total) e sempre eram mortas da mesma forma, decapitadas e sem os olhos. Símbolo de um ritual, pois nenhuma parte do corpo era consumida. Poderia até ser um ato humano caso não tivesse marcas de garras que dilaceram as costas delas e seu sangue não tivesse sido drenado. Um ritual obscuro para sabe-se lá o que. Nada encantador, de fato.
O chiar das folhas ao sul da floresta se intensifica. Com o tempo observando acima do chão, meus olhos acostumaram com a escuridão e consigo ver sombras se projetando em meio às folhagens a alguns metros de mim. Agora expostas á luz fraca da lua consigo vê-las. Não são bestas, têm aparência humanoide e são ágeis, talvez mais velozes que os lobos comuns. Também não são nada discretos já que fazem mais barulho que a coruja próxima a mim. Imbecis.
As criaturas têm uma estrutura óssea bastante parecida com a humana, o que permitiria uma boa camuflagem entre os humanos, caso o restante não fosse assombroso. Não possuem pelos, têm mais ossos que pele e seus rostos são tão pálidos que mal passam de almas. Além de não possuir lábios. Seus dentes pontiagudos para fora da boca me dão náuseas.
O que é aquilo?
No total são quatro deles e um está á frente do grupo correndo como se fosse um líder.
Ele para e olha para as direções como se estivesse confuso. Os demais repetem o gesto. Observando talvez. Não, farejando. Eles estão farejando. A mim? Será que sentiram meu cheio? Não, não deve ser isso, pois estou bem à cima deles e nem se quer olham para onde estou congelando. Eles são péssimos farejadores, pelos deuses. Talvez seus olfatos não funcionem direito ou sirva apenas para localizar algo. Um deles carrega um saco que derramava um muco escuro nas folhas a seus pés. Outra cabeça? Outra morte e eu nem terminei o serviço.
Salto ao chão e empunho minha espada. As criaturas recuam para longe e mostram seus dentes pútridos ao rosnarem para mim. Um deles, o líder me olha como se não me enxergasse e rosna novamente, para a esquerda de onde estou. Cega? Cega e sem olfato. Maravilha.
Observo os outros e eles fazem o mesmo, com exceção do que está com o saco. Ele por outro lado me olha diretamente apavorado. Nem parece que é uma besta selvagem e sanguinária.
— Não essstamossss... aqui por vocccê... Caçador. — diz o líder ainda sem me ver. Sua voz é arranhada e rouca como se estivesse engolido caco de vidro. Ele fala a língua humana, com dificuldade em pronunciar, mas fala. Impossível. Jamais ouvi falar de tal coisa.
Recomponho-me do espanto e o avalio com atenção.
— Uma pena! Sinto dizer que estou aqui exatamente por vocêsss. — as bestas demonstram irritação com minha imitação.
— Não sssabe com quem essstá se metendo, garoto. — Solto uma risada áspera, não sabia que alguém da minha idade poderia ser chamado assim. — iremosss dessstroça-lo por zombar de nósss. — ela mostra os dentes da boca sem lábio para mim e rosna se aproximando. Um calafrio percorre a minha espinha e meu corpo se enrijece. Algo me diz que ele nem se quer é um dor maiores perigos dessa floresta. Ele chama o que está com o saco de Keni e fala algo em uma língua antiga. O outro responde imediatamente e com isso o líder avança em minha direção mais veloz que meus sentidos.
Desvio para o lado cambaleando com a surpresa. Ele investe novamente e tento bloquear com a espada, mas ele é mais forte e usa o seu peso sobre ela me fazendo recuar aos poucos em direção ao chão.
Como pode ser tão forte se é apenas ossos?
Tento novamente me elevar, mas ele mantém o jogo a seu favor e crava suas garras em minha costela. Sinto o sangue escorrer antes da dor. Solto um grunhido em resposta.
— Vou arrancar pele por pele de ssseu corpo. Tomar ssseu sssangue até a última gota e roer ssseus ossssos até se partirem. — cada palavra é um surto de vômito que me sobre a garganta. Seus dentes perto de meu rosto tem cheiro de sangue e pus. E seus olhos são tão sem vida quanto imaginei. A imagem da própria morte. — Vocccê Caçador, irá choramingar em agonia como todasss elass em sseu fim. Asssim como todosss os outrosss doisss antes de você. Assim como todos que se opuserem aos desejosss da mãe. — ele retira as garras da minha costela com um movimento rápido e meu corpo todo geme em agonia. Sangue escorre da minha boca e minhas pernas não aguentam mais suportar o peso dele. A criatura continua sorrindo pra mim enquanto os outros observam atentos, preparados para uma ordem dele. Apenas Keni continua falando aquela língua antiga. Percebo que o líder olha atentamente para mim agora, como se pudesse me ver. Mas como?
Liberto uma de minhas mãos tempo suficiente para pegar uma das adagas presas em minha cintura e cravo no olho esquerdo da criatura. Ela ruge e me solta cambaleando para trás. Meu corpo grita em alívio e coloco a mão no ferimento. Tem muito sangue escorrendo.
As outras duas criaturas seguem em minha direção, furiosas e mostram ser quase tão ágeis quanto à outra. Uma delas segue para ajudar o líder e o outro me ataca. Desvio de um golpe, mas sou arremessado no chão com o chute no abdômen. Levanto o corpo, mas levo outro chute agora no rosto com uma força desconcertante. Sangue escorre do meu nariz quebrado e minha cabeça dói.
Como são tão fortes? E ágeis? E como sabem onde estou se apenas um parece enxergar? Aí que percebo. Ele é o guia. Ele que é os olhos dos demais. Ele é o real líder, o com cérebro ao menos.
Quando o próximo chute vem, tento bloquear o máximo que posso com o braço e recito o às palavras do feitiço que Jay me ensinou na direção de Keni, que começa a gritar em agonia e cai no chão com as mãos nos olhos. E todos os outros três sentem a mesma queima nos olhos e rugem de dor.
Eles não apenas estavam sendo guiados, estavam conectados com o real líder. Levanto — me com todos meus sentidos falhos e meu orgulho como Caçador ferido. Um deles, ainda gritando, pega o saco e corre em direção a leste. Pego minha espada no chão e me aproximo dos caídos a minha frente. Com um movimento separo a cabeça do corpo de cada um. As cabeças rolam em sincronia no chão de folhas. E o vento volta a esquentar meu corpo exausto e suado. Aproximo-me de Keni e levanto a espada. Ele grita e se encolhe como se soubesse o que irá acontecer.
— Não, por favor... estou aqui forçado... — diz ele com a voz fraca. — eu não tive escolha... não ...não matei nenhuma delas... juro pelos deuses.
—Isso não te impede de morrer, és um deles. Assassinos sanguinários. — falo movendo a espada para baixo.
— Não me mate... por favor... lhe darei informações valiosas sobre o que está acontecendo...preciso de ajuda, você não sabe o que está por vir. — ele chora e se esperneia no chão — estamos todos condenados... Os Deuses estão se rebelando contra nós.
Paro ao ouvir as palavras e desfaço o feitiço.
— Como assim?
— Não há tempo, precisamos impedir antes que seja tarde. Essas mulheres mortas não foram apenas fome de um predador, tem um propósito e se não pararmos agora estaremos todos em perigo. — um suspiro de alívio sai dele que começa a se levantar. — Olhe para o céu.
Como o céu ficou assim? Quando ficou assim? Ele está em um vermelho sangue quase cobrindo toda a extensão do seu a vista.
— O que é isso? — pergunto me contendo do espanto.
— Um ritual... um que permite a entrada de um ser que não deveria vir a terra. Um que, feitiços lançados há muito tempo impede que seres, como da minha espécie, de contar sem que nos mate...
— Como? — diz ele apontando para os corpos sem vida. Ele percebe o que fiz e recua um passo. — Como descobriu? — Keni balança a cabeça e continua —Isso não importa, o ritual já está quase completo, ainda há como salvar ela. — E ele corre em disparada para o lado leste assim como o outro com o saco.
Ela quem? Outra mulher para o ritual? Com a mão no ferimento da costela, que continuava a sangrar e fazia todo o meu corpo se retrair em dor, sigo em sua direção, seguindo em meio às árvores com tons alaranjados por conta do céu carmesim. O sangue do meu nariz me impede de respirar com facilidade. A dor pungente não incomoda muito, talvez seja pela adrenalina que circula por meu sistema.
Em meio a uma extensão aberta na floresta, pedras ovais preenchem o espaço em espiral onde no centro cabeças com sangue seco ao redor formam um círculo... 11 no total deixando apenas um espaço vazio na direita. E no centro... Uma mulher. Uma mulher amarrada em uma pedra. Toda ensanguentada e com a cabeça pendendo no corpo. Morta... ou quase. Seu vestido negro reflete os cabelos esvoaçantes de mesma cor. E uma mancha se sangue ainda fresco escorre por seu abdômen.
Keni corre em direção à outra criatura que eu não tinha visto, a que fugiu com o saco. Ele entra no círculo despeja o conteúdo do saco no espaço em que estava vazio... Outra cabeça. Também de uma mulher formando no total de doze. Com uma adaga em mãos já ensanguentada a criatura vai ao centro do circulo e joelha-se olhando para o céu e recita palavras na mesma língua que os outros falaram. Keni grita algo em súplica para o outro e tenta entrar no círculo, mas é impedido por uma barreira invisível.
O vento fica mais frio e uma torrente forte invade a floresta agitando todas as árvores. Meu corpo todo enrijece e arrepios sucessivos percorrem meu corpo em aviso. “O que diabos é isso?”
A criatura termina seu sermão enquanto Keni grita em outra língua. Ele ergue a adaga prateada que reluz a luz vermelha do céu e crava em seu próprio coração. Um gemido agudo saiu de seu corpo antes de desabar no chão.
— Ajude-me... ajude-me Caçador. — Grita Keni desesperado me tirando do transe. — Salve-a, ainda há tempo.
— Como vou passar pela barreira? Porque você não consegue? — corro com dificuldade sua direção.
— Não possuo magia como você. Vi o que fez comigo e com os demais. Atravesse a barreira e salve-a. — sua súplica faz minha cabeça latejar.
— Como? Não sei feitiço para trazer alguém de volta a vida.
— Não precisa desse tipo de feitiço, apenas um para curar o ferimento. - Olho para a mulher desmaiada. — Ainda não morreu se estivesse o céu já estaria completo pela névoa de sangue. Você consegue a atravessar, pois possui magia. Recite essas palavras próximo dela — ele me fala um feitiço que jamais ouvi, com traços de um mundo esquecido.
Atravesso a barreira com um esforço que faz meus sentidos gritarem para recuar. Uma vez dentro corro em direção a ela. Sem tempo para avaliações recito o feitiço diversas vezes. E novamente. Mas nada simplesmente nada. Tento outra vez... nada...até que a névoa que cobria o céu começa a se desfazer. Olha para ela e o seu ferimento já não escorre sangue. Levanto aos poucos seu vestido sem me importar se ela está ou não usando algo por baixo e avalio o ferimento. Não há nada. Nem um arranhão se quer. Funcionou.
Sinto antes de ouvir sua mão em meu rosto. Seus olhos vermelhos carmesins me olham furiosos. Vermelhos. Eles são vermelhos.
— Como ousa... seu insolente. — ela grita tentando se desprender das correntes.
— Acalme-se... o seu... o seu ferimento cicatrizou. — falo recuando. Meu rosto queima tanto pelo golpe quanto pelo constrangimento.
Ela avalia o próprio corpo olha incrédula para mim.
— Como? ...você... foi você? — Ela me encara e percebo pela primeira vez o quanto é bela. Um pouco pálida pelo sangue que perdeu, mas bela. Cabelos negros como a noite, seus traços do rosto são tão suaves que todas as feições se encaixam. E aqueles olhos vermelhos tão vivos que poderiam queimar qualquer um. Ela me lança um aceno em agradecimento e olha ao seu redor parecendo, pela primeira vez, se lembrar de onde está. A mulher ao ver Keni puxa com mais afinco as correntes. — Solte-me... AGORA. — ordena ela — Ele é um deles, irei esfolado pelo que me fizeram... Solte-me.
— Ele não irá lhe fazer mal ...foi ele quem lhe salvou... de certa forma. — falo a última parte com um acendo de desinteresse.
— Sinto muito minha senhora... ju... juro que tentei impedir. — fala Keni gaguejando e suando.
— Isso não impediu que me esfaqueassem e me usassem como SACRIFÍCIO. — Ela grita a última parte e puxa com mais força as correntes. Por um momento achei que se partiriam, mas aí ela voltou contra a pedra com violência.
Keni se encolhe com as palavras e me lança um olhar de súplica.
— Não me olhe assim, criatura. Por sua causa eu quase morri. — tenho um nariz quebrado e marcas de garras nas entranhas que jamais me faram esquecer.
— Não havia nada que pudesse ser feito. Não te conhecia e você foi logo atacando todos. Não iria trocar os assassinos de meus irmãos por outro desconhecido. Mas depois que estavam todos mortos, você foi a minha única chance de impedir o ritual.
— Tem sorte de terem correntes impedindo-me de mata-lo — fala ela ferozmente.
Aproximo-me dela e com um movimento da espada as correntes se partem.
— Não há. Vai em frente.
Keni arregala os olhos e recua. Porque ela lhe causa tanto medo?
Ela está fraca por conta do sangue perdido então seguro-a antes que cai. E ela me lança um sorriso de deboche.
— Duas vezes que suas mãos estão em mim em apenas uma noite. — diz ela com escárnio. — Está gostando mesmo de ser um herói libertino, não é?
— Talvez.
Devolvo o sorriso e solto-a. Ela cai de bunda no chão.
— Aiii... um cavalheiro de fato. — ela levanta-se com raiva e dificuldade e bate no vestido para limpar sem se preocupar com a mancha de sangue em seu abdômen.
— Nunca disse que era tal coisa.
— Realmente, a maioria das coisas nunca são o que aparentam. — fala ela mais para si que para qualquer um.
Ela me lança um olhar mortal e segue cambaleando para fora do circulo em direção à criatura.
— Opa, ele é meu. Deve-me informações valiosas.
— Já lhe dei todas as informações de que precisou hoje. Até um feitiço lhe ensinei. - fala ele com os olhos semicerrados. — Não lhe devo nada.
— Tenho um nariz quebrado e marcas de ganhas em meu corpo para o resto da vida. E tudo por sua culpa. Você me deve sua vida. E acredite, irei reivindicá-la se for preciso. — Keni engole em seco e sai de onde estava escondido.
— Não acha mesmo que irei deixa-lo viver depois do que passei? — fala ela me dirigindo um olhar raivoso.
— Em primeiro lugar, você não tem que achar nada. Mal pode ficar em pé sem parecer uma bêbada desvairada. — ela mostra os dentes em irá — E em segundo: ele que praticamente a salvou. — falo levantando com dificuldade ela do chão e levando-a em meus braços. — Você precisa de um curandeiro nesse momento e não de vingança. — ela não protesta, pois sabe que é verdade. — E você, não saia da minha vista ou terá o mesmo fim que eles. — Keni novamente engole em seco se põe ao meu lado. — O que me faz lembrar... pegue a cabeça de um deles, preciso de um comprovante.
Keni me olha horrorizado, porém não protesta ao buscar o saco ensanguentado e voltar minutos depois com um volume nele. Seu rosto está verde e ele fede a vômito. Com certeza não suportou o caminho de volta.
— Como quiser meu amo, eles mereceram. — fala me mostrando o saco.
— Me chame assim novamente e será a sua cabeça que pesará no saco. — falo severamente e ele faz um sinal dramático de silêncio.
Autor(a): emylly_v1
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).