Fanfic: Namorado Por Acaso - Vondy (Adaptada) [Terminada] | Tema: Vondy

Christopher

Conversávamos diariamente por mensagens, por vídeo-chamadas, por voz. Tantas vezes no dia que era como se Dulce nunca tivesse ido embora, como se o sentimento, de fato, nunca pudesse diminuir.

Ainda assim, era quando me enrolava na cama que sentia falta do seu corpo para abraçar. Era quando me chamavam de Christopher que sentia falta do seu Alexander. Era quando eu passava o meu perfume, que percebia que o seu não estava lá... a ausência gritava em meus ouvidos, por baixo da minha pele.

Eu guardei aquele bilhete, que ela escreveu, na minha carteira.

Seis dias sem Dulce Saviñón contra oitenta e quatro dias que teria que esperar para tê-la de novo.

Saudade é um sentimento bem filho da puta.

Sem conseguir dormir à noite e com a cabeça agitada, me levantei antes do relógio despertar. Eram cinco horas da manhã quando terminei de vestir uma bermuda esportiva e tênis, pensando em correr para me livrar dessa energia, e fui para a cozinha. Distraído pela máquina de expresso, senti um arrepio na nuca, um aperto no peito. Peguei o celular na bancada e fui olhar se havia uma nova mensagem de Dulce. Nada. Ela deve ter conseguido pegar no sono. Teria um dia importante hoje, no hotel e centro de convenções W&W.

Mierda, eu não ia atrapalhar seu sono.

Mas a angústia não me deixou quando tomei o café na sala, nem quando abandonei o celular sobre o sofá, muito menos quando meus olhos pousaram na televisão que liguei, sem realmente vê-la.

A TV estava no mudo e eu aumentei um pouco o volume para ver se as notícias conseguiam me distrair. Na tela, a âncora estava em primeiro plano, apresentando, e, atrás dela, em um pequeno quadrado, havia uma imagem de um helicóptero, que percorria algum ponto importante da notícia.

Caos no mundo não era novidade. Estava prestes a mudar de canal quando a voz da âncora disse uma palavra que me fez parar.

— ... no Peru, na madrugada desta terça-feira. Vou conversar com Daniel Dimitri, que está em Lima neste exato momento, para trazer mais informações. Bom dia, Daniel.

O país onde Dulce estava. Me levantei do sofá e aumentei o volume.

— Bom dia, Kelly — o repórter respondeu. Ele estava sendo filmado em uma rua fechada, cercada por policiais, ambulâncias e bombeiros. — A capital do Peru sofreu uma série de ameaças de bombas, dias antes do presidente norte-americano visitar Lima. As ameaças foram levadas a sério pelo governo peruano, entretanto, o ataque desta madrugada não pôde ser evitado. Testemunhas afirmaram que os carros-bomba explodiram em frente a uma praça e um centro de convenções, que é onde estou agora.

Bomba?

A imagem saiu do repórter e foi para a rua que mal estava sendo mostrada. Destroços atrás deles, correria, morte. A câmera circulou por vários pontos, e parou em um letreiro quebrado, amassado, quase ilegível. Ainda assim, eu consegui lê-lo.

E aquele letreiro fez meu coração sangrar.

W&W.

Minha caneca caiu no chão, espatifando-se.

Assim como todos os pelos do meu braço se ergueram, e meus olhos imediatamente ficaram molhados.

— Há, pelo menos, duzentos e sete mortos no local...

Parei de ouvir o repórter. Meus joelhos enfraqueceram e caí no chão.

Senti frio, mas não senti o baque. Peguei o celular em cima do sofá, ouvindo meu coração nos tímpanos, batendo na garganta, enquanto olhava as mensagens de Dulce, os dedos trêmulos, pensando que meu cérebro estava pregando uma peça.

Era uma peça. Só podia ser.

Cariño: Vou para o W&W esta noite. Vai ser mais fácil dormir lá do que acordar cedo e ir para a reunião.

Eu: Se for melhor para você, seria interessante.

W&W.

Olhei para a televisão de novo. Eu concordei com ela estar ali.

Eu concordei, porra!

— E assim vemos o famoso hotel W&W em destroços... — o repórter continuou.

Liguei para Dulce, as lágrimas me cegando. O telefone caiu na caixa-postal. Liguei de novo, liguei cem vezes, ainda no chão, começando a entender a notícia. Bomba. W&W. Peru, Lima. Dulce estava lá. Duzentos e sete mortos, minha mente repetia, sem parar, cada vez que a chamada caía na caixa-postal. Decidi, na enésima vez, falar. Minha voz não saiu e, quando decidiu fazer, eu não estava conseguindo ser coerente, porque sentia como se estivesse me afogando.

— Me liga. Por favor. Esteja viva. Me liga. Você... Dulce. Por favor.

Abaixei o celular.

— Não, não, não, não... Porra! — gritei alto.

Com dor.

Com medo.

O acaso não a colocaria em minha vida para tirá-la da mesma maneira que entrou, certo? De repente? No susto? A vida não podia fazer isso. Não era justo. Isso não estava acontecendo... Por favor, que isso não esteja acontecendo.

Peguei o telefone de novo, tentando me lembrar de respirar, pensando na pessoa que poderia me ajudar. Minha secretária, Maddy, atendeu no terceiro toque, um alô sonolento, mas a minha urgência não me permitiu ser suave.

— Compre passagens para mim. Lima, Peru. Agora, Maddy. Eu preciso pegar meu passaporte.

— O quê? Você está chorando? Christopher, são cinco e meia da manhã...

— Ahora, Maddy, carajo!

— Meu Deus! O que aconteceu?

— Não posso explicar. Eu quero a primeira passagem que tiver, Maddy. Me ligue quando conseguir. Estou indo para o aeroporto. Me encaminhe a passagem por e-mail. — Desliguei o telefone, sem tempo a perder.

Continuei tentando ligar para Dulce, enquanto procurava até no inferno onde estava o meu passaporte. Seu celular desligado me deixou à beira do desespero. Passei os dedos no cabelo, quase arrancando-os, quando me lembrei que o passaporte estava no carro. Peguei a primeira camiseta que encontrei, vestindo no caminho. Saí do apartamento completamente aéreo, sem nunca tirar o telefone da orelha. Entrei no carro, sentei, abri o porta-luvas e, quando achei o passaporte, comecei a chorar.

Não, eu não só chorei. Eu esvaziei a minha alma. O medo era tanto, que eu não consegui enxergar a esperança.

Não, Dulce. Só, por favor...

Meu celular tocou e meu coração parou de bater quando o coloquei na orelha.

— Dulce? — gritei.

— Não, sou eu. O que houve? — a voz do meu irmão ecoou, preocupada. Ele já estava de volta a Nova York. — Maddy acabou de me mandar uma mensagem e...

— Liga a TV, Poncho. Eu... eu não posso falar agora, hermano. Preciso desligar — falei, sem cabeça para me explicar.

Não preparei uma mala, nem fazia ideia de qual roupa estava vestindo, enquanto dirigia o mais rápido que podia pelas ruas de Nova York, cortando carros, sendo imprudente, passando sinais vermelhos. A minha garganta começou a fechar e eu, irado com a vida, bati seguidas vezes no volante, sem ver nada à frente.

Meu celular não tocava. Dulce não ligava. A esperança não apareceu. O medo a matou.

— Me liga, Dulce. Me diz que você está bem. Não pudemos viver ainda, você está me entendendo? Não pudemos viver tudo o que eu queria viver com você. A gente nem começou. — Deixei outra mensagem de voz para ela.

Freei o carro quando, enfim, avistei o aeroporto.

— O senhor não pode estacionar aqui — alguém me avisou.

— Eu vou multar, senhor.

— Foda-se! — gritei, sem ver o rosto de quem era. — Pode multar.