Fanfic: Namorado Por Acaso - Vondy (Adaptada) [Terminada] | Tema: Vondy

Christopher

Cariño: Que bom que chegou! Leve a caixa para sua casa e me ligue depois de abri-la! Faltam seis dias para eu te ver. <3

Mensagem de Dulce para Christopher

***

Dulce tinha me enviado outra caixa me pediu para abri-la só quando eu chegasse em casa, de noite. Desta vez, havia um postal da Bolívia e um do Brasil. Ela foi esperta e mandou tudo junto: a imagem do Cristo Redentor, do Brasil, e o outro postal, com Salar Uyuni, o maior deserto de sal do mundo, na Bolívia. Junto com os postais, as fotos de Dulce nos pontos turísticos e uma carta, contando suas experiências, me fizeram sorrir. Havia também presentes. Um pequeno cofre, entalhado em sal, era uma coisa de louco que nunca tinha visto na vida, souvenir da Bolívia. E o outro, uma miniatura do Cristo Redentor, seus braços abertos, abençoando. Na caixa, havia algumas coisas em português que me arrisquei a entender. Eram do Brasil, sem dúvida. Quer dizer, espanhol não era tão diferente, e percebi que era alguma coisa relacionada à comida.

Embaixo de uma caixinha que li como “leite condensado”, estava uma receita. Peguei o celular e perguntei para Dulce o que era aquilo.

Cariño: É uma sobremesa MARAVILHOSA que eu provei aqui e estou morrendo de amores. Queria que você tentasse fazer, porque não pude enviar pronto, então, mandei os ingredientes. Eu não sabia se você entendia alguma coisa de cozinha. A receita está bem fácil de compreender. E espero que você tenha manteiga em casa.

Eu: Sim, eu tenho. E sim, sou um idiota na cozinha. Minhas habilidades se limitam ao café da manhã americano: omelete, ovos mexidos ou fritos, bacon, panquecas e waffles. Ah, e eu acho que sei fazer paella. E pipoca.

Cariño: Você é um espanhol meia boca, Alexander. Eu sei fazer paella!

Eu: Vai cozinhar pra mim quando retornar?

Cariño: Vou. Mas, primeiro, leia a receita e vá comer esse negócio, pelo amor de Deus. Eu vi a Dona Marta, aqui do resort, fazendo. Fiquei hipnotizada e aprendi tudinho.

Eu: Depois eu te ligo, então.

Cariño: Boa sorte e afaste a cortina do fogo.

Eu: Engraçadinha.

Cariño: ;)

— Tudo bem, eu consigo fazer isso — murmurei sozinho.

Peguei a receita e os ingredientes, e levei tudo para minha intocada cozinha. Só a usava para o café da manhã, o resto era na rua. Tinha um restaurante ótimo low carb que mantinha a minha dieta em dia, mas hoje eu ia quebrá-la, se isso significasse provar alguma coisa do Brasil e que, aparentemente, deixou minha mulher enlouquecida.

Lavei as mãos, arregacei as mangas e li a receita.

RECEITINHA DE BRIGADEIRO

(O nome não é engraçado? Eu enrolo a língua para falar. Brigadeiro. Enfim, você vai se apaixonar. Eu estou. Meu coração é metade seu e metade do brigadeiro).

Eu ri. Dulce era impossível. Voltei a ler.

Você vai precisar de: uma panela pequena.

Uma colher de pau ou espátula de silicone. E suas sexy mãos.

INGREDIENTES:

1 colher de sopa de manteiga. (Pelo amor de Deus, se você não souber o que é uma colher de sopa, o nosso relacionamento está terminado. Mas, por desencargo de consciência, é a colher grande que a gente toma sopa. Ok? Acho que acabei de salvar o nosso relacionamento.)

1 caixinha de leite condensado. (É a caixinha que te enviei. Está escrito leite condensado. Criança, cuidado com a tesoura ou a faca na hora de cortar. Tem que usar tudo, hein? TUDO!)

4 colheres de sopa de chocolate em pó. (Também enviei. Por segurança, peguei o chocolate daqui, porque vai que é diferente.

Encha as colheres generosamente, Alexander. Enfia chocolate nessa colher!)

Granulado à vontade. (O granulado, pelo que entendi, é opcional. Mas eu peguei. Você vai jogar em cima quando estiver pronto. Ai, já tô com fome.)

Puta que pariu. Dulce tinha que fazer um livro de receitas para leigos. Ela provavelmente ficaria rica com esse humor foda.

Peguei o leite condensado e cortei o topo rapidamente com a faca. Abri também o chocolate em pó e separei as quatro colheres de sopa dele em uma pequena tigela. Tirei da geladeira a manteiga e separei a quantidade. Abri o armário e peguei uma panela pequena. Passei uma água, sequei, e fui ler o modo de preparo.

VAMOS FAZER?

Alexander, você vai aquecer um pouco a panela. É um POUCO MESMO. Não precisa usar fogo alto, ou vai queimar. Faz no baixo, é mais garantido. Depois de aquecida, você vai jogar a manteiga lá. Mexe até derreter, aí joga o leite condensado. Mexe um pouco e já corre  para o chocolate. Coloque as quatro colheres cheias e então, querido, não pare de mexer. Use as mãos abençoadas que Deus te deu. :D Pega a colher e meeeexe. Se quiser animar a receita, coloca Gasolina, do Daddy Yanke, para tocar. Mas coloca antes, ou seu apartamento vai pegar fogo.

Balancei a cabeça, rindo. Era como se Dulce estivesse ali, comigo. Eu quase pude ouvir a sua voz, me zoando, enquanto eu tentava fazer o tal do brigadeiro. Fiz o que ela disse, exatamente do modo que estava escrito. A mistura ficou em um tom marrom escuro e o cheiro era bom. Voltei a atenção para o papel.

Mi Vida, depois de uns dez minutos, vai começar a soltar umas bolhas, como um vulcão em erupção. Calma, seu apartamento não vai explodir. Veja se a consistência mudou, se ele está mais denso e se a mistura está soltando da panela. Eu sei que o cheiro é bom, mas não vai enfiar o dedo aí, é quente. Continue mexendo até chegar nesse ponto. Desligue quando perceber que está soltando enquanto mexe. Tire da panela, coloque em um recipiente de vidro e jogue o granulado em cima.

Enquanto espera esfriar, me liga. ;)

A mistura começou a ficar como Dulce descreveu, borbulhando e soltando do fundo. Desliguei. Procurei uma travessa de vidro e despejei o brigadeiro, tomando cuidado para não derramar. Abri o saquinho do tal granulado com os dentes e cobri a superfície da sobremesa.

Respirei fundo e peguei o celular, colocando o fone de ouvido. Encarei o brigadeiro, tirei uma foto e enviei para Dulce, enquanto ligava para ela.

— Ah, você está vivo! — Ela riu. — O brigadeiro está tão lindo! Que orgulho.

— Porra, Dulce. — Gargalhei. — Não é difícil.

— Porque eu te dei a receita como se você fosse um bebê. Não acredito que só sabe fazer aquelas coisas na cozinha. Ainda bem que eu pensei à frente do tempo.

— Eu como comida pronta.

— Tudo bem, saber que você não cozinha te torna mais humano. — Sua voz soou divertida. — Se você cozinhasse, Alexander, ia ser um absurdo para o resto dos homens.

— E se eu aprender a cozinhar?

— Eu me caso com você.

 Soltei uma risada.

— Você teria que dizer que se casaria comigo mesmo se eu continuasse fazendo omeletes e panquecas.

— Tudo bem, vamos tentar de novo.

Ri mais uma vez.

Falar com Dulce era bom, cara. Estar na presença dela, ainda que em sua ausência, era uma coisa que eu jamais saberia explicar. Com toda a distância e o tempo entre nós, a cada dia que passava, eu conseguia me apaixonar mais por aquela mulher. O pensamento de viver assim, pro resto da vida, veio com um raio de luz nos meus olhos.

— Então, daqui a seis dias, eu vou ter você — sussurrei.

 — Uhum. E aí vamos poder fazer brigadeiro juntos. O que, na minha imaginação, deve ser ainda melhor.

Peguei uma colher e enfiei no cantinho do doce. Ainda estava quente, mas arrisquei. Coloquei na boca, e o gosto do chocolate e do tal leite condensado explodiu na minha língua, me fazendo gemer. Estava quente pra caralho, mas, porra, era delicioso. Um doce diferente do que já comi, bem denso, exótico e com um sabor de chocolate totalmente diferente.

— O que você está fazendo? — ela murmurou, a voz de Dulce mudando de brincalhona para excitada.

— Hummm... — gemi mais uma vez, o granulado dando textura para a coisa toda. — Una pequeña cosa sabrosa aquí.

— Você está comendo o brigadeiro?

— Ay, Cariño. Quero comer brigadeiro em cima de você. — Peguei outra colherada, imaginando como seria, e girei o talher, lambendo o doce todo, tirando-o da colher com a ponta da língua. — No seu umbigo, na sua coxa, em cima da sua...

— Alexander!

— O quê? — perguntei, rindo, com a colher ainda na boca.

— Você não pode misturar sexo com brigadeiro. É como se eu fosse transar com os dois amores da minha vida.

 — Eu vou. — Sorri. — Ah, Cariño. Eu vou mesmo.

A respiração de Dulce ficou rasa.

— Você é um meio espanhol muito safado.

— Um meio espanhol, meio americano, que agora quer você com brigadeiro.

— Acho que vou comprar mais ingredientes.

Sorri, afundando a colher mais uma vez no brigadeiro, para depois, sentir aquela explosão doce na boca, tudo de novo.

— Te prometo que não vai se arrepender.