Fanfic: Namorado Por Acaso - Vondy (Adaptada) [Terminada] | Tema: Vondy

Me levantei, puto da vida. Que merda, isso não ia continuar, não assim. O apartamento era de frente para o meu, só que, com a festa que estavam fazendo lá, não seriam capazes de escutar nem se a minha parede desabasse. Procurei a chave do apartamento, cacei o celular, abri a porta e fui até o corredor.

De boxer mesmo.

Foda-se.

— Você é tão pauzudo!

— Oh. Oh. Oh — o homem gemeu.

Esmurrei a parede umas dez vezes e esperei. Minutos se passaram e as vozes foram, aos poucos, cessando. Exalei em alívio, mentalmente agradecendo a Dios por não me fazer bater na porta ou, pior, chamar a polícia.

Virei as costas e, quando ia atravessar o corredor, o casal voltou com a corda toda.

 — Eu vou te comer de quatro agora! Estalei o pescoço, irado.

Peguei o celular e digitei para Dulce.

Eu: Não vou conseguir dormir. Puta que pariu! Não deu certo bater na parede.

Cariño: Eu acho que você vai ter que ser o vizinho chato que bate na porta e pede para eles segurarem suas bocas.

Eu: Estou prestes a chamar a polícia.

Cariño: Tenta bater na porta primeiro.

Eu: Que mierda.

Cariño: Não fica estressado, Mi Vida. Amanhã vamos nos ver.

Eu: Aí você me anima. ;)

Cariño: E eu tenho uma coisa tão boa para te contar. É uma surpresa.

Eu: Como assim?

Cariño: Shhhh. ;)

Eu: Você acaba comigo, Cariño.

Cariño: A recíproca é verdadeira rs.

— Vai fuuuuuuuuundo — o casal voltou a me assombrar.

Rolei os olhos.

Com o celular em uma das mãos e a chave na outra, bati três vezes na porta. Franzi o cenho ao perceber que estava entreaberta e, com a batida, se abriu ainda mais. Segurei na maçaneta. Imediatamente, os gritos, os urros e a bateção safada na parede acabaram.

— Sou o vizinho da frente — gritei pela fresta. — Já é uma da manhã, vocês conseguem fazer menos barulho? — Parei e pensei se estava faltando dizer alguma coisa. — Por favor?

Eu sou educado.

Tudo estava apagado, mas, de repente, as luzes se acenderam. Meus olhos foram imediatamente para um ponto específico, à esquerda da sala dos novos vizinhos, e essa era a única coisa que eu pude ver pela fresta.

Um mapa-múndi, emoldurado em vidro, na antiga parede do meu irmão.

 Estranho, franzi o cenho. O mapa era muito parecido com o de Dulce, que ela me mostrou por foto e, depois, na casa dela.

— Obrigado por diminuírem a bagunça aí... — Balancei a cabeça, tentando clarear a mente. O que a saudade não faz com as pessoas? — Tô indo.

Como mágica, a porta se abriu para mim.

Alguma coisa fez os pelos da minha nuca levantarem, avisando que havia algo muito errado com aquele lugar. Tudo parecia familiar de alguma maneira, mas o que gritou por atenção foi a televisão. Um filme pornô, sem dúvida, com o imenso símbolo de pause no meio da tela.

Virei a cabeça, analisando tudo. O barulho veio dali?

Em volta da TV, a antiga estante de Poncho estava cheia de estátuas e coisas diferentes. Livros sobre viagens. Uma miniatura do Buda. A Torre Eiffel apoiando uma coleção de livros sobre a América do Sul. Um pequeno Coliseu. As pedras da série...

— Porra — sussurrei.

Aquelas eram as coisas de Dulce.

Eu estava ficando louco? Ainda estava dormindo e me enfiei em algum sonho? Por precaução, me belisquei, mas senti a dor e... Tudo continuou no seu devido lugar.

A porta se mexeu e uma mulher saiu de trás, com um sorriso lindo no rosto, o cabelo seco; preso no alto da cabeça e olhos lindos me encarando cheias de emoção.

Não uma mulher.

A minha mulher.

A mesma que rastejava em meus sonhos, que se mantinha embaixo da minha pele mesmo quando estava em outro país, a mulher que tinha me feito acreditar novamente no amor e que me fez simplesmente confiar nela, porque não havia outra forma além de me jogar em queda livre. Por ela, para ela.

Depois de sentir sua boca, seu corpo, seu cheiro, eu caí aos seus pés. De ouvir as suas tiradas sarcásticas, a sua vontade de viver, eu soube.

Que aquela na minha frente era a mulher da minha vida. Não sei de onde veio aquilo, mas duas gotas salgaram meu rosto, despencaram duramente dos meus olhos até o peito, de uma só vez. Pisquei, porque a vista ficou embaçada e eu tinha que vê-la, porque meu coração parecia que ia voar para fora da garganta, porque me esqueci como é que respirava.

— O quê... — Minha voz falhou.

— É assim que você vem espantar os vizinhos? De boxer branca? — Riu.

Era ela.

— Bom, claramente eu não estava transando. Falei que um dia você ia pagar por ter me feito ficar acordada naquela noite e, então, veio a ideia e como...

Era realmente Dulce ali, molhada e enrolada na toalha vermelha que dei a ela. Fechei a porta com um chute atrás de mim, em um baque duro.

Dancei os olhos por seu corpo, os seios brigando com a peça vermelha. Enormes, cheios, as gotas d’água em sua clavícula, a pele brilhando sob a luz.

 — Poncho e Annie me venderam o apartamento...

Sua cintura naquela peça, a maneira que seus quadris eram mais largos e a coxas, torneadas e bronzeadas. Fantasiei me ajoelhar ali, deixar a toalha ir, e cair de boca entre suas pernas.

— Acabei voltando um dia antes e... Alexander? Você não está mesmo me escutando, né?

Caralho.

— Não — sussurrei.

Não pensei em mais nada, só dei todos os passos que me impediam de estar perto dela. Não mais quilômetros. Passos. Não importa como, Dulce realmente está aqui, repeti para mim mesmo.

Dulce abriu um sorriso malicioso, e me fez um sinal para parar onde estava. Alguma coisa nostálgica aconteceu entre nós, e lembrei que foi exatamente assim que nos conhecemos. Eu precisando dizer algumas coisas, enquanto Dulce não me escutava por eu estar molhado e de toalha. A situação invertida me fez sorrir, e Dulce, porra... parecia querer reviver isso do começo ao fim.

Porque ela enroscou os dedos na toalha e a peça vermelha beijou o chão.

E ali estava aquela mulher, nua e molhada para mim. Os seios não mais através de uma câmera, mas ao vivo. Os bicos durinhos, a pele cálida, o umbigo perfeito. Cada linha daquela cintura, e a boceta sem um maldito pelo...

Como touro vendo vermelho, eu avancei. Dulce recuou.

Estreitei as pálpebras quando ela riu.

— Você acha que isso é alguma brincadeira? — perguntei.

Em resposta, Dul desatou a correr pelo apartamento. Rindo.

Caralho de mulher difícil.