Fanfics Brasil - Um Convite O Fantasma das Cinzas

Fanfic: O Fantasma das Cinzas | Tema: Fantasia, Vingança, Saga, Romance, Terror, Suspense, Aventura


Capítulo: Um Convite

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“Quando um homem decide se vingar, ele não pode agir por instinto. Ele precisa saber que a vingança vem do ódio, mas o ódio não pode controlar ele. O ódio é o combustível, e igual a qualquer combustível, o ódio pega fogo. Então, pra vingança dar certo, o homem não pode deixar o ódio transbordar. Ou tudo explode.”


As vielas estreitas e mal iluminadas eram a moradia de muitos sem teto na cidade-capital. Conforme a tecnologia e investimentos foram surgindo em um curto espaço de tempo por conta da Igreja do Prisma, o crescimento da cidade foi rápido… Porém altamente desorganizado. Zonas pobres, repletas de escuro e merda eram mais do que comuns ao redor dos bairros nobres. Mas se tinha uma coisa que brilhava no meio de qualquer ruazinha de merda, independente do local, sem sombra de dúvida eram as Igrejas pristinas do Prisma, sempre com seus sacerdotes atraindo os famintos e miseráveis pra mais um sermão com a promessa de salvação.


Andando entre os mendigos e desafortunados, uma figura discreta e corcunda, trajando um pesadíssimo manto negro sobre o corpo todo dava um jeito de passar silenciosamente pelos corredores estreitos e lotados. Coberto por um capuz, devia ser mais um dos tão justos nobres que sempre que tinham a chance, vinham para os distritos externos em busca de saciar seus pecados escondidos.


Tal figura misteriosa parou em um beco sem saída, e tal beco se expandia em uma área maior, com uma construção única que se assemelhava a um bloco de condomínio comunitário. Possuía quatro andares, e igual ao resto do bairro, era tão sujo e mal cuidado que a sensação de contrair alguma praga só de respirar o ar daquele lugar era constante. Cuidadosa, a figura passou por entre alguns homens e mulheres que dormiam no chão úmido, parando diante da porta de entrada. Três batidas com a mão direita, e uma pequena fresta metálica se moveu para o lado, dando espaço para um feixe de luz que iluminou aquela pessoa na altura dos olhos. Dava para ver outro par de olhos no lado da porta, observando como uma ave de rapina o maltrapilho que o chamou.


— Alguém te seguiu? — Perguntou uma voz grave, pertencente a um homem relativamente preocupado.


O guardião daquela construção não obteve resposta, mas pela cara de assustado que ele fez no outro lado da porta, certamente conseguiu a resposta que queria. O som metálico de chave girando foi seguido pelo metal enferrujado da porta sendo arrastado pelo chão, dando passagem ao pedinte. A iluminação interna do local pareceu explodir porta afora, deixando, por um único instante, aquele mar de insalubridade na visão dos olhos dos Deuses.


— Perdão o questionamento, Senhor. Madame está lhe aguardando. Gostaria de deixar sua capa em um de nossos guardadores? — O guardião do local perguntou novamente, ficando na frente do convidado. Novamente, não teve resposta alguma. — … Pois bem! Siga-me, por gentileza.


A figura misteriosa seguiu, conforme solicitado. O corredor iluminado era estreito, bem iluminado, e em péssimo estado de conservação. Ao dar em torno dos trinta passos, chegou em uma porta dupla de carvalho lustroso. O porteiro empurrou a madeira com ambas mãos, revelando um salão totalmente ímpar, aparentemente impossível de estar naquele lugar tão apodrecido pelo tempo. Era um universo paralelo escondido dentro da escuridão.


O piso, coberto por um carpete vermelho reluzente e felpudo, se expandia por dezenas de metros quadrados, dando alas à um imenso salão repleto de mesas redondas, posicionadas com bastante espaço entre cada uma. Lustres de cristal e jade cobriam o teto de ponta a ponta, organizados em uma ordem geométrica que era agradável ao olhar de qualquer um que tivesse a sorte de por os olhos naquele local magnífico. Quadros espalhados pela parede misturavam a arte do Prisma com a arte do Continente da Primavera, desde pinturas até fotografias dos grandes nomes artísticos e religiosos de ambas as culturas.


O que mais chamava a atenção, porém, era a quantidade de belas moças e rapazes perambulando livremente pelo lugar. Homens e mulheres do oriente, todos com sua beleza exótica e odor floral, escondidos naquele paraíso disfarçado de lixão no meio de uma terra distante da sua. Vestindo roupas que variavam dos mais bem decotados vestidos até as mais ousadas e obscenas fantasias, essas pessoas faziam questão de entreter as outras; os porcos gordos, nobres, sacerdotes e toda a gentalha filha da puta que tinha dinheiro sobrando pra gastar em um puteiro de luxo.


“Aquele lugar era o mais próximo que chegava do meu verdadeiro lar. O cheiro de cereja, os vestidos, os yukatas, os robes, os quimonos. A decoração floral espalhada pelas paredes, o brilho do jade nas iluminárias. Então, a coisa mais próxima que eu tinha de `nostalgia`, era ver a minha cultura sendo prostituída para os filhos da puta que tiraram tudo de mim. Não bastava terem matado minha família; eles ainda fodiam o cu da minha herança cultural todo santo dia.”


No segundo andar dava para ver com maior clareza o show de baixarias que acontecia no salão principal, e isso era respondido com um breve olhar de desgosto por parte do visitante encapuzado. Escorado contra a parede, permanecia de braços cruzados olhando para o abismo de putaria e escrotidão que acontecia por uma simples troca de moedas. A atenção da pessoa misteriosa trocou de ponto quando o som de uma porta se abrindo ecoou pelo ambiente. Mais do que de imediato ele se virou para dar de cara com o olhar serpentino e predatório de uma bela mulher, este parcialmente escondido atrás de um leque.


 Estava lhe esperando, bonitão. — A voz carregada de sedução e charme mascarava o quão venenosa era aquela boca. — Vamos… Entre.


Convidado, o homem encapuzado seguiu porta adentro, tratando de fechar a porta e girar a maçaneta da forma mais silenciosa possível. A mulher foi desfilando até o centro do quarto, sentando de pernas cruzadas sobre uma confortável e desnecessariamente grande cama. Madame Kyabare batucava os dedos da canhota contra a coxa exposta, visivelmente nervosa com o rumo que a conversa tomaria. O olhar fuzilava o homem a sua frente, agora este com o rosto revelado.


Cabelos brancos, longos e lisos. Rosto pálido como um fantasma, e olhos vermelhos como dois rubis na frente de uma lareira. O rosto digno de um fantasma, com um olhar tão sanguinário como o de um espírito maligno. Isso, claro, para quem não conhecia a tal figura. De costas para Madame, o homem tratava de fechar todas as cortinas da suíte de sua anfitriã, tornando a atenção para ela com o canto do olhar.


— Você está com algo trancado na garganta, Madame. Não é comum te ver assim. O que houve? — Uma pergunta de voz grave e suave, agradável ao ouvido.


— Não fode comigo, Haoh. Você quase matou o meu informante! — Madame se levantou imediatamente, jogando o leque fechado sobre a cama com visível raiva. A mulher andou até Haoh, pressionando o peito dele com o indicador direito. — Sabe o quão difícil é conseguir gente infiltrada na porra daquela igreja, caralho?!


— Ei, baixa o tom pra falar comigo ou vão te escutar. — Era meio difícil acreditar nisso com a quantidade de gemidos e som de madeira batendo vindo do outro lado das paredes. — O tal do teu informante foi seguido e quem quase tomou no cu foi eu. Se as coisas tivessem acontecido conforme o planejado, eu não precisaria ter feito o que eu fiz. — Haoh respondeu com relativa tranquilidade, segurando o pulso da dona do cabaré com suavidade. Em resposta, ela baixou a mão, estendendo a palma pelo peitoral do companheiro.


 … Você se feriu? — Madame questionou, agora a indignação dava lugar para um tom preocupado.


— Eu estou bem. Alguns cortes, mas já mediquei os ferimentos. Todos superficiais. — Ele estendeu o braço esquerdo, esse com todos os dedos enfaixados, cobertos até o ombro e parte do pescoço. — Conseguiu o que eu pedi?


— Você acha que está falando com quem, doçura? — Madame perguntou de forma inquisitiva, dando as costas para Haoh. Em passos exageradamente rebolados, foi até um baú, esse posicionado aos pés da cama, e abriu o mesmo. — Vamos. Tenho os seus brinquedos favoritos, garotão!


Haoh seguiu Madame, parando ao lado dela. Ambos olhavam para dentro do baú. O brilho no olhar da mulher representava orgulho. O brilho no olhar do homem representava confiança. Confiança essa que foi acompanhada de um sorriso perverso, carregado de desejo vingativo.


“Quando você decide trilhar esse caminho, você precisa saber em quem não dá pra confiar. Mas mais importante do que isso, é saber em quem você pode ter ao seu lado. No meu caso, era a dona de um puteiro. A quantidade de pessoas que ela tinha no bolso passava além da conta, e eu precisava de toda a informação que ela podia me dar. Por sorte, ela compartilhava o mesmo desgosto que eu pela Igreja do Prisma. Ela podia ter os negócios dela funcionando, mas nunca ia se esquecer de quando levaram o moleque dela pra sabe-se lá onde. Isso foi a uns quinze anos atrás.”


Após terminar de vestir a túnica que lhe fora fornecida por Madame, Haoh parou diante de um espelho. Com os longos cabelos presos em um longo rabo de cavalo, as cores da vestimenta carregavam a nobreza daquela terra estampada no tecido. Olhando-se no espelho, Haoh enxergava a memória de um passado queimado, quando vestia essas mesmas roupas e vivia com conforto no casarão dos Lauriant.


Madame, intrometendo-se naquela memória nostálgica, posicionou-se diante do colega, puxando uma capa sobre seus ombros. Olhando para o peito dele, foi trilhando o corpo machucado até o pescoço com dedos hábeis e velozes, prendendo a capa com a ajuda de um broche. Graças a isso, as lâminas que ele carregava na cintura ficaram perfeitamente escondidas. Segurou o queixo de Haoh com firmeza, apertando as bochechas dele com as unhas longas da direita, e a esquerda ficou com o indicador apontado entre os olhos carmesim.


— Vê se não vacila. Um baile de máscaras é a entrada perfeita pra você. Os convidados ficarão no pátio externo até as 20 horas. Quando o relógio tocar, as portas serão abertas para o salão de jantar. — Kyabare semicerrou os olhos, soltando o rosto de Haoh e se dirigiu até uma mesa ao lado do espelho. — Até as portas abrirem, você vai ter todo o tempo do mundo pra questionar o sacerdote. Te conhecendo, sei que você consegue entrar e sair com tempo de sobra.


 Consigo. E minha máscara? — Haoh, monossilábico, permaneceu se encarando no espelho. A atenção foi dividida entre seu reflexo e as mãos hábeis da cafetina.


Em suas mãos ela carregava uma almofada vermelho-sangue, e no centro desta uma máscara esculpida em cerejeira. Esculpida a mão, a máscara tinha traços típicos da Terra da Primavera, sendo pintada em um azul claro e seco, com traços delicados em ornamentações douradas que se espalhavam pelos olhos. Baixando a cabeça, ofertou a máscara para Haoh.


“Quando você decide enfrentar os Grandes Poderes que são o alicerce da sociedade e toda corrupção, você não pode bater de frente. Quem diz um `Ah` contrário à vontade da Vossa Luminescência, é encontrado semanas depois jogado em uma vala, afogado em algum lago ou simplesmente some sem deixar vestígios. Pra enfrentar os Grandes Poderes… pra enfrentar aquele sistema fodido de política, sociedade, cultura e religião, você tem que deixar ser engolido… Só pra daí, então, poder escarniçar a barriga da fera de dentro pra fora.”


Com o convite em mãos, Haoh passou sem maiores problemas pelos guardas. O convite era para a Madame, mas ele foi como um de seus representantes, alegando que trazia consigo informações pertinentes aos impostos que o bordél pagava. Quando o assunto era lucro, qualquer um, até mesmo as putas e os pobres eram bem vindos pelos portões da Igreja. A premissa da festa era simples. Os nobres usavam máscaras com faces humanizadas, representando a sociedade. Os empregados usavam mácaras de animais, pois era isso o que eles eram, e os membros do clero, por serem puros e pristinos, não usavam máscara alguma.


Passando por diversos convidados mascarados, ali ele foi capaz de identificar vozes familiares. Sacerdotes, padres e bispos de diversas unidades da Igreja, junto de vários membros de famílias nobres da região. Alguns ele conhecia somente de rosto. Outros, por nome, ainda da época em que faziam visitas na propriedade dos Lauriant. E os que ele não conhecia por nome, faria questão de lembrar os rostos e descobrir os nomes logo em seguida. Mas isso era uma tarefa para depois do resultado. Agora ele precisava encontrar uma maneira de entrar na igreja e encontrar seu alvo: O Arcebispo Duval.


Foi preciso perder um tempo jogando conversa fora, fantasiando uma vida de mentira com os outros convidados asquerosos daquele lugar até encontrar a chance perfeita. O jardim da igreja era imenso, repleto de árvores altas e esbeltas, dignas das mais puras e intocadas florestas. Foi fácil encontrar rastros dos empregados que iam e voltavam pelas entradas laterais ali; era só seguir a grama batida que mais cedo ou mais tarde algum lugar ele iria encontrar.


Quando finalmente encontrou uma porta, sentiu que os Deuses haviam lhe sorrido. A tal entrada, fechada e trancada com sete chaves, ficava logo abaixo de uma sacada do terceiro andar. O quarto da tal sacada estava iluminado por uma fraca e tímida luz, possivelmente de velas. Era perfeito para se infiltrar. Esperou um dos serviçais sair porta afora carregando suas taças em uma bandeja metálica, e assim que ele sumiu de vista, Haoh tratou de se livrar da cobertura das árvores.



Sacou uma de suas lâminas, agarrando-a com a mão esquerda, e correu em direção à construção da igreja. Em passos velozes, saltou na direção da parede de pedra, pisando nela com o pé esquerdo e em seguida com o direito, usando a breve pausa que teve antes da queda para enfiar a lâmina entre as frestas das rochas. Com a outra mão se agarrou na parede, abraçando-a com os braços bem abertos. Ali, grudado como uma aranha, tratou de empurrar o corpo com o uso dos pés, usando uma pilastra de apoio para se projetar para o lado. Soltou a lâmina da parede e bateu de frente com a sacada do segundo andar. Cuidadoso, tratou de erguer somente a cabeça até a altura do chão, observando a janela fechada. Ali estava deserto, e trancado.


Agora era a vez do terceiro andar. Esse, por sorte, seria mais fácil. Bastou se equilibrar entre os pilares da sacada do segundo andar, que com um único pulo esticou o braço direito e conseguiu uma pegada forte no piso superior. Puxou o corpo para cima e pronto, lá estava ele encarando a janela aberta e o quarto mal alumiado por uma vela solitária. Os olhos carmesim brilharam como duas chamas, e Haoh, seguro de si, se jogou para cima do piso, indo quarto adentro.


“Dentro dos aposentos da igreja eu percebi como a coisa realmente funcionava. Enquanto os sacerdotes dormiam nas camas feitas de ouro, com seus travesseiros de pena de ganso e colchões macios como os seios de uma mãe, o povão ficava chafurdando na merda lá em baixo. A merda daquela igreja devia ter uns oito andares, com uma torre alta o suficiente pra você ver o bairro inteiro. As ruas ao redor da igreja, repletas de verde e casarões cobriam a visão do mar de bosta que tinha do outro lado daquela muralha improvisada.”


— O jantar vai ser um sucesso, Arcebispo. A quantidade de nobres e devotos que farão doações irá gerar um lucro generoso para a sua unidade. Eu fiz questão de espalhar os convites para todos os bons nomes da região, se é que me entende… — O padre que oferecia os detalhes soltou uma gargalhada escandalosa, que foi acompanhada por mais outras duas.


— Perfeito, perfeito! Com o dinheiro das doações iremos expandir nossa influência por essa região. Pretendo fazer uma igreja nova para as comunidades mais distantes do bairro, quem sabe assim conseguimos atrair o pessoal que mora nos lixões para cá. Ouvi dizer que estamos passando por um surto de não-humanos migrando para cá, e quero ter olhos em todos lugares e impedir que esses sacos de bosta manchem a comunidade. — O arcebispo, em toda sua obesidade, cuspia as palavras com escárnio.


— Cuidaremos disso, não se preocupe! Com os cheques gordos que vão assinar, tenho plena certeza de qu-! — Uma pausa seguida por um suspiro. — FILHA DA PUTA! Quem é você, caralho?!


A atenção do trio clérico se voltou, em espanto uníssono, para a figura misteriosa que surgiu silenciosamente por uma das portas. Como um fantasma, moveu-se sem fazer qualquer frequência audível de som, parando de andar quando metade da face coberta pela máscara foi tocada pela luz dos candelabros. Ele não disse nada, mas ao que tudo indicava, era um dos muitos convidados, julgando pela máscara azul.


— Cadê a porra dos guardas? Você tá perdido? Não entendeu? Estamos falando com você. — O arcebispo se levantou de imediato, empurrando a cadeira para trás.


— Eu quero fazer uma doação, senhores. — A voz rouca de Haoh ecoou discretamente pela sala. Quando ele disse essas palavras, a reação dos três clérigos mudou. Um sorriso perverso brotou nos lábios sujos de graxa de cada um daqueles filhos da puta.


— Nossa! Então peço desculpas pela péssima abordagem que tivemos com o Senhor. Nos assustamos, você pareceu um fantasma! Qual sua família, meu caro? E que tipo de doação você pretende fazer? — O arcebispo se sentou de imediato, batendo as palmas sobre a mesa de madeira. — Mas não se preocupe, filho. As doações vão começar com o jantar, daqui a uma hora. Junto dos fogos de artifício. Vai ser um espetáculo, você vai ver!


— Eu me chamo Haoh, Arcebispo. Haoh, da família Lauriant. — A menção daquele nome fez os três homens sentados empalidecerem. — … E a doação que eu venho fazer, é em sangue.


Um silêncio fúnebre caiu entre os quatro homens presentes na sala. Jogando a capa para trás, o homem mascarado revelou estar segurando duas grandes lâminas curvas, estas manchadas de sangue fresco. O clero se levantou imediatamente, berrando pelos guardas enquanto empurravam as cadeiras para trás e tratavam de mover seus corpos gordos e bem alimentados para longe dali. Em um sopro do vento, todas as velas se apagaram, fazendo um escuro mais denso que a morte engolir os presentes. Haoh se movimentou da mesma forma que entrou, iniciando seu trabalho.


Breve e silencioso.


Os portões do saguão principal da igreja estavam prestes a abrir. O som de fogos de artifício estourando céu acima ensurdecia as pessoas ao jardim da igreja, que comemoravam erguendo suas taças de vinhos e espumantes nobres, fartando-se feito animais famintos com suas guloseimas e aperitivos, regados a álcool e suor dos trabalhadores inocentes que eram flagelados por trás das cortinas.


Era a hora. Conforme o combinado, os portões do saguão principal da igreja se abriam lentamente. A escadaria que dava para a frente dos portões de pedra deviam ter em torno dos trinta ou quarenta degraus, indo de ponta a ponta por dez metros. Era uma construção exagerada, como todas as igrejas daquele local. As pessoas aguardavam ansiosamente, olhando para o alto enquanto as luzes eram acesas uma a uma de forma rítmica e treinada, começando pelo fundo do salão e indo, finalmente, até a porta de entrada.


E de lá do topo, um único homem saiu de dentro da igreja. Um dos muitos convidados, trajando capa e máscara azul. Ele iniciou uma caminhada vagarosa degrau abaixo, olhando para trás, para dentro do salão por um único instante antes de continuar a sua descida para voltar com o restante do público. Aquilo era um trabalho bem feito.


Conforme as pessoas subiam os degraus para entrarem no saguão e degustarem o tão esperado jantar,os fogos de artifício, soltando seus estouros coloridos, davam espaço para gritos de desespero e pavor. Convidados e serviçais corriam igualmente para ver do que se tratava tal comoção, que resultava em mais gritos, mais pavor e mais desespero conforme a multidão se aglomerava.


No centro da mesa, os dois padres que antes conversavam calorosamente sobre donativos estavam deitados sobre a madeira de carvalho, estendidos sobre imensos pratos de bronze. Com suas robes ensanguentadas e os corpos abertos, seus órgãos borbulhavam sangue fresco que se espalhava pelo chão em discretas cachoeiras escarlates, reluzindo o brilho das lamparinas. Na boca de cada um, havia uma maçã forçada de forma bruta, quebrando a mandíbula e até mesmo alguns dentes da dupla de recém mortos.


O mais chocante, porém, era o que havia no centro do salão. O Arcebispo Duval, tão bem quisto pelos porcos nobres e socialites da região estava pendurado pelo pescoço em um fino cordão de fibra dourada. Com uma ponta presa no gigantesco candelabro de cristais reluzentes, seu corpo bamboleava enforcado de um lado para o outro, deixando sua aparência gorda mais inchada ainda enquanto a língua mole e os olhos se esbugalhavam para fora de sua face distorcida em pânico e dor.


Pendurado junto a ele havia uma bandeira. Uma bandeira com um brasão familiar. Um brasão que foi esquecido e apagado pela sociedade, porém, que hoje serviu de um terrível lembrete para aqueles que moviam as peças no jogo da política e conquista daquelas terras. O brasão da família Lauriant. Na bandeira, escrita com sangue, havia os dizeres:


NÓS LEMBRAMOS


E do mesmo jeito que Haoh surgiu, ele também sumiu. Como um fantasma.


“Quando o fantasma entra na sua casa… O convidado é você.”



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Autor(a): swordsaint

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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