Fanfic: Felicidade - Vondy | Tema: Dulce, Christopher, Romance, novela

Respirou fundo e começou:
- Acho que começo a compreendê-lo, sr. conde. Quer ter certeza de que eu não vou me entediar aqui. Bem, quanto a isso pode ficar sossegado, pois a idéia de vir morar no campo me parece muito interessante. Teria imenso prazer em aproveitar as delícias de seu jardim. No momento está coberto de neve, mas sei que ficará lindo quando a primavera chegar. Gostaria muito de podecaminhar lá fora e. - Dulce fez uma pausa, notando o ar de intensa concentração do conde. Por que aquilo era tão importante para ele? O que tinha a dizer agora não era muito fácil, mas era necessário ir até o fim. - Eu. bem, acho que percebeu que não gosto de levar uma vida social agitada. Não há nada em Londres, como clubes, boates, ou mesmo homens, de que eu vá sentir falta. Como o senhor, também aprecio a vida calma e tranquila. Quanto à última pergunta que me fez, não compreendo o objetivo dela mas responderei assim mesmo. Depois de trabalhar dois anos nos tribunais, não me choco mais com facilidade. Para ser sincera, não me surpreendo mais em saber o que as pessoas fazem a si mesmas e às outras.
Anne percebeu que estava indo longe demais e que aquela não era a melhor maneira de se conversar com um aristocrata. Contudo, a situação a deixava confusa e por isso falava assim. Houve um silêncio durante o qual ela olhou o céu lá fora, cinza e escuro. Pareceu que se passava uma eternidade antes que o conde voltasse a falar.
- Garanto que tenho boas razões para fazer todas essas perguntas. Quanto à última delas, eu a fiz porque meus livros são muito diretos e se a senhorita não puder ouvir a descrição de cenas cruéis, sangrentas, sobre a violência em suas formas mais duras, então este serviço não lhe servirá.
Cenas sangrentas, a violência em suas formas mais duras? O que ele queria dizer com isso? Fitou longamente aquela face sombria, ao mesmo tempo forte e bonita. Era o rosto de um homem profundo e misterioso.
- Quem é você? - ela perguntou, quase que para si mesma. - Evidentemente usa outro nome para assinar seus livros.
- Eu uso o pseudônimo de Jason Jordan - ele revelou e se levantou, caminhando de volta para a grande mesa de madeira.
Jason Jordan! Claro que já ouvira falar nele, qualquer pessoa reconheceria esse nome. Nunca lera nenhum de seus livros, mas sabia que eram best-sellers internacionais. Lembrava-se deles nas prateleiras das livrarias e, já vira vários na casa de Alan. Eram romances violentos, sobre mercenários que lutavam na guerra a troco de dinheiro. Eram histórias pelas quais os homens se interessavam mais que as mulheres.
- Aceita um cigarro? - O conde pegou uma pequena caixa de prata sobre a mesa.
- Não, obrigada.
- Não fuma?
- Às vezes, mas não quero agora. - Anne sentia que deveria dizer algo a respeito dos livros que ele escrevia. Contudo, a verdade era que a revelação do pseudônimo dele ainda a deixara insatisfeita. Tinha a sensação de que o mistério a seu respeito ainda não estava totalmente esclarecido.
Que este homem era Jason Jordan, aclamado autor de livros internacionalmente famosos, não duvidava. Aquela impressão de deliberado autocontrole, como se algo estivesse pronto a explodir dentro dele, tudo isso decerto ganhava vida e se soltava livremente em suas histórias. Não havia nada de suave naqueles romances, assim como não havia nada de suave naquele homem. Entretanto, a sensação de mistério ainda a perseguia. Por que continuava achando que o conde possuía uma terceira face? Devia estar confundindo as coisas, era aquela situação estranha que a fazia presumir tais bobagens.
- Será que pretende me deixar esperando o dia a inteiro? - A voz do conde a trouxe de volta à realidade. - Não vai fazer nenhum comentário?
- Oh, sim, desculpe. Eu. eu receio não ter lido nenhum de seus livros, mas sei do que tratam.
O conde deu de ombros, como se aquilo não o interessasse.
- Ficaria satisfeita em trabalhar com este tipo de material?
- E por que não? - Agora era sua vez de dar de ombros. - Quero dizer, é só ficção, não é?
Ele respirou fundo e devagar. Seria sinal de alívio por ter encontrado uma secretária confiável? Ou seria impaciência?