Fanfic: Felicidade - Vondy | Tema: Dulce, Christopher, Romance, novela

Em algum lugar entre o pintor e o escritor estava o conde. Era ele quem a fascinava. Um homem que era hoje a síntese de tudo que havia passado, tudo que havia sofrido, todas as alegrias que tivera, os receios, os temores. Christopher Uckermann, o homem!

No sábado da segunda semana que estava no Solar Serena, o tempo afinal melhorou e quando Dulce acordou viu o sol surgindo timidamente no horizonte, prometendo um dia claro de céu azul. Nesta noite os relógios seriam adiantados: a primavera tinha chegado!

Era sempre um prazer encontrar o conde na biblioteca todas as manhãs. Dulce cumprimentou-o e sentou na poltrona em frente à sua mesa. Talvez por causa de seu bom humor, arriscou um comentário sobre o tempo.

— Acho que a neve terminou. — Ela sorriu, sabendo que o conde adivinharia seu sorriso. — Já estava triste por ter de ficar o dia inteiro dentro de casa. Mas, daqui para frente, será diferente. — Olhou o jardim através da janela. — As árvores já estão derretendo e...

— Você quer dizer que o degelo está começando — Christopher Uckermann replicou, recostado em sua cadeira de couro.  

— Bem, se é assim que prefere dizer...

— Ora, você não disse que era uma pessoa realista? As pessoas realistas não diriam que "as árvores estão derretendo".

Por um momento, Dulce não soube o que dizer. Ele tinha razão, mas que tipo de conversa era aquela? O conde a fitava agora como se esperasse algum comentário. Então sorriu e Dulce não coube em si de satisfação. Um sorriso... Era tão fácil sorrir, mas podia contar nos dedos as vezes em que ele sorrira durante aquelas duas semanas. Nesta manhã ele devia estar bem-humorado e ela resolveu aproveitar para tentar conversar um pouco mais.

— Sr. conde, há algo que gostaria de lhe perguntar. Vou visitar meu irmão esta tarde e... bem, naturalmente ele ficará curioso para saber com quem estou trabalhando. Ele sabe que o senhor é escritor mas... permite que eu diga quem é realmente?

— Claro que sim. — Ele fez um pequeno movimento de cabeça e seu sorriso se tornou um pouco maior. — Tenho certeza de que seu irmão é uma pessoa discreta. Não acho que vá colocar um anúncio sobre isso na edição do Times...

— Não, pelo menos sobre este assunto não vai colocar.

— Como assim?

— Oh, perdão, não é nada. — Havia se lembrado de que Alan prometera anunciar para contratar uma empregada.

— Espere um pouco... seu irmão trabalha em algum jornal, é isso?

— Não. Alan é advogado. Só falei aquilo porque o senhor me lembrou de uma outra coisa. Alan me prometeu colocar um anúncio no jornal procurando alguém para tomar conta da casa. Eles precisam muito de uma mulher que cuide de tudo. Para dizer a verdade, precisam tanto que quase nem vim para a entrevista! Eu queria... quero dizer... Alan não permitiria que... — Agora que estava de fato conversando com o conde, ela se sentia amedrontada e com a língua presa. Além do mais, aquele tipo de conversa certamente não poderia interessá-lo.

— Vamos, explique! — ele pediu com sua voz grave.

Era agradável e delicada a maneira como a convidava a falar. Levemente inclinado para a frente, os braços sobre a mesa como no dia da entrevista, a cabeça um pouco abaixada na atitude de quem está escutando.

Ela contou sobre Alan, sobre as crianças e sobre como estiveram doentes na semana anterior. Contou como precisavam de alguém que cuidasse deles e da casa, e de como tinha se oferecido para fazer isso, desistindo da própria profissão. Quando chegou ao ponto em que Alan a havia recusado, já estava tão à vontade que nem parou para pensar quando fez seu último comentário.

— ...então disse a Alan que era tolice, pois sei que vou terminar sendo uma tia solteirona de qualquer maneira. Mas ele não mudou de ideia, continuou insistindo que eu tinha minha própria vida para levar e encerrou o assunto.

— Pois ele tem toda razão, você deve cuidar de si mesma. Alan parece ser um bom homem. Fale-me sobre ele.

Houve um momento de silêncio. Dulce ficou surpresa. O conde não perguntava aquilo por mera educação, seu estilo não era esse. Estava realmente interessado em sua família, apesar de ela não compreender a razão disto.

— Dulce? ...Permite-me chamá-la assim?

— Sim, sim... claro.

— E acha também que poderia me chamar com um pouco menos de formalidade?

Menos formalidade? Até agora ela se referia ao conde de maneira como Finn o fazia.

— Sim... sr. Uckermann.

— Tente dizer Christopher. Agora gostaria que me falasse sobre seu irmão.

— Sim, mas... Alan é uma pessoa tão comum... chega a ser difícil descrevê-lo! Talvez... Acho que posso colocar as coisas assim: se Alan fosse um edifício, por exemplo, seria como a Town Hall porque é um lugar prático e funcional, compreende o que quero dizer? E se fosse uma cor seria cáqui, uma cor quente e sensível, mas sem brilho.

— Sim, compreendo a ideia. — O conde não sorriu desta vez, mas parecia dentro do espírito da conversa. — E se fosse um copo seria de vidro bem trabalhado, mas não cristal, não é?

— Sim, isso o mesmo! — Ela riu.

— E se fosse água, que forma teria?

— Essa é uma boa pergunta, pois a água tem tantas formas diferentes. Deixe-me ver... Sim, Alan seria um lago, grande, parado e talvez um pouco estagnado.

O conde meneou a cabeça, interessado.

— E agora Dulce, diga-me, se você fosse água, que forma teria?

— A mesma de meu irmão, talvez.

— Errado! — O sorriso dele agora era enorme, deixando à mostra dentes alvos. Os olhos pareciam brilhar.

— Está bem. Então me diga que forma eu teria.

Contudo, naquele momento algo pareceu se transformar.

— Alguma outra hora lhe direi. Agora é melhor retomarmos nosso trabalho.

Era corno se ele subitamente percebesse que perdia tempo com aquela conversa. De qualquer maneira, a atmosfera havia mudado tão de repente que Dulce agora se sentia mal. O que tinha acontecido? Quando terminaram o ditado do dia, por volta das onze horas, Dulce avisou que ia direto para a casa de Alan, em Surrey.

— Vou datilografar o texto de hoje amanhã à noite, quando voltar para cá.

O conde concordou com a cabeça, mas não fez nenhum comentário e, quando Dulce saiu, virou a cadeira na direção da janela. O sol já devia estar alto agora, apesar de não poder sentir seu calor. E quanto à neve? Já teria desaparecido por completo ou as "árvores ainda estariam derretendo?"

Era bom tê-la por perto, essa garota que trazia um leve aroma de rosas para a biblioteca todas as manhãs. Não podia reconhecer que perfume era aquele, devia ser um perfume inglês.

Um pouco desanimado, Christopher sorriu para si mesmo. Fora incapaz de resistir hoje! Como ela podia se definir como realista, se colocava as coisas de maneira tão poética? E sua voz tão suave, tão feminina, quantas vezes trazia em si um tom de surpresa! Era uma pessoa que sentia prazer nas coisas simples.