Fanfic: Felicidade - Vondy | Tema: Dulce, Christopher, Romance, novela

Dulce achou que era Finn quem batia à porta e ficou irritada. Não queria que a visse com o rosto vermelho e abatido. Mas não podia deixar de responder, não depois de tê-la ajudado de manhã.

— Se trouxe o chá, Finn, pode deixar do lado de fora. Não estou vestida.

A porta se abriu e uma voz de veludo a fez dar um salto na cama. — Não é chá. Eu lhe trouxe licor.

— Christopher! Eu... Oh...

— Não precisa entrar em pânico. Eu não posso enxergar, lembra-se? — Ele estava parado sob o umbral da porta, um cálice de licor em cada mão, sorrindo para ela. A princípio Dulce não sabia o que dizer, era um choque vê-lo assim de repente.

— Eu... bem, estou vestida, na verdade.

— Ah, então disse aquilo só porque não queria ver ninguém. Sinto muito, Dulce. Sei como se sente.

— Bem, farei uma exceção em seu caso, pois não poderá ver a cara horrível com que estou — ela falou sem pensar e Christopher sorriu.

— Será que pode pegar estes drinques e me dizer onde está a cadeira?

Dulce se levantou e tomou os cálices.

— A cadeira está perto da mesa, uns dois metros à sua esquerda. — Ela esperou até que ele sentasse para lhe entregar um dos cálices. Por que teria vindo a seu quarto? Tinha de haver alguma razão bastante séria.

— Percebo que trouxe flores para o quarto...

— Sim, elas estão um pouco adiante de você, perto da janela. Mas as cortinas estão fechadas. — Dulce havia sentado sobre a cama, mas tornou a levantar. — Vou abrir as cortinas. Colhi as flores esta manhã. Levantei cedo e...

— Dulce, por favor, relaxe. — Christopher ergueu a mão num gesto que pedia silêncio e o falso sorriso morreu nos lábios de Dulce. — Não tente se mostrar viva e disposta quando na verdade não se sente bem. Não conseguirá me enganar.

Ela tornou a sentar e tomou um gole do licor, na esperança de que lhe desse forças para agir com naturalidade. Não era fácil, especialmente depois de ter descoberto que o amava. Já havia estragado seu dia de trabalho e agora o conde estava ali para lhe dizer algo a respeito disso.  

— Eu... eu sinto muito por não ter podido trabalhar esta manhã, Christopher. Mas acho que amanhã poderemos recuperar, não é?

Aquele comentário o entristeceu. Será que Dulce de fato achava que ele tinha vindo por causa de um motivo tão irrelevante? Ou estava só sendo a Dulce de sempre, eficiente e responsável?

— Não vim aqui para falar sobre trabalho.

— Então... então por que veio?

— Será que pretende tornar as coisas ainda mais difíceis para mim? Sabe que para um homem como eu não é fácil pedir desculpas.

Dulce franziu a testa, confusa. Onde ele pretendia chegar?

— E como é um homem do seu tipo, Christopher?

— Um homem que esqueceu suas boas maneiras só porque não precisa delas há um bom tempo. Um homem que em nenhuma outra ocasião se desculpou por causa de seu comportamento. Um comportamento que talvez possa parecer desnecessariamente frio e excêntrico para uma garota tão perceptiva como você. — Fez uma pausa e bebeu um gole de licor.

Não era fácil para ele, Dulce sabia. Revelava mais um dos tantos lados de sua personalidade, um lado que repousava muito abaixo da superfície. Mas de que adiantava? De que valeria? Muito pouco...

Fechou os olhos com força, para impedir que as lágrimas saíssem. Pedia a Deus que não a deixasse demonstrar nenhuma emoção, pois Christopher perceberia apesar da distância que os separava. E ela não queria que isso acontecesse. Pigarreou, para limpar a garganta.

— Há uma contradição no que está dizendo. Se sou uma garota tão perceptiva, então compreendo seu comportamento.

— Talvez você me compreenda até certo ponto, é provável que tenha suas próprias teorias. Mas compreender a maneira como a trato não significa que goste disso. Pude sentir a mágoa em sua voz quando estava falando, e já a tinha ouvido muitas outras vezes antes. Desculpe, Dulce. Não fiz nada para tornar mais fácil sua vida nesta casa. Também lhe dei muito serviço extra na semana passada é acho que tudo contribuiu para que ficasse tão tensa hoje. Será que podia demonstrar que me desculpa aceitando almoçar comigo?

Dulce ficou de boca aberta. Aquelas desculpas e o convite lhe provocavam emoções diferentes e confusas. Subitamente queria manter a distância entre eles, não queria a oportunidade de se aproximar do coração do conde; daquele coração frio e sólido. Seria fazer algo que só lhe traria mágoa e dor, além de ser inútil.

— Sim, obrigada, será um prazer almoçar com você. — Dulce fechou os olhos, tentando se convencer de que aceitava o convite, pois não podia magoar Christopher. Ele havia se desculpado, não havia? Como poderia recusar agora?

— O que você está usando, Dulce? Um vestido, saia...

Ela abriu os olhos. Não havia escutado uma palavra.

— Perdão... o que foi que disse?

— Que vou fazer sua dor de cabeça passar com uma massagem.  É a "fase dois" para fazer você se sentir melhor. — Christopher levantou e foi para trás da própria cadeira. — Tire seu vestido ou o que quer que seja, por favor, e sente-se aqui.

Dulce engoliu em seco. Oh, não! Aquilo era pedir demais. Sentir as mãos sobre ela seria mais do que poderia suportar.

— Não seja tolo, já disse que estou me sentindo melhor. — Seu coração batia como louco, a voz denunciava o pânico que a invadia.

— É difícil enganar um homem cego, não acha? Venha sente-se aqui e saiba que já estudei anatomia há muitos anos. A fisiologia feminina é algo que conheço. Não tenha medo, sua dor de cabeça desaparecerá em cinco minutos.

Com as mãos tremendo e as pernas moles, Dulce levantou devagar e caminhou até a cadeira, tirando seu suéter no caminho. Quando sentou e percebeu que Christopher se aproximava, teve certeza de que a massagem só faria crescer a tensão dentro dela.

Não foi o que aconteceu. Os dedos longos e fortes de Christopher começaram a trabalhar sobre os músculos delicados de seus ombros, puxando, alongando, desfazendo a tensão. Em pouco tempo Dulce já se sentia melhor. Ele ia lhe dando algumas instruções.

— Deixe a cabeça cair para frente... assim... deixa-a ficar em minhas mãos...

Movia sua cabeça de um lado para outro, depois foi massageada nas últimas vértebras da coluna com movimentos circulares e delicados, retirando de uma vez toda a tensão. Dulce agora sentia-se muito bem. Recostou na cadeira quando Christopher repousou as mãos sobre seus ombros.

— E então, melhorou?

— Sim, muito... obrigada. — Num impulso, tocou a mão de Christopher e ele a tomou entre as suas. Em seguida caminhou ao redor da cadeira e a fez se levantar.

Ela não disse nada quando ficou de pé na sua frente, fitando seu rosto, presa cativa do magnetismo que Christopher irradiava. Quando ele estava por perto, havia magia no ar. Erguendo as mãos, ele tocou-lhe o rosto e começou a lhe massagear as têmporas com delicadeza, descendo pelo queixo até o pescoço. Dulce não poderia ter dito nada, mesmo que quisesse. Todo seu ser recebia de bom grado aqueles toques. Era Christopher dizendo alô, vendo-a pela primeira vez.