Fanfic: Felicidade - Vondy | Tema: Dulce, Christopher, Romance, novela

Dulce suspirou quando abriu a geladeira e notou o gelo que se acumulava. Desde que a empregada que tomava conta da casa fora para o sul, há três semanas, as tarefas caseiras haviam sido negligenciadas, pois Alan preferia gastar seu tempo livre fazendo companhia às crianças. Dulce conseguira, a muito custo, convencer o irmão de que ele precisava de alguém para tomar conta da casa em tempo integral. Na noite passada tinham discutido, quase brigado por isso.
Ela estava tão preocupada com os sobrinhos e Alan, que se oferecera para desistir da profissão e ir morar com eles, para cuidar de tudo. Não era a primeira vez que fazia a proposta, mas Alan nem quis ouvir falar nisso. Disse que nunca permitiria que Dulce parasse de trabalhar tornando-se uma tia dedicada aos sobrinhos e sem vida própria.
Era inútil discutir com Alan, que era muito teimoso. Contudo, ele admitiu que precisava contratar alguém para cuidar da casa e disse que colocaria um anúncio no jornal. Para Dulce, isso já significava um grande progresso e era nessas coisas que pensava enquanto observava as crianças pela janela da cozinha, brincando na neve.
Seu trabalho como taquígrafa era agradável, pois sempre variava. Contudo, chegara a um estágio onde nada mais era novidade. Já encontrara todos os tipos de pessoas, das profissões mais diferentes, e agora não encarava a profissão como um desafio.
Seus dias eram cansativos e as noites vazias, pois era solteira e morava sozinha. Acreditava que seria feliz vendendo seu apartamento em Paddington, e indo morar junto de Alan e das crianças. Havia atingido um momento na vida em que gostaria de um pouco de paz e tranquilidade.
Casamento era algo que nem pensava, seria tolice. Tinha consciência de que não seria fácil achar um homem com o qual quisesse se comprometer pelo resto da vida. Além do mais, era realista. Com sua aparência normal, sem grandes atrativos, sabia que dificilmente um homem fantástico se interessaria por ela.
De qualquer maneira, era uma pessoa razoavelmente feliz. Ganhava bem, vestia-se com roupas caras, tinha seu apartamento e um carro. Era um pouco solitária, mas quem não era?

Ao meio-dia ela partiu da casa de Alan rumo a Buckinghamshire, certa de que estava adiantada mesmo contando com a neve e o tempo ruim.
- Vejo vocês hoje à noite - disse para as crianças que a acompanharam até a porta.
- É melhor não prometer - Alan avisou. - A neve está cada vez pior e, se resolver ir direto para casa depois da entrevista, nós compreenderemos.
- Ora, tolice. Voltarei para cá, pois amanhã pretendo fazer um ótimo almoço de domingo para nós. Até mais tarde, então.
- Está bem. Boa sorte com a entrevista.
- É só mais um serviço. - Dulce deu de ombros. - Direi ao sr. Finn que não poderá encontrar secretária melhor que eu. Se ele não gostar, azar dele. Na segunda-feira escolherei entre uma dúzia de outros serviços. Vou dizer tudo isso a ele.
Alan sorriu e a olhou com carinho.
- Mentirosa. sabe que não dirá nada disso!
Fazia muito frio quando Dulce saiu, mas pouco depois o ar quente do carro já a aquecia. Ainda bem que a primavera já estava quase chegando. Mantinha a velocidade baixa, pois a estrada parecia escorregadia. Felizmente Alan a convencera a partir mais cedo, pois agora podia ir devagar sem correr o risco de chegar atrasada, coisa que detestava.
Quando afinal chegou em Buckinghamshire, foi obrigada apegar uma estrada secundária, indo ainda mais devagar. Quando deu com um desvio, tirou da bolsa o mapa que haviam lhe desenhado. "Vire à esquerda quando chegar a Great Brickhill, continue até o quilômetro." Ela olhou à sua frente, confusa. Será que estava em Great Brickhill? Ou seria mais adiante? Naturalmente, não encontrou ninguém para perguntar.
Foi a intuição que a fez virar à esquerda e prosseguir viagem. Não tardou a avistar os portões da casa. Eram altos e pesados, construídos em ferro maciço. Os muros de tijolos sumiam na distância, tanto à esquerda quanto à direita. Além do portão, havia uma alameda que certamente conduzia à casa, no interior do terreno.
Estacionando o carro em frente ao portão, Dulce não teve alternativa senão descer e investigar.