CAPÍTULO 21

"Tem sido comentado que lorde e Lady Bridgerton foram obrigados a se casar, mas, mesmo que isso seja verdade, esta autora se recusa a acreditar que sua união não foi por amor."

Era estranho, pensou Rachel, enquanto fitava o café da manhã servido na mesinha lateral da
pequena sala de jantar, como podia estar, ao mesmo tempo, morrendo de fome e sem apetite. Seu estômago exigia alimento e, ainda assim, tudo – dos ovos aos bolinhos, dos pedaços de peixe defumado à carne de porco assada – adquirira uma aparência horrível.
Com um suspiro deprimido, pegou uma torrada e afundou na cadeira com uma xícara de chá. Alexander não voltara para casa na noite anterior.
Ela deu uma pequena mordida na torrada e se forçou a engolir. Tinha esperanças de que ele ao menos aparecesse para o café da manhã. Rachel esperara o máximo que pudera – já eram quase onze horas, e ela costumava comer às nove –, mas o marido não retornara.
– Lady Bridgerton?
Rachel ergueu o olhar e piscou. Havia um criado de pé diante dela segurando um pequeno envelope bege.
– Isto chegou para a senhora há alguns minutos – disse ele.
Rachel murmurou um agradecimento e pegou o envelope, fechado com um pouco de cera rosa-clara. Olhando mais de perto, ela distinguiu as iniciais EOB. Seria alguém da família de Alexander? A letra E deveria ser de Elizabeth, claro, já que os primeiros nomes de todos os Bridgertons correspondiam a uma letra diferente, em ordem alfabética.
Rachel rompeu o selo com cuidado e puxou o conteúdo – uma única folha de papel dobrada com cuidado pela metade.
"Rachel, Alexander está aqui e a aparência dele é péssima. Sem dúvida, isso não é assunto meu, mas achei que você gostaria de saber.
Elizabeth"
Rachel contemplou o bilhete por alguns segundos, então empurrou a cadeira para trás e se.levantou. Era hora de visitar a casa dos Bridgertons.
Para sua surpresa, quando ela bateu na porta da Casa Bridgerton, quem a abriu não foi o mordomo, mas Elizabeth, que disse no mesmo instante:
– Você veio rápido!
Rachel olhou ao redor do saguão, esperando que um ou dois dos irmãos de Alexander pulassem sobre ela.
– Você estava me esperando?
Elizabeth assentiu.
– Você não precisa bater antes de entrar. A Casa Bridgerton pertence a Alexander, afinal. E você é a mulher dele.
Rachel deu um sorriso sem graça. Não se sentia uma esposa naquela manhã.
– Espero que você não me ache uma grande intrometida – continuou Elizabeth, dando o braço a Rachel e conduzindo-a para dentro –, mas Alexander está com uma aparência horrível e imaginei que você não soubesse que ele estava aqui.
– Por que você pensou isso? – perguntou Rachel, sem conseguir evitar.
– Bem – retrucou Elizabeth –, ele não contou que estava aqui nem para nós.
Rachel fitou a cunhada com um olhar desconfiado.
– E isso significa...?
Elizabeth corou.
– Significa que... hã... que só sei que ele está aqui porque andei espionando. Acho que nem minha mãe sabe que ele veio para cá.
Rachel começou a piscar depressa.
– Você andou nos espionando?
– Não, claro que não. Mas, por acaso, eu estava acordada e ouvi alguém entrar, aí saí para investigar e vi a luz acesa por baixo da porta do escritório de Alexander.
– Então, como sabe que ele está com uma aparência horrível?
Elizabeth deu de ombros.
– Imaginei que uma hora ele sairia para comer ou se aliviar, por isso fiquei esperando nos degraus por mais de uma hora...
– Mais de uma hora? – repetiu Rachel.
– Três horas, na verdade – admitiu Elizabeth. – Não parece muito tempo quando se está interessada na questão. Além disso, eu tinha um livro para me ajudar a passar o tempo.
Rachel balançou a cabeça com admiração relutante.
– A que horas ele chegou?
– Por volta de quatro da manhã.
– E o que você fazia acordada tão tarde?
Elizabeth deu de ombros mais uma vez.
– Não consegui dormir. Muitas vezes, não consigo. Eu tinha descido para pegar um livro na biblioteca quando ele chegou. Então, finalmente, por volta das sete horas... na verdade, acho que foi um pouco antes das sete, logo eu não esperei por três horas...
Rachel começou a ficar tonta.
–... ele saiu. Não foi na direção do salão de café da manhã, portanto imagino que tenha saído por outras razões. Depois de um minuto ou dois, apareceu de novo e voltou ao escritório. Onde – Elizabeth terminou com um floreio – está desde então.
Rachel olhou para ela por uns dez segundos.
– Você já pensou em oferecer seus serviços ao Departamento de Guerra?
A jovem deu um sorriso tão parecido com o de Alexander que Rachel quase chorou.
– Como espiã? – indagou.
Rachel confirmou.
– Eu seria ótima, você não acha?
– Sensacional.
Elizabeth deu um abraço repentino em Rachel.
– Estou tão feliz por você ter se casado com meu irmão... Agora vá ver o que está errado.
Rachel assentiu, empertigando os ombros, e deu um passo na direção do escritório. Então se virou, apontou um dedo para Elizabeth e disse:
– Não vá ficar ouvindo atrás da porta.
– Eu nem sonharia em fazer isso – retrucou ela.
– Estou falando sério!
Elizabeth suspirou.
– É melhor eu ir para a cama, de qualquer forma. Um cochilo vai cair bem, depois de ter ficado acordada a noite toda.
Rachel esperou que ela desaparecesse na escada, então se dirigiu à porta do escritório de Alexander. Pôs a mão na maçaneta e sussurrou para si mesma:
– Por favor, não esteja trancada.
Para seu alívio, a porta se abriu assim que ela girou a maçaneta.
– Alexander? – chamou.
Sua voz era baixa e hesitante, e ela descobriu que não gostava daquele tom. Não estava acostumada a falar baixo e com hesitação.
Não houve resposta, então Rachel entrou no aposento. As cortinas estavam bem fechadas e apenas uma luz suave passava pelo veludo pesado. Ela examinou o cômodo até seus olhos pousarem sobre o vulto do marido, debruçado na escrivaninha, entregue a um sono profundo.
Cruzou o escritório em silêncio em direção à janela e abriu as cortinas parcialmente. Não queria cegar Alexander quando ele acordasse, mas, ao mesmo tempo, não gostaria de ter uma conversa tão importante no escuro. Foi até a escrivaninha e tocou seu ombro com delicadeza.
– Alexander? – murmurou. – Alexander?
A resposta foi mais próxima de um ronco que de qualquer outra coisa.
Rachel franziu a testa com impaciência e o balançou com um pouco mais de força.
– Alexander? – chamou gentilmente. – Alexand...
Ele acordou com um movimento brusco, despejando uma série de palavras incoerentes ao empertigar o tronco.