Fanfic: Chaves Revolution | Tema: Chaves
— Ele vem com a bola…
Chaves surgiu pelo corredor da vila, ao lado da casa de Seu Madruga, e entrou no pátio carregando a bola de futebol em seus pés.
— Dibra um… Dibra dois, passa o terceiro e…
Seu Madruga abriu a porta da sua casa bem a tempo de ver o pontapé que Chaves dava na bola. Ela fez um arco ascendente passando pelo vão de entrada da vila, que as crianças usavam como trave em seus jogos de futebol.
— GOOOOOOL! — Gritou Chaves sem perceber qual foi o destino final da bola.
— Tinha que ser o Chaves mesmo! — Soou a voz de Seu Madruga saindo da porta de sua casa em direção ao garoto.
Chaves olhou assustado para ele.
— Mas o que foi que eu fiz?
— Você é cego ou o quê? Não está vendo o que você acertou?
O moleque então olhou na direção para onde tinha chutado a bola. Próximo a porta da entrada da vila alguma coisa estava diferente. Um vaso de porcelana que deveria ter alguma planta ornamental agora estava em cacos espalhando terra pelo chão.
— Foi sem querer querendo…
Seu Madruga estava impaciente. Tentava manter o controle para não dar um cascudo em Chaves. Lembrou de seu treinamento de autocontrole para não bater mais no garoto, mas a vontade fazia seus braços comicharem e tremerem. Quando conseguiu se acalmar, percebeu que Chaves já estava encolhido esperando a pancada. Sentiu pena do coitado.
— Olha, Chaves… Você deve tomar mais cuidado com as coisas. Principalmente com aquelas que não são suas. Você pode quebrar algo seu que ninguém sentirá falta além de você. Mas quando é algo de outra pessoa…
— E de quem é aquele vaso? — Disse Chaves interrompendo o sermão de Seu Madruga.
— Aquele vaso é da vila. Quer dizer, era enquanto estava inteiro… Era de todos nós, do coletivo. Olha, nós vivemos em um grupo de pessoas, não é? Se aquilo não foi colocado lá por algum morador daqui, provavelmente foi pelo Seu Barriga com o nosso dinheiro. — Seu Madruga percebeu que Chaves não estava entendendo a questão de Seu Barriga ter comprado o vaso com o dinheiro deles. — Com o dinheiro do aluguel. Entende? Isso faz com que ele seja de todos nós, inclusive seu.
— E o que eu vou querer com um vaso?
Seu Madruga começava a se arrepender da sua escolha em dialogar com o garoto em vez de ter-lhe dado um cascudo. Mesmo assim continuava mantendo sua calma.
— Chaves, o vaso é apenas uma das coisas que são divididas entre todos nós aqui. Tem a água, a luz que ilumina o pátio, o portão… Tudo é dividido entre todos os moradores.
Chaves parecia não se importar com o que seu Madruga falava. Assim como o velho, ele já estava sem paciência. Não queria ficar sendo repreendido por causa de um vaso estúpido que não servia para nada.
— Você não acha isso importante? — Seu Madruga indagou.
O garoto mexia impaciente nas tiras de seus suspensórios e, envergonhado, respondeu:
— Na verdade eu acharia importante se dividissem algo para comer…
Aquela frase pegou Seu Madruga de surpresa. Sabia que Chaves não tinha nada para comer, mas o garoto sempre se virava de alguma forma. Agora que tinha acabado de lhe dar uma lição de moral, sentiu que todas as palavras ditas soaram hipócritas diante da situação do garoto. Engoliu em seco e falou:
— Olha Chaves… O que acha de comer um lanche?
— Um lanche? Eu quero!
Ele pegou na mão de Chaves e o arrastou para sua casa.
— Vamos então!
Os dois estavam tão concentrados na discussão que nem perceberam que Dona Florinda, de braços cruzados, observava toda a conversa que tiveram. Quico estava ao seu lado.
— Viu, Quico? É por isso que não quero que você se misture com essa gentalha.
Quico concordou balançando a cabeça.
— Sim… — Disse ele e então pensou um pouco melhor. — Na verdade não, mamãe. Por quê?
Dona Florinda expirou impaciente.
— Ora, porque eles estão conversando sobre comunismo. Está claro! O Chaves já não é flor que se cheire, mas com as ideias do Seu Madruga pode ficar ainda pior.
E então ela percebeu que alguém se aproximava pela entrada da vila. Não existia a possibilidade de não perceber a chegada de um homem de um metro e noventa de altura, usando um chapéu e trazendo um ramalhete de flores nas mãos.
Ao fundo começou a tocar Tara’s Theme.
— Professor Girafales!
— Dona Florinda!
Apesar do professor saber que logo tomaria café com sua amada, achou estranho a expressão que ela trazia no rosto. Sem contar que ela não tinha continuado o diálogo que sempre repetiam quando se encontravam. A música se encerrou quase que abruptamente.
— Qual o problema?
Ela olhou para a porta da casa de Seu Madruga e depois voltou a encarar o alto professor.
— Nada não, Professor Girafales. Só não suporto ver comunistas pela vila — falou as últimas palavras com os dentes cerrados.
— Onde temos comunistas?
— O Seu Madruga e aquele moleque, o Chaves, ainda vão causar problemas com essa história de dividir as coisas. É muito fácil querer dividir quando não se tem nada, pois aí eles passarão a ter o que era dos outros…
O braço do professor que carregava as flores se abaixou ao lado de seu corpo.
— Bom, não é bem assim que o sistema funciona…
Enquanto os dois discutiam e Quico tentava demonstrar que prestava atenção, Seu Madruga saía de sua casa ainda arrastando Chaves pelo braço.
— Vamos Chaves, vou comprar um sanduíche de presunto bem gostoso. Você vai adorar!
— Zaz! Zaz!
Dona Florinda não estava mais prestando atenção na explicação do professor e só mantinha seu olhar de raiva para os dois que acabavam de sair da vila.
Logo Seu Madruga e Chaves entraram no restaurante de Dona Florinda e encontraram Chiquinha no balcão. Dona Florinda estava do outro lado do móvel e discutia com a menina.
— Se você não tem dinheiro, pode ir dando o fora daqui!
Ao ouvir essa negativa Chiquinha começou a chorar, abrindo um berreiro e dando de cara com Seu Madruga.
— Papai, ela me bateu e me chutou e disse que minha mãe é feia e….
Seu Madruga acalmou a filha pousando a mão em seu ombro.
— Sim, minha filha, eu vi tudo que aconteceu. Pode deixar que vou resolver isso.
Ele se aproximou do balcão e encarou Dona Florinda com voracidade.
— Eu quero três sanduíches de presunto!
— E o senhor tem dinheiro para pagar?
Ele colocou algumas notas amassadas de cruzeiros em cima do balcão.
— Hmmm, então quer dizer que não tem dinheiro para pagar o aluguel, mas tem dinheiro para fazer caridade a moradores de rua…
Seu Madruga estava se irritando com a mulher.
— Não lhe devo nada, senhora. E estou te pagando. Agora poderia fazer os sanduíches?
Ela encarava Seu Madruga nos olhos com expressão de raiva. Lançou sobre o balcão o pano que utilizava para limpeza e se encaminhou a cozinha.
Seu Madruga esfregou as mãos com ansiedade e foi até a mesa onde Chaves e Chiquinha já estavam sentados. Os dois sorriam de orelha a orelha pensando no lanche que comeriam em breve. Seu Madruga se sentou à mesa e os três ouviram um barulho vindo da porta de entrada do restaurante. Era Jaiminho, o carteiro, carregando sua bicicleta e sua mochila com cartas. Ele se aproximou da mesa dos três, deixou sua bicicleta encostada em uma cadeira e colocou a pesada e estufada mochila sobre a mesa.
— Tem uma carta para você, Chaves.
Os três se olharam espantados.
— Para mim?
A carta surgiu magicamente na mão de Jaiminho e ele já a entregou para Chaves sem nem um envelope envolvendo-a.
Chaves começou a ler a carta desesperado, como se estivesse comendo um sanduíche de presunto. Nunca tinha recebido uma carta em toda a sua vida e aquilo era uma novidade e tanto. Não entendia muito bem todas as palavras, mas tentava capturar a essência do que ela dizia.
— Aqui diz que a carta é sua, Chiquinha. — Ele disse olhando para a amiga.
— Quê? — Ela se aproximou da carta para poder ler alguma coisa. — Como assim?
Chaves voltou a olhar para a carta lendo algumas frases
— Você tá me chamando para ajudar em algo. Fala que estão precisando de mim…
— Estão? — Seu Madruga perguntou. — Quem?
Uma segunda Chiquinha surgiu de dentro do restaurante, parou ao lado da cadeira de Chaves e lhe falou:
— Volte logo! Estamos precisando de você!
Ele acordou.
Era um sonho. Um sonho estranho, mas muito vívido. Parecia que Chaves ainda conseguia ouvir o final da última frase dita por Chiquinha, como um eco.
— ...cisando de você!
Ele viu uma mulher ao lado de sua cama. As palavras tinham vindo de sua boca.
— Você acordou! — Ela disse abrindo um sorriso de felicidade.
Chaves não reconheceu a mulher ao seu lado. Ela se lançou sobre ele com um abraço e seu corpo doeu quando ela o apertou.
— Aai. — Chaves reclamou.
Ela se afastou rapidamente.
— Desculpa. Desculpa… Me empolguei demais. Desculpa!
— Quem é você?
Assim que perguntou, Chaves percebeu que também não conhecia o lugar onde estava. Se encontrava deitado sobre uma cama em um quarto de paredes mal cuidadas, pintadas com palavras de ordem e alguns desenhos rústicos. O mobiliário lhe era estranho demais. Armários que misturavam cobre e madeira na sua composição, assim como uma mesa com equipamentos que nunca tinha visto antes. Um quadro preso em uma das paredes exibia seu nome escrito.
— Como assim quem sou eu? — A mulher perguntou.
Chaves ouviu uma nova voz feminina vindo detrás da cama que estava deitado.
— Eu disse que ele poderia ter algum problema de memória. A batida na cabeça foi bem forte.
Batida na cabeça? Ele não lembrava de nada disso.
— E ele vai esquecer pra sempre? — A primeira perguntou.
Chaves olhou assustado para a mulher que estava às suas costas, esperando uma resposta que lhe aliviasse um pouco. Ela estava com um vestido preto sobreposto por um avental. Chaves pensou se tratar de uma freira, mas a cruz vermelha em sua cabeça não parecia cristã. A cruz que ele via no lenço que ela usava na cabeça tinha todas as pontas do mesmo tamanho e representava algum serviço de saúde.
“Uma enfermeira?”
— Eu não posso afirmar nada, Chiquinha. Tudo vai depender da recuperação dele…
— Chiquinha?? — Disse Chaves assustado voltando a olhar à mulher ao lado de sua cama.
Já tinha até esquecido o que a enfermeira tinha falado sobre a sua recuperação. Concentrava-se tentando fazer uma ligação daquela mulher com a menina que brincava todos os dias com ele desde que chegou à vila.
A mulher sentada ao lado da sua cama tinha sardas como sua amiga. O cabelo preto também lembrava o dela, mas a forma que ela o usava era diferente: solto, mas mantido atrás das orelhas por um óculos de aviador que usava como tiara na cabeça e cortado com uma franja curta na frente do rosto. Os óculos que levava nos olhos eram de madeira e tecido, mas estavam quebrados em um dos aros como o que Chiquinha usava. Aquela mulher poderia muito bem ser a mãe da Chiquinha, se ela não tivesse morrido quando a filha nasceu.
— Lembrou? — Disse a mulher abrindo um sorriso.
Chaves mantinha a expressão de bobo com a informação.
— Sou eu. A Chiquinha!
Então ele fez a ligação de tudo. Aquela era mesmo a Chiquinha. Mas como era possível a menina que ele estava brincando até pouco tempo ter se tornado uma mulher adulta com a idade que a mãe dela deveria ter?
Sua cabeça doeu. Não sabia se era de tanto pensar ou se foi da batida que a enfermeira tinha falado pouco antes. Ele fez uma careta de dor e Chiquinha percebeu.
— Calma, não se apresse. Vamos devagar…
— Conte a ele o que aconteceu. Talvez ajude a lembrar — propôs a enfermeira.
Chiquinha se aproximou e pegou a mão de Chaves.
— Você sofreu um acidente ontem. Foi atropelado, lembra?
Ele negou com a cabeça.
— Você ficou a noite toda desacordado. Nós ficamos todos preocupados. Está marcado para hoje a reunião para traçar a estratégia de ataque e, daqui a pouco, as pessoas já vão começar a se reunir. Precisam de você lá para dar as ordens.
“Ordens? Pessoas? O que tá acontecendo?”
A cabeça continuava a doer, mas imagens começavam a aparecer. Não faziam muito sentido no início, mas aos poucos seu cérebro foi ligando o visual do lugar que estava com o que aparecia em sua cabeça. As roupas que as pessoas usavam eram estranhas assim como as que a mulher que dizia ser a Chiquinha usava. Parecia que estavam em outra época.
Então ele olhou para os próprios braços. Não reconhecia os pelos ali, nem o tamanho de suas mãos. Lembrava de ter algumas cicatrizes de machucados que tinha feito em alguma brincadeira, mas as várias que via pela extensão do seu braço eram muitas e muito diferentes. Com o susto ele se ajeitou na cama, ficando sentado em um pulo. A cabeça voltou a doer e ele colocou a mão sobre a têmpora.
— Quantos anos eu tenho?
— Quantos anos você tem? — Chiquinha riu. — Ué, vinte e nove.
Vinte e nove anos. Ele nunca foi bom com contas, mas agora parecia conseguir fazer rapidamente o cálculo de somar o ano que nasceu com a sua idade. Isso queria dizer que eles estavam próximo aos anos dois mil. Ele já era um homem.
— O que aconteceu? — Chaves perguntou mais uma vez.
— Bom, você tinha ido em uma busca do outro lado da ponte e qu…
— Não! — Ele a interrompeu. — O que aconteceu até aqui? Eu não lembro de nada.
— Qual é a última coisa que você lembra?
— Lembro da gente brincando na vila…
Uma expressão de tristeza e pena surgiu no rosto de Chiquinha.
— Ihhh, Chavinho… A vila já não existe mais há muito tempo.
Chaves não ficou mais chocado do que já estava com as novas informações. E as dores só ajudavam a afundar ainda mais seu cérebro em uma anestesia mental. Chiquinha percebeu que Chaves não estava entendendo nada e decidiu começar a história desde o começo.
— Popis — Chiquinha disse à enfermeira. — Pode deixar que eu cuido do Chaves agora. Se eu precisar, te chamo, ok?
— Tudo bem. — Disse Popis e se retirou.
Chaves a viu saindo e percebeu que, assim como aconteceu com Chiquinha, a mulher vestida de enfermeira/freira era muito parecida com sua amiga de infância, prima do Quico. Outra que tinha se tornado mulher. Ele voltou a olhar para Chiquinha quando ela começou a contar os fatos mais importantes dos últimos vinte anos.
Quatorze anos atrás os preços dos imóveis da região sofreram uma inflação tão absurda que todos os proprietários estavam querendo se livrar dos moradores de aluguel para investir em novas construções. Um movimento se iniciou por parte dos moradores para impedir que fossem despejados de seus imóveis. Chaves iniciou uma revolução na vila, tomando-a da propriedade de Seu Barriga. A maior parte dos inquilinos se juntou a ele e juntos resistiram às manobras jurídicas impetradas pelo proprietário de direito. Com o tempo eles precisaram lutar inclusive com a polícia e, conforme a violência foi aumentando, os inquilinos de outras vilas começaram a participar da revolução para também lutarem por suas propriedades. Ainda não era uma revolução conhecida, mas com o passar dos dias mais vilas e cortiços da região se juntaram ao movimento declarando independência de seus donos.
A polícia começou a temer entrar na área cercada pelo rio que passava próximo, pois os revolucionários haviam determinado que seu território iniciava ali. Não satisfeitos com a atitude da polícia estatal, os antigos proprietários dos imóveis começaram a criar seu próprio grupo de ataque e tentaram por algumas vezes reaver as terras.
— Estamos em uma área de muita importância para eles — Chiquinha contava. — Pela beleza, pelo terreno e ainda acredito que possa ter algo de valor enterrado em nossas terras. A especulação imobiliária aqui continua gigantesca. Hoje os preços são quase incalculáveis. Mas nós não abrimos mão dessa conquista.
Chiquinha continuou a contar sobre os ataques recorrentes que eram feitos contra eles. Muitos foram avassaladores e deixaram a região destruída. Com o passar dos anos, os ataques tinham diminuído e parecia que os proprietários tinham desistido de suas terras. Mas nos últimos dias algumas questões de cunho pessoal pareciam ter tocado parte dos antigos donos e eles voltaram a atacar, fazendo sequestros e atacando com o poder que tinham.
Chaves viu uma agitação em Chiquinha assim que ela começou a contar sobre o resgate que ele estava prestes a fazer do outro lado do rio quando foi atropelado. Logo ele descobriu o porquê dessa agitação:
— Aaaai, droga… Você espera um pouquinho? Eu já termino de contar, só preciso muito ir no banheiro agora.
Chaves achou a situação engraçada. Tudo estava tão sério e agora ela quebrava aquele clima pesado. Ele deu um pequeno sorriso e acenou com a cabeça. Chiquinha levantou-se com as duas pernas bem coladas esfregando uma na outra.
— Já volto. — Deu um beijo na testa de Chaves e saiu por uma das portas do quarto.
O sorriso dela quando lhe deu o beijo transmitia felicidade. Chaves continuou pensando nesse sorriso e o achou bonito. Aquela mulher que levantou e saiu depressa do seu lado não lhe chamava nenhuma atenção quando era criança. Mas agora aquele sorriso, aquela voz e aquele estilo balançaram seu coração. E que roupa era aquela que ela usava? Sempre tinha gostado de roupas coloridas e agora usava uma mistura quase monocromática de marrom e preto. Também achou estranho o corselete que vestia — não tinha ideia de como sabia o nome daquela peça de roupa, mas lembrava de algum lugar. — Também perdeu algum tempo nas ombreiras douradas que ela levava ao lado do pescoço, provavelmente feitas de latão. E claro aquele cinto largo de couro que rodeava seu corpo com facas penduradas em bainhas e dois revólveres.
Enquanto ainda estava perdido nesses pensamentos ouviu o som de alguém limpando a garganta vindo da porta por onde Popis tinha saído. Ao olhar para o lado encontrou um homem de sobretudo preto, de bigode estilo handlebar, com um quepe na cabeça e um buquê de flores na mão. Já estava se acostumando com a ideia de encontrar as pessoas mais velhas do que se lembrava e não foi difícil reconhecer seu amigo. O rosto ainda era o mesmo por baixo do bigode.
— Quico!
Quico entrou no quarto com seu jeito debochado e se aproximou da cama de Chaves.
— Vim lhe trazer esse humilde presente. Para relembrar dos velhos tempos!
Estava deixando as flores na escrivaninha de madeira ao lado da cama, mas Chaves fez sinal para que as entregasse em sua mão. Quico olhou desconfiado mas acabou o entregando.
— Obrigado! — Disse Chaves com um sorriso.
Reparou que Quico pareceu ter ficado sem graça ou incomodado com a situação. Mexendo em seu bigode nervosamente seu amigo continuou:
— Também é para lembrar do cara que sempre trazia flores para a vila. Gastava uma nota com isso e agora não tem nem mais dinheiro para limpar a bunda!
“O professor Girafales” lembrou Chaves. Será que ele estava bem? Pela forma que Quico havia falado, estava na pior.
— Bom, meu amigo — o tom que Quico usava lembrava quando era sarcástico na infância — eu só vim mesmo para ver se estava bem, assim como fiquei sabendo. Achei que não sobreviveria ao acidente. Uma pena…
Uma pena o quê? Chaves pensou em perguntar, mas Quico já estava saindo enquanto se despedia:
— Até a próxima, Chaves!
Achou estranho aquele encontro, mas já conhecia o Quico. Era uma criança que mudava de humor com muita facilidade. Poderia continuar assim na vida adulta, apesar de ter visto apenas amargura em seu olhar.
Enquanto olhava para as flores perdido em pensamentos e lembranças da infância algumas imagens voltavam à sua memória em um grande pandemônio. Não sabia classificar o que ele já tinha vivido ou o que eram imagens geradas aleatoriamente pelo seu cérebro.
— O que é isso? — Ele ouviu a voz de Chiquinha parada à porta ao voltar do banheiro.
— Quico trouxe pra mim.
— Quico? Cadê esse desgraçado?
Chiquinha caminhou até a porta por onde Quico havia saído minutos antes e se apoiou sobre os batentes olhando para fora.
— Por quê? O que ele fez? — Chaves perguntou.
Chiquinha olhou para ele. Largou o vão da porta e se aproximou da cama.
— Ele não deveria nem tá aqui! Ele é do outro lado do rio, nosso inimigo, Chaves. Você não lembra disso?
Os olhos de Chaves se estreitaram enquanto ele buscava na memória por alguma informação que confirmasse isso. Então balançou a cabeça em negativa.
— Me dá isso aqui! — Chiquinha arrancou o buquê de flores da mão de Chaves e o lançou por uma das janelas sem vidraça. Elas caíram na estrada que passava ao lado do hospital.
Chaves ficou assustado. Já tinha visto sua amiga nervosa várias vezes, mas nunca com várias armas presas a sua cintura. Ela se abaixou ao lado da sua cama.
— Desculpa, Chavinho. Eu não deveria ter saído e te deixado sozinho aqui nessa situação. Esqueci completamente que você não lembra de nada — ela bateu com a palma da mão na testa rindo de sua memória fraca e então olhou para a porta. — Também, como eu poderia imaginar que o desgraçado do Quico teria coragem de aparecer por aqui e que você não arrebentaria a cara dele? — Deu uma pequena risada sem graça e voltou a olhar para Chaves. — Eu vou tomar mais cuidado com você enquanto não reaver as lembranças, tá bem?
Chaves se sentia frágil e por isso acabou aceitando a proposta de Chiquinha.
Ela voltou a contar sobre os acontecimentos dos últimos anos, dando foco nos últimos eventos. Nem cinco minutos depois, uma explosão fez as paredes do hospital tremerem e uma onda de calor entrar pela janela sem vidraças. Chiquinha correu para ver o que havia acontecido. Chaves levantou da cama e a acompanhou.
O local onde Chiquinha tinha lançado o buquê de flores de Quico no andar de baixo estava em chamas.
Autor(a): domramone
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Chaves ficou revoltado com o ataque covarde que Quico fez deixando uma bomba escondida entre as flores que lhe entregara. Entendia todos os momentos estúpidos que Quico agia quando era criança, mas agora ele já era um adulto e deveria se portar como tal. Não como um animal. Chaves deu um pequeno sorriso quando visualizou Quico em sua cab ...
Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 8
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maryannie Postado em 01/03/2021 - 02:07:49
Estou amando. Acompanhando ansiosa.
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maryannie Postado em 21/02/2021 - 15:57:55
Hoje é domingo e eu preciso de capítulo novo. Kkkk
maryannie Postado em 23/02/2021 - 14:23:52
Ah, feliz que tem capítulo novo! Valeu, vou procurar nas redes sociais.
domramone Postado em 23/02/2021 - 14:11:34
Hey Maryannie, não me mate, mas tive que atrasar um pouco o lançamento desse capítulo em algumas das páginas onde estou publicando. Trabalho e viagens tomam um tempo precioso e eu gosto de conferir se está tudo certinho antes das postagens. Farei o possível para não atrasar mais nenhuminha vez issu issu issu. Se quiser acompanhar a gente nas redes sociais, pode procurar no Instagram ou Facebook por Chaves Revolution. Lá são os primeiros lugares que eu acabo postando. Mas prometo que domingo tem o capítulo novo aqui ;)
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chander Postado em 20/02/2021 - 07:30:42
Olá, ramone. Mano! Muito, mas muito top! Esse capítulo ( APESAR DE ENORME), foi muito melhor que o primeiro e sério! Tá dando muita pena do Chavez nesse mundo pós-apocaliptico, onde a infância e a realidade atual se chocam com ferocidade. Acho que o mais maneiro é encaixar uma fala típica do seriado aqui e acolá, demonstrando que os personagens mudaram, sim, mas ainda podemos reconhecê-los facilmente. E mano, no segundo capítulo já esfregar uma beijão gay. NOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOSSSAAAA! A popis nunca me enganou, mas a Paty foi uma surpresa. Só, por favor, eu sei que a proposta é uma coisa mais adulta, mas não sei se tenho psicológico para uma cena de sexo entre chaves e chiquinha. Juro pra você que vou falar disso na terapia por um mês O.O' No mais, já, já, estou de volta. Eu demoro, mas não falho.
domramone Postado em 23/02/2021 - 14:14:29
Ahhh, que bom que gostou. Depois de um primeiro capítulo meio parado as coisas tem que desenvolver né? Os capítulos realmente estão grandes e talvez fosse melhor que eu os tivesse dividido em mais partes. Bom, foi a primeira experiência lançando algo por aqui e agora já sei o que devo fazer nos próximos ;) Obrigado pelo acompanhamento e pelas dicas. Prometo que não irá sair tão traumatizado dessa história. A não ser que você já esteja pensando nessas cenas. Como diria o Jay do Big Mouth "Você imaginou e nós descrevemos" =P
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maryannie Postado em 02/02/2021 - 00:39:00
Estou amando! Posta mais!
domramone Postado em 02/02/2021 - 09:24:14
Logo logo... Vou postar capítulo novo todo domingo =D