Fanfic: Chaves Revolution | Tema: Chaves
Chaves ficou revoltado com o ataque covarde que Quico fez deixando uma bomba escondida entre as flores que lhe entregara. Entendia todos os momentos estúpidos que Quico agia quando era criança, mas agora ele já era um adulto e deveria se portar como tal. Não como um animal. Chaves deu um pequeno sorriso quando visualizou Quico em sua cabeça perguntando “O que que tem eu?” quando pensou na palavra “animal”.
— Não existe justificativa pra isso! — Ele disse ajuntando suas roupas que estavam ao lado da cama.
— Você ainda vai se acostumar — disse Chiquinha. — Ele ficou pior a cada ano depois que começou a revolução. Às vezes parece que perdeu completamente a noção do mundo ou da humanidade.
Chaves olhou para Chiquinha com olhar surpreso. Do que será que Quico ainda poderia ser capaz? Estremeceu. Abaixou a calça leve de algodão que vestia e começou a colocar sua calça de couro marrom que tinha acabado de desdobrar. Popis entrou no quarto.
— Ei ei ei. Aonde você pensa que vai?
— Vou atrás daquele desgraçado. Ele não pode continuar solto por aí.
— Você ainda não está em condições de sair do hospital. Muito menos de ir atrás do Quico!
Uma voz veio de trás de Popis, pela porta por onde ela tinha entrado.
— Popis tá certa! Você não pode ir atrás do Quico.
Apoiada com o lado do corpo no batente da porta estava uma mulher alta, de cabelos curtos e descoloridos. Seu visual era mais masculino que o de Chiquinha mas, com certeza, era uma mulher. Usava uma calça de couro como a de Chaves, coturnos militares, uma sobreposição de regatas e coletes de vários tecidos que combinavam-se entre bege e marrom e o mesmo óculos de aviador de Chiquinha sobre a cabeça. Ela entrou na sala e veio em direção à cama.
— Você deve ir até o galpão — disse ela para Chaves parando ao lado de Popis. — As Forças estão te esperando lá.
“Que forças?” ele se perguntou.
— Paty, ele não está completamente recuperado — reclamou Popis para a mulher à sua frente. — Ele não está lembrando nem quem é direito.
A mulher o encarou.
— Paty! — Chaves reconheceu a amiga por quem tinha paixão na infância. Ela estava muito diferente agora, mas aqueles olhos… Ah, aqueles olhos eram inconfundíveis.
— Não parece estar tão mal — ela disse. — Sabe pelo menos quem sou eu.
Após falar isso Paty deu uma piscadela para Popis e, abaixando levemente a cabeça para que alcançasse a altura da enfermeira, lhe beijou a boca.
Chaves ficou chocado com a cena inesperada. Chiquinha percebeu sua boca aberta em espanto.
— Aposto que isso ele não lembrava — Disse Chiquinha.
As duas colegas desgrudaram suas bocas. Paty olhou para Chaves com seu olhar firme e orgulhoso, enquanto Popis envergonhada narrou a história das duas:
— Eu tinha ficado do outro lado do rio. Não entendia muito bem o porquê de toda essa revolução, pois eu tinha tudo que queria em casa. Comida, cama, tranquilidade… Foi a Paty que me convenceu a lutar por essa causa. No começo era complicado atravessar o rio para vir visitar minha melhor amiga, mas depois acabei fazendo isso com tanta frequência que fiz amizade com os revolucionários e acabei ficando por aqui mesmo.
— Ah, vai dizer agora que foi só por causa da revolução que você ficou? — Disse Paty repreendendo-a
Popis ficou corada e aninhou sua cabeça no peito de Paty. Esta passou seu braço por sobre seu ombro e a abraçou.
Chaves estava perdido entre aquela história de amor e suas roupas. Não estava entendendo como vestir aquilo que tinha acabado de pegar do chão. Tinha uma camisa branca que parecia de algodão que não era difícil de entender como vestir e ele a colocou enquanto ouvia as duas conversando. Mas o colete que parecia sobrepor a camisa era totalmente estranho. Um colete de couro coberto por três placas de bronze. Não sabia se a parte com amarras de couro que juntavam as placas ficava sobre seu peito ou sobre suas costas.
— Me dá aqui que eu te ajudo com isso — Chiquinha disse se encaminhando até ele com a mão esticada. — Será que nem isso você consegue fazer?
Chiquinha pegou o colete e o abriu pedindo para Chaves virar de costas. Então era assim: A placa maior ficava sobre suas costas e as amarras na frente. Fazia sentido, pois se as amarras ficassem nas costas seria difícil conseguir vestir o colete sozinho.
— É, realmente ele não parece muito bem — Disse Paty.
— Por que eu tenho que usar isso? — Perguntou Chaves enquanto amarrava os cordões de couro em sua barriga e peito.
— Você adora esse colete — respondeu Chiquinha. — Não o tira por nada desde que ganhou do meu pai.
Chaves parou de amarrar e levantou seu olhar para Chiquinha assustado.
— O seu Madruga… — Estava com medo de fazer a pergunta. — Está vivo?
Chiquinha abriu um largo sorriso.
— Mas é claro! Chega a ser mais engajado que você nessa revolução.
Aquilo animou Chaves e lhe deu o gás que precisava. Terminou de amarrar seu colete com vivacidade e logo calçou suas botas.
— Você acha que ele vai ficar bem? — Ele ouviu Popis perguntar a alguma das duas. Não ouviu nenhuma resposta, mas viu com sua visão periférica que tanto Chiquinha quanto Paty acenaram com a cabeça. Ele precisava ir!
Assim que olhou para o chão viu o seu clássico chapéu no formato de aviador, mas que agora era maior, todo marrom e com lã de ovelha na parte interna. Parecia tão quentinho… O pegou em sua mão, sentiu a maciez interna e o colocou na cabeça. Confirmou sua teoria: fofinho e quentinho. Onde teria conseguido aquela maravilha?
Se levantou da cama e estava preparado para dizer que estava pronto quando Chiquinha o interrompeu:
— Não esqueça de seus óculos!
Ela estendeu a mão que carregava um óculos de aviador igual os que tanto Chiquinha quanto Paty usavam sobre a cabeça. Chaves também o colocou sobre o boné.
— Para que esses óculos? — Chaves perguntou enquanto caminhavam pela rua onde tinham acabado de deixar o hospital.
Paty dá uma risadinha sarcástica
— Logo você vai descobrir…
Os três caminhavam pela estreita rua de chão batido. Chaves estava observando os pequenos prédios de no máximo três andares que os cercavam. A maioria parecia abandonado, com várias palavras escritas em suas fachadas com tintas pretas. Mas algumas pareciam ter pessoas habitando, com alguns tecidos tapando janelas com vidraças quebradas ou portas improvisadas sob o batente de entrada. Só tinha uma certeza: tudo parecia decadente.
— Muito diferente do que se lembrava? — Perguntou Chiquinha.
Chaves abanou a cabeça estupidamente confirmando, mas não acreditando.
Eles chegaram em um cruzamento e dobraram em uma rua mais larga, com pavimento de pedra antigo sob a terra que o vento trazia e se acomodava ali. Os três encontraram um grupo de cerca de vinte pessoas. Todas vestidas como Paty e como Chiquinha. Chaves lembrou-se que era como ele estava vestido também. As pessoas do grupo olharam para os três que dobravam a esquina. Paty levantou a mão em cumprimento.
— Vamos nessa! — Ela falou alto para que o grupo todo ouvisse mesmo afastado dela.
Todos levantaram as mãos e gritaram. Alguns levantaram o que seguravam nelas, como algumas facas, pistolas, revólveres e rifles. Todas armas muito diferentes do que ele lembrava de ver na TV quando era criança. E agora estava tão perto delas que tinha vontade de tocá-las.
Chiquinha começou a explicar a Chaves quem eram aquelas pessoas:
— Esse é o grupo de Paty. Parte do grupo, o núcleo duro. Acho que não lembra deles também né? — Chaves balançou a cabeça negativamente. — Bom, são pessoas confiáveis. Não precisa ter medo.
Paty estava a frente dos dois, mas ouviu o que Chiquinha disse e complementou:
— Trouxe eles para nos escoltarem até o galpão. Não sabemos o que pode acontecer no caminho. Esses últimos dias estão muito imprevisíveis e perigosos.
Os três chegaram ao grupo. Todos os olhos estavam mirados em Chaves. Um silêncio tomava conta do lugar enquanto eles esperavam que ele dissesse alguma coisa. Mas foi Paty que acabou, por fim, tomando a palavra:
— Ele não está muito a fim de conversa hoje. Está guardando as palavras para dizer a todos no galpão.
Chaves ficou impressionado. Eles estavam esperando que ele dissesse alguma coisa? O que ele poderia dizer? Estava completamente perdido em toda aquela situação. Então ouviu Chiquinha quase cochichando ao seu lado.
— Faz cara de bravo.
Ele então percebeu que estava com uma expressão idiota na cara. Tratou de endurecer sua feição, baixar as partes internas das sobrancelhas sobre os olhos e fechar a boca espremendo um lábio com o outro em uma linha reta.
O grupo anuiu e se virou para o horizonte, começando a escoltá-los.
Chaves ouviu um pequeno riso de Chiquinha quando o grupo todo se virou de costas para eles e começou a marcha.
— Essa foi a cara de bravo mais falsa que você já fez.
Alguns minutos depois Chaves percebeu que os prédios começavam a rarear. Em frente via apenas poeira sendo levada por um forte vento em meio a um infinito horizonte marrom. Na verdade, pensou ele, tudo ali era muito marrom. O que tinha acontecido com as cores enquanto estava em piloto automático?
Chiquinha deu alguns passos mais rápidos para ficar bem ao lado de Paty. O grupo ainda estava alguns bons passos a frente dos três e Chiquinha falava baixo com a amiga. Chaves ficou curioso e se aproximou a tempo de ouvir o que conversavam.
— Por isso acho melhor irmos ver meu pai antes. Ele pode ajudar com alguma ideia sobre esse esquecimento do Chaves. Senão corremos o risco de chegarmos no galpão e não termos nada planejado.
Conforme se aproximaram do fim daquela rua, Chaves viu que os integrantes do grupo de Paty começam a abaixar seus óculos de aviador sobre os olhos. Paty também abaixou o seu e foi seguida por Chiquinha. Antes que pudesse pensar, Chaves foi atingido por uma nuvem de poeira direto nos olhos. Eles arderam e lacrimejaram, como se estivesse chorando. Talvez estivesse, visto a dor que tinha sentido. Agora entendeu porque todos usavam aqueles óculos.
— O mundo entrou em colapso — disse Chiquinha explicando aquela adaptação que todos usavam tão naturalmente no dia a dia tapando os olhos. — Avançou tanto em tão pouco tempo que a tecnologia acabou se engolindo e a partir de então começou a regredir. As maiores mentes pensantes foram sendo destruídas pelo excesso de informações que tentavam processar e compreender. Muitas sociedades voltaram a usar apenas o instinto para sobreviver e assim acabaram destruindo umas as outras. Aqui começou quando os imobiliários tentaram invadir nossa terra, quando a revolução começou. Essa terra já sofreu demais, mas por sorte a maior parte das armas que usaram para deixar grande parte da nossa área desse jeito já não existe mais. Nem meu pai sabe como construí-las.
Chaves estava impressionado. Então era isso? Isso que a revolução tinha trazido? Ou será que a revolução foi impulsionada pelas forças externas vindas de mudanças que aconteciam no resto do mundo?
Sua cabeça doía quando pensava demais nisso. Pelo menos as dores no corpo diminuíam quando parecia que um choque elétrico passava pela sua cabeça. De toda forma, era horrível ter a sensação do cérebro entrando em curto e decidiu parar de pensar nessas coisas por enquanto.
— E a vila? Não existe mais?
Chiquinha olhou para Chaves com ar de tristeza. Ele já sabia a resposta.
— Nós estamos passando por onde ficava a vila.
Não era possível! Chaves olhou para frente e para os lados e só viu um deserto de poeira marrom. Ao olhar para trás deslumbrou, no meio da nuvem de poeira, o vulto dos prédios que tinham há pouco passado ao lado.
— Foi tudo destruído?
Chiquinha apenas afirmou com a cabeça. Paty tentou amenizar:
— Existem alguns escombros ainda em algumas áreas. Com paciência em um dia sem muito vento dá para encontrá-las até sem cavar, se tiver sorte.
Ele não conseguia acreditar. A vila onde ele chegou aos cinco anos sem saber nada do mundo e foi recebido como um filho, agora não existia mais. Nenhuma casa, nenhuma parede, nenhuma escada, nenhum barril para ele entrar. Nada. Acabou por descobrir outra utilidade daquele óculos: esconder as lágrimas.
— Nós vamos passar na casa do meu pai antes de irmos até o galpão — disse Chiquinha para Chaves. — Ele vai dar um jeito de ajudar na recuperação da sua memória ou, pelo menos, a te preparar para a reunião. É um desvio um pouco longo, mas acho que é necessário.
Chaves só confirmou com a cabeça. Ainda estava triste com a notícia da vila, mas lhe alegrava a possibilidade de encontrar Seu Madruga.
Paty se retesou e levantou a pesada arma que estava levando presa a correia ao ombro desde que encontrou seu grupo. Chaves olhou para frente e viu todo o grupo parado e com suas armas apontadas para o horizonte que só mostrava uma nuvem de poeira que parecia ter acabado de se levantar. Chiquinha correu em direção ao grupo já com um revólver em cada mão.
— O que tá acontecendo ali? — Ela disse enquanto corria na direção do grupo sendo seguida por Paty.
Chaves ficou um tempo parado até se atirar em direção ao grupo reunido alguns passos à frente. Vendo todos com suas armas levantadas olhando por suas miras ele se deu conta de que estava desarmado.
— Chaaavees! — Veio o grito do meio da nuvem de poeira onde estavam todos apontando suas armas. — Vai continuar me ignorando como fez no hospital?
Ele conhecia aquela voz… Só poderia ser ele.
A poeira começou a se dissipar e ele pôde perceber a silhueta de pessoas segurando grandes armas em mãos em frente a alguns veículos. Uma rajada de vento limpou rapidamente a visão e ele conseguiu distinguir cinco carros pretos bem estranhos ao fundo. A parte frontal deles era mais comprida do que se lembrava de ver nas velhas brasílias ou, até mesmo, nos fuscas. O motor parecia estar para fora do capô do carro e mesmo àquela distância parecia enorme. Na frente dos carros ele finalmente conseguiu ver Quico vestindo o mesmo sobretudo que tinha visto horas atrás. Ele estava cercado por cerca de quinze homens vestidos de preto em uma imitação de uniforme da marinha.
— Estamos em maioria, né? — Chaves perguntou assustado para Paty.
— Eles estão com armas melhores.
Chaves não conseguia distinguir a diferença entre as armas, mas ficou assustado com a declaração da amiga que pela primeira vez parecia amedrontada.
— Deixa de ser idiota! — Gritou Chiquinha em resposta a Quico. — Você nem percebeu que ele não lembra da sua cara!
— Cala a boca, tampinha! A conversa aqui é entre mim e o Chaves.
Chaves deu dois passos a frente, se colocando no meio do grupo de pessoas armadas.
— Você não precisa ir, Chaves — Chiquinha lhe disse. — Você não sabe o que está acontecendo, dá pra ver em seus olhos. E nem está armado.
Ele anuiu com a cabeça e voltou a se enfiar no meio do grupo, abrindo caminho até aparecer na frente da gangue de Paty.
Quico sorriu.
— Então aí está você! Tenho um presentinho pra te mostrar!
Chaves teve um mau pressentimento. Aquele presentinho parecia ser tão agradável quanto o buquê de flores que ele tinha deixado no hospital.
Dois guardas puxaram o sobretudo de Quico liberando a visão de um braço mecânico de bronze e latão por baixo.
— O que? — Chiquinha disse indignada com a visão que estava tendo. — Meu pai tinha arrancado isso daí.
Quico levantou o braço mecânico em direção a Chaves e então todos perceberam que na extremidade onde deveria ter uma mão podiam ser vistos alguns canos sobrepostos.
— Vocês todos já deveriam estar mortos! — Quico disse e começou a atirar com seu novo braço mecânico.
— Se abaixem! — Gritou Paty para seu grupo assim que percebeu que aquilo que Quico carregava no lugar da mão era uma metralhadora.
Alguns não tiveram tempo de resposta rápido suficiente e acabaram sendo alvejados por um dos vários tiros que partiam por segundo daquela arma. Chaves estava em choque e não conseguiu se mover, fazendo Chiquinha se lançar sobre seu corpo para derrubá-lo no chão e diminuir a probabilidade de ser atingido por uma bala. Paty já deitada no chão pegou uma granada de sua bolsa, a colocou em um compartimento de sua arma e a lançou para o alto em direção a Quico e seus capangas. A granada saiu pelo cano de grosso calibre com um seco “TUM” como uma garrafa de rolha sendo aberta. Poucos segundos depois a explosão metros a frente escondeu os inimigos atrás da poeira que se levantou. Chaves não sabia se tinha parado de ouvir os tiros por que tinham acertado Quico ou se foi porque aquela explosão tinha danificado seus ouvidos. Provavelmente era a primeira opção, pois ouviu Paty gritando para os seus:
— Vamos, vamos! Aproveitem e se aproximem no escuro!
Agora Chaves entendia o motivo daquela granada. Não era só atingir o inimigo, era deixá-lo cego. Provavelmente as armas que seus colegas possuíam não tinham uma boa precisão a distância.
Viu Paty se levantando tirando uma pistola de um coldre lateral ao corpo. Do cinto, em suas costas, ela tirou um chicote e se lançou para dentro da fumaça. Chiquinha levantou-se ao seu lado e também desapareceu na nuvem de poeira. Ele ouvia tiros sendo dados e sem saber o que fazer ficou parado de bruços no chão esperando poder enxergar algo.
Em segundos conseguiu perceber uma silhueta. Era uma pessoa e caminhava em sua direção. A poeira foi se dissipando até que Quico surgiu completamente por detrás dela dizendo:
— Parece que temos aqui alguém muito resistente! Eu deveria ter ido com meu melhor carro para passar por cima de você!
Chaves estava espantado.
— Foi você?
A risada clássica de Quico foi ouvida enquanto ele colocava as mãos (a humana e a mecânica) sobre a barriga e arqueava suas costas. Ao perceber que foi exagerado, ele se pôs em retidão novamente e colocou o indicador sobre os lábios dizendo que deveria fazer silêncio. Deu uma risadinha sarcástica.
— Eu sabia que sequestrar aquele drogado do Godinez ia te fazer ir pessoalmente ao outro lado do rio. Eu não podia perder a oportunidade de ouvir seu corpo batendo contra a lataria do meu… Possante. Por isso, fui eu mesmo dar conta de concluir a minha armadilha.
Chaves estava incrédulo no chão. Como seu amigo de infância podia fazer isso com ele? E ainda usando outro de seus amigos como isca?
— Pena que vaso ruim não quebra fácil… — Disse Quico.
Chaves levantou do chão e se lançou correndo sobre Quico. Ele, por sua vez, apenas levantou o braço metralhadora em direção a cabeça de Chaves.
— Você sabe que isso é um suicídio, né?
A imagem de Quico dizendo essa frase foi a última que Chaves viu.
Chaves estava na vila equilibrando uma vassoura em uma de suas mãos. Quico chegou ao pátio carregando um balão de gás hélio.
— Olha, Chaves! Eu tenho e você nã-ão!
Com um movimento da vassoura Chaves acertou o balão de Quico com as cerdas pontudas. Ele estourou, deixando Quico apenas com o fio do balão pendurado em sua mão.
— Ah é? — Disse Quico e então molhou os nós dos dedos na sua boca e deu um soco no rosto de Chaves com a mão babada. Dava mais aderência ao golpe, como ele dizia.
Chaves ficou extremamente nervoso e pensou em partir para cima de Quico, mas então Jaiminho entrou na vila e se interpôs com sua bicicleta entre os dois.
— Chavinho, você sabe que não pode sozinho contra o Quico. Olha o tamanho dele.
Realmente Quico estava em um tamanho descomunal naquele dia. Chaves concordou com Jaiminho.
— Será que o senhor poderia chamar o Seu Madruga pra me ajudar bem rápido? Só para um beliscão?
Jaiminho concordou com a cabeça.
— É para já! — E foi na direção da porta 72.
Chaves levantou seus punhos para Quico e o ameaçou:
— Agora você vai ver!
Quico estava com seu sorriso no rosto, bem a sua frente, quando de repente foi derrubado por um vulto que passou em alta velocidade para o lado.
Chaves desperta desse sonho ainda correndo em direção a Quico que até momentos antes estava na sua frente. Olhou na direção que viu o vulto passando e encontrou Quico no chão sendo segurado pelo pescoço por um braço mecânico que pertencia ao homem que o derrubou. Era um braço mecânico mais simples que o de Quico, mas também cheio de engrenagens que giravam em uma sintonia perfeita a qualquer mínimo movimento que o braço fizesse. O homem estava de costas para Chaves e mantinha Quico sob pressão contra o chão com um de seus joelhos sobre o braço mecânico do inimigo. Na mão normal segurava a alça de uma grande caixa de madeira. Ele virou o rosto para Chaves.
— Tome, leve pra Chiquinha! Eu cuido desse desgraçado!
Aquele rosto… Chaves conhecia. Era um pouco difícil de reconhecer com os óculos tapando os olhos e com o capacete que levava na cabeça, mas o bigode era o mesmo que se lembrava da infância. Não exatamente igual, pois agora estava todo branco, mas fazia sentido vendo que ele já deveria estar na faixa dos sessenta anos.
— Seu Madruga?
— Tá pensando em quê? Tá louco? Larga essa cara de idiota e pega logo a arma da Chiquinha!
Chaves correu até ele e pegou a caixa de madeira. Assim que entregou a caixa, Seu Madruga já se virou novamente para Quico e afrouxou um pouco a pressão que fazia sobre seu pescoço. Quico sugou o ar com vivacidade.
— E aí, gostou da adaptação que eu fiz? Forte, não é?
Quico tentava se soltar, segurando com sua mão normal o braço mecânico de seu Madruga que o afogava.
— Seu desgraçado! Não bastava você roubar meu antigo braço… Sinto pena por ele, agora que tem que conviver com você!
Seu Madruga riu.
— Eu vou te falar uma coisa: eu não precisaria ter dado o beliscão que arrancou esse braço de você se você não tivesse cortado o meu braço!
— E eu não precisaria usar um braço mecânico se você não tivesse destroçado o meu normal! — Quico respondeu.
— E eu não teria que destruir seu braço normal se você não tiv…
Do meio da poeira que já começava a se dispersar surgiu Chiquinha voando e caindo de costas no chão, bem próximo onde os dois se confrontavam. Seu Madruga soltou o pescoço de Quico e no mesmo momento correu em direção à sua filha.
— Chiquinhaaa!
Quico aproveitou o momento que ganhou a liberdade e com a mão normal massageando o pescoço se virou e saiu correndo em retirada para o meio da nuvem de poeira.
Chiquinha estava com as duas mãos sobre a barriga e expressava muita dor em seu rosto. Apesar disso dizia estar bem:
— Eu tô bem, papai. Não se preocupe — sua respiração era ofegante. — A placa por baixo do corselete ajudou a minimizar o impacto.
Ela tirou as mãos de cima da barriga e podia ser visto um buraco do tamanho de um punho em seu corselete, mas por baixo realmente havia uma placa de metal. Seu Madruga ainda olhava preocupado nos olhos olhos da filha.
— Tá tudo bem — ela deu uma risada. — É sério!
Eles ouviram o barulho de ar sendo expelido com pressão. Eram os carros de Quico ligando e provavelmente indo embora. Tinham conseguido! Venceram essa batalha e expulsaram o inimigo.
Seu Madruga então olhou em volta e viu Chaves ainda na mesma posição na qual tinha pego a caixa de madeira. Ele se levantou e foi na direção dele.
— Mas que diabos você ainda tá fazendo aí? Eu não pedi pra você levar a arma pra Chiquinha?
Chaves o observava assustado, sem reação.
— Viu o que aconteceu? Quase a mataram! Isso não teria acontecido se você…
— Tá tudo bem, pai! — Chiquinha interrompeu levantando-se do chão. — Ele não tá lembrando de nada, coitado. Deve estar completamente perdido no meio disso tudo.
Seu Madruga olhou na cintura de Chaves e não encontrou nenhuma arma.
— Hm… Agora faz sentido ver você partindo para cima de Quico completamente desarmado. Tá sem memória, mas também não quer dizer que tenha se tornado burro, né?
Chiquinha riu e se aproximou dos dois. Pegou a caixa de madeira da mão de Chaves.
— Você conseguiu arrumar ela? — Perguntou entusiasmada a Seu Madruga enquanto abria a caixa.
— Sim, está novinha! Poderia ter sido usada aqui pra arrancar uns membros se o bobão aí não tivesse ficado parado.
Chiquinha tirou de dentro da caixa uma motosserra. Dava para ver que já tinha sido remendada várias vezes. Algumas placas de ferro amassadas protegiam a complexa estrutura de engrenagens e correias que pareciam fazer aquilo funcionar.
— Obrigada paizinho lindo! — Ela disse fazendo um bico de beijo com os lábios.
Paty chegou ao lado deles com seus companheiros atrás. Carregava o chicote todo ensanguentado em uma das mão. Agora Chaves conseguia ver que ele era formado de pequenos aros de metal que se prendiam em uma corrente. Um chicote de metal, aquilo deveria ser mortal.
— Duas baixas… — Ela disse quando chegou perto o suficiente. — De cada lado. Perdemos Juju e Trovão ainda nos primeiros tiros que o filho da puta deu com aquela arma.
O clima de tristeza estava no ar, mas Chiquinha rangia seus dentes em fúria.
— Ele vai ver só! Eu vou lá e vou cortar ele todo em pedacinhos!
Ela pegou um cilindro que estava solto dentro da caixa de madeira e encaixou no fundo da motosserra. Parecia ser o que fazia aquilo funcionar, pois no mesmo momento a arma começou a emitir um barulho alto de um motor trabalhando.
— Calma, Chiquinha. — Pediu Paty. — Vamos pegar ele, mas vamos pensar em como fazer isso. Ele provavelmente vai para o bunker se esconder de novo como um rato. Eu posso levar meu grupo por um atalho e chegar ainda antes dele. Podemos prender ele pra fora do bunker enquanto vocês chegam pela retaguarda e picam aquele desgraçado.
Chaves estava impressionado com a forma que eles tratavam daquela questão com naturalidade. Tinham acabado de matar pessoas, amigos tinham morrido na batalha e ainda falavam em esquartejar um amigo de infância. Aquilo não lhe parecia real.
— Tudo bem. — Disse Chiquinha tirando o cilindro de ar comprimido da motosserra. — Mas sou eu que vou acabar com ele!
— Ok! Marmota, você cuida dos que morreram… Os outros, venham comigo!
Paty passou ao lado de Chaves seguida por sua gangue e vendo a cara de espanto do amigo lhe disse:
— Bem-vindo à rotina!
Autor(a): domramone
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
— Eu passei por um grupo de revolucionários quando estava vindo pra cá — disse Seu Madruga. — Se eles ainda estiverem lá, nós podemos pedir pra nos acompanharem até o outro lado do rio. Vamos pegar o Quico de surpresa, mas isso não quer dizer que ele tenha menos homens ou menos armas. Chiquinha concordou. Era uma ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 8
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maryannie Postado em 01/03/2021 - 02:07:49
Estou amando. Acompanhando ansiosa.
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maryannie Postado em 21/02/2021 - 15:57:55
Hoje é domingo e eu preciso de capítulo novo. Kkkk
maryannie Postado em 23/02/2021 - 14:23:52
Ah, feliz que tem capítulo novo! Valeu, vou procurar nas redes sociais.
domramone Postado em 23/02/2021 - 14:11:34
Hey Maryannie, não me mate, mas tive que atrasar um pouco o lançamento desse capítulo em algumas das páginas onde estou publicando. Trabalho e viagens tomam um tempo precioso e eu gosto de conferir se está tudo certinho antes das postagens. Farei o possível para não atrasar mais nenhuminha vez issu issu issu. Se quiser acompanhar a gente nas redes sociais, pode procurar no Instagram ou Facebook por Chaves Revolution. Lá são os primeiros lugares que eu acabo postando. Mas prometo que domingo tem o capítulo novo aqui ;)
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chander Postado em 20/02/2021 - 07:30:42
Olá, ramone. Mano! Muito, mas muito top! Esse capítulo ( APESAR DE ENORME), foi muito melhor que o primeiro e sério! Tá dando muita pena do Chavez nesse mundo pós-apocaliptico, onde a infância e a realidade atual se chocam com ferocidade. Acho que o mais maneiro é encaixar uma fala típica do seriado aqui e acolá, demonstrando que os personagens mudaram, sim, mas ainda podemos reconhecê-los facilmente. E mano, no segundo capítulo já esfregar uma beijão gay. NOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOSSSAAAA! A popis nunca me enganou, mas a Paty foi uma surpresa. Só, por favor, eu sei que a proposta é uma coisa mais adulta, mas não sei se tenho psicológico para uma cena de sexo entre chaves e chiquinha. Juro pra você que vou falar disso na terapia por um mês O.O' No mais, já, já, estou de volta. Eu demoro, mas não falho.
domramone Postado em 23/02/2021 - 14:14:29
Ahhh, que bom que gostou. Depois de um primeiro capítulo meio parado as coisas tem que desenvolver né? Os capítulos realmente estão grandes e talvez fosse melhor que eu os tivesse dividido em mais partes. Bom, foi a primeira experiência lançando algo por aqui e agora já sei o que devo fazer nos próximos ;) Obrigado pelo acompanhamento e pelas dicas. Prometo que não irá sair tão traumatizado dessa história. A não ser que você já esteja pensando nessas cenas. Como diria o Jay do Big Mouth "Você imaginou e nós descrevemos" =P
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maryannie Postado em 02/02/2021 - 00:39:00
Estou amando! Posta mais!
domramone Postado em 02/02/2021 - 09:24:14
Logo logo... Vou postar capítulo novo todo domingo =D