Fanfic: Chaves Revolution | Tema: Chaves
A caminhada até o galpão foi por ruas principais que desembocavam na ponte. As ruas continuavam desertas e, por vez ou outra, encontravam algumas pessoas que se escondiam assim que os viam. Tiveram alguns encontros com guardas armados de Quico, que utilizavam o traje de marinheiro, e eles cuspiam quando os viam passando. Os revolucionários estavam derrotados, com sede, fome e fugindo do território inimigo. O que mais poderia ser pior?
— Aquela velha tinha que se intrometer na briga que nem tinha a ver com ela — disse Chiquinha irritada depois de um longo período em silêncio remoendo o fracasso. — Se não fosse por isso teríamos acabado com aquele babaca!
Seu Madruga olhava para o horizonte enquanto caminhava.
— É a área dela também. E não iria deixar de mimar o próprio filho como sempre fez. Pra ela, a culpa nunca vai ser do bochechudo.
Chaves deu um pequeno riso pensando no apelido que costumavam usar para Quico quando ele era criança. Hoje ele já não tinha bochechas tão grandes, aliás, elas pareciam até murchas por estar mais magro. Ou talvez pelas marcas de acne que deve ter tido na adolescência e ficaram profundamente gravadas na pele. Ficou triste por não lembrar dessa época da sua vida. Que aventuras eles poderiam ter vivido juntos?
— Chaves, você tá estranho — disse a voz de Seu Madruga.
— Bom — disse Chiquinha. — Ele não lembra de muita coisa, não é? Deve ser difícil pra ele assimilar o que está acontecendo.
— É verdade, eu tinha me esquecido...
Sim, era muito difícil para ele assimilar tudo que estava acontecendo. Eram muitas novidades sobre sua vida, sobre a vida dos seus amigos, sobre a vila, sobre a sociedade e sobre o mundo. Algumas coisas ele conseguia absorver com mais facilidade, como se o seu subconsciente ainda guardasse aquelas informações, mas outras pareciam tão absurdas quanto um sonho.
— E se tudo isso que eu tô vivendo for um sonho? E quando eu durmo desse lado e sonho eu vou para a minha vida real?
Chiquinha sorriu.
— Cala a boca, Chavinho! Se isso for um sonho você tem que acordar agora.
Ela lhe dá um beliscão em seu braço e Chaves reclama. Parece que ela tinha razão. Não tem como aquilo ser um sonho, pois era muito real. O momento todo ainda sentia as dores do atropelamento — com exceção das duas batalhas que elevaram tanto sua adrenalina que o deixaram anestesiado — e também tinha os conhecimentos que ele não poderia adquirir quando tinha apenas oito anos, como o de manusear um revólver como aquele que carregava. Novamente é desperto desses devaneios pela voz de Seu Madruga.
— Acho que vamos conseguir uma boa reunião mesmo assim... — Disse ele, mas sem muita convicção na voz.
Chegaram à ponte. Foram por esse caminho pois além de cansados demais para atravessarem o rio pelas árvores, o galpão ficava relativamente próximo deste acesso. Assim que atravessaram, já longe dos ouvidos do inimigo, Seu Madruga começou a colocar Chaves a par de várias situações dos últimos dias e de quais estratégias deveriam tomar para que não continuassem sendo pressionados. Dizia que um contra-ataque como aquele que fizeram hoje seria a melhor opção para virar o jogo contra eles, mas deveriam planejar muito bem, para que não perdessem como tinha acabado de acontecer.
Chaves tentou se concentrar no que Seu Madruga dizia, mas por várias vezes se perdeu em outros pensamentos ou apenas em um vazio dentro de sua cabeça. Estava muito cansado. Era muita informação para um dia só e muito esforço para um corpo em recuperação. O sol estava se pondo e Chaves pensando em pedir ajuda para que alguém o carregasse quando chegaram ao galpão.
Chegaram pelos fundos da construção. Era um galpão enorme, que podia ser visto de longe e ficava cada vez maior quanto mais se aproximavam. Chiquinha contou que havia uma nova vila lá dentro que abrigava os líderes dos revolucionários, como era o caso de Chaves.
— Eu tenho uma casa? — Ele perguntou surpreso quando ela lhe contara.
— Sim — Chiquinha respondeu sorrindo. — Nós temos! Todos têm uma!
Conforme a luz do sol ia desaparecendo e o galpão se tornando maior à frente do grupo, as vozes começavam a ser ouvidas. Uma algazarra vinha de dentro daquele imenso galpão feito de tábuas de madeira de todos os tipos, mas cuidadosamente encaixadas.
Um homem e uma mulher armados com grandes fuzis adaptados guardavam aquela entrada que parecia ser exclusiva para lideranças. Os farrapos que se uniram a eles para a batalha com Quico, assim como os soldados do grupo de Paty se encaminharam ao lado do galpão para entrar pela entrada comum. Assim que Seu Madruga, Chiquinha, Paty e Chaves passaram pelos guardas que os cumprimentaram esticando a arma para cima, adentraram por um largo corredor onde puderam ver uma parte do pátio daquele galpão. Chaves ficou impressionado com a quantidade de pessoas que viu por aquela fresta. Não era à toa que o som daquelas vozes parecessem com o de uma multidão. Chiquinha percebeu a expressão de Chaves.
— Está assustado? — Ela perguntou.
— Não sei... Acho que impressionado. Quantas pessoas tem aí dentro? Mais de cem?
Ela ri.
— Chaves... Ali, com certeza, tem mais de mil!
Mil pessoas. Ele não tinha noção do que era encontrar mil pessoas. E agora estava prestes a ter de encará-los nos olhos e dizer que tudo ficaria bem e que eles venceriam aquela revolução. Foi o que seu Madruga pediu para que Chaves dissesse, pelo menos, e depois o próprio pai da Chiquinha assumiria o comando do microfone para dar continuidade à assembleia.
Chegando próximo ao que chamavam de antessala, encontraram algumas pessoas tão bem armadas quanto eles. Tão bem arrumados com suas roupas de batalha que pareciam nunca terem ido a uma. Olharam assustados para o grupo que acabou de chegar e um deles veio correndo em sua direção.
— Finalmente chegaram — disse o homem e então olhou para as roupas sujas dos quatro. — O que aconteceu?
A pergunta foi feita a Chaves, mas Seu Madruga se mantinha à frente e continuou avançando até chegar mais ao centro daquele grupo para falar de uma só vez a todos aqueles que pareciam líderes de alguma coisa.
— Acabamos de retornar de uma batalha com Quico. Duas, na verdade. Ninguém avisou vocês?
Uma mulher que estava sentada em uma poltrona escrevendo em alguns papéis se levantou e disse:
— Ninguém nos disse nada. Estamos esperando vocês desde o meio da tarde. Tivemos que distribuir cervejas para que o povo não acabasse debandando achando que a assembleia não aconteceria.
Seu Madruga anuiu pensando no que teria acontecido com Marmota. Viu no rosto de Paty que ela também se preocupava com isso, e então voltou a falar com o grupo que estava esperando explicações.
— Pois então tragam-nos cervejas também. Temos bastante coisa pra contar antes de falarmos com todos.
A mulher pareceu irritada, mas alguns homens já começaram a se mover atrás do pedido do velho.
— Venha cá! — Pediu Seu Madruga ao homem que os encontrou no corredor. — Vá lá e diga que Chaves está aqui e que logo todos nós falaremos.
O homem olhou assustado para Chaves, estranhando seu silêncio e sua expressão confusa. Então concordou com um aceno de cabeça e atravessou a antessala em direção ao pátio do galpão.
Um minuto depois eles ouviram em algum sistema de som o homem pedindo atenção. O silêncio tomou conta do galpão. Ao anunciar a chegada de Chaves e a proximidade do início daquele encontro todos urraram em comemoração.
Chaves ficou impressionado quando passou pela pequena porta que dava acesso ao galpão. Subindo uma pequena escada ele viu uma multidão como nunca tinha visto, a não ser em jogos de futebol na TV. Mas a impressão que tinha era que ali havia ainda mais gente que nos estádios. Não chegava a tanto, na verdade, mas Chiquinha tinha com certeza acertado sua previsão.
Junto com ele subiu grande parte daquelas pessoas que pareciam ter alguma participação na liderança da revolução. Tinham discutido rapidamente algumas questões, entre as quais a falta de memória de Chaves. Sem a definição do líder, não conseguiram chegar a uma estratégia que todos concordassem. E um dos motivos eram os movimentos imprevisíveis que estavam vindo de Quico e de seu exército do outro lado do rio. Sem saber qual o próximo passo que os inimigos tomariam, era difícil traçar uma boa estratégia.
Por fim foi decidido que eles manteriam posições de defesa pela região do galpão. Ali era o quartel general deles e não poderia cair de forma alguma nas mãos do inimigo. Era isso que Seu Madruga anunciaria logo após a apresentação de Chaves. E depois que o exército estivesse preparado e eles conseguissem novas informações do inimigo, traçariam novas estratégias.
Seu Madruga deu alguns passos à frente da parede de doze pessoas que se formou ao fundo do tablado que tinham subido. Ele se dirigiu ao meio daquele palco com piso de metal que ecoava a cada passo que dava. Cada passo fazia com que mais pessoas ficassem quietas. Ao chegar no centro do palco, em frente ao microfone, toda a algazarra já havia cessado e só sobrava silêncio.
— Boa noite senhoras, senhores, senhoritas... Com vocês, o nosso líder: Chaves!
A multidão explodiu em gritos, assovios, mãos ao alto e algumas armas perdidas sobre as cabeças. Apesar de perigoso deixar armas com pessoas que poderiam estar embriagadas, a regra dos revolucionários era "nunca tire a arma de um colega".
Seu Madruga se recolheu com um sorriso no rosto enquanto olhava orgulhoso para Chaves. Chaves por sua vez não estava orgulhoso. Estava assustado. Não sabia o que fazer, mas as pernas começaram a caminhar até o centro daquele palco. Eram poucas frases que tinha para dizer: um agradecimento por todos estarem ali, um resumo bem resumido dizendo que Seu Madruga daria as novas coordenadas ao grupo e, então, uma frase de efeito que empolgasse a todos. Mas conforme foi se aproximando daquela haste de metal feito de correntes soldadas, onde no topo se encontrava algo que parecia um waffle cibernético que supôs ser o microfone, sua cabeça apagou tudo aquilo da memória. Quando chegou à frente do microfone sua cabeça estava completamente vazia.
Ele observava Seu Madruga mexendo com uma pá em uma larga e baixa caixa de madeira no chão. Se aproximou do homem e perguntou:
— O que está fazendo aí, Seu Madruga?
— É gesso, Chavinho!
Chaves ficou agitado.
— Posso ajudar?
— Não precisa. Estou me virando bem sozinho.
Chaves ficou irritado e saiu chutando o ar a sua volta. Mas logo ouviu Seu Madruga voltar a falar com ele.
— Chaves, espere! Você pode me ajudar sim. Consegue me alcançar aquelas garrafas ali em cima do beiral da janela?
Chaves olhou para o beiral e viu duas garrafas. Ele as pegou e levou até seu Madruga. O homem pegou uma das garrafas, abriu a tampa e despejou o conteúdo naquela massa branca que mexia dentro da caixa de madeira. Chaves observou atento. Seu Madruga pegou a outra garrafa de sua mão e fez o mesmo que antes. Então Chaves perguntou:
— Por que essa garrafa tem uma caveira?
Enquanto terminava de despejar o líquido dela na caixa, Seu Madruga olhava para a embalagem. Uma caveira branca com dois ossos cruzados em forma de xis em um fundo preto tinha destaque bem no centro do rótulo.
— Ah sim, Chaves. Isso aqui significa veneno! Quer dizer que algum dos produtos que compõe essa solução é nociva para o ser humano.
— Nociva?
— Sim, Chavinho. Quer dizer que faz muito mal se for ingerido. Por isso muito cuidado quando ver uma imagem assim.
Chaves concordou e continuou observando Seu Madruga mexer o gesso.
— E pra que serve essa solução? — Ele perguntou.
— Serve para deixar a massa do gesso mais líquida e facilitar a aplicação. Logo ela vai se tornar bem diferente do que você está vendo agora.
Enquanto os dois conversavam semi-abaixados na frente da caixa de madeira, Quico entrou no pátio com um copo de leite na mão.
— Chavinhoooo. Olha o que minha mãe fez para mim, e eu não te do-ou!
Chaves se levantou olhando para trás irritado.
— Pois saiba que eu nem queria mesmo, pois estou ajudando o Seu Madruga e depois ele vai me dar alguma coisa para comer!
Seu Madruga se encolheu com a menção de que ele daria um pagamento ao garoto, mas logo depois lembrou da fome que ele devia passar e então engoliu em seco sem protestar. Lhe daria algo para comer quando tivesse a oportunidade.
— Ah, eu também quero ajudar, Seu Madruga!
Jaiminho entrou na vila carregando sua bicicleta. Estava indo a caminho de Chaves para falar com ele quando Quico passou e largou o copo na mão do carteiro lhe dando um tapinha no ombro em agradecimento ao favor que fazia segurando-o. Jaiminho não sabia como o guri podia ser tão folgado, mas não reclamou. Apenas segurou o copo. Quico foi até o lado de seu Madruga e Chaves aproveitou a oportunidade da distração do amigo e correu até Jaiminho tomando o copo de sua mão.
Seu Madruga com uma concha despejou uma quantidade do gesso que estava bem líquido em um copo de vidro.
— Olha, Chavinho. Viu como fica bem mais líquido e fácil para pas... — Olhava para o copo e seu conteúdo, mas ao olhar para o lado, onde imaginava estar Chaves, deu cara a cara com Quico. Levou um susto e empurrou o garoto.
Quico caiu de cara dentro da caixa de madeira cheia de gesso. Seu Madruga ficou desesperado e largou o copo que segurava na mão mais próxima que encontrou: a mão de Jaiminho. Ele puxou Quico pelo colarinho e perguntou se estava tudo bem.
— MAMÃÃÃÃE! — Gritou Quico depois de assoprar o gesso que tinha sobre sua boca e suas narinas.
Ele se soltou de Seu Madruga e dando passos firmes e nervosos arrancou com violência o copo da mão de Jaiminho, sumindo logo depois pelo corredor que o levaria até sua casa.
— Mas o que esse animal estava fazendo aqui? — Disse Seu Madruga apreensivo, já imaginando Dona Florinda vindo lhe bater. Chaves encolheu os ombros. — E por que ele levou o copo com gesso? — A pergunta agora foi diretamente para Jaiminho que também encolheu os seus sem entender.
— Vai ver ele achou que era o copo de leite que ele tinha acabado de trazer. — Disse Chaves com um bigodinho de leite sobre o lábio superior e segurando o copo vazio levemente esbranquiçado na mão.
— Meu Deus! — Disse Seu Madruga assustado. — E se aquele animal beber o copo de gesso achando que é leite? Ele pode morrer! — Já ia se encaminhando na direção do corredor quando parou repentinamente. — Se bem que, isso não seria uma má ideia.
Chaves e Jaiminho observavam sem expressão Seu Madruga coçando o queixo.
— O problema seria se outra pessoa tomasse o conteúdo do copo enganada. — O homem complementou.
O silêncio foi quebrado por uma pequena onda de vaias. Logo elas aumentaram e se tornaram um grande babaréu. Chaves despertou e viu as expressões furiosas dos revolucionários a sua frente com as mãos fechadas para o alto. Alguns gritando "Fale logo!", outros perguntando "O que aconteceu com você?". Então Chaves sentiu uma mão em seu ombro. Olhou para trás e viu Seu Madruga com pesar no rosto.
— Deixa comigo, Chaves. Eu continuo daqui...
Enquanto Seu Madruga o empurrava delicadamente para o fundo daquele tablado, Chaves pensava no que tinha acabado de acontecer. Fora outro daqueles apagões como quando tentou atacar Quico? Ou preferia chamar de sonho? Visão, talvez, porque não chegava a dormir... Decidiu ser melhor tomar o rumo da escada que levava a antessala e assim abandonou o palco enquanto ouvia Seu Madruga pedindo desculpas por Chaves não estar em condições de falar por conta dos remédios que tomou após o acidente.
"Isso é mentira!" Chaves pensou. "Eu só não lembro de nada! Só isso!"
Chiquinha desceu correndo a escada atrás dele.
— O que foi que aconteceu? — Ela o olhava com um misto de surpresa e medo.
Chaves nem se virou para ela. Continuou de cabeça baixa e apenas disse:
— Nada.
Ela se aproximou dele e o abraçou por trás, apoiando a cabeça sobre suas costas. Chaves percebeu como Chiquinha continuava pequena. Ela não devia ser mais alta do que ele, se ele não tivesse pescoço e nem cabeça.
— O que foi que eu disse quando estava lá em cima?
— Nada. Você só ficou na frente do microfone parado. Parecia uma estátua.
Ele se virou e ela pôde ver seus olhos marejados.
— Chavinho, o que você tem?
Ele a abraçou e ficou em silêncio. Ela retribuiu o abraço ainda mais forte e ficaram assim por alguns minutos enquanto ouviam Seu Madruga discursando seguido de alguns gritos de aprovação da plateia. Mas nenhum dos gritos era tão alto como foram os primeiros.
— Pelo jeito cheguei tarde — disse uma voz atrás deles. — Já até começou os amassos pós-discurso!
Os dois procuraram quem havia dito aquilo e encontraram Popis ao lado deles. Ela estava com a mesma roupa que usava pela manhã, no hospital, mas agora acompanhada de uma pesada jaqueta de couro com várias caveiras bordadas. Ela percebeu as feições tristes nos rostos dos dois.
— Ah, desculpa! Não sabia que a situação tava ruim. O que aconteceu?
Paty veio descendo as escadas para a antessala.
— Situação sob controle — disse ela. — Seu pai é muito bom com discursos, mesmo depois das pessoas perderem a empolgação — se aproximou de Popis e lhe abraçou. — Acho que vai dar tudo certo. Eles voltaram a ter confiança assim que viram Chaves. Não é um simples silêncio que vai mudar tudo.
Chaves se sentiu mal com o que Paty tinha dito, mas não sabia o que estava acontecendo com ele próprio. Imagina se entenderia o que estava acontecendo ali.
— Por que eles desejam tanto a minha presença? — Ele perguntou quase cochichando para não deixar clara sua voz de choro. — O que foi que eu fiz?
Paty e Popis já não prestavam atenção no que acontecia na antessala, pois já estavam se pegando. Parecia um relacionamento recente se for analisar a vontade que uma tinha da outra. Mais duas pessoas desceram pela escada em direção a antessala. Chiquinha respondeu em voz baixa, mas com muita convicção:
— Porque você é o líder deles, oras! Ninguém jamais criou uma estratégia como você. Nunca perdemos uma batalha quando você está na frente. Você é o exemplo deles, o super-herói!
Aquelas palavras tinham mexido com o interior de Chaves. Lá no fundo, bem no fundo, sua criança interior se mexeu. Ele sempre quis ser um herói e agora ele era um. Só não sabia como tinha chegado lá. E tinha perdido todas as aventuras até ali. E agora morria de medo de levar todas aquelas pessoas para o caminho errado.
Então foram despertados por tiros. Tiros de metralhadora que vinham do lado de fora do galpão. Assim que o burburinho de surpresa diminuiu todos puderam ouvir o grito:
— CHAVEEEEEEES!!!
Era a voz do Quico, estridente da mesma forma de quando era criança. Impossível Chaves não reconhecer.
Mais tiros de metralhadora vieram e então Chiquinha correu em direção a porta por onde haviam entrado no galpão. Pegou a arma de um dos guardas que parecia perdido sem saber o que fazer e seguiu caminho ao lado do barracão. Chaves a seguiu por todo o caminho, assim como Paty e Popis.
— CHAVEEEEEES!!! — Os tiros varriam o céu, deixando-o com rastros bonitos em dourado. Mas todos sabiam que apesar de bonito, aquilo não era um bom sinal.
Quase chegando na frente do galpão eles começaram a ver três carros iguais aos que Quico usava. Todos pretos, quase camuflados no escuro da noite. À frente deles estava Quico atirando alucinadamente para o céu. Na frente do galpão já se reunia um punhado de revolucionários, embasbacados com a nova arma do inimigo e com a audácia dele para provocá-los ali na área deles.
Chiquinha correu até a frente dos revolucionários e perguntou:
— O que você quer, imbecil?
Chaves e Paty se puseram um a cada lado de Chiquinha. Paty já estava com a pistola e o chicote na mão. Chaves não sabe em que momento pegou, mas o revólver que Chiquinha tinha lhe entregado já estava empunhado em sua mão e carregado.
Quico começa a caminhar em direção ao grupo.
— Aí está você então, seu desgraçado! — Diz ele apontando seu braço-metralhadora para Chaves.
Todos ficam tentando entender qual era a loucura que se passava pela cabeça de Quico naquele momento.
— Vocês foram até a minha área hoje, demonstraram a falta de empatia com os outros mostrando que usam meu braço — apontou seu braço normal para Seu Madruga que tinha acabado de surgir do meio da multidão. — São humilhados pela minha mãe, e agora, só algumas horas depois de saírem de lá, ela está deitada sobre a cama sem forças. Vomitando as tripas, cagando as amígdalas, queimando em febre como se estivesse no inferno e falando coisas sem sentido — ele coloca a ponta da metralhadora de seu braço mecânico sob a testa de Chaves. — COMO FOI QUE VOCÊS A ENVENENARAM?
Agora eles podiam ver as lágrimas escorrendo pelas bochechas murchas de Quico.
— Você tá louco? — Disse Chiquinha enérgica apontando a arma para ele. — Nós nem vimos sua mãe direito. Ela estava dentro daquela máquina de guerra, como nós conseguiríamos envenená-la?
Quico olhou em seus olhos ainda sem tirar a metralhadora da cabeça de Chaves.
— Eu não sei! Mas vocês deram um jeito de camuflar! Se não foi isso foi bruxaria sua! Ou sua — apontou para Paty. — Mulheres são ótimas em bruxarias!
Quico voltou seus olhos raivosos para Chaves com mais ira.
— Mas ainda acho que foi você! Quem mais poderia ser, não? E NÃO SE FAÇA DE TONTO, ESTOU FALANDO COM VOCÊ!
Chiquinha sentia que tinha que fazer alguma coisa. Tinha demorado demais para reagir quando ele se aproximou com aquela loucura nos olhos. Agora se atirasse nele, poderia fazer com que a metralhadora disparasse arrancando a metade superior da cabeça de Chaves. Como resolveria esse impasse?
No meio da tensão e dos gritos de Quico ninguém percebeu que um carro baixo, escuro e que fazia muito menos barulho que os de Quico encostou ao lado deles. No capô havia apenas o desenho de um grande número "8" branco em alto relevo. Aquilo prendeu a atenção de todos e então uma mulher desceu do carro. Retirou uma caixa de metal do banco de trás e a colocou ao lado. Com uma manivela, a mulher fez com que aquela caixa se esticasse por mais de três metros de altura, deixando o topo mais estreito até que acabava em uma ponta afiada no cume. Logo após ela retirou um monofone tão grande que tinha ser carregado com as duas mãos e o entregou a Quico sem dizer uma só palavra e nem olhar em seu rosto. Puxou o grosso cabo preto que saia do monofone e o ligou naquela espécie de antena. As engrenagens expostas do monofone começaram a girar e um pequeno assobio saiu dele quando isso aconteceu.
— Pois não? — Disse Quico receoso ao equipamento.
A voz que veio do outro lado era metálica e calma:
— Saia daí, neste momento!
Quico sentiu a coragem voltar e tentou argumentar:
— Mas eles envenenaram minha mãe. O senhor tem que ver como el...
— Eu já vi a situação dela. Volte para cuidar da sua mãe ou vai se arrepender de não estar com ela nesse momento de dificuldade. Ela vai lembrar disso.
Quico ficou em silêncio, sem argumentos.
— Você está maluco em se enfiar aí no meio sozinho. Volte para a casa dela e deixe que eu resolvo isso amanhã. Eles vão pagar pelo que fizeram!
— Tudo bem, senhor! — Quico diz e, em seguida, o monofone é arrancado de sua mão pela mulher que começa a recolher o aparato.
Os mais próximos dele tinham ouvido toda a conversa e se mantinham boquiabertos. Quico apontou uma última vez a arma em direção a Chaves e reestabeleceu seu olhar de ira.
— Isso não vai ficar assim! — E então caminhou até seus carros. Um de seus guardas abriu a porta e ele entrou. Os carros partiram ao mesmo tempo que o carro com o "8" no capô seguiu para um lado oposto.
— Ele está ficando cada vez mais audacioso em sua loucura — Seu Madruga disse se aproximando deles.
— Por que não atiraram nele quando desceu do carro? — Perguntou Chaves.
— Apesar de toda a destruição ainda temos um pouco de honra, Chaves — respondeu Seu Madruga. — Aquele coitado não teria chance contra nós e sabíamos que só estava aqui para provocar. Quem atira em um maluco em uma condição dessas é covarde. Tão covarde como quem usa venenos.
Chaves se lembrou do sonho que teve em cima do palco. Será que aquilo também tinha a ver com o que acontecera com Dona Florinda?
Mais tarde, quando todos tinham se dispersado do galpão e já devia passar de meia-noite Chiquinha perguntou a Chaves:
— E aí, muito cansado? — Deu uma risada irônica.
— Eu acho que estou dormindo em pé. Hahaha.
— Vamos dormir, então!
Chaves se sente aliviado, mas logo se retesa.
— Desculpe. Eu não sei onde é meu quarto. Quer dizer, eu tenho um quarto né?
— Nosso quarto — ela responde.
Chaves faz um olhar de surpresa e incredulidade.
— Ah, Chavinho — ela diz em um misto de surpresa e decepção. — Não vai dizer que você não lembra disso também?
Chaves estava boquiaberto.
— Quer dizer que... Eu... Você...
Ela o pega pela mão e começa a puxá-lo enquanto caminha em direção ao quarto.
— Sim, somos casados! Muito conveniente esquecer justamente disso, não é? Agora vamos, você precisa descansar!
Chaves não lembrava de já ter beijado na vida, mas quando Chiquinha o beijou, lhe pareceu a coisa mais natural do mundo e que já havia feito isso muitas vezes antes.
Ele a afastou um pouco. Tinha uma coisa que não deixava de martelar em sua cabeça.
— De quem era aquela voz no telefone? — Ele perguntou.
Chiquinha riu.
— Ué, você não reconheceu? — Então voltou a deixar a sua expressão séria. — Ah, é. Já tinha esquecido que você não lembra de nada...
Chaves continua olhando para ela curioso. "Anda, desembucha! Quem é?"
— Aquela voz era do Senhor Barriga.
Autor(a): domramone
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Era perto do Natal e um grande pinheiro verde estava no meio da sala. Várias bolinhas coloridas estavam penduradas nele e em seu topo havia uma estrela dourada. Mesmo aquela árvore ocupando uma grande área, ainda sobrava espaço para que as crianças brincassem a sua volta. A casa do Seu Barriga era muito grande. Chiquinha, Chaves, Nhonho ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 8
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maryannie Postado em 01/03/2021 - 02:07:49
Estou amando. Acompanhando ansiosa.
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maryannie Postado em 21/02/2021 - 15:57:55
Hoje é domingo e eu preciso de capítulo novo. Kkkk
maryannie Postado em 23/02/2021 - 14:23:52
Ah, feliz que tem capítulo novo! Valeu, vou procurar nas redes sociais.
domramone Postado em 23/02/2021 - 14:11:34
Hey Maryannie, não me mate, mas tive que atrasar um pouco o lançamento desse capítulo em algumas das páginas onde estou publicando. Trabalho e viagens tomam um tempo precioso e eu gosto de conferir se está tudo certinho antes das postagens. Farei o possível para não atrasar mais nenhuminha vez issu issu issu. Se quiser acompanhar a gente nas redes sociais, pode procurar no Instagram ou Facebook por Chaves Revolution. Lá são os primeiros lugares que eu acabo postando. Mas prometo que domingo tem o capítulo novo aqui ;)
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chander Postado em 20/02/2021 - 07:30:42
Olá, ramone. Mano! Muito, mas muito top! Esse capítulo ( APESAR DE ENORME), foi muito melhor que o primeiro e sério! Tá dando muita pena do Chavez nesse mundo pós-apocaliptico, onde a infância e a realidade atual se chocam com ferocidade. Acho que o mais maneiro é encaixar uma fala típica do seriado aqui e acolá, demonstrando que os personagens mudaram, sim, mas ainda podemos reconhecê-los facilmente. E mano, no segundo capítulo já esfregar uma beijão gay. NOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOSSSAAAA! A popis nunca me enganou, mas a Paty foi uma surpresa. Só, por favor, eu sei que a proposta é uma coisa mais adulta, mas não sei se tenho psicológico para uma cena de sexo entre chaves e chiquinha. Juro pra você que vou falar disso na terapia por um mês O.O' No mais, já, já, estou de volta. Eu demoro, mas não falho.
domramone Postado em 23/02/2021 - 14:14:29
Ahhh, que bom que gostou. Depois de um primeiro capítulo meio parado as coisas tem que desenvolver né? Os capítulos realmente estão grandes e talvez fosse melhor que eu os tivesse dividido em mais partes. Bom, foi a primeira experiência lançando algo por aqui e agora já sei o que devo fazer nos próximos ;) Obrigado pelo acompanhamento e pelas dicas. Prometo que não irá sair tão traumatizado dessa história. A não ser que você já esteja pensando nessas cenas. Como diria o Jay do Big Mouth "Você imaginou e nós descrevemos" =P
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maryannie Postado em 02/02/2021 - 00:39:00
Estou amando! Posta mais!
domramone Postado em 02/02/2021 - 09:24:14
Logo logo... Vou postar capítulo novo todo domingo =D