Fanfics Brasil - Capítulo 5 - A Defesa é o Melhor Ataque Chaves Revolution

Fanfic: Chaves Revolution | Tema: Chaves


Capítulo: Capítulo 5 - A Defesa é o Melhor Ataque

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Era perto do Natal e um grande pinheiro verde estava no meio da sala. Várias bolinhas coloridas estavam penduradas nele e em seu topo havia uma estrela dourada. Mesmo aquela árvore ocupando uma grande área, ainda sobrava espaço para que as crianças brincassem a sua volta. A casa do Seu Barriga era muito grande.


Chiquinha, Chaves, Nhonho e Popis, com sua inseparável boneca, corriam em volta da árvore, aproveitando a falta de adultos os supervisionando na casa e censurando-lhes pela atitude que tomavam. “Vocês podem se machucar!” era a frase clássica dos pais, mas todos sabiam que o maior medo dos adultos era que quebrassem os móveis da casa, que nesta época do ano era aquela sagrada árvore de Natal.


— Chega, chega, chega! — Disse Nhonho se abaixando com as mãos sobre os joelhos e arfando rapidamente. — Eu não aguento mais. Desisto! Ai — Coloca as mãos sobre a barriga, ainda muito ofegante. — Vamos brincar de outra coisa.


Chaves ficou chateado. Ele era o mais rápido no pega-pega. Não era tão bom para pegar, mas era o melhor para fugir. Chutou o ar sem questionar. Sabia que a casa era do Nhonho e as regras ali seriam as dele. Se o dono da casa não quisesse mais brincar daquilo, Chaves teria que concordar com a nova brincadeira ou ir embora.


— Já sei! — Disse Chiquinha sem nenhum ar de cansada. — A gente podia brincar de casinha!


Chaves se animou e se aproximou da pequena roda que tinha se formado.


— E como se brinca disso? — Perguntou Nhonho.


— É fácil! — Continuou a menina. — Nós fingimos que moramos aqui. Eu sou casada com o Chaves, e a Popis com o Nhonho. E nós temos que cuidar da casa.


Popis e Nhonho se olharam com estranheza, mas logo concordaram encolhendo os ombros. Chaves ficou decepcionado. Esperava uma brincadeira melhor, mas pelo menos não eram os jogos estúpidos que Nhonho trazia para que jogassem quando não tinham mais nada para fazer. Não custava nada tentar.


Chiquinha o arrastou para que brincassem de comidinha. Juntaram umas folhas de um vaso de plantas e começaram a fazer um almoço. Chaves acabou se interessando mais do que esperava na brincadeira e quando viu estava fazendo tudo sozinho. Olhou para trás e quem o observava era Popis, toda interessada. Chaves desviou seu olhar para o outro lado da sala e encontrou Chiquinha brincando com Nhonho. Ele se levantou na hora e, quase passando por cima de Popis, chegou em frente ao casal que brincava ao pé da escada.


— Você não era minha mulher? — Perguntou Chaves com raiva.


— Ah, era brincadeira, né? Agora já trocamos os pares para não enjoar — Chiquinha respondeu.


No chão, enquanto mexia em algumas peças de brinquedo encaixáveis, Nhonho respondeu:


— Ela acha mais legal brincar comigo do que com você. Essa é a verdade!


Todos ficaram em silêncio. Chiquinha não disse nada, o que confirmava aquilo que o garoto tinha dito. Popis olhava para Chaves com pena. Tinha acabado de ser humilhado. E humilhado por quê? Porque o garoto mimado sentado no chão tinha brinquedos que o pai dele comprava. Ele tinha o que ele quisesse. Em um acesso de fúria que desencadeou em seu corpo uma força descomunal, Chaves levantou o vaso de plantas de onde tinha colhido as folhas minutos antes e desceu-o com toda sua força sobre a nuca de Nhonho.


O menino tombou de lado e se estirou de costas para o chão tremelicando e gemendo baixinho.


— ai ai aaaaa…


Chaves ficou paralisado. Chiquinha olhava assustada para o amigo no chão quando sangue começou a surgir por debaixo de sua cabeça. Ninguém mais lembra de ter visto Popis.


— Crianças, o que aconteceu? — Jaiminho entrava na casa carregando sua bicicleta. A largou de lado, encostada em uma parede e soltou sua pesada mochila no chão ao seu lado. Em seguida correu até o Nhonho.


Chiquinha começou a chorar, Chaves sentia seu corpo começar a tremelicar de nervoso e Jaiminho não parava de gritar com eles.


— Cadê o Seu Barriga? Onde estão os pais dessa criança? — Ele esbravejava como nunca ninguém o tinha visto, enquanto levantava a cabeça de Nhonho para entender de onde vinha o sangramento.


— Eles não estão — disse Chaves choroso.


— Peguem alguma coisa! Uma toalha, algo pra estancar isso aqui! Pare de chorar menina!


Aqueles gritos de Jaiminho só deixavam Chaves mais nervoso. Ele correu desesperado pelos cômodos da casa. Ouviu Nhonho resmungando que queria deixar uma mensagem ao seu pai. Não ouviu mais nada quando chegou a varanda e pegou uma rede de dormir que estava esticada nas paredes. Sentiu algo quente em suas pernas enquanto voltava até a sala e percebeu que havia se mijado. Mesmo com a calça toda manchada ele correu arrastando seus pés e entregou a rede para Jaiminho que já estava de pé com ar sério.


— Obrigado, Chaves. Mas infelizmente não deu tempo.


Chaves olhou para o chão e o corpo de Nhonho estava inerte, mergulhado em uma piscina de sangue vermelho vivo. A pior imagem que Chaves já tinha visto na vida. A rede que tinha entregado foi jogada por cima daquele corpo por Jaiminho.


 


Chaves acordou puxando o ar com força. Estava assustado. A imagem do seu colega morto e ensanguentado não sairia nunca mais de sua mente, disso ele tinha certeza. Sentiu algo estranho debaixo das cobertas e as levantou. Se encontrou todo molhado da cintura para baixo e uma grande roda escura sobre seu colchão. Chiquinha abriu a porta do quarto e ele colocou as cobertas por cima daquele problema, escondendo-o.


— Acordou, bela adormecida? — Ela disse em tom de brincadeira.


Chaves sentiu as dores pelo corpo agora que todos seus nervos voltavam a trabalhar ligados ao seu consciente. Eram as dores do atropelamento amplificados pelas dores dos esforços feitos no dia anterior. Ele esfregou seus braços e passou as mãos pela cabeça.


— Que horas são? — Ele perguntou.


— Tarde — disse Chiquinha. — Não quis te acordar mais cedo porque sabia que precisava descansar. Popis disse que a melhor forma de você recuperar a memória é com repouso. Lembrou de alguma coisa?


Ele balança a cabeça negativamente.


— Acho que não. Algumas sensações… Mas nenhuma imagem. É estranho… — Ficou um tempo calado olhando para baixo e então continuou. — Eu sonhei com o Nhonho — levantou a cabeça encarando-a. — Foi horrível!


Chiquinha aquiesceu e ficou calada. Chaves achou aquilo estranho. Já esperava que ela fosse lhe atulhar de perguntas, mas ela só fez aquele gesto como se não importasse tanto. Depois de mais um tempo de silêncio ela falou:


— Então vamos?


— Já vou — disse ele pensando em como esconderia a falha em sua bexiga. — Preciso me arrumar aqui…


— Tá bem… — ela disse com expressão triste. — Vou esperar aqui fora.


 


Chaves saiu de uma porta e deu direto com uma escada que acessava o pátio. Chiquinha estava lá em cima. Ele não lembrava direito como tinha ido parar ali na noite anterior e agora entendia por que naquela casa não tinham janelas. Era uma espécie de casa subterrânea. Igual várias outras que ele podia observar tendo o acesso pelas escadas nas bordas do pátio daquele galpão.


— Vem princesa! — Disse Chiquinha incitando-o a andar logo.


Ao atravessar o pátio passaram por Paty que gritava com alguns dos seus soldados. Pareciam participar de um treinamento.


— Ela é bem rígida com eles, né? — Perguntou Chaves.


— É sim. Ela treina os melhores. Nosso grupo de elite. Você geralmente manda algum do seu grupo que está meio molenga para passar uns dias com ela. Ou ele volta preparado para destruir tudo que encontra pela frente ou foge.


Ele ri. Não lembrava disso, mas agora que sabia iria usar a habilidade de Paty para treinar quando precisasse.


— Então eu também tenho meu grupo de soldados?


— Uhum — Chiquinha confirmou e arrumou seus óculos. — Alguns estão ali com meu pai.


Ela apontou em direção a uma grande mesa de madeira em um dos cantos do galpão. Lá estava seu Madruga debruçado sobre o tampo e riscando algumas coisas enquanto discutia com as pessoas ao redor.


— Eu tenho certeza de que isso é uma armadilha! — Chaves ouviu Seu Madruga dizendo enquanto se aproximava da mesa. — Não é possível qu… — Ele vê Chaves e sorri. — Chaves! Finalmente! Estávamos esperando você pra tomar algumas decisões.


Chaves não teve nenhuma reação. Seu Madruga continuou encarando-o esperando que fizesse ou dissesse algo.


— Sua memória ainda não voltou, não é?


Ele negou com um balanço de cabeça.


— Ah, que droga! — Seu Madruga desviou o olhar para os mapas enquanto pensava no que fazer.


— Ele sonhou com o Nhonho — Chiquinha disse de repente.


Seu Madruga voltou a encarar Chaves e perguntou um pouco encabulado:


— O que você sonhou com ele?


Chaves contou o sonho. Ou pelo menos o que lembrava dele. E pulou a parte que tinha mijado nas calças. Basicamente contou que eles tinham brigado e Chaves o tinha matado.


Seu Madruga anuiu com tristeza e voltou a olhar de relance para os mapas, desviando o olhar de Chaves.


— Entendo…


Chaves achou estranha a reação do velho. A reação de Chiquinha ao sonho também havia sido diferente do que ele esperava. Será que sempre reagiam assim a sonhos? Então lembrou da visão da noite anterior, enquanto estava em cima do palco. Aquela coincidência do copo com veneno do sonho e o suposto envenenamento de Dona Florinda na vida real… Decidiu que talvez fosse interessante comentar sobre isso também, já que estavam falando de sonhos, e então o fez. Mas ao contrário do que aconteceu anteriormente, agora eles reagiram com curiosidade.


— É realmente muita coincidência — disse Seu Madruga assim que Chaves contou sobre o caso. — É estranho porque seus sonhos parecem ter uma ligação com o que vai acontecer. Ou que eles têm o poder de alterar algumas coisas aqui enquanto você está em outro mundo.


Chaves estremeceu. Pensar na loucura que era viver entre dois mundos e poder modificar um fazendo certas coisas em outro era assustador, mas ao mesmo tempo excitante.


— Eu também estava achando isso — disse Chiquinha. — Vamos ter que prestar mais atenção nos sonhos ou apagões que você tiver. Mas vamos precisar que você nos conte tudo que acontecer de estranho. Pode fazer isso?


Ele concordou.


— Maravilha! — Seu Madruga comemorou e então se virou aos mapas. — Veja aqui Chavinho. Nossos batedores encontraram movimentação dos soldados de Quico próximo a área que eles ganharam ao lado da ponte. Estão armados e aparentemente se preparando para um ataque.


Chaves voltou a estremecer. Um arrepio começou no meio de suas pernas e subia até a cabeça. Hoje com a mente mais descansada ele avaliava melhor aquelas batalhas e sabia que era por sorte que não tinham morrido no dia anterior. E parece que logo estariam novamente em combate.


— Mas eu estou achando isso muito estranho — continuou Seu Madruga. — Eles estão muito expostos, como se quisessem que nós os víssemos se preparando. Tem também a ligação do Senhor Barriga ontem que dizia que organizaria uma estratégia com Quico, mas não foi visto ninguém com o uniforme do Senhor Barriga entre eles. Então ou o Quico está agindo por conta própria, ou eles estão juntos armando alguma coisa.


Todos continuaram pensando enquanto olhavam para os mapas. Chaves começou a reconhecer alguns dos lugares que passou no dia anterior.


— Se nós soubéssemos o que o Senhor Barriga está tramando, nós poderíamos nos preparar para contra-atacar — completou Seu Madruga.


Chiquinha ficou ereta em um segundo.


— E se o Chaves puder ver nos sonhos o que o Senhor Barriga está planejando?


Todos olharam para ela, incrédulos com a ideia. Mas aos poucos as expressões foram amansando. Não tinha motivo para que não tentassem, se aquilo pudesse ajudar.


— Você acha que isso é possível? — Perguntou Seu Madruga a Chaves.


Ele deu de ombros.


— Não sei. Os sonhos vêm aleatoriamente. Às vezes durante o dia, mas principalmente quando estou dormindo.


— E se você voltar a dormir? — Perguntou Seu Madruga.


Chiquinha riu.


— Haha. Você acha que ele ainda vai conseguir dormir depois de todo tempo que passou desmaiado naquela cama? Eu acho bem difícil!


— E aqueles chás que você usa pra sua insônia?


Chiquinha corou. Ninguém ali além de seu pai sabia disso. Além de Chaves, é claro, mas ele provavelmente não lembrava. Ela não gostava que os outros soubessem dos seus problemas com o sono. As piadas com seu humor inflamado poderiam aumentar caso as pessoas ficassem sabendo que ela não dormia direito. Mas agora seu pai já tinha denunciado.


— Pode ser que dê certo — ela finalmente concordou.


— Isso! — Comemorou Seu Madruga. — Você pode tentar isso, Chaves?


Ele demonstrou dúvida, mas concordou.


Os três seguiram até a escada que dava ao quarto de Chaves acompanhados de algumas pessoas que estavam no entorno da mesa. Chaves não sabia quem eram elas, mas não questionou. De acordo com Chiquinha alguns eram do seu próprio grupo, então deveriam ser amigos e pessoas de confiança.


Chiquinha entrou na casa e pegou um saco de algodão do qual retirou várias folhas secas. Pegou um caneco de cobre e colocou sobre um fogão maior do que Chaves lembrava. Ela virou uma válvula que parecia liberar o gás e com outra mão girou uma manivela. De uma hora para outra a chama se acendeu com uma pequena explosão. Ela pegou uma garrafa de cobre e virou a água que ali tinha dentro da caneca. Então jogou as folhas. Depois de alguns minutos, tirou as folhas de dentro da caneca e entregou-a a Chaves.


— Tome. Isso vai te derrubar!


Ele pega a caneca e olha com certa desconfiança.


— Não se esqueça de pensar muito no Senhor Barriga enquanto estiver pegando no sono — Disse Seu Madruga.


Chaves concordou e então deu o primeiro gole na caneca. Olhando por cima dela, viu todos que estavam a sua frente lhe olhando excitados e perguntou:


— Vocês vão ficar aqui vendo eu caindo no sono? Não sei se vou conseguir assim.


— Ah sim, nós vamos sair… — Falou Seu Madruga enquanto Chiquinha já o empurrava e aos outros para fora de sua casa.


 


Quase uma hora se passou. O grupo continuava próximo a escada que descia para a casa de Chaves. Discutiam possibilidades do que Quico e o Senhor Barriga estavam planejando e formas de contra-atacá-los.


Seu Madruga se mostrava inquieto. Já tinha pedido algumas vezes para que entrassem na casa e acordassem Chaves, mas Chiquinha ou alguma das outras pessoas do grupo lhe lembrava que poderia acordá-lo na hora mais essencial para o sonho. Mesmo assim ele não parava de olhar para o relógio que carregava no bolso de seu colete.


— Não é possível que ele não tenha conseguido nada ainda — disse ele irritado. — O tempo passa muito mais rápido nos sonhos.


— Calma, pai! Tudo tem seu tempo…


— Tudo tem seu tempo… E enquanto estamos aqui como bobos esperando que um sonho resolva nossos problemas, o nosso inimigo usa esse mesmo tempo pra se preparar para o ataque sem nem sabermos o que ele trama.


Nesse momento eles ouviram o barulho da porta. Então alguns segundos depois Chaves apareceu subindo a escada, cerrando os olhos contra a luz que entrava pelas janelas altas do galpão.


— E aí? — Perguntou Chiquinha empolgada, correndo até Chaves e sendo seguida pelos outros. — Conseguiu alguma coisa?


Chaves coçou um dos olhos e respondeu:


— Não consigo dormir.


Todos ouviram a bufada que seu Madruga deu quando exalou impaciente. Ele abriu espaço entre as pessoas e chegou bem à frente de Chaves.


— Desculpe, Chaves. Mas isso vai ser necessário!


Com um movimento súbito, Seu Madruga acertou o lado do rosto de Chaves com seu braço mecânico. Ele desmaiou na hora.


 


Estava na parte exterior da vila. Via um carrossel, um vendedor de algodão doce, uma barraquinha com algum tipo de jogo de argolas ou tiro ao alvo. Agora ele reconhecia: estava no parque de diversões que vez ou outra se instalava no terreno em frente à vila. Adorava aquele lugar, mas não conhecia ninguém que estava ali.


Então viu uma sombra arrastando-se pelo chão e se aproximando dele. Parecia a sombra de um homem deformado, como se segurasse algo em seu braço esticado. Quando a sombra estava bem próxima, ele levantou o olhar e deu de cara com Jaiminho aterrissando bem à sua frente, segurando um gordo balão de gás hélio. O carteiro deu dois passos no chão e entregou o que o trouxe até ali para o vendedor de balões. Pareceu a Chaves que o movimento todo foi como ver um filme de trás para frente, mas então Jaiminho colocou a mão em seu ombro e o levou para um canto escondido logo atrás do carrossel.


— Venha cá, Chavinho — disse ele sussurrando. — Não tenho muito tempo. Isso foi o que consegui encontrar sobre a mesa do Senhor Barriga.


Ele desdobrou um papel amassado e Chaves pode ver algo escrito com letras infantis no topo. Não conseguiu ler o que era, mas parecia que entendia o conteúdo. Em um desenho mais infantil ainda ele pode ver bonecos palitos desenhados sobre um mapa que continha um rio, duas pontes e alguns desenhos de casas como pontos de referência. Setas de indicação apontavam de um rabisco a outro e algumas palavras ininteligíveis davam significado a tudo aquilo. Chaves conseguiu ver tudo antes que Jaiminho voltasse a dobrar o papel e o colocar em sua mala em meio as outras cartas.


— Agora preciso devolver isso, antes que ele descubra. Boa sorte!


Após dizer isso, Jaiminho caminhou de costas até o vendedor de balões e pegou novamente o balão com o qual tinha vindo até ali, flutuando em direção ao céu logo em seguida. Apesar de ter feito o caminho andando de costas, para Chaves aquilo pareceu tão natural como se estivesse assistindo um filme pela ordem certa: do início ao fim.


 


Chaves acordou e ficou parado na cama por alguns segundos com os olhos abertos. Ouviu alguns suspiros de surpresa ao seu lado e quando olhou encontrou Seu Madruga, Paty e Chiquinha ao lado da sua cama.


— Desculpe, Chaves — disse Seu Madruga triste. — Eu não sei onde estava com a cabeça. Você tá bem?


Chaves se manteve encarando-o nos olhos por alguns segundos enquanto ligava os fatos com a dor gritante que sentia no lado do seu rosto. Então com um movimento súbito saltou da cama e se pôs em pé caminhando em direção a porta.


— Vamos ao mapa, antes que eu esqueça!


No pátio os soldados já estavam todos conversando entre si como se não houvesse problemas lá fora. Assim que viram Chaves caminhando determinado em direção a mesa com o mapa, todos se colocaram de pé e os mais importantes se aproximaram do líder.


Chaves observava o mapa e passando o dedo por alguns dos traços foi indicando aos que estavam a sua volta.


— Aqui! — Disse ele apontando para uma região ao norte de onde estavam, próximo a ponte, bem onde os batedores tinham indicado movimentação dos soldados de Quico. — Aqui estão planejando um ataque falso para fazer nossas tropas se deslocarem todas até lá. — Seu dedo seguiu a linha do rio em direção ao leste e depois para o sul, chegando quase ao fim do mapa e então apontou de novo próximo de onde um pequeno rio desembocava naquele principal. — E aqui eles estão preparando uma travessia. Vão chegar por trás e nos atacar de surpresa enquanto estivermos concentrados, próximos a ponte. O objetivo é limpar toda a área que estiver atrás de nós e nos encurralar contra o verdadeiro exército de Quico que vai estar esperando que atravessemos a ponte para o lado deles e aí estaremos em sua armadilha.


Todos ficaram impressionados com aquilo. Apesar de ser um resumo de todo o plano, Chaves o tinha explicado muito detalhadamente.


— Você viu tudo isso no sonho? — Perguntou Chiquinha.


Chaves assentiu. Tentou não falar que foi Jaiminho que lhe mostrou o plano. Não vinha ao caso agora.


— É realmente muito bom — disse Seu Madruga. — Será que podemos confiar nisso?


Sentindo-se desacreditado, Chaves ficou triste e lançou um olhar frio para o velho. Este ficou calado.


— Sinto que sim. — Disse Chaves aliviando o olhar. — Mais do que ver, eu senti o que seria feito. Tenho convicção de que é o que vai acontecer!


Um a um cada um deles foi concordando. Seu Madruga foi o último e ainda não tinha tirado o olhar do mapa.


— E como vamos fazer agora?


Todos os olhares se voltaram para Chaves. Quando ele percebeu isso, encolheu os ombros.


— Sua memória ainda não voltou? — Perguntou Seu Madruga.


Chaves negou com a cabeça.


— Poxa — continuou o velho. — Já estávamos achando que você tinha voltado. Está diferente desde que acordou. Achamos que a pancada tivesse organizado as ideias aí dentro.


A expressão de Chaves voltou a se fechar para Seu Madruga com a lembrança do soco. Mas em pouco tempo se desfez quando percebeu que ainda não se lembrava das coisas. Gostaria de se lembrar, nem que fosse do mínimo necessário.


— Eu tenho uma ideia! — Disse Chiquinha e se colocou ao lado de Chaves no mapa.


Por vários minutos ela e seu pai discutiram sobre um plano de defesa enquanto Chaves se mantinha absorto em seus pensamentos, tentando buscar memórias ou se perguntando se isso que estava vivendo agora não era um sonho. As decisões tomadas sobre a mesa foram que eles usariam a mesma tática do gordo: simulariam um ataque convincente à ponte onde os inimigos preparavam os soldados fakes e no lado oposto do terreno ficariam escondidos esperando o ataque sorrateiro de Seu Barriga pela retaguarda. A surpresa seria, no fim das contas, o trunfo dos revolucionários, ao contrário do que o Senhor Barriga esperava.


Chaves concordou com o plano. Parecia possível caso seu sonho se mostrasse realidade.


Todos os soldados sorriram e pegaram suas armas. Os líderes de grupos foram reunir seus homens e repassar as estratégias discutidas até a pouco. Decidiram colocar o plano em ação no dia seguinte, pois a noite já estava chegando e os batedores confirmaram que não houve nenhum movimento de ataque por parte dos falsos soldados de Quico próximos à ponte. Parecia ser seguro dormir mais uma noite.


Naquela noite Seu Madruga se aproximou de Chaves que olhava para o céu perdido em pensamentos. O velho trazia um grande saco de tecido de cerca de um metro e o carregava com as duas mãos com muito cuidado. Chaves olhou para ele curioso com o que trazia.


— Noite bonita, não? — Disse Seu Madruga. — Fazia tempo que não via uma noite assim. A calmaria que precede a tempestade — olhou para Chaves. — Você está pronto?


Chaves devolveu o olhar em dúvida, mas acenou consentindo.


— Tenho algo pra você! — Disse Madruga colocando o saco sobre o chão. Abriu uma das pontas e retirou o que parecia um pequeno barril de madeira. Várias tábuas colocadas lado a lado em sentido vertical e presas por fitas de ferro que circundavam o cilindro. Parecia muito com o barril de cerveja que tinham bebido na noite passada, mas este tinha uma empunhadura em uma das suas extremidades. E um gatilho. Uma luneta em um dos lados. E na outra extremidade despontava um cano de grosso calibre.


— O que é isso? Chaves perguntou surpreso. Não esperava que existisse algo como aquilo.


— É seu! Sua arma favorita! — Madruga a entregou a Chaves. — Acho que você não lembra, mas foi uma das primeiras armas que construí. Pelo menos foi a primeira fora do padrão comum. Depois da primeira batalha contra a polícia em pleno pátio da nossa antiga vila, você me trouxe os restos do barril que você costumava ficar dentro quando era criança. Ele foi todo destruído naquele dia e você sabia que não teria condições de reconstruí-lo. Mas me pediu pra fazer alguma coisa com ele, como símbolo de resistência. Como símbolo de vingança.


Chaves observava embasbacado aquela arma em suas mãos. Seu barril tinha se transformado em algo assustador. Se funcionasse, é claro. Pois aquela geringonça não parecia ser capaz de atirar.


— O casco dela ainda é o mesmo da primeira versão, os mesmos restos do seu barril — continuou Seu Madruga. — Fiz várias adaptações nela no decorrer dos anos. Muitas a seu pedido e muitas eu me dava a liberdade de adicionar. Você sempre gostou, com exceção da vez que encobri a madeira com latão. Você sempre a quis rústica e com esses pedaços de madeira a mostra.


Lágrimas começaram a correr pelo rosto de Chaves enquanto ele acariciava a arma em sua mão, que apesar de grande era leve.


— Ela chegou danificada depois do acidente e eu dei um jeito de arrumá-la até hoje. Não mudei nada desde a última versão. Está igualzinha. Mas acho que você não lembra. Posso te mostrar como se usa.


— Não precisa — Chaves falou sem levantar o rosto da arma. — Acho que sei como usá-la. Pelo menos no subconsciente.


— Tá certo, Chaves…


— Você conserta armas?


— Sim, Chavinho. Sou o mestre de armas aqui. Como eu disse, você que me influenciou a criar armas malucas e fez com que eu descobrisse esse meu dom. Infelizmente, nesses últimos dias, acho mais importante lutar pela revolução do que trabalhar com esse artesanato.


Chaves não ouviu as últimas palavras de Seu Madruga pois já estava afundado em memórias. Memórias que vinham desordenadas em sua cabeça: Uma bola de demolição, aulas em um terreno baldio, um beijo de Chiquinha, um presente recebido de Seu Madruga. Aquilo fez sua cabeça doer e ele chacoalhou-a, enviando as memórias para longe. Estava muito cansado para deixar seu cérebro trabalhar demais naquela hora.


— Obrigado, Seu Madruga! — Disse ele encaminhando-se para dentro do galpão. — Prometo que vou fazer valer a pena seu trabalho.



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Autor(a): domramone

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Ainda antes do amanhecer, Chaves já estava junto com alguns soldados bem próximo à beira do rio. Não tinha conseguido dormir quase nada nas horas que tinha livre e, quando pregou o olho, estava tão cansado que nem teve sonhos. Agora podiam observar a movimentação do outro lado: os inimigos estavam se movendo como se realment ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 8



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  • maryannie Postado em 01/03/2021 - 02:07:49

    Estou amando. Acompanhando ansiosa.

  • maryannie Postado em 21/02/2021 - 15:57:55

    Hoje é domingo e eu preciso de capítulo novo. Kkkk

    • maryannie Postado em 23/02/2021 - 14:23:52

      Ah, feliz que tem capítulo novo! Valeu, vou procurar nas redes sociais.

    • domramone Postado em 23/02/2021 - 14:11:34

      Hey Maryannie, não me mate, mas tive que atrasar um pouco o lançamento desse capítulo em algumas das páginas onde estou publicando. Trabalho e viagens tomam um tempo precioso e eu gosto de conferir se está tudo certinho antes das postagens. Farei o possível para não atrasar mais nenhuminha vez issu issu issu. Se quiser acompanhar a gente nas redes sociais, pode procurar no Instagram ou Facebook por Chaves Revolution. Lá são os primeiros lugares que eu acabo postando. Mas prometo que domingo tem o capítulo novo aqui ;)

  • chander Postado em 20/02/2021 - 07:30:42

    Olá, ramone. Mano! Muito, mas muito top! Esse capítulo ( APESAR DE ENORME), foi muito melhor que o primeiro e sério! Tá dando muita pena do Chavez nesse mundo pós-apocaliptico, onde a infância e a realidade atual se chocam com ferocidade. Acho que o mais maneiro é encaixar uma fala típica do seriado aqui e acolá, demonstrando que os personagens mudaram, sim, mas ainda podemos reconhecê-los facilmente. E mano, no segundo capítulo já esfregar uma beijão gay. NOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOSSSAAAA! A popis nunca me enganou, mas a Paty foi uma surpresa. Só, por favor, eu sei que a proposta é uma coisa mais adulta, mas não sei se tenho psicológico para uma cena de sexo entre chaves e chiquinha. Juro pra você que vou falar disso na terapia por um mês O.O' No mais, já, já, estou de volta. Eu demoro, mas não falho.

    • domramone Postado em 23/02/2021 - 14:14:29

      Ahhh, que bom que gostou. Depois de um primeiro capítulo meio parado as coisas tem que desenvolver né? Os capítulos realmente estão grandes e talvez fosse melhor que eu os tivesse dividido em mais partes. Bom, foi a primeira experiência lançando algo por aqui e agora já sei o que devo fazer nos próximos ;) Obrigado pelo acompanhamento e pelas dicas. Prometo que não irá sair tão traumatizado dessa história. A não ser que você já esteja pensando nessas cenas. Como diria o Jay do Big Mouth "Você imaginou e nós descrevemos" =P

  • maryannie Postado em 02/02/2021 - 00:39:00

    Estou amando! Posta mais!

    • domramone Postado em 02/02/2021 - 09:24:14

      Logo logo... Vou postar capítulo novo todo domingo =D


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