Fanfics Brasil - Capítulo 6 - A Defesa é o Melhor Ataque parte 2 Chaves Revolution

Fanfic: Chaves Revolution | Tema: Chaves


Capítulo: Capítulo 6 - A Defesa é o Melhor Ataque parte 2

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Ainda antes do amanhecer, Chaves já estava junto com alguns soldados bem próximo à beira do rio. Não tinha conseguido dormir quase nada nas horas que tinha livre e, quando pregou o olho, estava tão cansado que nem teve sonhos. Agora podiam observar a movimentação do outro lado: os inimigos estavam se movendo como se realmente fossem atacar em breve. Isso assustava Chaves, pois se eles realmente atacassem, o seu exército não estava preparado.


Paty estava com ele. Alguns soldados dela se juntaram a alguns de Chaves. Ele não lembrava mais o nome de nenhum deles, que tinham sido apresentados naquela noite, mas sabia que eram os que o acompanhavam na maioria das missões. Estavam ali pra criar credibilidade de que iriam fazer um ataque a qualquer momento, e acreditavam que os inimigos do outro lado estavam acreditando seriamente nisso. Eles não sabiam que Chaves estava sem memória, e ver o líder da revolução ao lado de uma de suas principais estrategistas indicava que o movimento era sério.


Atrás de Chaves, Paty e seus soldados principais, encontrava-se grande parte de moradores da região. Pessoas que nunca haviam pegado em uma arma, agora seguravam algumas que em sua maioria nem funcionavam. Outros traziam armas que eles mesmos fizeram em casa, adaptando enxadas, foices, martelos e pás. Mas nenhum deles estaria preparado para segurar um ataque de verdade, caso ele viesse.


Os primeiros raios de sol surgiram no horizonte. Apesar de assustado e com medo de que os inimigos não caíssem na contra-armadilha que tinham preparado, Chaves quis participar mais ativamente da liderança. Ele daria o sinal no momento em que os soldados deveriam atacar e isso aumentaria a credibilidade de um ataque aos olhos do inimigo. Mesmo assim, por estar sem todas as suas memórias, ainda era sempre auxiliado por conselhos de Paty.


— Veja só como eles se movem — disse ela agachada ao seu lado. — O tempo inteiro olhando para trás, se certificando de que o caminho para a fuga deles esteja livre. Está claro que não querem avançar.


Chaves concordou. Sentia-se mais confiante depois de perceber esse detalhe que Paty lhe mostrara. Estava na hora de atacar.


— Vamos pra cima deles! — Ele disse.


— É assim que eu gosto! — Disse Paty puxando seu rifle modificado à sua frente.


Chaves se levantou e soprou em um chifre que usava como trombeta de guerra. Soprou por quase meio minuto e então no meio do silêncio que se fez após o fim daquele som retumbante, ele gritou:


— Vamos acabar com eles!


Uma gritaria se formou por trás dele e as pessoas começaram a correr. Ele sabia que existia muitas crianças no meio daquelas pessoas, crianças que não queria que participassem, mas seus pais e as próprias crianças se sentiam completas lutando pela revolução. Esse era o sonho de cada uma delas se realizando. Só esperava que os inimigos não percebessem a quantidade de pessoas baixas no meio do exército que ia para cima deles.


Na frente iam correndo Chaves, Paty e seus principais soldados. Quando se aproximaram dos soldados de Quico que estavam ao lado da ponte, esses congelaram. Ficaram completamente parados, esperando alguma coisa. Chaves levantou seu barril-canhão e atirou a esmo na direção do inimigo. Assim que o som explodiu à sua frente ele caiu de costas no chão.


Ele não esperava aquele impacto. O coice que a arma deu durante o tiro fez com que voltasse para trás por pelo menos dois passos e perdesse um pouco o ar que tinha nos pulmões quando bateu de costas no chão. Ainda tentando entender o que tinha acontecido teve seu braço agarrado por uma mulher. Era um dos seus fiéis soldados apresentados na noite anterior. Ela sorriu, mas aparentava urgência na voz.


— Não é hora de descansar, chefe!


Ela puxou seu braço e ele se levantou em um pulo. Saiu correndo novamente em direção ao inimigo. Não sabia se o barulho daquele tiro tinha encoberto o som dos outros disparos, ou se tinha lhe deixado surdo, pois não ouviu mais nenhum tiro. Apesar disso ele viu cerca de cinco inimigos que jaziam no chão, assim que conseguiu chegar à frente do grupo que avançava. Os outros inimigos se apinhavam sobre a ponte tentando atravessar ao outro lado.


— Quem mais atirou? — Ele perguntou confuso para Paty depois de ver tantos mortos.


Ela olhou para o barril que Chaves carregava em sua mão.


— Só essa coisa aí!


Ele ficou surpreso. Somente um tiro com aquela arma derrotou vários inimigos mesmo a uma distância onde imaginava que só iria assustá-los. Bom, de toda forma os assustou muito, pois estavam todos debandando loucamente.


Paty deu alguns tiros para cima agora que se aproximavam, a fim de assustar ainda mais o inimigo. Alguns deles inclusive já se jogavam sobre o rio, sabendo que não teriam tempo de atravessar a ponte. Paty ria da bagunça que era ver aqueles homens se atropelando e não conseguindo cumprir uma única função que deveria ter sido passada a eles, que era atravessar uma ponte.


— Quico conseguiu reunir o grupo de atores mais imprestável que existe! — Ela disse e então deu mais tiros para o alto.


Os exércitos de Quico, de Dona Florinda e do Senhor Barriga eram formados unicamente por homens. Paty achava aquilo ridículo e adorava botá-los para correr, assim como influenciar as mulheres da revolução a fazerem o mesmo. Era uma vingança por aqueles babacas não deixarem suas mulheres lutarem nas batalhas, mas ter que lavar suas roupas imundas em casa.


Chaves também atirou para cima. Agora estava mais preparado para o golpe que levaria da arma e não caiu no chão. Mas teve que parar por uns dois segundos para recuperar o equilíbrio e sentir novamente o braço que achou que havia sido arrancado. Não iria mais atirar na direção daqueles homens. Ele viu que eram pobres coitados colocados ali apenas para morrer afim que a armadilha funcionasse. Quase a mesma situação daqueles que seguiam Chaves nesse momento, mas a diferença é que seus soldados não morreriam. Isso ele sabia.


Chegando próximos a ponte eles diminuíram o passo. Esperaram que todos os soldados inimigos atravessassem, acelerando-os com novos tiros para o alto, e assim que todos estavam do lado inimigo do rio, eles subiram sobre a ponte.


Vários soldados que vinham atrás passaram à frente e esticaram escudos sobre a cabeceira da ponte, fechando-a completamente. Outros soldados fizeram o mesmo na beira do rio. Aquilo era só uma precaução para o caso do exército de Quico estar pronto para atacá-los, mas não foi necessário. Todos aqueles homens correram se dispersando pelas ruas entre os prédios abandonados, querendo que o exército revolucionário os seguissem. Era realmente uma armadilha, e Chaves estava aliviado por não ter caído nela. Em poucos segundos ele começou a ouvir os tiros vindo ao longo daquele rio. A mensagem de que Chaves estava com suas forças atacando a ponte já devia ter chegado até lá.


 


— Estão vindo! — Disse Chiquinha para os dois soldados que estavam ao seu lado.


Os três estavam agachados embaixo da janela de uma das poucas casas com portas que podiam encontrar naquela região. Tinham acabado de ouvir tiros vindo da beira do rio, onde tinham deixado dois soldados prontos como se estivessem patrulhando os arredores do lugar onde já sabiam que os inimigos invadiriam. Claro que era tudo uma simulação: os dois guardas fingiriam ser surpreendidos pela invasão e então, depois de avisarem com tiros que os inimigos estavam chegando, os dois fugiriam e procurariam refúgio.


O sinal tinha sido dado, e Chiquinha esperava que tudo corresse como o planejado. Desde manhã ela e seu pai fizeram a distribuição dos soldados de seu grupo e os do grupo de Chaves pelas casas na região. A ideia era surpreender soldados inimigos que, em missão de reconhecimento, entrariam nas primeiras casas para ver se realmente todos os soldados tinham comparecido a batalha na ponte e aquela região estava vazia. Seu Madruga havia pedido que eles já deixassem os exércitos preparados para atacar com força total assim que o inimigo entrasse no território deles, mas Chiquinha queria dizimar a maior parte dos inimigos que conseguissem de uma vez só. Acreditava que Seu Barriga iria sim mandar uma missão de reconhecimento antes de atacar com seu exército. Ele não era burro e aquele plano estava muito bem organizado, inclusive com Quico. É claro que o antigo dono da vila não iria se arriscar à toa.


Ela só esperava que estivesse certa. Não queria ouvir seu pai lhe dizendo “Eu avisei!” depois.


De qualquer forma, outros dois generais estavam organizando as tropas que cairiam em cima do exército do Senhor Barriga mesmo se ele entrasse em cena desde o início. Então estavam preparados para qualquer caso, ela estando errada ou não.


Mas o silêncio mostrava que ela estava certa. Por mais que o inimigo tivesse intenções de invadir sem ser percebido, um exército de centenas de homens faria um barulho considerável e poderia ser ouvido de longe. Ainda mais se estivessem com pressa para chegar logo até a ponte e surpreender os revolucionários pelas costas.


Alguns minutos se passaram e a tensão tomava conta dos três. Chiquinha segurava firme o cabo de osso cravejado com pontas de balas de chumbo já utilizadas de sua faca curva. Aquela faca tinha a circunferência perfeita para encaixar em um pescoço humano. Somente o frio do aço circundando a garganta de um homem já era suficiente para que a maioria se mijasse. Chiquinha segurou um riso lembrando disso e então ouviu mais alguns tiros.


Os três se olharam assustados. Alguma coisa devia ter dado errado em uma das casas. A ideia era não dar tiros em hipótese alguma e muito menos deixar que o inimigo atirasse. Tudo deveria ser feito no maior silêncio para que o inimigo acreditasse que não estavam os esperando. E agora Chiquinha queria sair.


Olhou para a porta e fez menção de se levantar por duas vezes. Então encarou os dois soldados ao seu lado e viu nos olhares deles que ela deveria ter paciência. Adorava o seu grupo de soldados. Aqueles homens e mulheres a conheciam tão bem que ela por muitas vezes recorria a eles para pedir conselhos, principalmente quando envolviam emoções. Todos eles sabiam como Chiquinha ficava quando perdia a paciência e agia por impulso. Ela achava maravilhoso contar com o ponto de vista deles e poder usar isso como termômetro.


Mas então ela pensou no seu pai. Seu pai estava em uma das casas, e já não estava mais lutando na linha de frente da revolução. Desde que as coisas tinham se acalmado ele tinha se aposentado e apenas trabalhado com as armas, criando-as e reformando-as. Era o conhecido mestre das armas da revolução e, além do amor de filha que sentia por ele, se preocupava com uma provável perda de uma das cabeças mais geniais de todo aquele povo. Ignorou o olhar dos seus soldados e se levantou inclinando-se em direção à porta.


Neste momento a porta se abriu cautelosamente. Quando Chiquinha percebeu a movimentação no trinco concluiu que não teria mais tempo para voltar à posição original. Utilizou o embalo que seu corpo fez para se levantar e se lançou à frente, rolando no chão e indo para trás da porta. Preocupou-se com a possibilidade de terem visto alguma coisa pela fresta que ela podia ver aberta assim que colocou suas costas contra a parede.


— Todos que estão na casa, se coloquem de frente a essa porta e mantenham as mãos para cima! — Disse uma voz grave e firme entrando pela fresta da porta.


Chiquinha e seus dois soldados se olharam assustados. Ela fez sinal de silêncio com um dos dedos sobre os lábios.


— Vamos logo! Eu vi movimentação aí quando comecei a abrir a porta. Eu sei que tem gente aí. E se não se apresentarem pacificamente eu vou ter que entrar atirando e matar cada um de vocês, estão entendidos?


Os soldados perceberam a expressão de desgosto consigo que Chiquinha trouxe quando ouviu o inimigo contando que tinha visto alguém. Ele poderia estar blefando, mas a movimentação de Chiquinha poderia ter sido vista assim que a fresta na porta começou a se abrir. O vulto que o inimigo viu já era suficiente para que desconfiasse de que a casa não estava vazia.


— Uuuummmm…


Os três voltaram a se olhar assustados.


— Dooooiss…


Chiquinha não podia deixar que aquele homem entrasse ali atirando. Isso sim chamaria atenção e aumentaria o desespero de quem estava trancado nas outras casas, assim como tinha acontecido com ela. Olhou para seus soldados e fez sinal com os olhos, cabeça, mãos e lábios para que os dois se entregassem antes que entrassem atirando naquela casa.


Os dois se colocaram de pé em um pulo largando suas lâminas no chão ao lado da parede e mantendo as mãos abertas para cima.


— Trrê..


— Nos entregamos senhor! — Disse um dos soldados assustado.


— Ora ora… — Disse o inimigo abrindo um pouco mais a porta e vendo os dois entregues à sua frente. — Não é que eu tinha certeza que tinha visto alguma coisa aqui…


O homem colocou a cabeça para dentro da casa e olhou para um dos lados, para onde Chiquinha tinha passado. Ela se mantinha espremida bem no canto onde as dobradiças da porta se encontravam com a parede. Se o homem abrisse aquela porta muito rápido, iria esmagá-la ali atrás. Para sorte dela, o homem estava sendo cauteloso. Isso não queria dizer que estava sendo seguro, pois com aquela cabeçona sendo colocada porta adentro só deixou Chiquinha com vontade de enfiar sua faca no olho do homem assim que o viu. Mas não queria que isso causasse disparos acidentais.


Então o inimigo entrou. Usava o uniforme preto com o símbolo “8” do Senhor Barriga na altura do peito. Nas mãos carregava um fuzil com uma espécie de lâmpada acesa no topo. Os dois soldados desarmados não sabiam do que se tratava, mas Chiquinha conhecia aquela arma. Era um fuzil valvulado, criação de seu pai. Era a arma mais segura para se usar, pois utilizava eletricidade. As armas a base de pólvora ou vapor artesanais corriam o risco de explodirem durante algum tiro. Outra característica importante daquela arma era que ela podia atirar sem fazer barulho algum. Infelizmente Seu Madruga tinha perdido o protótipo da sua em uma batalha e torcia para que tivesse sido destruída. Mas parece que o inimigo a tinha encontrado e desvendado seu funcionamento, fazendo novas como aquela que o soldado do Senhor Barriga empunhava.


A luz amarela brilhando da válvula no topo da arma mostrava que estava carregada. Ele poderia atirar e acertar alguém, mas pelo menos não chamaria atenção dos outros homens que poderiam estar lá fora. Pensando nisso Chiquinha sentiu confiança e saiu de trás da porta, saltando sobre o homem e encaixando a faca sobre seu o pescoço. O inimigo travou no mesmo momento e seu sorriso desapareceu dos ládios quando sentiu o fio encostando na sua pele.


— Quietinho, seu desgraçado! — Disse Chiquinha por entre os dentes.


Seus dois soldados já se apressaram e pegaram as cordas para amarrar o capturado. Em pouco tempo ele já estava sentado no chão enquanto tinha as mãos presas umas às outras, assim como seus pés. Chiquinha, em pé na sua frente, o encarava segurando o fuzil valvulado apontado em sua direção.


— Em quantos vocês estão lá fora? — Ela perguntou cochichando.


O homem não pensou duas vezes e assim que percebeu que eles tentavam evitar qualquer barulho ele gritou.


— SOCORR!…


Um chute rápido de Chiquinha ao lado do rosto do homem interrompeu seu grito e fez com que pelo menos três dentes dele caíssem mais de um metro longe de onde deveriam estar bem firmes.


Chiquinha se abaixou a frente do homem e continuou cochichando.


— Desculpe. A minha intenção era ver o seu nariz jogado próximo àquela parede. Infelizmente eu errei um pouco a mira e acertei sua boca. Tsc tsc… Prometo que na próxima vez acerto o lugar correto.


O homem olhava para a mulher assustado enquanto sangue escorria pela sua boca.


— Agora, me diga — continuou Chiquinha em seu cochicho. — Quantos homens estão lá fora?


O homem balbuciava as palavras entre sangue, tentando mantê-las em volume baixo.


— Eu não sei…


Chiquinha se levantou e pegando embalo novamente com a perna fez o homem falar.


— Doze… Somos em doze! — Esganiçou ele o mais baixo que conseguia enquanto se encolhia


Ela tornou a se abaixar ao lado do homem. Ele tremia.


— Muito bem! — Disse ela. — Você viu se os outros que vieram com você ainda estavam pelo terreno quando você entrou aqui?


O homem pensou um pouco antes de responder. Estava claramente assustado, mas também tinha acabado de entender a situação: eles tinham caído em uma armadilha. Não tinha porque não contar a verdade em troca do perdão de um próximo chute daquela mulher.


— Eu era um dos últimos do grupo. Os outros foram entrando em outras casas pelo caminho. Quando entrei aqui só tinha eu em campo.


Chiquinha o encarou por mais alguns segundos, esperando o arrependimento do homem que poderia vir caso tivesse mentido, mas percebeu em seus olhos que ele falara a verdade.


— E os outros? Vai vir mais um grupo para fazer o arrastão na nossa área, não é? Estão só esperando o sinal.


O homem arregalou os olhos e não disse mais nada. Nem precisava, pois Chiquinha entendeu a resposta corporal do homem. Anuiu e se levantou.


— Cuidem dele. Eu vou ver o que aconteceu lá fora.


Assim que saiu pela porta, Chiquinha percebeu que não precisava ter tanta precaução. Cerca de vinte soldados de seu grupo e de Chaves estavam em torno de um poço artesiano. Um homem estava amarrado na bomba manual que trazia água lá de baixo, e Seu Madruga o olhava nos olhos segurando um comunicador parecido com aquele que Quico tinha falado com o Senhor Barriga na noite anterior. Ele apontava o monofone contra a boca do homem e lhe fazia pedidos.


— … e vai dizer que não há ninguém na vila e que o grupo de ataque pode vir!


O soldado inimigo tinha uma estrela abotoada logo acima do símbolo “8” no peito. Isso queria dizer que era um comandante, provavelmente ele que guiava aquele pequeno grupo de reconhecimento.


— Pfff. E vocês vão me obrigar a fazer isso? — Disse o comandante em tom debochado.


— Eu vou te obrigar a fazer isso! — Disse Chiquinha surgindo entre os soldados bem em frente ao inimigo.


A expressão de deboche no rosto do comandante se desfez como se uma maquiagem tivesse escorrido. Chiquinha adorava assustar os homens daquele jeito, e sabia que sua fama de mulher extremamente má era muito espalhada do outro lado do rio. Precisava aproveitar essa vantagem.


— Agora gostaria que você falasse nessa merda desse comunicador que vocês só encontraram moradores que não ofereceram resistência… — Ela lembrou-se dos tiros que tinha ouvido. — Quer dizer, dois ofereceram resistência, além dos guardas que patrulhavam a área, mas todos já foram aniquilados. Então peça para vir o verdadeiro ataque.


O rosto do comandante pálido voltava a ter cor agora e o tom de vermelho era de fúria total. Ele rangia os dentes para Chiquinha e se retorcia tentando se soltar e saltar para cima dela. Tudo aquilo mudou quando ela desceu a coronha do fuzil valvulado com força no meio da testa do homem. Aquilo abriu um rasgo por onde começou a escorrer muito sangue. O comandante gritou de dor.


— Shhh. Quietinho — Disse Chiquinha colocando o dedo na frente dos lábios. — Se você não cooperar, em uns quinze minutos você vai ter perdido tanto sangue que não vai mais sentir as extremidades do seu corpo. Talvez você precise se apressar em nos ajudar.


O homem manteve a cabeça baixa. Chiquinha esperou por uns segundos e então levantou a cabeça do comandante para que a olhasse nos olhos. Ele desviava o olhar e então ela colocou o cano do fuzil dentro da boca dele. Ela sabia que até o mais destemido dos homens diante da própria morte se sentia intimidado com uma arma na boca. Ele então finalmente a encarou e sem pensar muito concordou com um abano de cabeça.


Seu Madruga voltou a aproximar o monofone da boca do comandante enquanto Chiquinha tirava o cano do fuzil de lá e apontava para a virilha do homem. Ele tremia como tinha feito seu parceiro dentro da casa.


— Sem gracinhas! — Chiquinha falou.


Quando Seu Madruga apertou o botão do comunicador o homem olhou para o topo da antena que tinham esticado logo ao lado. A válvula lá em cima acendeu e assim que estava em seu brilho máximo, o comandante disse:


— Senhor. Efexisdois falando! Dominamos a área, apenas civis, com exceção de dois guardas já abatidos. Foi encontrado resistência por um casal, mas também já foram neutralizados. O terreno está limpo.


Seu Madruga soltou o botão do comunicador e a válvula se apagou. Logo após já podiam ouvir os baques surdos de grandes objetos batendo contra o chão que vinham da direção do rio. Os inimigos estavam alargando a ponte já pré-montada e os atacariam em questão de minutos.


— Obrigadinha! — Disse Chiquinha e então atirou na coxa do comandante com aquele silencioso fuzil. Ele urrou de dor enquanto ela e os soldados saiam de perto.


Caminharam até onde nenhuma construção poderia obstruir a vista do rio e então observaram a multidão se aproximando. Eram muitos e provavelmente todos equipados com armas tão boas, ou ainda melhores do que aqueles fuzis valvulados. Seu Madruga também tinha um em mãos, roubado de um dos soldados capturados.


— Olha, tenho que tirar meu chapéu pro trabalho que esses caras fizeram — disse ele para Chiquinha enquanto analisava a arma. — Muito mais leve e parece mais silenciosa ainda do que aquela que eu criei. Só queria saber como eles conseguem energia elétrica pra armazenar aqui.


O exército inimigo avançava rapidamente em direção onde estavam, levantando uma pesada nuvem de poeira atrás. Provavelmente já tinham visto o pequeno grupo que acompanhava Chiquinha e Seu Madruga e não viam a hora de aniquilá-los.


— Será que eles não têm armas que podem nos atingir de grandes distâncias? — Perguntou Chiquinha ao seu pai.


— Acredito que sim. Mas nosso exército não vai deixar que eles cheguem perto suficiente.


O problema foi que o exército que eles esperavam não tinha ainda dado sinal de aparecer. Os inimigos já estavam perto suficiente para que um projétil de arma potente pudesse atingi-los então Chiquinha pediu para que todos procurassem um lugar para se protegerem.


— E vamos derrubar o máximo que conseguirmos!


Se esconderam atrás de escombros e dos imóveis mais próximos. Seu Madruga assoprou o chifre que trazia pendurado em seu cinto. Aquilo chamaria pelo menos mais alguns dos revolucionários que ainda estavam sobrando cuidando dos reféns nas casas. Então tiros começaram a acertar as paredes onde estavam escondidos.


Os primeiros tiros vieram em silêncio, provavelmente disparados dos fuzis valvulados. “Então eles têm vários desses. Puta merda!” pensou Chiquinha. Ela se pôs um pouco ao lado daquela parede de concreto e viu que os inimigos ainda estavam longe, mas atirou mesmo assim com a arma. Não teve coice algum e nem barulho. A única indicação de que tinha atirado foi que a válvula se apagou e um homem caiu um segundo depois na frente de toda aquele bando que se aproximava. Então começaram a ouvir os tiros de pólvora.


Ainda não atingiam a área onde estavam, mas o barulho assustava a todos ali. Era um ensurdecedor barulho de trovões de centenas de armas que ficava cada vez mais próximo. Chiquinha esperou cinco segundos até a válvula reacender (era um dos problemas daquele tipo de arma) e então atirou de novo. E de novo. E de novo. Cada tiro derrubava pelo menos uma pessoa e, por duas vezes, derrubou quem vinha atrás também. Aquela arma era sensacional! Mas depois de oito tiros a válvula não voltou a se acender e a arma não disparava mais nenhuma bala.


— Mas que merda! — Ela resmungou.


Então pegou seu revólver e esperou se aproximarem mais. Em poucos segundos começou a ouvir a saraivada de balas que atingia as paredes atrás das quais se escondiam, e não só o barulho dos tiros quando eram disparados. Já estavam na área de alcance.


— Atirem nesses filhos da puta! — Gritou Chiquinha por cima do som de tiros e dos impactos deles nas paredes.


Todos seus soldados começaram a atirar. Os homens da frente da multidão de inimigos caiam, mas muitos outros vinham atrás. Eles não conseguiriam acabar com aquele exército nem se eles parassem de correr agora e largassem as armas no chão. Mesmo assim a regra era derrubar o quanto conseguissem.


Então ouviram o som como o que Seu Madruga fez soprando o chifre. Chiquinha parou de olhar para os inimigos e sua visão periférica já mostrava uma multidão se aproximando do exército inimigo pela esquerda. Moveu-se um pouco para o lado para liberar mais a visão do campo e viu que outro grupo vinha pelo lado esquerdo, cercando os inimigos pelos flancos. O exército inimigo começou a diminuir sua corrida e em pouco tempo estavam parados em um vale cercados pelos revolucionários em três lados. Os grupos que chegavam começaram a atirar e a lançar bombas e granadas. A poeira se levantou rapidamente e depois de mais de um minuto de silêncio, quando a poeira abaixou, todos podiam ver vários inimigos mortos no fundo daquele buraco e alguns poucos debandando e correndo contra o horizonte.


— Nós conseguimos… — Ela disse aliviada. Então se levantou e com as mãos para cima gritou o mais alto que pôde. — Nós conseguimos!


A gritaria em resposta foi tão alta que Chiquinha não conseguia ouvir sua própria risada. Seus soldados se reuniram em torno dela e de seu pai, enquanto os outros revolucionários corriam até ali para comemorarem. Tinham derrotado a armadilha do inimigo sem perder nenhum homem e aniquilaram boa parte do exército do Senhor Barriga. Era um dia para festa.


Enquanto os soldados comemoravam, Seu Madruga, Chiquinha e soldados de seu grupo ajudavam a prender os reféns em uma das casas. Chiquinha soltou o homem que ela tinha quebrado os dentes com um chute horas antes e o entregou ao Seu Madruga.


— Escute aqui, ô coisa feia — Seu Madruga falou ao homem. — Eu quero que você vá lá e avise seu chefinho que o jogo dele está perdido. Queremos uma negociação e aí soltaremos os outros prisioneiros. Tá ok? — O homem balançou a cabeça em concordância. — Agora vai até aquele porco e reivindique um plano odontológico! ANDA!


O homem saiu correndo na mesma direção que seu exército tinha debandado.


Naquela noite todos que participaram do ataque e da simulação na ponte se reuniram no galpão para comemorar. Houve músicas, danças e cerveja liberada. Assim que Chiquinha chegou, encontrou Chaves com um caneco de cerveja na mão e ligeiramente bêbado. Porém estava super feliz e contou empolgado o trabalho que tinham feito na ponte.


Chiquinha se alegrou em ver Chaves daquele jeito. Fazia anos que não o via sorrindo.



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Autor(a): domramone

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Chaves estava no pátio da vila jogando futebol com a grande bola de Quico. Após um chute aleatório a bola entrou pelo corredor, sendo seguida pelo garoto. — Ele vem com a bola... Chaves surgiu pelo corredor da vila, ao lado da casa de Seu Madruga, e entrou no pátio carregando a bola de futebol em seus pés. — D ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 8



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  • maryannie Postado em 01/03/2021 - 02:07:49

    Estou amando. Acompanhando ansiosa.

  • maryannie Postado em 21/02/2021 - 15:57:55

    Hoje é domingo e eu preciso de capítulo novo. Kkkk

    • maryannie Postado em 23/02/2021 - 14:23:52

      Ah, feliz que tem capítulo novo! Valeu, vou procurar nas redes sociais.

    • domramone Postado em 23/02/2021 - 14:11:34

      Hey Maryannie, não me mate, mas tive que atrasar um pouco o lançamento desse capítulo em algumas das páginas onde estou publicando. Trabalho e viagens tomam um tempo precioso e eu gosto de conferir se está tudo certinho antes das postagens. Farei o possível para não atrasar mais nenhuminha vez issu issu issu. Se quiser acompanhar a gente nas redes sociais, pode procurar no Instagram ou Facebook por Chaves Revolution. Lá são os primeiros lugares que eu acabo postando. Mas prometo que domingo tem o capítulo novo aqui ;)

  • chander Postado em 20/02/2021 - 07:30:42

    Olá, ramone. Mano! Muito, mas muito top! Esse capítulo ( APESAR DE ENORME), foi muito melhor que o primeiro e sério! Tá dando muita pena do Chavez nesse mundo pós-apocaliptico, onde a infância e a realidade atual se chocam com ferocidade. Acho que o mais maneiro é encaixar uma fala típica do seriado aqui e acolá, demonstrando que os personagens mudaram, sim, mas ainda podemos reconhecê-los facilmente. E mano, no segundo capítulo já esfregar uma beijão gay. NOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOSSSAAAA! A popis nunca me enganou, mas a Paty foi uma surpresa. Só, por favor, eu sei que a proposta é uma coisa mais adulta, mas não sei se tenho psicológico para uma cena de sexo entre chaves e chiquinha. Juro pra você que vou falar disso na terapia por um mês O.O' No mais, já, já, estou de volta. Eu demoro, mas não falho.

    • domramone Postado em 23/02/2021 - 14:14:29

      Ahhh, que bom que gostou. Depois de um primeiro capítulo meio parado as coisas tem que desenvolver né? Os capítulos realmente estão grandes e talvez fosse melhor que eu os tivesse dividido em mais partes. Bom, foi a primeira experiência lançando algo por aqui e agora já sei o que devo fazer nos próximos ;) Obrigado pelo acompanhamento e pelas dicas. Prometo que não irá sair tão traumatizado dessa história. A não ser que você já esteja pensando nessas cenas. Como diria o Jay do Big Mouth "Você imaginou e nós descrevemos" =P

  • maryannie Postado em 02/02/2021 - 00:39:00

    Estou amando! Posta mais!

    • domramone Postado em 02/02/2021 - 09:24:14

      Logo logo... Vou postar capítulo novo todo domingo =D


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