Fanfic: 13 Steps to The End | Tema: Pokémon
Senão fosse pelo despertador, eu teria dormido até meio dia. Ainda mais que a cama do centro pokémon era absurdamente confortável e agradável por causa daqueles lençóis limpinhos que ainda cheiravam a essência de pétalas de Rosélia.
Eu me levantei e fui direto para o banheiro tomar um banho e escovar os dentes. Fiquei tanto tempo brigando com meus cabelos que quase perdi o horário do café da manhã. O bom de ficar hospedado num centro pokémon que além de todos os serviços médicos básicos com zero custo para os treinadores, também eram disponibilizadas todas as refeições básicas. Fiquei sabendo que até serviram sorvete como sobremesa no dia anterior.
Quando deu 10h da manhã, eu havia dado baixa na minha vaga e já marchava pelas ruas de Petalburgh. Era uma cidade pequena, mas bastante arborizada. Os Tailows pareciam animados, porque era uma cantoria sem fim. Acho que era devido ao fato dos idosos da cidade jogarem pipoca para eles.
Conforme eu me aproximava do ginásio de Petalburgh, meu coração acelarava cada vez mais. Já estava ficando impossível de sincronizar a minha passada com a minha respiração, resultando naquela sufocada de leve. Se eu não controlasse a ansiedade, precisaria voltar ao centro pokémon e ficar no balão de oxigênio de novo, mas não! Eu trouxe o Norman para cá! Eu serei seu novo pupilo e vou aproveitar esse meu último ano de vida, intensamente, sim. Então, aspirei um pouco do remédio da minha bombinha, senti meus pulmões anestesiarem um pouco, minha respiração normalizando, a confiança me transbordando e toquei a campainha.
Demorou apenas uns dois minutos até que alguém me atendesse, mas pareceu uma eternidade. A porta se abriu e eu notei que o ginásio da cidade tinha uma estrutura que lembrava um dojo de artes marciais. As paredes eram brancas e o piso era de tábua corrida, muito bem encerado ao ponto deu ver o meu reflexo nele e aproveitar para arrumar o cabelo. Certa vez eu li que o ginásio de Petalburgh foi o primeiro a ser guardado pelo tipo lutador e que este líder que estava em licença prêmio, fora o tutor do Brawly - líder prodígio do ginásio da cidade de Dewford.
― Pois não? ― disse um jovem garoto que beirava a minha estatura e provavelmente a minha idade. ― Em que posso lhe ajudar?
Eu não o reconheci de primeira, mas os olhos dele eram absurdamente iguais aos do pai dele. Ele era um jovem alto, de porte magrelo que usava uma camisa preta colada no corpo, uma bermuda grafiti, um par tênis confortáveis e uma touca branca que era sua marca registrada.
― Você é o Brendam! ― ele se afastou, assustado com a minha euforia. ― Cara! Eu sempre quis te conhecer.
― Mais um repórter! ― ele suspirou. ― Olha, eu estou meio ocupado e não tenho tempo para responder...
― Eu não sou repórter. Eu sou o menino da carta! ― o filho de Norman paralisou diante de mim. ― Eu vim para ser treinado pelo seu pai! Ele pode me receber?
A minha euforia foi diminuindo conforme eu via os olhos de Brendam tremelicarem. Eu podia me ver refletido em suas íres e não enendia o porquê dele estar cerrando os seus punhos. Até que seus olhos começaram a inundar lágrimas que percorriam por todo o seu rosto. Eu tentei avançar para abraçá-lo, mas ele levantou o seu punho contra mim. O impacto foi certeiro e eu senti o melaço quente escorrer na hora. Eu caí de costas e o som do baque chamou a atenção dos vizinhos que correram para ver o que estava acontecendo.
― VOCÊ DESTRUIU A MINHA VIDA! ― eu o encarei sem entender. ― MINHA ÚNICA CHANCE DE SER FELIZ, VOCÊ ARRUINOU! EU ODEIO VOCÊ! ODEIO VOCÊ!
Assim como vocês, eu não entendi absolutamente nada da pistolação desse guri. Eu fui entender os sentimentos de Brendam algum tempo depois, mas vou adiantar a vocês o porquê do filho do meu herói estar tão infeliz.
Vou precisar que vocês imaginem que estão num daqueles programas da tv, onde a gente rebubina os acontecimentos ou a gente volta os ponteiros do relógio. E vamos parar na tarde de ontem, quando finalmente o herdeiro dos Ruby chegou a sua nova casa por volta do horário de almoço.
Brendam viajava no banco de trás do carro com fones enterrados em seus ouvidos. Ele, por vezes, observava a paisagem de Petalburgh, mas torcia o nariz com nojo daquele lugar.
― O ar daqui é completamente diferente de Goldenroad, não é filho? ― a motorista o observava pelo espelho central e tentava arrancar um sorriso daquela carranca. ― Eu sei que está frustrado, mas eu sinto que teremos uma boa vida neste continente.
Brendam não respondeu e pegou o seu tablet pela enésima vez. Sua mãe deixou o semblante cair, contendo o seu sorriso, porque sabia exatamente o que seu filho queria. Como um modo de tortura, o jovem Ruby encarava as fotos de uma terra paradisíaca que aos seus olhos, seria o seu final feliz.
― Chegamos! ― anunciou a mãe parando bem atrás do caminhão de mudança.
Eles saíram do carro e o menino olhou ao seu redor e notou que estava nos limites da cidade. Mais a frente, ele poderia ver a grama alta, os pomares com diversidades de berries e pessoas que tinham cara, roupas e sotaques de gente do interior. Como um jovem usual, ele checou rapidamente se a sua internet funcionava ali, afinal, tudo já havia dado errado, o que seria ficar sem internet nesse fim de mundo?
Sua mãe pediu para que guardasse seu tablet na mochila e ajudasse os Vigoroths a levarem as suas caixas para o seu futuro quarto. Obedientemente, ele seguiu os pokémon primatas e adentrou na sua nova casa que ficava ao lado do ginásio da cidade. Assim como a maioria, era uma residência duplex, com estrutura colonial, recém pintada. Seu pai havia comprado esta residência já mobilhada, portanto, eles trouxeram pouquíssima coisa do apartamente em Goldenroad. Foi a única coisa que animou Brendam, porque ele sempre sonhou em morar numa casa, mas não em Hoenn.
Sua mãe o gritou novamente, pedindo para que ele checasse o seu quarto. Ele ficava no final do corredor depois do escritório de seu pai. Era um quadrado espaçoso, pintado de azul celeste com uma cama kingsize de solteiro, uma cômoda branca, um roupeiro de solteiro também branco e uma escrivaninha com computador. Ele pediu aos pokémon que deixassem suas coisas ali e fechou a porta.
Finalmente se viu livre para chorar. Estava com aquele sentimento preso há dias e não conseguia ficar sozinho para isso. A revolta era tanta que fazia dois dias que não falava com seu próprio pai. Quer dizer, fazia dois dias que ele não respondia a Norman, pois para ele, como sempre, não havia problema algum.
É aquela história. As vezes olhamos as pessoas que admiramos e achamos que elas são excelentes em tudo. Com o tempo e a intimidade com Brendam, eu descobri que Norman era muito ausente de casa. Perdia vários eventos importântes, porque estava sempre atarefado e dedicando-se a outros jovens e não ao seu filho.
― Eu falhei com você...
Brendam abriu a primeira caixa de papelão e tirou de lá, um grande poster de uma mulher lindíssima que estava acompanhada de um pokémon felino que não era natural de Hoenn. Ela possuía um cabelo azul que lembrava um black power, por mais que sua pele fosse branca e seus traços fossem orientais.
O menino abraçou aquele poster e chorou ainda mais alto, permitindo-se deitar sobre o tapete felpudo de seu quarto, encarando o sol que entrava de mansinho pela janela. Brendam fechou os olhos e começou a se lembrar da final de um Grande Festival que aconteceu no continente de Sinnoh.
― A vencedora é Johanna Diamond! ― anunciou o juiz, o que todos os tablóides e fanáticos por Contests já sabiam. ― Parabéns Johanna! A nossa tri-campeã!
Brendam assistiu tantas vezes aquela final que sabia o discurso de vitória de sua diva de cabeça. Aquele discurso foi o que manteve viva a esperança de que um dia, ele saísse da sombra da fama estrondosa e sufocante de seu pai. Afinal, todos esperavam que Brendam Ruby fosse o novo garoto prodígio de Johto. Mas ninguém nunca perguntou pelo que o coração do garoto batia.
Bastou uma unica apresentação de Contest no parque nacional de Golderoad para que ele se encontrasse e soubesse o que gostaria de fazer pelo resto da vida. Tudo que ele tinha que fazer era convencer ao seu pai a se mudar para Sinnoh. Lá era super normal que qualquer treinador optasse pelas jornadas ou coordenação, mas nos outros continentes ainda era algo muito polêmico e sexista.
“Por que um garoto gostaria de se especializar em coordenação?”, “Seus amigos vão tirar sarro de você”, “É uma fase! Logo você vai esquecer”, “Você só diz isso, porque nunca batalhou de verdade”.
Toda vez que tentava um diálogo com Norman, ele fugia com alguma frase pronta como essa. Quando Brendam finalmente conseguiu se abrir comigo, eu cheguei a pensar na hipótese de Norman ter usado a minha carta como pretexto para não realizar o sonho do seu filho.
“Em Hoenn também existem Contests! Na verdade, Sinnoh copiou deles”. Sua mãe sempre tentava animá-lo, mesmo que significasse ir contra a vontade de seu pai, mas não era a mesma coisa. Brendam chegou a checar a pokedex de Hoenn e não achou os pokémon daqui tão graciosos quanto os de Sinnoh. E mesmo que tentasse ser um top coordenador, seu pai estaria assombrando-o por toda a sua jornada e provavelmente o trancaria em casa, caso o visse num Contest transmitido pela tv.
― Filho... Acorde filho... ― os olhos do menino se abriram e ele assustou-se ao ver sua mãe na porta. ― Acho que você estava muito cansado da viagem. Vim chamá-lo mais cedo para comer algo e você havia pegado no sono. ― ele encarou a janela e viu que o céu estava começando a alaranjar, indicando o pôr do sol. ― Troque de roupa e desça. Fiz um bolo para tomar café.
O menino assentiu que sim e limpou a saliva seca que havia marcado o seu rosto. Brendam levantou-se, despreguiçou-se e colocou a sua mochila sobre a cama. Tirou mudas de roupas limpas de dentro dela e se trocou para descer.
Até que ele notou uma das paredes do seu quarto, onde ficava a porta, um grande espaço vertical. Ele encarou o seu poster e decidiu que mesmo que estivesse fadado a viver algo que não concordava, a figura de Johanna seria um eterno lembrete de que tipo de pessoa ele gostaria de ser. Aquele seria o seu protesto, ainda que seu pai jogasse ele no lixo após a sua saída de casa.
― Sair com o Brendam em jornada?
Já estava chegando próximo a escada, quando ouviu o seu nome. Sabia que era o seu pai que viera jantar, mas claro que isso não significava ter um momento em família, porque Norman não era assim. O menino voltou na ponta dos pés para que sua presença não fosse notada e recostou o ouvido na porta do escritório.
― Ele acabou de chegar em Petalburgh, Birch! ― ele não acreditou quando ouviu o nome do renomado professor pokémon de Hoenn. ― Além de tudo, eu preciso treiná-lo! Ele perde tempo demais com aquela besteira de Contests. Já disse a ele que homens de verdade se tornam treinadores conceituados e Contests... Bem! Você lembra como nós chamávamos os caras que queriam ficar fazendo apresentações fofínhas com pokémon, certo?
O estômago do garoto revirou-se de nojo de seu pai. Naquele momento, toda fome que tinha passou. Ele queria apenas arrombar a porta e dizer tudo que estava engasgado há meses ou chamar uma comitiva e destruir a imagem que ele tanto se orgulha de ter.
― Ela sabe da verdade sobre a mãe dela? ― Brendam teve de interromper a sua torrente de ódio para continuar ouvindo. ― Acho que você deveria contar a verdade! Se May viajar pelo continente sozinha, é muito provável que a mãe dela a encontre. Ela sabe sobre os Magmas?
― Brendam! ― sua mãe chamou-o e ele sentiu que o seu coração viera na garganta. ― O que está fazendo aí?
Antes que ele pudesse inventar uma desculpa, ele ouviu as passadas pesadas em direção a porta e encontrou os olhos julgadores de seu genitor para ele.
― O que está fazendo aí? ― disse num tom grave e sério.
― Bem, é que... Eu ouvi a sua voz e vim te chamar para jantar.
― Tem certeza que não estava ouvindo a conversa?
― É tão difícil acreditar que eu queria apenas jantar com o meu pai como uma criança normal?
― BRENDAM! ― o garoto correu e desceu as escadas rapidamente. ― Querida! Converse com ele! Estou numa ligação importânte com o Birch!
A esposa abriu um sorriso amarelo e encarou o seu marido batendo a porta do escritório com profunda tristeza. E com um semblante derrotado, ela resolveu descer para servir o café para o filho.
Brendam estava sentado no sofa de dois lugares comendo um bolo de berries vermelhas que estava em um pote em cima da mesa de centro. Ele assistia uma série qualquer de super heróis na tv, enquanto jogava no celular. Sua mãe se aproximou de mansinho e deixou uma jarra de suco sobre a mesa de centro. Ela se sentou ao lado dele e ficou alguns segundos em silêncio, fingindo que assistia a tv.
― Quem é May, mãe?
― Acho que é a filha do Professor Birch. Ela tem a sua idade.
― Acho que ela está correndo perigo! Ouvi o papai dizer...
― Então você estava bisbilhotando mesmo! Você sabe que isso é falta...
― Não quando envolvem o meu nome no meio. Acho que o professor, Birch quer...
― Brendam! ― ele olhou para cima e encarou o seu pai que estava na sacada do andar de cima. ― Meu escritório, agora!
Ele largou o pedaço de bolo que estava comendo dentro do pote e antes de ir, sua mãe balbuciou um pedido de “calma” para ele. Brendam assentiu e subiu as escadas rapidamente e adentrou no escritório, devidamente refrigerado e aconchegante. Seu pai apontou para a cadeira do outro lado da escrivaninha e o menino entendeu que deveria se sentar.
― Papai, eu... ― Norman levantou o dedo indicador, pedindo para que o menino aguardasse ele pegar algo na gaveta de sua escrivaninha. Quando um objeto de valor salgado foi posto diante dos seus olhos, o garoto surpreendeu-se e um sorriso surgiu no seu rosto. ― É um pokenav?
― Exato. Já configurado com seus dados e com os nossos telefones cadastrados. ― ele sorriu ao ver o filho empolgado com o instrumento tecnológico. ― Amanhã, a filha do professor Birch virá aqui e trará a sua pokedex e seu pokémon inicial.
― O quê?
― Eu queria treiná-lo, eu mesmo, mas parece que as situações exigem que você saia em jornada imediatamente.
― Como assim? Eu cheguei hoje no continente, nem escolhi o meu inicial e nem quero sair em jornada, eu...
― É um Ruby! ― disse Norman colocando-se de pé e indo em direção a porta. ― E eu já fui muito paciente com você. Já dei todas as chances possíveis para você esquecer essa coisa idiota de Contests e se tornar um homem de verdade. Saiba que eu não tolerarei mais esse assunto nesta casa.
Norman abriu a porta do escritório e Brendam ficou boquiaberto com a frieza do pai. Ele arrastou a cadeira para trás, se levantou e atirou o pokenav no vidro da janela, espatifando-a em alguns pedaços. O líder de ginásio parecia liberar chamas pelas narinas feito um Camerupt e Brendam achou que fosse ser agredido como nunca foi.
― O que pensa que está fazendo? Que atitude inapropriada é essa?
― Você acha apropriado forçar um filho a um destino que ele não quer? Se quiser me bater, me bata, se quiser me prender, me prenda, mas saiba Norman Ruby que assim que eu conseguir me livrar de você, o mundo vai saber que tipo de homem pré-conceituoso você é!
― NORMAN! ― a mãe de Brendam chegou na hora para impedir que o homem avançasse sobre o próprio filho. ― NORMAN, POR FAVOR, SE ACALME!
― ESSE GAROTO TEM ALGUM PROBLEMA! EU VOU COLOCAR ELE NUM INTERNATO!
― Primeiro, você vai ter que me pegar!
E pisando de tênis sobre os cacos de vidro, Brendam abriu a janela e pulou. Seus pais gritaram e correram, mas só conseguiram ver o garoto rolando sobre a cobertura de telhas que cobriam a área de serviço e depois ele caíndo sobre a mata fechada da divisa com a cidade de Oldale.
― BRENDAM! ― gritavam eles. ― BRENDAM! ONDE VOCÊ ESTÁ?
O garoto sentiu o tornozelo latejando e algumas partes do corpo ardendo por conta de arranhões. Ele viu que seus pais sumiram da janela e provavelmente viriam atrás dele, então, pulando numa perna só, ele começou a correr em direção a mata fechada. O jovem Ruby chorava alto pela dor e pela revolta. Não acreditava que seu pai o forçaria de tal maneira e tudo por conta de um pré-conceito idiota.
Ele ignorava completamente os pokémon que via pelo caminho. Uma família de pinhões chegaram a se defender, reluzindo a espera de algum ataque do menino desengonçado. Brendam me contou que seu Seedot tinha esse golpe - o esperar. O jovem Ruby também assustou um grupo de ornitorrincos engraçadinhos que pareciam usar uma espécie de chapéu esverdeado, mas na verdade era uma folha de vitória régia. Era um disfarce perfeito durante o dia, quando os pequenos Lotads ficavam submersos para se esconderem de predadores, mas ao anoitecer, eles vinham para terra firme atrás de Berries e pequenos insetos.
Brendam nem viu Oldale anoitecer. De repente a penumbra caiu e o garoto se viu dentro de uma mata fechada num breu sinistro. Rapidamente, ele ficou impossibilitado de ver o próprio nariz na escuridão. Olhando para trás, ele via lá longe, as luzes da cidade e se perguntava se seu pai sequer havia saido de casa para procurar por ele.
― Quem está aí? ― o tradicional som de gravetos quebrando no meio da floresta escurescida foi captado pelos seus ouvidos, fazendo com que o suor gelado descesse pelos braços. ― Eu tenho... Eu tenho... Um pedaço de pau!
Um uivo fez com que Brendam literalmente se mijasse todo. Ele começou a tatear o chão em busca de algo que pudesse ser usado para se defender, mas só achou um fino graveto que no máximo, lhe serviria para coçar as costas. Mas o garoto o empunhava como um bruxo empunhava a sua varinha, deslizando os pés para trás, enquanto via a floresta ascender em pequenos pontos amarelados que na verdade eram os feixes de luz lunares refletidos nos orbes amarelos de criaturinhas perigosas que habitavam na região.
O garoto lembrou-se na hora de um guia para iniciantes que lera recentemente, onde discriminava os diversos ataques e acidentes causados por essa pequena criatura que perambulava as rotas durante a noite. Um pokémon canino de dentes afiados e pelo acizentado.
― Afastem-se! ― dizia ele aos poochyenas que se aproximavam sorrateiramente com suas mandíbulas salivando e rosnando alto. ― Eu não quero machucá-los, estou avisando.
Quando o líder da pequena matilha de três filhotes atacou, os outros dois também saltaram. Por reflexo, Brendam conseguiu atingir o primeiro que soltou um ganido de dor e voou contra o tronco de uma árvore. O segundo bateu no peito do garoto, fazendo com que ele soltasse um grito fino e o terceiro agarrou em sua canela, fazendo com que ele desequilibrasse.
Brendam debatia-se, enquanto tentava se livrar daquela ameaça. Ele ouvia os latinos próximo ao rosto e girava seus braços, enquanto balançava as pernas, atingindo os seus agouzes acidentalmente. O menino gritava por socorro e chorava muito de medo. Ele queria voltar no tempo e aceitar de bom agrado a surra que seu pai queria lhe ministrar, mas infelizmente, ele perderia sua vida muito em breve. Logo, se cansaria e os filhotes de hiena acertariam a sua jugular.
― Spinda! ― ele ouviu uma voz familiar. ― Use o Uproar!
Os bebês hiena olharam para trás e sentiram uma massa de ondas sonoras levantando muita poeira, alguns pokemon e folhagens no meio da mata noturna. Brendam cruzou os braços em cima do rosto e virou-se de lado para não ser levado junto com todos. Seus ouvidos zumbiam alto e parecia que seus tímpanos estourariam.
Até que ele sentiu o calor das luzes das lanternas sobre si e várias mãos colocando-o de pé. Suas pernas não lhe obedeciam, pois seu equilíbrio estava comprometido. Ele ouvia gritos de choro e broncas lá longe, enquanto era levado por aqueles dois adultos.
― Vigoroth, Saia! ― ele conseguiu identificar a voz de Norman.
O pokémon símio pegou o jovem treinador no colo e foi aí que ele finalmente desmaiou. Passaram-se três horas e Brendam acordou em seu quarto. Ele encarou o ventilador de teto e assustou-se, sentando-se rapidamente. Ele olhou os braços e viu as dezenas de arranhões que havia levado, mas respirou aliviado por estar vivo.
― Não... ― seus olhos encheram-se d’água ao olhar a parede do seu quarto e notar que seu pai havia destruído o seu poster de Johanna. Ficaram apenas lascas do papel, representando que até isso, Norman estaria disposto de destruir para que o menino seguisse seus passos. ― Por quê? O que eu fiz para ele?
O jovem Ruby saltou da cama e marchou raivosamente pelo corredor e não teve medo de escancarar a porta do escritório de seu pai, mas ele não estava lá. Foi até a sacada do segundo andar e viu que Norman assistia um filme munido de uma taça de vinho. O menino desceu as escadas como uma bala e se colocou na frente da televisão.
― O que eu fiz pra você? ― o homem bebericou a sua bebida, enquanto olhava mortalmente para o seu herdeiro. ― Ser ausente e não se importar comigo já não era o bastante pra você? Você ainda precisava garantir que eu nunca fosse feliz mesmo?
― Eu já fui um adolescente tolo como você, Brendam. Quando estiver nas rotas, você vai...
― MORRER! ― exclamou ele, sentindo a sua veia jugular pulsar violentamente. ―SE SER UM TREINADOR É PASSAR POR ISSO QUE PASSEI HOJE, EU SÓ TENHO MAIS CERTEZA DE QUE... ― os gritos cessaram com a explosão da taça numa parede à poucos metros dele à esquerda. O garoto viu a parede branca sendo machada de roxo. ― Tente me assustar o quanto quiser, eu juro que...
― O quê, Brendam? ― o homem se levantou e só havia a mesinha de centro entre eles. Era um adolescente com um pouco mais de um metro e sessenta, na frente de um adulto de quase dois metros com porte físico invejável e um olhar ameaçador. ― Sua mãe está dopada no quarto, pois não aguentou a sua insubordinação. Então, ninguém virá se intrometer. Enfrente-me como um homem de verdade e eu deixarei você viver como deseja. Mas eu preciso ver se você é um homem de verdade.
Norman cruzou os braços e ficou no aguardo. Brendam custou a acreditar que seu pai estava desafiando-o a enfrentá-lo. Seus olhos tremelicavam, suas unhas penetravam a carne das mãos e mais lágrimas irrigavam o seu rosto. Norman riu de seu filho e deu-lhe as costas.
― Sua mochila está pronta! Amanhã, você partirá assim que a May chegar. Quem sabe depois de uma época em jornada, você vira um homem de verdade e consegue lutar pelos seus sonhos... Mas até lá, só seja um bom menino e não desgrace o nome da nossa família.
O garoto foi obrigado a assistir o pai subindo calmamente as escadas em direção ao quarto, gozando de tê-lo desistabilizado. O sangue das feridas nas mãos gotejava pelo carpete e o menino encarou a sua mochila pronta do lado da porta.
― Se você quer que eu saia tanto em jornada, papai... ― ele encarava o andar de cima, como se Norman ainda estivesse lá. ― Eu sairei em jornada, mas para onde eu quero. E fica tranquilo, porque o senhor não me verá nunca mais.
O garoto subiu para o seu quarto, mas antes cuspiu na porta do quarto de seu pai, em protesto. Brendam estava quebrado por dentro e por fora, mas havia algo que ele concordava com seu pai, ele não estava pronto para buscar pelo seu sonho. Ele decidiu se fortalecer primeiro para depois fugir de Hoenn para nunca mais permitir que seu pai o controlasse ao seu bel querer.
Entenderam porque eu levei um murro bem na cara, agora?
― EU VOU TE MATAR AGORA, CARA! TÁ VENDO ESSES ARRANHÕES? SÃO CULPA SUA! EU VOU FAZER MUITO PIOR COM VOCÊ, ESTÁ ME OUVINDO?
― Ei, valentão!
O surto de Brendam foi pausado por aquela provocação desenfreada de uma jovem garota que se aproximava montada em uma bicicleta. Ela largou o seu veículo na entrada da cidade, correu até nós e baixou na minha altura para me ajudar a me levantar.
― Por que não enfrenta alguém do seu tamanho?
― O quê? Mas você é uma garota! Eu não vou brigar com uma garota!
― Quem disse que eu vou usar os meus punhos! ― a garota colocou a mão no seu cinto e pegou uma pokebola. Ela lançou o instrumento de captura no peito do meu agressor e ele assustou-se com a atitude dela. ― Eu esperava que o filho de um líder de ginásio renomado fosse menos idiota.
― Espera! ― Brendam parecia ter lembrado de algo. ― Você é a...
― Mayara Sapphire Birch! E vou chutar o seu traseiro, agora! Torchic! Saia para a batalha!
E foi assim que os três protagonistas dessa história se encontraram. O pêndulo que regia o apocalipse voltou a soar e nós não fazíamos ideia disso. Três crianças. Três histórias. Três finais trágicos. É agora que a verdadeira história se inicia, junto com o meu terceiro passo em direção ao fim.
Autor(a): chander
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Como uma versão feminista de um conto de fadas, Mayara Sapphire Birch saiu de seu alasão de duas rosas e veio em minha direção para socorrer-me. Desembanhou uma pokebola como se fosse uma espada muito afiada e chamou o bandido para um duelo. ― Piiiiii! ― o pintinho piava sorridente e ciscava para sentir a terra ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 10
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koscheii Postado em 22/02/2021 - 11:07:01
Hello Chander, Leucro aqui, finalmente lendo 13 Steps (aliás eu já tinha lido esse capítulo no Spirit antes, mas esqueci de comentar na época hajhajdajkkkk), enfim eu amei este primeiro capítulo por alguns motivos, como por exemplo o Wally que é um dos meus personagens favoritos de Hoenn e é sempre esquecidinho no rolê e eu gostei que você deu a ele esse breve destaque e acrescentou mais ao personagem dele, quero logo ver mais do meu menininho de cabelo esverdeado
chander Postado em 23/02/2021 - 23:29:57
Ah, man! Bom te ver por aqui. Wally tem meu coração, sabe? Eu adoro fazer isso nas minhas histórias. PEgar personagens sem plot e dar chance deles contarem suas histórias. Espero que você faça uma viagem gostosa aqui! Bjs leucro.
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domramone Postado em 01/02/2021 - 16:55:09
Que massa, eu tô empolgado com a história. No começo achei que era a May machucada na areia, mas fui enganado. Hahahaha
chander Postado em 01/02/2021 - 19:37:49
Meme do pica-pau inserido aqui: Fui tapeado kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
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flashstrike Postado em 30/01/2021 - 01:48:43
Capítulo 2 - A May é a minha terceira Pokégirl favorita, então confesso que estava deveras ansioso para a aparição dela na história, principalmente porque queria conhecer a personalidade e o contexto familiar da sua May. Ela tem essa rebeldia característica da adolescência, mas da para perceber que também é bem coração quando o assunto é o seu pai, ela parece se importar bastante com ele, apesar de o homem nem sempre ser direto com ela. Como bom leitor, eu já estou criando algumas teorias sobre a atuação da mãe dela, e algo me diz que ela faz parte de uma certa equipe vilã. Enfim, aguardando por esse encontro no futuro. Agora assim, cara. Que plot twist foi esse no final, em?! Sou seu leitor há anos e ainda me pego surpreso com a morte de um personagem importante. Acho que nunca vou me acostumar com isso, na real HAHAHAHAHA. Espero que o Wally consiga mudar o destino dela...
chander Postado em 30/01/2021 - 01:59:33
HAHAHAHAHAAHAHAHAHAHA e ainda dizem que eu não consigo surpreender ninguém. Mas sim, essa May é maravilhosa. Eu estou apaixonado por ela e pra mim, Mayara ficou normal, não tem como o nome dela ser outro kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk e vamos ver. Quem sabe a mama esteja viva por aí. Obrigado por vir.
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flashstrike Postado em 30/01/2021 - 01:36:49
Capítulo 1 - Esse foi um dos capítulos mais emocionantes que eu já li em toda a minha vida, na moral. Eu simpatizei bastante com o Wally de cara, ainda mais por se tratar de um personagem incomum nas fanfics de Pokémon. Estou ansioso para acompanhar a trajetória dele pela região de Hoenn e conhecer esse desfecho do final do capítulo que me deixou tão instigado! Parabéns =D
chander Postado em 30/01/2021 - 01:44:19
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh o Wally é meu nenê. Ele é tudo de bom. Espero que você continue curtindo a história :)
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domramone Postado em 29/01/2021 - 21:33:21
Caramba, eu tô adorando essa forma de contar o início e o fim ao mesmo tempo. Você consegue unir os dois de uma forma muito natural. Tá ótimo!
chander Postado em 29/01/2021 - 22:05:12
Que bom que está curtindo. Eu faço isso, porque esse inicio não é tão movimentado, então, vamos colocar um pouco de tensão no ar hauahuahauahauah