Fanfic: 13 Steps to The End | Tema: Pokémon
Como uma versão feminista de um conto de fadas, Mayara Sapphire Birch saiu de seu alasão de duas rosas e veio em minha direção para socorrer-me. Desembanhou uma pokebola como se fosse uma espada muito afiada e chamou o bandido para um duelo.
― Piiiiii! ― o pintinho piava sorridente e ciscava para sentir a terra fofa do jardim dos Ruby. Até que ele olhou para a sua mestra e percebeu que estava na hora da batalha e não de um momento de lazer. ―PI!
― Eu não sei quem é você e não me interessa! Meu problema é com ele! ― Brendam apontava para mim e eu não fazia idéia ( na época) do porque ele me odiar tanto. ― Eu não quero essa pokebola, não quero a pokedex que você me trouxe, eu quero SER LIVRE!
― E se você não consegue nem enfrentar uma garota, como vai enfrentar as correntes que te prendem? ― os olhos do filho de Norman sobressaltaram-se e ele cerrou os punhos novamente. A tal da Mayara cruzou os braços esperando alguma reação dele e sorriu levemente ao ver que o menino lançara a pokebola em suas mãos no ar. ― Até que enfim.
Tanto eu, como Brendam ficamos surpresos com a criaturinha que se materializou. Se tratava de um pokémon réptil, esverdeado, de corpo esguio e uma cauda aplumada também esverdeada. Ele encarou o seu treinador com uma expressão que lembrava tédio e arrancou um graveto caído no chão para palitar suas presas.
― Um Treecko ? ― Brendam fez uma expressão bem próxima da surpresa e encarou a sua rival com seriedade. ― Já que você quer tanto batalhar, lá vou eu!
― Vamos ver se você é tão valente, quanto é idiota! Torchic use o arranhão.
O pintinho soltou um pio de guerra e correu na direção do réptil que parecia ignorá-lo solenemente. Torchic saltou e mirou as suas garras no rosto de Treecko, mas o lagarto virou-se de lado e riu do pintinho que caiu capotando pelo chão arenoso da rua.
― Uau ! ― o seu treinador parecia encantando. ― Ele é bom!
― E está fazendo todo o trabalho sozinho! Torchic tente de novo!
A raiva de Brendam desapareceu. Ele não parava de se maravilhar com a rapidez e naturalidade que seu Treecko desviava dos golpes e aterrissava graciosamente. Teve um momento em que ele realmente ficou fora de órbita. Num outro momento, ele me disse que estava imaginando o Treecko se apresentando em contests, usando sua agilidade e destreza para surpreender os jurados.
― É nossa vez, Treecko! ― o lagartinho estalou o pescoço e fez movimentos circulares com os ombros se aquecendo, enquanto o pobre Torchic desmonstrava altos sinais de cansaço e exaustão. ― Derrube ele com o Tapa.
Mayara e seu pokemon se assustaram ao verem o pequeno lagarto usar a sua cauda como impulsionador e depois voando como uma bala na direção do adversário. Torchic soltou um pio assustado e foi fechando os olhos conforme a sombra da cauda aplumada se projetava sobre ele, realizando um golpe certeiro que o lançou longe, rolando pela rua, até chegar a outra calçada.
― TORCHIC! ― gritou a garota correndo até o pintinho que sentia os reflexos do golpe crítico. ― Você consegue se levantar? ― o pintinho arfava de cansaço, mas encarou a sua treinador na profundeza dos seus olhos e se levantou, recebendo uma salva de palmas dos expectadores, incluíndo eu. ― Vamos mostrar que ainda temos uma carta na manga, Torchic.
― Mais um golpe e ele cai, Treecko! Tapa nele!
Treecko estava tão confiante que ele foi correndo de braços abertos na direção do pequeno pintinho que andava mancando. Brendam não mentiu. Mais um golpe e a batalha seria dele, mas o sorriso que a Mayara abriu, me disse que tinha algo errado.
― Agora! ― Torchic abriu o pequeno bico e todos vimos algo brilhante na cor de âmbar se formando nas profundezas de sua garganta. ― BRASAS!
Treecko estava no ar e se preparava para o último tapa daquela batalha, mas mesmo de costas, ele sentiu o ar aquecendo e um brilho alaranjado às suas costas. Foi aí que o pokémon de planta se viu numa chuva de brasas encandescentes que em contato com sua pele sensível, elas explodiam e o empurraram pressão para trás.
O lagarto verdejante caiu e foi arrastando-se de costas no chão arenoso até os pés do seu treinador. Brendam parecia sem reação com a revira-volta repentina e ficou observando Treecko desmaiado.
― NÓS CONSEGUIMOS, TORCHIC! NÓS VENCEMOS! ― ela pegou o seu parceiro e saltava com ele no colo. ― Você é o melhor, Torchic.
Brendam chamou o seu pokémon de volta e já ia atirar a pokebola longe, quando eu segurou em seu pulso. Ele me encarou nos olhos e começou a chorar desesperadamente. Mayara guardou Torchic também e se aproximou de nós dois.
― Foi só uma batalha, não precisa chorar! ― ela ofereceu uma espécie de carteira eletrônica com uma capa de camurça avermelhada. ― Essa é a sua pokedex.
― Vocês não entenderiam... ― ele secou as lágrimas, pegou a pokebola e abriu a porta do ginásio. ― Vou levá-los ao meu pai.
Mayara me encarou e eu sacudi de ombros. Apenas seguimos o herdeiro dos Ruby para dentro, primeiramente, tirando os sapatos na porta e andando pelo dojo apenas de meias. Brendam nos levou na secretaria e nos cadastramos como visitantes. Ele nos explicou que os ginásios oferecem cursos breves, mentoria, excursões escolares e claro, marcação de desafios oficiais.
― Meu pai está batalhando! ― disse o garoto tendo acesso ao horário. ― Querem vê-lo em ação?
Eu e Mayara nos entreolhamos e sorrimos como se nos comunicássemos por telepatia. Ainda mais eu que só tive a oportunidade de ver Norman na tv, vê-lo batalhando à poucos metros de mim seria uma honra tremenda. E quando ninguém estava olhando, eu cheguei a tomar meu rémedio de forma preventiva, porque sabia que o ar ia faltar na hora da batalha.
O ginásio de Petalburgh parecia um labirinto. Nós entravamos de porta em porta e nada de chegar na arena principal. Brendam explicou que cada cúbiculo que atravessamos era protegido por um mentoriado de seu pai, especializado em um atributo de batalha: Força, Defesa, Agilidade, Evasiva, etc... Só estaria apto a enfrentar o Norma, o treinador que superasse/dominasse todos esses atributos.
Quando atravessamos a última porta, nós chegamos a uma arena tradicional de ginásio. Mayara bateu no meu braço, tomada por uma euforia gigantesca, enquanto eu paralisei vendo-o de longe. Quer dizer, eu vi metade do corpo dele, porque a visão dele era quase toda escondida por conta de seu gigantesco, poderoso e preguçoso Slaking.
Brendam nos chamou para subir a arquibancada e observamos a batalha de uma distância segura. Eu queria ficar agarrado na barra de segurança, mas pelas normas da Liga: Batalhas oficiais com pokémons acima do lvl vinte cinco precisavam ser realizadas com no mínimo dez metros de distância do público. Depois de trazer Norman para o continente, eu não iria fazer ele pegar um processo, né?
― A batalha já está no terceiro round! ― Mayara encarou o placar e notou que ambos os lados haviam perdido um pokémon. ― E pelo visto o desafiante está levando vantagem.
― Norman vai virar o jogo! ― os dois treinadores ao meu lado me encararam em dúvida, mas eu não ia perder a chance de ser tiéte do meu ídolo. ― Ele não vai entregar a insígnea assim tão fácil.
― Seviper use a cauda envenenada!
Eu nunca tinha visto uma Seviper tão de perto. Ela era muito maior do que eu imaginava e muito mais brilhante com aqueles mosaicos coloridos no corpo negro. A serpente deslizou pelo chão de concreto e saltou sobre a preguiça gigante com uma acrobacia perfeita, desferindo a sua cauda pontiaguda banhada com uma aura letal. Slaking gemeu pela dor e pela confirmação que seu status havia sido alterado.
― Envenenado! ― provocou o desafiante. ― Acabou Norman!
― Acabou mesmo! Mas não pra mim... ― faltava muito pouco para a vida do Slaking acabar e o desafiante não entendia o porquê daquele sorriso de vitória. ― Você sabe qual é o maior dom do ginásio de Petalburgh? Eu estava desenvolvendo esta técnica em segredo e esta será a oportunidade perfeita de testá-la. SLAKING! MOSTRE A TODOS A SUA CORAGEM!
A preguiça despertou do seu estado de inércia e depois de socar o próprio peito e rugir para o teto, o rei símio saltou em direção a serpente, atingindo-a com o seu corpo coberto de uma sobrepele avermelhada. O estrondo foi gigantesco a ponto de voar pedaços do chão para todos lados e uma cortina de poeira cobrir toda a arena.
Nós três encaramos o painel eletrônico e nos assustamos que a Seviper que tinha cem porcento da sua energia havia sido derrotada com um único ataque. E confirmamos a sua derrota quando a cortina de poeira baixou e Slaking estava usando a sua técnica de cura, enquanto a Serpente estava desacordada no fundo de uma cratera.
― M-mas não... Roubo! Doping! Eu vou dar parte de você, Norman!
― Há, Há, Há! ― o líder de ginásio caiu na gargalhada. ― Doping? Não, meu querido. Foi a “Coragaem” - o maior dom do ginásio de Petalburgh. Ele é um ataque com nível de poder de sessenta pontos que concentra todos os pontos de ataque num único ponto: o inimigo.
― Meu Seviper foi criado com vários suplementos que davam a ele uma defesa maravilhosa! Como que um mísero ataque de poder sessenta poderia tê-lo nocauteado?
― Aí que está. A corgame sobre de poder quando o pokémon tem seu status negativado! ― não só o desafiante como nós três ficamos abismados com a complexidade daquele ataque. Norman não tinha limites. ― Se você ainda souber fazer contas, graças ao status envenenado, meu Slaking atirou um golpe com cento e vinte pontos.
― Eu desisto! ― o desafiante chamou a sua Seviper. ― Você é um monstro, Norman.
Eu fiquei sem reação em perceber que um adulto havia saído da arena aos prantos e provavelmente com suas calças cheias por conta da intimidação de Norman. O líder de ginásio chamou o seu pokémon de volta e acenou para nós, pedindo que nos aproximássemos.
Brendam e Mayara foram até ele, mas as minhas pernas não me obedeciam. Ele me encarou com dúvida e sorriu para mim de braço estendido. A emoção percorria toda a minha corrente sanguínea e chegou o familiar momento em que o ar me faltou. Eu fechei os olhos e fui andando lentamente, obviamente atraíndo olhares julgadores, mas não poderia ter uma parada respiratória logo agora.
― Prazer crianças! São amigos do Brendam? ― ele encarou o filho com uma surpresa teatral. ― Sou Norman Ruby - o líder do ginásio da cidade... Mas acho que vocês já sabem.
― Eu sou Mayara! Filha do professor Birch, mas pode me chamar de May.
― Ah, seu pai me disse que você vinha, May. Isso significa que Brendam já pode sair em jornada!
Brendam desviou o olhar e eu vi seu pai tocar levemente em seu ombro, mas eu podia ver ele forçando os dedos no ombro do rapaz para que ele fakeasse um sorriso. O jovem Ruby voltou o seu olhar para nós com uma lágrima correndo o lado direito do rosto, embora ele estivesse sorrindo.
― Papai! Este é o Walihan! O culpado de estarmos aqui! ― os olhos voltaram-se para mim e Norman parecia genuinamente surpreso. ― Ele veio para que o senhor pudesse mentoriá-lo.
― É você mesmo? ― eu assenti que sim com o meu rosto pegando fogo de vergonha. ― Mas você está se sentindo bem? Pelo que sua tia disse...
― Estou ótimo! Basta que eu tome meu remédio, verifique minha saturação e em caso de qualquer emergência, eu procuro um centro pokémon! ― Norman não parecia muito crédulo na minha explicação, mas não pediu mais esclarecimentos. ― Você pode me aceitar como um dos seus mentoriados?
― Olha, Walihan... Nesse momento é impossível porque estou organizando a papelada, as tributações e algumas bagunças administrativas que o líder anterior deixou e estão com meses de atraso. Em paralelo, eu preciso aceitar os desafios dos treinadores. Menos mal que eu consegui uma liminar junto a Liga para aceitar apenas treinadores que possuissem no mínimo quatro insígneas, porque senão haveriam filas e mais filas nas portas do ginásio, ou seja, muito trabalho pela frente. ― Norman viu o meu semblante de decepção e pousou a sua mão em meu ombro carinhosamente. Senti que Brendam ficou com raiva e até se afastou de nós. ― Venha sábado! Eu darei uma palestra para treinadores iniciantes. Infelizmente é o máximo que posso fazer no momento.
― Eu entendo... Vou vir, sim...
Eu e May nos despedimos de Norman e começamos a seguir Brendam que marchava para fora do ginásio atravessando os cubículos rapidamente.
― Ei! Brendam, né? Espera aí!
― Eu não tenho nada para falar com você? ― o garoto levou um susto, quando fechei uma porta que ele ia abrir. ― Qual é o seu problema?
― Por que você me odeia tanto? E por que seu pai te trata daquele jeito? ― seus olhos se expandiram e até May não havia percebido. ― Meu Deus! Foi ele que fez esses ferimentos em você?
― Não... ― ele desviou o olhar.
Brendam começou a contar desde o início. No começo era nítido o seu desconforto em se abrir para completos estranhos sobre fatos, mas o seu rosto foi sendo tomado por um alívio absurdo por jogar todo esse peso para fora. Ele derrubou mais algumas lágrimas e nos contou como Norman, apesar de ser um ótimo treinador, era muito ruim como pai. Brendam falou sobre sua paixão por concursos e foi a primeira vez que eu vi sorrir. Lembro de nunca ter visto um sorriso como o dele.
Como eu ainda sonharia com aquele sorriso.
E como o alívio veio, assim ele se foi. O jovem Ruby retornou a sua melâncolia e lembrou-se que teria de pegar sua mochila e partir imediatamente.
― E se eu fosse você, eu voltaria para casa. A melhor coisa para crianças como nós é viver com uma família que nos ama e não ficar percorrendo o mundo a mercê de perigos!
Os próximos segundos foram os piores da minha vida. Eu vi Brendam abrindo a última porta que dava para o Hall de entrada lentamente como se fosse um filme. Eu vi um casal absurdamente familiar na recepção que fez com que o meu coração quase saísse pela garganta. Ele praguejou alto, quando o puxei pelo colarinho da camisa e fechei a porta com um baque absurdo.
― Você está louco? Deixa eu sair!
― Aquele casal... ― o ar começou a faltar e pelo jeito que os dois estavam me olhando, eu estava começando a palidecer. ― São os meus tios! Eles estão me procurando!
― Como assim, Walihan?
E depois de Brendam era a minha vez de contar a verdade. Eu falei sobre tudo. Sobre a doença, sobre a expectativa de vida, sobre minha fuga, sobre o patrocínio e meu sonho kamikaze de sair em jornada com um pé na cova.
― Você é um louco e irresponsável! ― o filho de Norman parecia ter mais raiva ainda de mim. ― Eu não vou ser cúmplice disso! Eu serei um assassino!
― Você pensa assim, porque você sabe que tem opção! Seu pai fez você acreditar que não tem Brendam, mas saíndo por essas portas, você é um menino livre. Eu que não sou, porque há cada dez passos é como se o ar escapasse por buracos nos meus pulmões, mas esses dois dias foram os melhores em toda a minha vida doente.
Eu encarei Mayara que estava absurdamente abalada com aquele ar deprê. Brendam fechou os olhos e cerrou os punhos. Eu pensei que ele ia me socar de novo, mas ele acertou a parede.
― Eu te entendo, mas eu não sou livre assim...Se meu pai me ver num concurso ou a mídia expôr o meu nome, eu tenho certeza que ele largaria tudo aqui e iria me buscar. Ele já falou até de me trancar num colégio interno.
― Que cara escroto! ― A boa e velha Mayara estava de volta. ― Vamos te ajudar a fugir!
― Ou... ― eu tinha acabado de ter uma brilhante idéia. ― Basta que você tenha outro nome, certo?
Mayara e Brendam me olharam com estranheza e eu comecei a explicar o meu plano em segundos. Não passou muito tempo, Brendam saiu e foi em direção a saída, quando foi interceptado pelo casal desesperado que não aguentava mais esperar, pois Norman havia acabado de entrar em uma reunião online com os organizadores da Liga.
A secretária reforçou que eles procuravam por mim e o jovem Ruby os levou gentilmente a uma porta em direção a arena do ginásio. Mas não a porta que nós estávamos.
― Ahn, oi! ― a secretária levou um susto ao encontrar Mayara debruçada no balcão. ― Pode me dar uma ajuda? É que eu não sabia que iria encontrar o Norman e não trouxe meu caderninho. Eu queria muito levar um autógrafo dele para minha jornada! Acho que me daria sorte, sabe? ― a secretária começou a explicar a menina que o líder de ginásio estava ocupado e não atenderia mais o público hoje. Essa foi a deixa perfeita para que eu passasse abaixado e saísse pela porta da frente sem que ninguém me visse. ― Ah, tudo bem! Eu entendo! Me desculpe por incomodá-la!
A secretária ficou observando a garota ir embora e voltou aos seus afazeres. Mayara me encontrou na frente do ginásio e expirou aliviada.
― Vamos para o centro pokémon! Com a minha identidade falsa não vão me encontrar lá!
― Vai na frente! Eu vou esperar o Brendam! ― eu me surpreendi. ― Eu não vou deixar ele ficar sozinho.
Desde que o primeiro momento em que conheci a Mayara, eu gostei dela. Ela foi muito importânte pra mim em vários momentos dessa jornada, mas vocês ririam se soubessem, como ela e o Brendam vão se odiar no futuro. Ela mesmo vivia reclamando que se arrependia amargamente de ter dado apoio a ele no início da nossa história.
Mas lá no fundo, eu sabia que era mentira.
Brendam encontrou conosco uns vinte minutos depois. Deu tempo inclusive de pegar o horário de almoço. Por via das dúvidas, nós levamos as bandejas para o quarto que pedi com o meu nome falso, assim poderíamos almoçar em paz. Brendam contou que foi muito difícil sustentar a mentira, pois minha tia chorava muito e mesmo ele vindo embora, ela ficou lá aguardando até que Norman pudesse atendê-la.
― Você acha que seu plano vai realmente dar certo? ― disse ele.
― Já sim! ― eu fui na minha mochila e mostrei para ele o ticket para a sua liberdade. ― Chegou pouco antes de você.
Brendam abriu ambas as mãos para receber o seu pokenav novinho. Eu pedi um reserva ao senhor Scott e ele prontamente me atendeu. Ajudei ao Brendam a cadastrar um novo nickname com o sobrenome Scott, é claro. Quando acabamos o menino chorava emocionado novamente e investiu em mim de surpresa. Eu pensei que fosse levar um novo soco, mas me surpreendi com seus braços envolvendo o meu pescoço e seu queixo repousando sobre o meu ombro.
― Muito obrigado, Walihan...
― Pode me chamar de Wally
― Eu também tenho algo para você... Wally.
Eu e May não entendemos nada ao ver o menino tirando a sua grande touca. Na verdade, eu pelo menos, o admirei porque Brendam escondia seus belos cabelos castanhos debaixo daquela touca. Eles estavam um verdadeiro ninho de magafagafa, mas quando o garoto começou a penteá-los com seus dedos, eles começaram a cair em cascata sobre o rosto e foi aí que vi como Brendam parecia jovem para a sua idade.
― Seus cabelos verdes chamam muita atenção! Fique com essa touca! Ela é quente, mas vai ajudar no seu disfarce.
― Não Brendam! Eu não posso aceitar! Ela é sua!
― Talvez meus pais nem me reconheçam sem ela. Digamos que você estará ajudando no meu disfarce.
Eu peguei a toque e sem querer, meus dedos tocaram os dedos de Brendam. May ficou alternando o seu olhar entre nós dois e fez um cara bem assustada. A verdade que o tempo parou para mim naquele momento. Eu só vi os olhos cristalinos dele por detrás da franja, o nariz afilado e o sorriso absurdamente branco. Eu até cogitei ser por conta da semelhança com Norman, mas Brendam era diferente.
Se eu soubesse dos eventos que estavam por vir, eu jamais teria feito me salvar naquele dia. Se eu soubesse que me apaixonaria por ele, perdidamente, eu jamais teria entrado em seu caminho. Se eu soubesse que... Deixa pra lá! Não vamos misturar os passos. Cada um deles deve ser apresentado em seu momento.
*[ O FIM]*
O chão, as paredes e o teto tremiam por conta do embate ancestral dos colossos lá fora. A fuligem invadia os meus pulmões, me colocando de joelhos e vomitando sangue no solo sagrado da Caverna da Origem.
― Z estava certa... Eu preciso acordá-lo! ― saquei uma pokebola e libertei a minha Gardevoir. ― Me leve lá para fora.
A pokemon fada me envolveu com a sua aura psíquica e nos teletransportou para a porta da caverna, onde Brendam, Steven Stone e o atual campeão da Liga Pokémon me aguardavam. Brendam me agarrou para que eu não caísse de cara no chão e ajoelhou ao meu lado, segurando o meu rosto e me fazendo olhar nos olhos dele.
― Wally! Fica comigo, Wally! ― ele pegou um pouco de água e limpou o meu rosto. ― Você achou a resposta? Sabe como nós acalmamos eles?
― O que ela nos contou era verdade... Estava tudo talhado na parede do Gênesis na linguagem dos Unown. Precisamos acordar o dragão primordial no Sky Pillar.
― Eu vou! ― eu me desesperei. ― May entregou a sua vida para que nós tivessemos uma chance!
― Não!
― Você não vai resistir, Wally! Está doente demais!
― Não me deixa, Bren! Não você!
― Só eu posso fazer isso, Wally, eu não posso deixar que você...
Eu sabia que não me restava muito tempo. Sabia que minha jornada estava chegando ao fim. Por isso fiz isso. Não sabia se morreríamos no meio do fogo cruzado dos Titâs à nossa frente ou se viraríamos comida de um dragão primordial. Por isso, eu não esperaria para dizer ou demonstrar o que sinto. Eu puxei o Bren e o beijei profundamente.
Meu pior erro. O que me trás mais vergonha. O que nos destruiu. O que roubou ele de mim. Porque nos segundos seguintes, Brendam voava dos meus braços em direção ao mar e quando eu fui me atirar para salvá-lo, todos me seguraram. Eu fui obrigado a ver o meu melhor amigo e amor da minha vida afundando com toda Sootópolis para as profundezas.
No fim, não foi nem Groundon ou Kyogre que o mataram. Foi apenas eu.
E meu quarto passo para o fim.
Autor(a): chander
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Brendam e May tagarelavam sobre seus planos e sonhos para as suas jornadas. Eu ouvia as vozes deles lá longe, porque dedilhava a touca branca do Bren ( mesmo agora, eu ainda coro quando me percebo chamando ele assim), percebendo o tecido mole e confortável com a ponta dos meus dedos. Teve uma hora que eu percebi que os dois estavam distraídos e levei a t ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 10
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koscheii Postado em 22/02/2021 - 11:07:01
Hello Chander, Leucro aqui, finalmente lendo 13 Steps (aliás eu já tinha lido esse capítulo no Spirit antes, mas esqueci de comentar na época hajhajdajkkkk), enfim eu amei este primeiro capítulo por alguns motivos, como por exemplo o Wally que é um dos meus personagens favoritos de Hoenn e é sempre esquecidinho no rolê e eu gostei que você deu a ele esse breve destaque e acrescentou mais ao personagem dele, quero logo ver mais do meu menininho de cabelo esverdeado
chander Postado em 23/02/2021 - 23:29:57
Ah, man! Bom te ver por aqui. Wally tem meu coração, sabe? Eu adoro fazer isso nas minhas histórias. PEgar personagens sem plot e dar chance deles contarem suas histórias. Espero que você faça uma viagem gostosa aqui! Bjs leucro.
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domramone Postado em 01/02/2021 - 16:55:09
Que massa, eu tô empolgado com a história. No começo achei que era a May machucada na areia, mas fui enganado. Hahahaha
chander Postado em 01/02/2021 - 19:37:49
Meme do pica-pau inserido aqui: Fui tapeado kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
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flashstrike Postado em 30/01/2021 - 01:48:43
Capítulo 2 - A May é a minha terceira Pokégirl favorita, então confesso que estava deveras ansioso para a aparição dela na história, principalmente porque queria conhecer a personalidade e o contexto familiar da sua May. Ela tem essa rebeldia característica da adolescência, mas da para perceber que também é bem coração quando o assunto é o seu pai, ela parece se importar bastante com ele, apesar de o homem nem sempre ser direto com ela. Como bom leitor, eu já estou criando algumas teorias sobre a atuação da mãe dela, e algo me diz que ela faz parte de uma certa equipe vilã. Enfim, aguardando por esse encontro no futuro. Agora assim, cara. Que plot twist foi esse no final, em?! Sou seu leitor há anos e ainda me pego surpreso com a morte de um personagem importante. Acho que nunca vou me acostumar com isso, na real HAHAHAHAHA. Espero que o Wally consiga mudar o destino dela...
chander Postado em 30/01/2021 - 01:59:33
HAHAHAHAHAAHAHAHAHAHA e ainda dizem que eu não consigo surpreender ninguém. Mas sim, essa May é maravilhosa. Eu estou apaixonado por ela e pra mim, Mayara ficou normal, não tem como o nome dela ser outro kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk e vamos ver. Quem sabe a mama esteja viva por aí. Obrigado por vir.
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flashstrike Postado em 30/01/2021 - 01:36:49
Capítulo 1 - Esse foi um dos capítulos mais emocionantes que eu já li em toda a minha vida, na moral. Eu simpatizei bastante com o Wally de cara, ainda mais por se tratar de um personagem incomum nas fanfics de Pokémon. Estou ansioso para acompanhar a trajetória dele pela região de Hoenn e conhecer esse desfecho do final do capítulo que me deixou tão instigado! Parabéns =D
chander Postado em 30/01/2021 - 01:44:19
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh o Wally é meu nenê. Ele é tudo de bom. Espero que você continue curtindo a história :)
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domramone Postado em 29/01/2021 - 21:33:21
Caramba, eu tô adorando essa forma de contar o início e o fim ao mesmo tempo. Você consegue unir os dois de uma forma muito natural. Tá ótimo!
chander Postado em 29/01/2021 - 22:05:12
Que bom que está curtindo. Eu faço isso, porque esse inicio não é tão movimentado, então, vamos colocar um pouco de tensão no ar hauahuahauahauah