Fanfic: Always You | Tema: Harry Potter
O relógio pendurado na parede pintada na cor cinza ao lado da porta de ferro que possuía uma placa prateada indicando ser a sala da diretora geral daquele ambiente, marcava exatamente duas da tarde. A sala de espera possuía cinco bancos de longarina na cor marrom fumê que cabiam apenas três pessoas e que ficava um atrás do outro - em fileira, ao lado dos mesmos tinha um balcão com seu formato em L tendo a mesma cor dos bancos para se sentar.
Atrás do balcão se encontrava uma moça que estava concentrada com os papéis que eram grampeados e manuseadamente postos em pastas pretas. O crachá da funcionária estava bem legível para quem fosse ler, Sara De Souza era a recepcionista de vinte e setes anos, aparentemente parecia simpática - apenas parecia. Quem olhasse acima da moça notaria o letreiro com o nome da instituição escrita em redondo, fora os horários de atendimento. Alguns pôsteres acadêmicos pendurados em organização cronológica enfeitava um pouco aquele ambiente, como também uma estante de marfim que ostentava os troféus ganhos nos anos anteriores.
Em alguns dos assentos, tinha um casal, uma senhora de idade e a própria Fernanda. O bebedouro ficava atrás do último banco, a mais velha se levantou de seu lugar atraindo em si olhares do segurança que estava na porta como da própria Fernanda. A idosa caminhou até o bebedouro lentamente sendo ajuda pela bengala gasta, o ventilador de teto não dava conta pois o calor que fazia ali era imenso, mas voltando, a senhora que ainda andava parou bruscamente. O segurança ainda a encarava com seriedade até que lhe sobreveio uma onda de tosse que foi controlada em meros segundos. Nesses meros segundos a idosa chegou ao seu destino onde ergueu sua mão calejada até aos copos, retirou apenas uma e encheu-lhe de água, no fim das contas, a palavra tédio pairava sobre eles.
Fernanda que desviou seus olhos rapidamente para a porta da diretora e depois para o chão voltou a pensar sobre o que a velha Montenegro queria para com ela essa manhã. Sua mente que trabalhava incansavelmente causava leves dores de cabeça. Agora ela estava na escola onde matriculou sua pequena Andressa e por algum motivo desconhecido a diretora Montenegro a chamou.
Andressa, ela sorriu ao lembrar de sua pequena. Por algum motivo comumente também lembrou da amizade que fez na época em que sua batalha estava - entre parênteses - perdida. Esta amizade ajudou-a a se manter de pé, aconselhou-a a não parar, Fernanda seria grata eternamente ao anjo daquela igreja por ter aparecido ao seu lado e falado palavras que ela precisava ouvir - mesmo alguns sendo sermões. Sua mente viajou exatamente a dois anos atrás enquanto ainda não era chamada.
Ela ainda se lembrava de sua luta para ficar com a menina que não tinha ideia de como parou em sua porta. Se não fosse pelo seu melhor amigo que era advogado, provavelmente Andressa iria para algum orfanato rapidamente. Mas quando ela viu aquela criança deitada naquela cesta de junco um sentimento de proteção tinha apoderado em seu corpo, em seu ser. Fernanda não sabia onde tinha tirado força em batalhar pela menina. Passava horas e horas admirando a pequenina que com os cabelos castanhos em uma ondulação perfeita que espalhava-se sobre o travesseiro branco. Henrique sempre ria de como a loira ficava, este também sentia que devia proteger a menina. Sentimentos compartilhados esse era o nome.
Se lembrou de como ela acordou assustada e perguntando onde estava ou quem eram eles, a parte difícil foi tentar conquistar a confiança da garotinha que de tanto pensarem deduziram ter seus quatro ou cinco anos. O que encantou mais a Fernanda foi a forma de como a menina era extremamente inteligente, era educada mesmo não sabendo de onde tinha vindo. Um ano e seis meses se passou, dia 09 de Abril de 1974, quando saiu a carta para ambos Fernanda e Henrique comparecerem perante o juiz a loira sentiu medo.
Vários momentos que passou com a garotinha que eles chamaram de Andressa, por difícil tenha sido, eles sentiria falta se o juiz negasse o pedido. Fernanda lembrou-se perfeitamente antes de ir para o seu destino, Henrique entrou junto com a mesma numa igreja que estava aberta naquela manhã, ambos se afastaram um do outro fazendo sua reza. A intercessão de ambos era algo único, o padre que estava averiguando o ambiente junto ao bispo que a todo momento avaliava seu anel de ouro e desviava sua atenção para os fiéis que aos poucos chegavam.
Fernanda erguendo sua cabeça viu que seu marido estava chorando e se sentiu pequena, uma inútil. Seus olhos verdes desviaram para a cruz que pendurava o Filho de Deus, sua mãe lhe ensinou as orações, ensinou o certo, ensinou que mesmo em momentos difíceis devemos buscar aquele que pode todas as coisas. Seu pobre coração se apertou quando lembrou-se do desafio de sua vida.
― Marcos 9.23 diz: “E Jesus disse-lhe: Se tu podes crer; tudo é possível ao que crê.”
Fernanda deu um pequeno salto no banco e olhou para o seu lado vendo uma mulher que parece ter seus cinquenta anos, a mulher sorriu para si, os olhos dela correu do altar para um garotinho que entrava na igreja saltitante.
― Está vendo aquele menino?
Sra. Soares seguiu o olhar da mulher até o menino e assentiu levemente ainda assustada pela chegada repentina da mais velha.
― Ele é o meu neto. – Fernanda voltou a encarar a mulher do seu lado que continha um sorriso em seus lábios, os olhos daquela mulher possuía o mesmo brilho que o dela. ― Me desculpe pelo susto, mas vi que precisava de..ajuda.
Desconcertada, Fernanda se ajeitou no banco e encarou o altar. Sentia que a mulher ao seu lado avaliava suas expressões e isso irritou a loira em seu íntimo. Segundos depois a mais velha pois a sua bolsa de tiracolo ao seu lado, abriu o mesmo devagar logo retirando de dentro um bloquinho amarelado e uma caneta azul e pois a escrever. A morena foi atraída pela forma delicada de como a mulher ao seu lado escrevia, forçou um pouco seus olhos para ver o que ela escrevia mas não conseguia ler perfeitamente, foi neste momento que percebeu a ponta da caneta parada antes de terminar a frase “Olhe para mim…”, ela ruborizou e olhou para a mulher que a encarava com um sorrisinho travesso.
― Você me lembra a minha filha. – Riu a mais velha. ― Queres ler o que está escrito? – Viu que a outra não responderia, rasgou o papel amarelado do bloquinho e o dobrou logo o pondo dentro do bolso de lenços da camisa social da jovem. ― Só leia quando for a hora.
Fernanda olhou para onde a senhora pois o papelzinho. Alguns minutos se passou e o silêncio era mantido até a mulher de seu lado começou a sussurrar.
― Minha filha passou por vários problemas nesta vida, minha jovem, entre elas incluía meu neto.
Ouvia-se sussurros dos fiéis, cada um em seu momento particular, conversando com Deus. Fernanda olhou novamente para o garotinho que saiu da igreja sendo seguida por mais duas crianças, imaginou o que poderia ter acontecido para com ele, a mulher que estava ao seu lado parecia ter lido sua mente continuou:
― Ele nasceu forte e saudável … – A voz dela embargou mas engoliu a vontade de chorar. ― Minha filha foi liberada três dias depois mas meu neto tinha que fazer mais alguns exames, então permaneceu mais alguns dias. Estava na casa de minha filha quando o telefone tocou, era do hospital. Deram a notícia que meu menino tinha tido um probleminha, não quis assustar a minha filha, sair da casa alegando ter esquecido de algo em minha casa, mas acho que ela percebeu meu desespero e veio junto. Cheguei no hospital e me encaminharam para sala de espera, o médico chegou e começou as condolências. – A mulher olhou para a Fernanda. ― Meu neto tinha vindo a óbito.
― Senhor meu… – O padre que estava no altar começou a orar em uma altura de voz para todos que ali estavam pudesse ouvir. ― … acreditando piamente que há um só Deus acima de todas as coisas, Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três divindades iguais, eternas, imortais, gostaria que vós dedicastes esta semana que está começando a mim e às pessoas ao meu redor. Deus vós que é imortal, onipotente, onisciente, está acima de tudo e, sempre presente vela por este filho para que tudo transcorra bem dentro do meu merecimento, e de acordo com sua palavra. Sei que me reservas um reino infinito e muito está além da minha compreensão humana. Por isso mesmo, estou aqui a serviço da vossa revelação, para sempre ser digno do senhor, para sua adoração e ser servidor e parte de sua criação. Abençoa pois este filho e tudo o que irá lhe suceder. Amém. – Finalizou o padre que via os fiéis fazendo o sinal da cruz e se levantando para irem embora. Alguns ainda permaneciam em seus lugares orando, apenas um se levantou indo para o confessionário, era Henrique. Fernanda que o encarou surpresa pensou no que poderia atormentar o marido mas saiu de seus pensamentos ao sentir uma mão em seu ombro, virou-se dando de cara com a mesma mulher.
― Admito que a senhorita tenha assuntos a tratar, não tomarei seu tempo.
― Não se preocupe, senho-
― Abigail Rodrigues, mas me chame de Abigail, não gosto que me chamem de senhora ou pelo sobrenome.
A morena deu um meio sorriso.
― Confesso que tenha um grande problema a frente, acertei?
Assentiu levemente.
― Ora, não fique assim. Como falei: “Minha filha passou por vários problemas” e ainda acrescento que ela os venceu.
― E..como ela venceu? – Abigail ouviu a pergunta da mais nova mesmo que tenha soado baixa, ela entendeu.
― Quando meu neto morreu, fui até a capela do hospital e lá eu orei ao Pai. – As duas andavam pela igreja até parar na entrada da igreja, ambas encararam o céu, o dia estava nublado pois as nuvens estava negras e carregadas. ― Orei, orei, orei… Sentir as luvas molharem, me lembrei quando Cristo subiu ao monte das Oliveiras e chorou. Deus e seu Filho sabem o que eu passei naquela noite. Minha filha entrou na capela e orou junto a mim, mas chegou um momento em que ela se virou pra mim e me disse não acreditar mais que Deus poderia fazer alguma coisa.
Fernanda ouvia com atenção.
― Repreendi ela e disse sobre a fé e crê em Deus e seu Filho... Marcos 9.23... Voltamos a orar, sentir um arrepio que não me assustou e ergui as mãos aos céus agradecendo a Deus. Logo depois da oração pedi ao médico que me levasse onde meu neto estava, entrei e não conseguir me conter, chorei demais, e lá estendi minha mão dizendo “Cristo, Deus Pai e Eterno. Sei que estás aqui e pode fazer o impossível acontecer, até o morto voltar a vida, faça Ô Deus, o milagre acontecer.” Olhei para o meu menino que não respirava, pus a minha mão sobre o peito dele e chorei novamente, até que sentir uma quentura sobre a palma da mão, esquentava demais, na hora que eu ia retirar, o peito de meu neto levemente subiu e foi aí que vi o poder de Deus. Ele tinha ressuscitado, voltado à vida!
Fernanda estava sem palavras para o que ouviu, Abigail estava chorando silenciosamente, não era um choro de tristeza e sim de alegria. Um garotinho surgiu fazendo com que ambas as mulheres parassem, era a mesma criança que Fernanda tinha visto entrar na igreja.
― Vozinha! – Chamou o garotinho abraçando as pernas da senhora de cinquenta anos. ― Não chora vozinha.
― Oh meu filho. – O pegou no colo e beijou-lhe a bochecha, o garotinho ficou tímido sendo que em seu campo de visão estava Fernanda, ele avaliou a morena a sua frente e sorriu fazendo suas bochechinhas gordinhas corarem. ― Vovó não está chorando, apenas me lembrei de uma piada que seu Tio Ed contou-me.
― Mesmo? – Perguntou agora desconfiado, pois sua atenção voltou para a sua avó.
― Mesmo. – Assegurou ela.
Abigail olhou para a jovem, esta estava encantada pela tamanha fofura do menino.
― Bem, esse príncipe lindo aqui é o Daniel, Dani diga oi a..
― Fernanda. – A outra completou enquanto olhava para a criança e para a avó do mesmo.
Abigail sorriu abertamente e assentiu.
― Oi… – Disse o pequeno garoto, perto das pessoas que não conhecia era tímido demais, até chegava a gaguejar.
― Olá, Daniel. Tudo bem?
― Si..sim..e a senhora? – Perguntou timidamente.
― Estou bem sim.
― Fernanda… – Abigail a chamou. ― Tens filhos?
Sra. Soares negou e abaixou seu rosto mas voltou a erguê-la. Aos olhos de Abigail era possível ver que Fernanda estava numa batalha interna que custaram alguns segundos.
― Alguns meses atrás... – Começou a dizer. ― ...uma criança foi deixada na porta de minha casa, ela não se lembra de onde veio ou qual o seu nome. Meu marido e eu começamos a cuidar dela até que decidimos entrar na justiça, pedindo para que eles nos dessem a autorização, sabe? Leis.. Nos perguntaram como foi a convivência, muitas coisas.
― E estás com medo do juiz negar. – Revelou o que era evidente.
Fernanda concordou logo dando um longo suspiro e continuou a falar.
― Um amigo nosso nos falou que a chance da gente ter a guarda dela é bem pequena, porquê a mesma foi abandonada, não se lembra de quem é, nem seus pais… E eu.. eu… eu não quero perdê-la…
A mais velha pois seu neto no chão que logo correu para junto das outras crianças. Abigail olhava para o neto se certificando de que estava bem e olhou para a loira.
― Você me ouviu o tempo inteiro, deve ter entendido sobre a fé, milagre, o impossível se tornando possível. Fernanda, o que eu te contei ninguém acreditou, apenas minha filha e meu genro que acreditaram. A sua situação é a mesma para com que eu passei a seis anos atrás, sendo que sua filha está viva, respirando. – Se calou por um momento. ― Venha comigo.
Fernanda se surpreendeu quando viu Abigail pegar em sua mão e levá-la até o jardim da igreja que era cuidada pelo jardineiro Tobias. O senhorzinho que estava a trabalhar ergueu seus olhos e avistou as duas mulheres.
― Bom dia! – Saudou.
Abigail sorriu.
― Bom dia, seu Tobias! Como vai? E a senhora Tânia? – Se aproximou perto da roseira junto a Fernanda, esta se encontrava em silêncio.
― Nós dois estamos bem, agora que pequeno Hugo está conosco.
― Oh minha nossa! Senhora Tânia deve está muito feliz.
Riu. ― Ela agora vive andando pra lá e pra cá com o pequeno Hugo.
Abigail achou engraçado a curiosidade da Fernanda, disfarçadamente sussurrou para a loira:
― Hugo é um cachorro.
Sra. Soares quase riu mas se segurou. O seu Tobias olhou para a jovem senhora, enquanto ela apenas se limitou em assentir.
― Vem… Até depois seu Tobias! Mande um abraço para a senhora Tânia! – Pegou novamente pela mão de Fernanda e a levou para o mais fundo do jardim. Chegando lá, a senhora de cinquenta anos a soltou e se aproximou de algumas rosas que estavam para brochar. Estava escuro para aquele lado e Fernanda desconfiada ficou ao lado da porta.
― Lindo aqui. – Falou ela.
― Sim! Amo vim aqui, principalmente com meu neto e minha filha. Aproxime-se querida.
Fernanda desde do momento em que deu aquele pulo no banco de madeira da igreja até agora, era apenas desconfiança, surpresa e descobertas. Ela ainda não confiava na mulher que estava conversando com as flores.
― Está bom aq…
― Eu insisto, chega mais perto. – A cortou.
Sra. Soares se aproximou lentamente podendo ver a mulher voltar a conversar com as flores. O ambiente não era grande coisa, Fernanda podia dizer que ali era uma estufa? Ela não saberia pois a mesma não conhecia nada sobre jardinagem, sua mãe saberia, a dona Luciana era conhecedora dessa área.
― … Quando o inverno chegar, eu quero estar junto a ti. Pode o outono voltar, que eu quero estar junto a ti… – A voz de Abigail saiu suave, Fernanda que conhecia a canção parou e ficou observando o modo de como a mais velha se comportava com os flores até que Abigail parou de cantar e olhou para Fernanda. ― Olhe para as flores e me diga o que vê, é normal em não saber responder de imediato, só quero que veja e depois me diga o que viu..
Fernanda apenas via como as flores eram belas, as rosas brancas davam um charme naquele canteiro que continha outras rosas vermelhas, amarelas, até branca com pontinhas vermelhas, mas ela sabia que não tinha nada demais ali.
― Não tem nada demais.
― Olhe com atenção.
Fernanda voltou a olhar para as flores e se sentiu perdida, tentou prestar a atenção mas como ela falou para a mais velha, não tinha nada ali até que viu alguns raios do sol que se revelava no céu refletir sobre em cima daquela possível estufa, a roseira que mesmo possuído as melhores flores, elas tinham seus espinhos. O vidro se mostrou solidário, as flores receberam uma bela iluminação o que levou-as a se abrirem e mostrarem sua beleza. Fernanda pode sentir alguns raios de sol em sua pele. O tempo que era nublado agora se encontrava aberto, a luz do sol não era agressivo e sim era gostoso de sentir na pele exposta, Fernanda concordou com esse pensamento. Seus olhos focaram em uma rosa branca que estava lutando para desabrochar, quando por questões de segundo antes dela tentar forçar a abrir, suas pétalas foram libertadas. Seus olhos verdes brilharam.
― Lindo…
Abigail assentiu.
― Sim, mas viste que ela lutou para se abrir? De acordo com a ciência, as flores também são seres vivos. – Riu. ― Até no mundo animal existem duas palavras que são distintas “Insistir” e “Persistir”, pode me explicar o porquê dessas duas palavras serem tão diferentes?
― Deve ser pelo fato de que insistir é algo que já não vale a pena e persistir é algo que vale a pena.
― Aceitável. Agora trazendo para a nossa vida, para esse momento, o que você aprendeu?
― Que eu devo persistir, nunca parar.
― Isso mesmo. – Assentiu em concordância e voltou a cantar, agora, sendo acompanhada pela Fernanda.
Fernanda sorriu quando a senhora Abigail lhe deu uma rosa, essa canção - Primavera do cantor Tim Maia - era linda na opinião da Sra. Soares, ambas saíram daquele ambiente alegremente. A rosa branca nas mãos da jovem senhora deram-lhe forças para continuar na luta. Ao voltarem para perto da roseira Fernanda direcionou seus olhos para o monte que se encontrava perto da igreja.
― Assim como aquela flor que lutou, assim você deve agir. – Voltou sua atenção para Abigail. ― Persista e creia que Deus já está fazendo o possível por você. – Abigail surpreendeu ela com um abraço, meio que desajeitada retribuiu. ― Saiba que ele, mesmo a gente não o vendo, ele simplesmente está trabalhando em seu favor. Então… – Se afastou da outra. ― Melhor ir para o seu destino, seu marido precisa de você mulher, mas lembre-se: ‘’Tudo é possível ao que crê.”
― Muito obrigada! – Ela estava emocionada.
― Não agradeça a mim e sim a Deus. Agora vá em paz querida. – A mais velha se afastou um pouco.
― Nos veremos novamente? – Perguntou Fernanda esperançosa dando uma olhada rápida atrás de si e vendo seu marido esperando a mesma que se voltou para a senhora de cinquenta anos.
Abigail olhou para a rosa branca nas mãos de Fernanda e sorriu assentindo. ― Em breve!
Sra. Soares mordeu os lábios e saiu dali indo ao encontro de Henrique que lhe indagou o por que de demorar tanto, Fernanda retirou o papelzinho de seu bolso de lenço da camisa e olhou para a rua. Depois de alguns segundos ela concluiu que:
― Encontrei um anjo que me confortou com suas palavras, deu-me forças para lutar.
Ela saiu de seus devaneios quando ouviu o ranger da porta de ferro e seu nome ser chamado pela própria voz da diretora que soava fria. O arrepio subiu a espinha e não tardou em entrar na sala. A diretora pediu para que a jovem senhora se sentasse e foi isso que ela fez. Fernanda observou a mulher sua frente que folheava os papéis, entortou os lábios ao lembrar da moça do balcão.
“Desnecessário” Pensou ela torcendo para que a diretora largasse o que estava fazendo e fosse direto ao ponto. Fernanda se lembrava bem quando estudava neste ensino, até brigou com o Henrique sobre pôr a filha deles nesse lugar. A morena não odiava a escola, longe disso, mas a pessoa que era encarregada de cuidar essa sim Fernanda odiava. Na época, seu marido já estudava nesta instituição e foi aqui que o conheceu, sendo que a tia de Henrique não gostava dela.
Passou por várias coisas, entre elas o quase rompimento de seu relacionamento. Quando eles dois estavam no auge do namoro, Fernanda começou a trabalhar em uma lanchonete perto da escola, seu namorado aceitou de boa - pois ele sabia do temperamento dela. Três meses se passou, um homem de aparência estrangeira surgiu na lanchonete logo pedindo para ser atendido, foi aí que o problema começou.
No final de tudo, Henrique entendeu que ela era inocente mas sua tia afirmava que a Fernanda era só uma golpista. Ninguém sabia, mas a Montenegro tinha contratado o homem para fazer a cabeça da jovem e levá-la para a cama, para que então seu sobrinho a pegasse na cama com o outro. Henrique foi em busca do tal homem e não encontrou nada além das roupas que estavam intactas no guarda-roupa, já era estranho, sendo que dias depois, o jornal noticiou que o corpo do funcionário da empresa - que não foi citado - foi encontrado jogado em um córrego. A foto do desaparecido era o mesmo homem que perseguia Fernanda, ambos ficaram sem entender o que poderia ter levado aquele homem a morte, na opinião de Henrique era que eles estavam livres dele. Eles voltaram com tudo no namoro até que veio o pedido de casamento...
Os olhos dela varreram todo o local até pousarem na mulher a sua frente que ainda avaliava os papéis. Alguns minutos se passou, a sala da diretora em si que era totalmente escura com pouca luz que refletia da janela triangular e no meio do teto central a luminária totalmente enferrujada possuía a lâmpada incandescente, isso fazia aquele ambiente ser um pouco assustador. O calor que Fernanda sentia no lado de fora não era nada comparado para com aquela sala, parecia que o inferno já estava ali a muito tempo, pois a diretora estava com um pouco de suor na testa mesmo usando uma roupa quase idêntica ao exército. Fernanda já estava desconfortável mas o pior era sentir sua camisa encharcar um pouco por conta do suor e isso pareceu ter chamado a atenção da diretora que logo perguntou se ela estava bem.
Depois de uma resposta rápida e atrapalhada Fernanda tentou não transparecer seu incomodo mesmo falhando miseravelmente. Por mais alguns minutos que mas pareciam uma eternidade a diretora Montenegro deixou de lado os papéis e seu olhar analítico caiu sobre a jovem senhora que disfarçadamente engoliu a seco ao lembrar de sua infância nesta instituição.
― Sra. Soares... – Ao pronunciar o sobrenome de seu sobrinho, Montenegro espremeu um pouco os olhos e com uma onda vontade de querer vomitar continuou.― ...serei curta e direta.
Fernanda também se lembrou de como a diretora era bem no alvo. Esta estreitou um pouco seus olhos e se ajeitou na cadeira que por pouco ela não caiu, o seu suor era anormal, por culpa da sala de não ter nenhum ventilador ali.
― Prossiga Diretora Montenegro. – Juntou suas mãos sobre seu colo tentando se manter calma. Ela teve que umedecer seus lábios que estavam tão ressecados.
“Devia ter trazido uma garrafinha de água.” Lamentou-se Fernanda.
― Andressa atacou um de seus colegas de classe.
O ambiente estava silencioso demais, mas quem não reparasse na jovem senhora não escutaria atentamente a mente dela trabalhando. Ela estava tentando assimilar o que ouviu, seria que aquilo foi algo vindo de sua cabeça tentando pregar-lhe uma peça? Fernanda ficou confusa e se levantou de seu lugar, afastou-se da mesa da diretora. O calor podia está assando seu cérebro e afetado tudo, audição estava perfeita na avaliação de Fernanda, então ela podia está enganada?
― A senhora poderia repetir, por favor. – Pediu calmamente e com uma leve preocupação, pedia a Deus que a diretora tenha falado outra coisa.
― Sua filha atacou um de seus colegas. – Montenegro falava com um leve sorriso malicioso mas que fora desfeita com a mudança repentina da mãe de Andressa. ― Sra. Soares, sabe que eu não aceito o que sua filha fez em minha instituição. – A voz da diretora soou perversa, o que atraiu a atenção da Fernanda. As vezes a loira se perguntava como alguém como a diretora poderia ser daquele jeito, isso podia ser fruto da imaginação dela e que também poderia ser um meio para atingi-la.
― Isso não é verdade. – Ela se virou com ira para diretora que ainda se encontrava sentada. ― Tem que haver provas para essa acusação Diretora. – Fernanda já não estava tolerando as atitudes da outra mas ela tinha se controlar.
― Testemunhas, Sra. Soares. – Montenegro crispou seus lábios logo buscando uma folha que contia a suspensão de Andressa, sendo que ela se assustou com o baque das mãos da jovem senhora em sua mesa. ― Está fora de si!
― Testemunhas Diretora? Já parou para analisar que elas podem ser falsas? – Analisou a cara assustada da mulher e logo riu sarcástica. ― Ou a senhora inventou toda essa merda.
A Montenegro não disse nada então a loira continuou.
― Tudo isso é por causa de eu ter me casado com seu sobrinho? É isso? – Esbravejou enquanto revelou o provável. ― Quero que saiba de uma coisa Odete, eu não vou deixar você fazer mal a minha filha! Se quer falar alguma coisa, diga diretamente a mim. E para sua informação, eu não estou fora de mim. Estou muito bem, obrigada pela preocupação. – Desdenhou. Fernanda acabou saindo da sala onde viu as mesmas pessoas encarando-a surpresos, apenas assentiu para todos e saiu dali.
Quando a noite chegou na casa da família Soares, Andressa que brincava com suas bonecas no quarto acabou se levantando de seu lugar e guardando-as em seu baú se olhou no espelho. Ela se achava diferente das outras crianças, seus olhos que eram um mistério, o cabelo ondulado e o rosto bem acentuado parecia que fora esculpida por algum artista desconhecido, ela podia ter seus sete anos, mas, agia as vezes como adulta. Fernanda se preocupava com isso e fazia de tudo para que sua menina tivesse uma infância como qualquer outra.
Andressa se sentiu culpada pelo que aconteceu ontem, nem pode se explicar que logo a expulsaram para fora da sala. Abaixou seus olhos castanhos encarando seus pés. Mais uma vez era injustiçada por algo que não fez, não diretamente, agora cabia ela esperar o seu castigo sem pestanejar. Mas uma coisa não saia da cabeça da garota, alguns meses atrás, eventos desconhecidos vem ocorrendo em torno dela. Sobre o seu colega de classe ter sido brutalmente jogado contra a parede ontem, isso a intrigou mais ainda. No momento em que o garoto ogro começou a zombar dela pelo fato dela ser gordinha, por impulso ela desejou que o garoto ficasse longe dela.
“Será que foi isso?” Pensou ela sobre essa hipótese. Ouviu alguém bater a porta e sussurrou um ‘Entre’, a menina viu sua mãe através do espelho se aproximando e a abraçando por trás. Andressa se sentia confortável naquele abraço e não queria sair de jeito nenhum.
― Oh, minha menina. Está tudo bem? – Perguntou Fernanda olhando para Andressa através do espelho e percebeu que os olhos da garotinha tristeza. ― Não fica assim, Andy.
― Como mamãe? Todos me odeiam, me criticam sempre pela minha forma de ser. Talvez Fani tenha razão…
― Fani? O que ela te disse?
Sentiu a garotinha se encolher contra seu corpo, Andressa desviou seus olhos para algum lugar que não fosse o de sua mãe. Estefânia ou Fani, era a babá que cuida da garotinha quando Henrique e ela não estão em casa. Fernanda estreitou seus olhos e se ajoelhou logo virando a garotinha para si.
― O que ela lhe disse filha? Seja sincera com a mamãe.
― Não… Não é nada.. demais… – A voz da menina saiu um pouco embargada, a todo custo tentou segurar o choro.
― Então olhe para mim e diga que não é nada demais.
Demorou alguns minutos e nada, ela sabia que a garotinha ainda tinha seus receios, medos, compreendeu Andressa. Voltou a ficar de pé e se afastou da garotinha que agora tem seus quase oito anos, ela caminhou até o banheiro da menina. Andressa que estava em seu transe olhou em volta vendo que estava sozinha deixou-se chorar.
― Ninguém nunca me amaria.. mesmo eu sendo desse jeito. – Pois suas mãozinhas no rosto para se esconder de tudo. Não gostava quando alguém a visse chorar, parecia que estava mostrando a pessoa a sua fraqueza. Andressa se perguntava e afirmava que ela era culpada pelo abandono de seus familiares, não restava dúvida para suas perguntas, ela nunca seria amada ou aceita.
Ouviu passos ligeiros e um abraço a rodeando logo apertando, uma mão lhe acariciava os cabelos e lábios no topo de sua testa. A voz de sua mãe saiu como um sussurro.
― Não pense nisso minha filha..
Silêncio.
― Mesmo que o mundo diga o contrário, eu te amo. Mesmo que nos separem, eu te amarei. Mesmo que um dia eu parta, eu te amarei. Sorria bela flor, você pode tudo. – Sussurrava Fernanda uma canção. ― Sorria bela flor, você me tem. Saiba que eu te amo. Saiba que estou e sempre estarei contigo. Minha flor indomável, doce és e ninguém poderá mudar isso. Mesmo que o mundo diga o contrário, eu te amo. Mesmo que nos separem, eu te amarei. Mesmo que um dia eu parta, eu te amarei. Sorria bela flor, você pode tudo. Sorria bela flor, você Andressa, você me tem.
Andressa estava calma, ouviu a canção com tanta atenção que as lágrimas cessaram. Se afastou lentamente e olhou para aqueles olhos verdes de sua mãe, por alguns segundos se tornou azuis logo voltando a sua cor esverdeado. Ela não entendeu bem o que aconteceu, pois a mulher que estava a sua frente estreitou levemente a testa em sinal de preocupação e sussurrou:
― Nunca pense ou diga isso.. Eu e seu pai amamos muito você. – Fernanda acariciou as bochechas de Andressa carinhosamente. ― Minha princesa, você foi o nosso presente, só de pensar em não ter você ao meu lado, já entro em agonia.
A garotinha piscou várias vezes tentando formular uma frase. ― Então a senhora… – A ficha da menina caiu e um sorriso largo se abriu. Fernanda ficou confusa mas acabou sorrindo feito boba, foi surpreendida pelo abraço caloroso de Andressa. ― Eu te amo, mamãe.
Fernanda arregalou os seus olhos em surpresa ainda sendo abraçada. Seu coração se aqueceu e lágrimas desciam. Primeira vez em quase quatro anos Andressa demonstrou o que queria dizer em palavras para sua mãe. Este momento estaria registrado na mente das duas, ou melhor três.
Henrique que estava achando estranho a demora de suas duas mulheres, caminhou até o andar de cima. Foi no quarto deles dois e nada, quando chegou perto do quarto de sua filha ele ficou encantado com o que via. A cena em que mãe e filha estão se abraçando fizeram o homem de vinte e seis anos chorar, as duas quando viram Henrique entrando no cômodo começaram a rir, o abraço coletivo rendeu vários sorrisos ao longo da noite.
A porta do quarto estava aberta, e no lado de fora do cômodo um casal de vestes brancas os olhavam emocionados. Um deles segurava um bebê que estava curioso com a cena mas riu por conta das risadas que eram ouvidas, a mulher olhou para seu marido com lágrimas nos olhos.
― Devemos ir, Karoline. – Disse Edward desviando seus olhos da cena para Judy que se aproximava.
― Ela vai ficar bem, minha filha. – Ela pegou seu neto no colo e olhou de relance para Andressa. ― Está em boas mãos.
― Eu sei.. Só que..
― Ouça sua mãe querida..
Karoline olhou para o marido e depois para sua mãe que assentiu levemente.
― Tudo bem..
― Mam...má. – O bebê que estava no colo de Judy chamou por Karoline. Ela o pegou no colo e beijou na testa dele. Apenas em troca de olhar eles entenderam.
― Mesmo que um dia eu parta, eu te amarei minha filha. – E assim partiram para o outro mundo semelhante aquele.
Naquela mesma noite em sonhos, o mago recebeu a visita de seus entes queridos antes de partirem de vez para o mundo dos mortos. Pai e filha se abraçaram, avô e neto brincaram. Karoline contou um pouco onde esteve ao seu pai, ele sabia que ela não poderia dizer muito então apenas aproveitou o momento juntos e conversavam coisas aleatórias, mesmo que uma delas fosse sobre como derrotariam o mal que tem por nome Voldemort.
― Devemos ir agora papai. – Disse Karoline dando um meio sorriso.
O mago entendeu, e nos últimos minutos fora só despedidas. Judy sabia que seu amigo sentiria falta então ela o chamou e deu-lhe um abraço apertado e sussurrando “Não foque muito em Você-Sabe-Quem e em nós, como diretor, foque em criar novos bruxos, como Karoline, Edward, todos. Não se isole, Albus.” Advertiu ela.
O cenário em que estavam era na estação King’s Cross, o mago olhou em sua volta. Karoline teve uma leve nostalgia e sorriu, quando o trem chegou anunciando que em três minutos partiria eles se ajeitaram. Judy acenou para seu melhor amigo e que também fora marido e pai de sua filha. Embarcando eles no trem, o mago sentiu uma pressão forte sobre seu corpo - espírito. O último acenar de sua filha, genro, esposa e o sorriso genuíno de seu neto antes de sumirem, foi o que ele viu antes de acordar de manhã e sorrir.
“Sabe, você foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida Sebastian.” – Acariciou levemente a bochecha de seu amado e com sorriso no rosto deu-lhe um beijo apaixonado. Ele a virou, ficando por cima suas mãos que pareciam brasas de fogo passeava pelo corpo nu da jovem que se arrepiava. Se olharam nos olhos um pouco ofegantes por conta do beijo.
“Eu amo você, Andressa. Nunca esqueça disso.” – Sebastian dizia isso com o todo coração.
“Então é recíproco.” – Sentiu os lábios de seu amado roçar em sua boca e depois descer para o pescoço desnudo. A mão dele que estava em deslizando em suas coxas foi de encontro a sua buceta encharcada, ela soltou um gemido abafado quando podia senti-lo encaixar um dedo, depois o segundo fazendo movimentos que a faziam delirar.
“Sebastian..” – Gemeu o nome de seu amado.
“Diga” – A voz penetrante atravessou a consciência da jovem. Ele parou de mover os dedos e olhou para as feições de Andressa.
Os olhos que se abriam lentamente foram direcionados para os ônix que a olhavam intensamente. ― “Obrigada por existir.” – Ela lhe deu um sorriso que na opinião de Sebastian, eram os mais belos que ele já viu.
“Eu digo o mesmo a você, minha pequena.”
“Eu amo você.” – Disseram juntos em amor - em uníssono.
Autor(a): AnaSilva_
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