Fanfics Brasil - I - O Lago Verdade Sinnoh - Além dos Mitos

Fanfic: Sinnoh - Além dos Mitos | Tema: Pokémon


Capítulo: I - O Lago Verdade

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O Lago Verdade


 


DAWN FARRAN


 


CIDADES PEQUENAS TINHAM SUAS DESVANTAGENS ÀS VEZES. E isso era fato quando se tratava da pequena Twinleaf, uma cidadezinha de nada no sudoeste da vasta região de Sinnoh onde geralmente nada acontecia. Twinleaf era apenas um brotinho em comparação às grandes cidades de Sinnoh com a agitada capital de Jubilife ou Veilstone com suas luzes coloridas e vida noturna ativa. Twinleaf era um brotinho de nada e era nessa cidade composta majoritariamente de colinas, estradas de terra e casinhas singelas como a que Dawn vivia.


Bem, ela não viveu a vida toda em Twinleaf, ela havia nascido em Canalave, mas parecia que ela estava ali na cidadezinha há séculos onde a coisa mais interessante era o lago mais ao norte e a neve que caía. Crescer em Twinleaf era o equivalente de viver num tédio eterno.


— Até quando a senhorita vai ficar aí deitada? — perguntou sua mãe, que estava na porta do quarto da garota, olhando a filha que parecia entediada encarando o teto como se esperasse um milagre acontecer — Esse quarto está uma bagunça, quando foi a última vez que arrumou?


— Sei lá, mãe — respondeu, sem ânimo algum — Acho que quando o Theo foi para a universidade.


Era verdade, Dawn não tinha limpado o quarto desde que o irmão passara no vestibular e fora para a universidade de Veilstone no começo daquele mês de junho, seu quarto estava uma zona total como se um Skuntank tivesse brigado com um Purugly. Haviam roupas sujas pelo chão, coisas da escola espalhadas pela escrivaninha, seu notebook empoeirado junto de seu Nintendo Switch que estava fora do docking. O quarto de Dawn precisaria mais que uma vassoura, ele precisava de uma faxina completa e isso levaria horas.


— Você não limpa seu quarto desde o começo do mês? — disse Johanna abismada, com as mãos na cintura — Meu Arceus sagrado, Dawn, quando eu morrer eu não sei como você vai se virar. Levanta dessa cama agora e vai arrumar esse quarto, menina!


E Dawn com certa relutância levantou-se aos resmungos.


— Quero esse quarto limpo em uma hora, entendido? — disse Johanna que deixou uma vassoura no quarto da filha e saiu.


Dawn suspirou e olhou para o teto em busca de respostas e com mais preguiça que um Munchlax ela foi e pegou a vassoura e pensou por onde começar. Olhou para o quarto e ficou procurando um ponto por onde começar até pisar numa velha camiseta que estava no chão a semanas e que precisava urgentemente ser lavada. Ela começaria pela roupa suja.


A garota de cabelos escuros pegou peça por peça, indo de camisas e saias a roupas íntimas que ela jurava que tinha colocado para lavar e juntou tudo numa pilha e levou para a lavanderia, separando as peças de cor das peças brancas e colocando na máquina para lavar. Enquanto a roupa lavava ela retornou ao quarto e começou a organizar as coisas da escola, ela estava de férias então muitos papéis iriam para o lixo e seus livros iriam para a estante.


Havia provas antigas, apostilas com textos chatos que ela não usaria de novo, bilhetes de amor de meninos, a maioria de Liam Wadsworth e de Kenny Roberts, dois garotos de sua classe. Havia também coisas de seu irmão ali, como um boné que ele esquecera e um cachecol branco, ela esperava que ele não estivesse passando frio em Veilstone. Sinnoh era uma região fria até mesmo no verão, quando nevava pouco à noite e às vezes chovia no fim da tarde.


Depois de arrumar sua escrivaninha, desempoeirar seu notebook e colocar o Nintendo Switch em seu devido lugar e arrumar a cama, a menina se pôs a varrer o quarto, tirar a poeira e abrir a janela permitindo que a luz do sol entrasse. Talvez ela precisasse daquilo, de algo para se distrair, as férias de verão estavam sendo muito monótonas.


Varrendo seu quarto ela havia encontrado a velha touca branca com a estampa rosa de Pokébola ao pé de seu guarda-roupa, ela deu uma batidinha tirando o pó e pôs a touca, ela ainda servia, talvez ela devesse voltar a usá-la.


Ainda na sua arrumação ela encontrou mais coisas, como sua caixa de tesouros, uma caixa de sapatos onde guardava coisas importantes. Ela pegou a caixa e sentou-se na cama, a vassoura apoiada na parede e abriu-a. Dentro havia tanta coisa das quais ela sequer lembrava: havia presilhas antigas, cartões postais dos avós, havia uma Dusk Stone que ganhara de seu pai, havia fotos dela quando criança com Theo e os pais, memórias de sua infância. Havia fotos de Barry, seu melhor amigo, e dela também, era nostálgico ver aquilo tudo.


— Dawn, já terminou? — disse Johanna que havia aparecido na porta do quarto, a Glameow da mãe ronronando passando por entre suas pernas — O que está fazendo?


— Hã, nada… — disse Dawn — Só mexendo em algumas coisas que encontrei. Eu não lembrava que o pai tinha um colar desses.


— Colar? — indagou Johanna que se aproximou da filha que pegou uma foto antiga.


Na foto estava o pai de Dawn, Magnus Farran, com os cabelos pretos caindo sobre a testa em uma franja irregular. Ele usava uma camisa de botões branca e jeans e no pescoço havia uma correntinha de ouro cujo pingente, também em ouro, era uma cruz em X com um círculo no centro. Na foto, o pai de Dawn carregava a filha nos ombros e estava abraçado à esposa, era possível ver Theo de mãos dadas à mãe, tinha sido uma foto tirada quando ainda moravam em Canalave e o pai trabalhava nas minas na Iron Island.


— Eu não me lembrava disso — disse a mãe com a mão no queixo — Não deve ser importante, minha filha. Vejo que está tudo arrumado, bem, não tudo, mas pode ir eu termino de arrumar.


E Dawn pegou a caixa de tesouros e saiu de seu quarto em direção à sala de estar onde sentou-se no sofá e continuou a mexer nos itens dentro da caixa de sapatos. Ela havia encontrado desenhos de quando criança feitos a giz de cera. Ela também havia encontrado alguns trocados e uma nota amassada, em meio ao seu devaneio ela percebeu o som de uma notificação em seu telefone. Era uma notificação de Barry, na verdade não uma, mas mais de vinte, e três chamadas perdidas, ele estava impaciente.


Ela desbloqueou o celular e começou a ler as mensagens, pareciam não ter fim. Com nenhuma vontade de ler todas, ela apenas digitou algo e enviou para o melhor amigo.


Qq foi? - 14:22


E impacientemente esperou pela resposta de Barry que segundos depois estava digitando a resposta à pergunta de Dawn.


Qq foi o krlh me responde direito ou te multo - 14:23


Eu to na porta da sua casa, abre logo aí - 14:23


Era sério aquilo? A menina revirou os olhos e encarou as vigas do teto e direcionou-se à porta e viu Barry sentado na varanda impaciente. Seus cabelos loiros bagunçados como sempre e os olhos laranja como dois quartzos citrinos, ele usava um cachecol verde no pescoço apesar de não estar fazendo tanto frio assim e uma blusa de manga curta listrada de branco e laranja, uma padrão que lhe caía bem junto da calça jeans cinza, só os sapatos que não combinavam em nada e parecia do tipo que o avô de Dawn usaria.


— Até que enfim, caralho — disse Barry, seu tom de voz grave como sempre, ele levantou-se e foi em direção à entrada da casa e tirou seus sapatos horríveis e entrou na casa de Dawn como se fosse dele — Eu tô aqui há VINTE MINUTOS. Tem noção de quantas mensagens te mandei? Eu cheguei até te ligar, Deedee!


— Sabe que meu celular tá no silencioso desde que eu comprei, não é? — isso era verdade, Dawn sempre deixava o aparelho no silencioso e por conta disso já tinha ficado sem atender diversas ligações importantes, sejam da sua mãe, de Barry ou parentes — E você simplesmente poderia ter chamado, sua casa é literalmente do lado, inferno!


— Não estava afim de te gritar — disse ele — E o que estava fazendo até agora que não pode nem pegar o celular?


— Tive de faxinar meu quarto — disse a garota — Achei uma caixa velha com algumas coisas e…


— CHA-TO! — ralhou Barry desinteressado — Mas eu queria saber se você viu a tevê hoje.


— Não assisto televisão — disse Dawn — Mas o que tem ela?


— Hoje de manhã tava passando uma reportagem e tals e tinha essa em Johto onde um puta dum Gyarados vermelho foi avistado num lago — disse Barry — Tipo vermelho mesmo, vermelhaço igual uma cereja.


— Ah, é isso? — Dawn revirou os olhos — O que você tem em mente?


— Sei lá, tipo, já vimos Gyarados no Lago Verdade e se a gente tentasse encontrar um lá? — sugeriu o loiro e Dawn sabia onde isso ia dar.


— E se a gente cutucasse um ninho de Combee — remendou Dawn imitando a voz de Barry — E se a gente matar aula na pracinha. E se a gente colar na prova de história. Cara isso vai dar MER-DA, sempre dá merda.


— Mas dessa vez não vai dar — disse ele sentando-se no sofá — Eu tenho um plano infalível e ele vai dar certo se não eu não me chamo Barry Cedric Henderson.


 Vai dar merda — repetiu Dawn — Mas né, eu tenho que estar lá e dizer “eu te avisei”. Como sempre, eu serei a voz da razão.


— Aposto um milhão que não vai — disse Barry.


— Vai perder dinheiro que não tem — disse ela — Manhê, vou sair com o Barry, tá bom? — gritou a morena da sala de estar.


— Onde vocês vão? — gritou a mãe de volta do andar de cima, a voz abafada.


— Ao Lago! — disse em resposta.


— Evitem o mato alto! — disse Johanna — E voltem antes das seis!


— Tá bom! — gritou para a mãe que estava em outro cômodo.


Dawn e Barry então saíram, calçando os sapatos. Dawn pegou sua bicicleta e subiu nela, a de Barry estava na entrada da casa dele, vizinha à da menina, na mesma rua de terra batida. E assim, ambos em suas bicicletas, foram pedalando rumo a norte pela estrada de terra batida passando pelas trilhas de coníferas que levavam ao grande lago que estendia-se como grande espelho d’água na paisagem.


O Lago Verdade estava cercado por uma névoa, mesmo àquela hora da tarde quando o sol já estava altivo no céu e mesmo com aquele sol de verão a temperatura máxima daquele dia era de 25ºC, não ficaria mais quente que aquilo.


A morena e o loiro deixaram a bicicleta perto de uma grande sorveira e foram até a margem plácida do lago onde era possível ver uma represa de Bidoof e uma família de Psyduck nadando despreocupados. Estava tudo calmo, até mesmo o vento parecia calmo. O local era bom para vir aos fins de semana e fazer um piquenique ou simplesmente para nadar, mas a menina não havia trago maiô nem nada, ela só estava ali para servir como um “eu te avisei” ambulante para as ideias sem pé nem cabeça de Barry e seus planos cem por cento falíveis.


— Tá e agora, Cabeção, como vamos fazer para achar o Gyarados vermelho? — perguntou Dawn, de braços dados.


— A gente vai entrar na água e…


— Com que roupa de banho, Cabeção? — perguntou ela — Vai entrar nessa água gelada dos infernos de cueca boxer?


— Eu não pensei nisso…


— E com que Pokébola, Bartholomew? — disse de novo — Ela vai cair do céu? E vai cair também um maiô pra mim também? Que tal cair do céu um milhão para você pagar o que apostou?


Antes que Dawn pudesse fazer mais uma pergunta, uma Dusk Ball caiu à sua frente e dela saiu um Duskull que flutuou à frente deles. O fantasma ciclope assustou Dawn que deu dois passos para trás, ela tinha certo pavor de Pokémon dessa tipagem.


Logo atrás uma mulher em seus trinta e poucos com cabelos negros como a penagem de um Murkrow e usando uma camisa branca e uma saia cinza com sandálias veio caminhando. Ela tinha um ar sereno e em seu pescoço havia o mesmo colar de ouro que seu pai usava na fotografia: uma cruz em X com arcos concêntricos que se encontravam em um círculo no centro.


Estranho, pensou Dawn. Mas deve ser uma coincidência.


— Perdão assustá-los — disse a mulher, sua voz era calma — Eu não os vi aí, eu estou pesquisando o Lago Verdade e preciso da ajuda do meu Duskull, sou uma mitologista e folclorista da universidade de Veilstone, prazer, Dra. Miranda Hepburn.


— Sem problemas, tia — disse Barry — A gente também tá pesquisando. Estamos procurando um Gyarados vermelho.


— Não estamos não — disse Dawn — O bonitão ali fez um plano infalível e adivinha, ele falhou!


A mulher riu.


— Vocês jovens, viu — comenta ela — Eu de fato vi algo sobre um Gyarados Vermelho na tevê, mas acho que não encontrará um aqui no Lago Verdade, é como encontrar um arco-íris duplo ou uma nota de duzentos na calçada.


— Eu prefiro o duzentão — disse Barry e a doutora riu.


— Eu também — disse ela — Mas e aí como fariam para pegar um Gyarados desses se o vissem? Vocês têm algum Pokémon?


— Er… não — disse Barry admitindo finalmente que seu plano era falível.


— E por quê vocês não têm Pokémon? Já parecem ter idade o suficiente para uma licença de treinador e estar em jornada.


Dawn nunca pensou nisso, ela até queria sair em jornada, mas preguiçosa como era ela nunca pensava em sair de casa e desbravar o mundo, só a ideia de acampar no mato lhe fazia bocejar e querer voltar para casa. Barry, por outro lado, sempre tentava puxar Dawn para uma jornada, ele sim desejava sair por aí e bem, tinha o fato da mãe de Dawn, Johanna, sempre querer que a filha seguisse os passos dela e ser uma top coordenadora, coisa que não atraia em nada a menina. Ela gostava de batalhas e tinha uma certa admiração pela campeã Cynthia, uma mulher que se destacou na Conferência de Lírio do Vale seis anos atrás, tornando-se campeã e uma das treinadoras mais poderosas do mundo reconhecida internacionalmente.


— Sei lá — disse Dawn em resposta — Onde é que eu iria arranjar um Pokémon? Minha mãe nunca deixaria eu levar o Glameow dela.


— E a minha já surta só por eu ficar fora de casa por muito tempo — disse o loiro.


— Bem, sempre há o Professor Rowan em Sandgem — comentou Miranda — Podem conversar com ele e pegar seus iniciais e iniciar oficialmente uma jornada. A maioria dos treinadores faz assim.


Poderia Dawn fazer o mesmo? Parecia uma boa ideia, ao menos em sua mente. Sua mãe gostaria que ela seguisse em jornada e se ela conversasse bem a respeito não precisaria seguir os passos de coordenadora dela, Dawn poderia trilhar o próprio caminho.


— Eu tive uma ideia — disse Dawn — Mas eu tô com preguiça de voltar para casa agora. Barry, acho que a gente pode de vez sair em jornada.


— Puta que pariu, até que enfim! — comemorou Barry e a cientista riu.


— Vocês são um casal estranho — disse a mulher e dessa vez Dawn riu.


— Eu e ele? Nunca! Nunquinha — ela gargalhou, a ideia dela e de Barry serem um casal era muito estranha, justo eles que foram criados quase como irmãos a vida toda — No dia que eu e ele formos algo Arceus em pessoa vai descer do Salão da Origem.


— Pô, não me fere assim não, Deedee — disse Barry — Eu sei que sou gostoso, mas não é pra menos, tem uma fila enorme de meninas que caíram nos meus encantos.


— A Lucy do intercâmbio não valeu — comentou Dawn — Foi só um beijinho na bochecha e foi no Fundamental II só por você ter pego o cachecol dela que ficou preso em uma árvore.


— Ah, qualé!


Miranda riu.


— Bem, se não vão embora agora, que tal me ajudarem? — sugeriu Miranda — Estou pesquisando sobre Mesprit, um lendário Pokémon que vive neste lago, dizem que ele tem uma certa ligação com a criação, é parte da minha tese de pesquisa.


— Isso é interessante — disse Dawn — Pode deixar que a gente te ajuda então, doutora.


— O que a gente faz?


— Bem, pelas minhas anotações eu sei que há uma caverna subaquática no lago — disse ela coçando o queixo, seu Duskull circulando-a, aquela porcaria monocular ainda dava arrepios em Dawn — Mas preciso investigar mais apropriadamente e preciso conversar com os habitantes locais sobre Mesprit, entrevistá-los e começando por vocês. Vocês são daqui, certo?


Os dois acenaram com a cabeça.


Miranda então tirou um gravador do bolso de sua saia e apertou o botão para gravar.


— Por favor digam seus nomes completos e idade, por favor — disse a doutora apontando o gravador para eles.


— Hã, oi, meu nome é Dawn Alyssa Farran, tenho quinze anos e sou nativa daqui de Twinleaf, embora eu tenha nascido em Canalave — disse a menina.


— E eu sou Bartholomew Cedric Henderson, tenho quinze também e sou daqui de Twinleaf — disse para o gravador que logo voltou para Miranda.


— E o que sabem sobre o lendário Mesprit, meus jovens? — perguntou novamente.


— Bem, minha mãe sempre me disse que se você tocar em Mesprit você perde todas suas emoções — disse Barry — E que ele só aparece para alguém com um bom coração ou algo assim, não me lembro.


— Interessante, anotar isso depois — disse para si mesma — E você, senhorita, o que sabe?


— Não muito, sinceramente — disse Dawn — Mas sei que ele dorme no fundo do Lago Verdade e que o lago tem esse nome porque acreditavam que devemos ser verdadeiros conosco e só assim Mesprit vai aparecer, mas sabe como é, é só uma lenda local.


— Bem, isso já me serve — disse Miranda desligando o gravador — Vocês já me ajudaram muito, mas agora tenho mais o que analisar. Hasta la vista.


Dawn acenou e Barry disse um tchau semi-inaudível.


— Mulher estranha… — comentou Barry.


— E bota estranha nisso — complementou Dawn.


Os dois se entreolharam e Dawn olhou o lago, as águas plácidas e calmas, não haveria Gyarados nenhum ali, muito menos um vermelho. Ela e Barry deveriam ir logo para casa antes que começasse a ficar mais frio, Dawn tocou o pescoço nu, ela deveria ter pego ao menos o cachecol branco de seu irmão, ao menos isso a manteria aquecida diante do frio vento que soprava entre os galhos.


A garota de cabelos escuros ajustou a touca na cabeça e caminhou até a bicicleta e pegou-se pensando sobre ser ou não uma treinadora.


— Barry — disse ela — Sobre a jornada… Eu acho que vou contar hoje para minha mãe que eu quero ser uma treinadora. Acho que já é hora e quanto a você?


— Nossa, Deedee, eu não sei — disse Barry receoso — Minha mãe ainda tá se recuperando desde que meu pai deixou a gente e arruinou tudo. Eu quero sair em jornada, mas eu tenho medo de magoar ela…


Dawn tocou a mão de Barry e sorriu, olhando nos olhos laranja-âmbar do garoto.


— Estou aqui por você, saiba disso — disse a menina — Somos melhores amigos e amigos ajudam os outros.


— Sim… é para isso que que amigos servem — Barry sorriu.


— Agora vamos subir nessa magrela e pedalar até Twinleaf antes que eu vire picolé sabor Dawn — disse a menina pegando a bicicleta debaixo da grande sorveira e Barry fazendo o mesmo — Que tal apostar corrida? O primeiro a chegar em Twinleaf paga o sorvete do outro!


— Não vale, eu tô sem grana! — disse Barry montando em sua bicicleta e indo atrás de Dawn pela estrada de terra batida.


Dawn pedalava pela relva baixa e terra passando pela mesma trilha que vieram quando chegaram. As colinas e barrancos pela estrada de terra não eram desafios, muito menos as árvores altas, pedalando por entre as coníferas altas como uma torre de transmissão. Twinleaf era visível no horizonte, as casas e chaminés, as colinas verdes e os Starly sobrevoando.


A menina tomava a dianteira, as pernas já ardendo de tanto pedalar. Ela ofegava, mas não havia nenhum sinal de Barry, será que algo havia acontecido com o loiro? Ela virou então para trás e viu o melhor amigo pedalando com alguma dificuldade.


— Dá pra ir ou tá difícil? — provocou ela.


— Não é você que tá com as coxas e a virilha ardendo de pedalar do Lago até aqui! — gritou Barry, de longe — Só me pede o sabor do sorvete e eu pago, não precisava disso tudo.


— Gosto de te provocar — disse Dawn sorrindo — E eu quero de matcha, com licença.


E ela voltou a pedalar descendo pelas colinas e cortando pela grama enquanto Barry protestava ao longe conforme ela via as casas de Twinleaf e o céu acima tomar um tom pêssego, deveriam ser cinco da tarde. Dawn apressou, estava ofegante e suava como um Croagunk, mas só parou quando viu a mãe perto da cerca conversando com Lydia, a mãe de Barry.


A mãe de Barry tinha cabelos castanhos curtos e cacheados e um rosto com traços finos como seu nariz de botão e lábios finos e rosados e nas orelhas um par de brincos de pérola. Lydia Henderson usava um vestido vermelho de bolinhas com um avental branco e tamancos brancos, ela parecia ter saído de uma sitcom dos anos 1950 em que ela fingia ter a família perfeita de comercial de margarina e não estar passando por um divórcio complicado. Dawn tinha dó da mãe de Barry.


— Oi dona Lydia — cumprimentou Dawn que havia desmontado da bicicleta e empurrando-a.


— Oi Dawn — disse ela, sua voz suave — Barry não está com você?


— Ah, ele está lá atrás — apontou Dawn para um Barry que empurrava a bicicleta, ofegante e suado que virava a esquina..


— Arceus e suas Plates, você vai direto para o banho, mocinho! — disse num tom autoritário, embora o termo “mocinho” não se aplicasse tanto a Barry assim, já que bem, ele era um adolescente de quinze anos, quase dezesseis, e era bastante alto para a idade e bem, quando sua mãe o chamava assim fazia ele parecer uma criança de oito anos de idade birrenta.


— Tá mãe — disse ofegante — Mas eu posso conversar com você antes?


— Eu também queria conversar com você, mãe — disse Dawn coçando a nuca chamando a atenção de Johanna.


— Vocês fizeram alguma coisa no Lago Verdade? — questionou Johanna — Não cutucaram um ninho de Combee, né? Por que eu acho que não tenho bálsamo para picadas de inseto mais.


— Não, mãe! Relaxa, não cutucamos em ninho de Combee nenhuma — disse Dawn — Eu já queria falar isso, eu quero sair em uma jornada e já estava querendo isso há um tempo, mas…


— Estava com preguiça? — riu Johanna — Eu esperava isso de você, querida, mas tranquilo, sempre chega uma hora em que o filho deixa o ninho, não é Lydia?


Lydia olhou estranho para Dawn e depois para o filho e cruzou os braços, seu rosto antes alegre tinha ganhado uma expressão de fúria. Se um Garchomp voraz ou um Hippowdon vissem a mãe de Barry agora eles com certeza fugiriam de medo da mulher e direto para suas tocas.


— E você, Bartholomew, você quer sair numa jornada também? — o tom de voz da mãe de Barry era sério e ele tinha recuado três passos para trás como se o olhar da sua mãe fosse transformá-lo numa estátua de calcário.


Ele acenou com a cabeça que sim. Ele não encarava os olhos âmbar da mãe, parecia estar com medo.


— Por Arceus, quero uma conversa com você em casa sobre isso, rapazinho! — ela puxou o braço de Barry que derrubou a bicicleta no chão, sendo puxado como uma criança que fez pirraça num corredor de supermercado porque a mãe não comprara o doce que ela queria — Meu Santo Arceus não posso acreditar que você quer seguir o mesmo caminho daquele homem.


E assim Barry, sem protestar, foi puxado pela mãe até a sua casa enquanto Dawn e Johanna só assistiram dali da cerca. O silêncio reinou ali por alguns instantes até Johanna pedir para Dawn colocar ambas as bicicletas no jardim e entrar. Entrando, Johanna preparou duas xícaras de chá e servira à filha e as duas sentaram-se no sofá. Glameow deitara no colo da garota e ronronara.


— Espero que Lydia e Barry conversem — disse Johanna com uma mão posicionada sobre o peito.


— Também espero — disse Dawn — Eu quero ir nessa jornada com Barry, sempre foi uma coisa dele e ele que me incentivou a querer isso embora eu seja, você sabe, preguiçosa, mas acho que hoje foi o pontapé inicial.


— Bem, eu sempre esperei que você ou seu irmão saíssem em jornada — disse Johanna — E eu não ligo se você for ou não coordenadora, filhos não são o espelho dos pais. Sua avó, por exemplo, não apoiava minha jornada e meu sonho de querer ser top coordenadora e o que eu fiz? Bem, eu simplesmente saí de casa e só voltei quando ganhei a Taça da Fita.


— Você fugiu de casa? Uau! — disse boquiaberta, ela nunca imaginava sua mãe assim desse jeito, selvagem e que quebrava as regras.


— Eu confesso que foi uma péssima ideia — disse Johanna após um gole de chá — Mas se não fosse isso eu nem teria conhecido seu pai e muito menos teria você ou seu irmão. Engravidar na adolescência foi algo arriscado, mas confesso que quando Theo nasceu eu vi que eu, ele e seu pai seríamos uma família feliz.


Dawn sorriu,


— Mas por favor, não engravide na sua jornada, okay? — suplicou Johanna — Sei que você vai fazer dezesseis anos em alguns meses, mas por favor, Dawn toma juízo, ouviu?


— Tá bom mãe! — riu Dawn — Eu tive aulas de educação sexual e não foi à toa.


— Que bom que é esperta — disse Johanna — Mas agora, me fale, vai ser treinadora ou coordenadora?


— Treinadora, igual Cynthia — disse Dawn, ela realmente admirava a atual campeã de Sinnoh, assim como todo mundo da sua idade.


— Fantástico, eu quero estar nos primeiros assentos para quando você desafiar a liga! — disse Johanna feliz — Aliás, por quê você não vai amanhã ao Professor Rowan em Sandgem? Sempre é bom ter um Pokémon com o qual começar a jornada e acho que pegando um inicial com o professor é o melhor jeito, não acha?


Dawn acenou com a cabeça que sim.


— Sou suspeita a dizer que eu já tinha intenções de ir mesmo assim — riu ela — Mas pode deixar eu vou sim, mas no momento eu quero é tomar um banho e comer algo.


— Irei preparar o jantar, o que acha de jingisukan? — sugeriu a mãe — E podemos arrumar sua mochila depois também e quem sabe…


— Tá bom, mãe, calma — disse Dawn levantando-se do sofá — Sou eu quem vai sair em jornada, mas toda a ajuda é bem-vinda, enfim eu vou tomar um banho.


Ela então subiu as escadas e pegou o celular e mandou uma mensagem para o melhor amigo antes de ir para o banheiro e tomar o merecido banho. Ela temia que a mãe não deixasse-o ir em jornada ou que ele acabasse fazendo algo inconsequente e fugisse de casa.


Barry, cê tá bem né? - 17h52


Me responde assim q possível - 17h52


E assim a morena foi direto para o banheiro tomar seu banho, amanhã era um dia grande. O dia em que começaria sua jornada pela região de Sinnoh e se Arceus quisesse seria ao lado de seu melhor amigo se não houvesse nenhuma complicação.



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Autor(a): koscheii

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 5



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  • chander Postado em 23/02/2021 - 23:26:40

    Conclusão: Acho que é preciso tomar cuidado com a prolixia. Ser prolixo não é caracteristica, estilo ou "meu jeito". É muito melhor continuar e ter poucas palavras, do que correr o risco de ser chato. Eu achei esse prólogo, mil anos luz de superior, ao prólogo de Neo Johto. Preste atenção. Eu acho você um escritor incrível. Acho que seu calcanhar de Aquiles não é ortografia, não é roteiro, não é conteúdo, é #manejo . Se você manejar um bloco errado, você cai do precipício e se perde. Continua com essa essência, essa simplicidade, essa naturalidade. Acho que é essa a palavra. #NATURALIDADE que tudo vai correr bem e vai ficar leve. Nem senti a quantidade de palavras. Por que foi fluido. Excelente trabalho. Nem mecere Palmas e sim, Tocantins inteiro ^^

    • koscheii Postado em 27/02/2021 - 20:42:52

      Cara, eu nem sei por onde começar a te responder, foi um comentário gigantesco e dividido em quatro partes e uau, é bem chocante isso, sabe, não estou tão acostumado à plataforma, mas sabendo que tenho seu feedback aqui. Que bom que gostou do primeiro capítulo e dos personagens e da situação, quero te ver mais aqui ao longo da fanfic e dos capítulos que virão, amo como você é analítico e isso é tão importante quanto. Espero te ver nos próximos caps com esses comentários gigantescos divididos em 60 partes kk

  • chander Postado em 23/02/2021 - 23:22:25

    eNTÃO vem o bloco 3. Onde percebemos um nó. Um drama familiar e eu adorei. Mais um ponto de tensão que pode ser trabalhado a perder de vista. É muito interessante você dar 2 pontos de vistas e como duas famílias que podemos dizer que possuem a mesma cultura, mesma vida, pensam tão diferentes. É legal ver também que você quebra um pouco o velho prólogo de pokémon, nos dando uma protagonista não muito interessada, que não sofre de TDAH e "tantos fazes, como tanto fezes". Acho que isso é uma libertação. E parabéns por seguir em frente e lutar contra a maré. O barry que é bem barry, mas acho que ele é um personagem que funciona assim. Vê-lo diferente pra mim, seria uma violação ou um crime inafiançável, sabe? Me deixou curioso. Aquele gostinho de quero mais, onde você captura a atenção do leitor. E não é nada fácil, fazer isso comigo.

  • chander Postado em 23/02/2021 - 23:17:47

    E tem coisas que só precisam ser ditas uma vez e tá bom. Senão o texto fica cíclico, repetitivo e corre o risco de ficar chato. E aí, não adianta ter uma descrição linda digna de CSI, se você prolixo, a coisa perde todo tesão. POREEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEMMMMMMM, eles saíram de casa *_____________________________* outra história. Outro traço. Outro touch. Outro leucro. A narração continuou incisiva e rica, mas movimentada. Ganhou mobilidade, profundidade, ritmo e alma. Os personagens se apresentaram de forma tangível, cheios de personalidade , como se eu estivesse observando a conversa de duas pessoas do mundo real. Até então, uma trama leve e até digna de sessão da tarde ( não é uma critica) de tão gostosa. Mas aí tivemos uma personagem que possivelmente deixou uma pinta de "ei! vocês me verão mais vezes". E você demonstrou que é bom de trama. Eu vejo vários "pontos de tensão" que serão trabalhados mais tarde. VOCÊ ACHA QUE ME ENGANA Ò.ó

  • chander Postado em 23/02/2021 - 23:08:00

    Hello, leucro. Chander - O incomentável no pedaço. Assumo que ler um capítulo seu, me deixou tenso, porque você tente se aprofundar no quantitativo de palavras. E eu fico muito preocupado, porque a chances de errar-se a mão e o texto acabar se tornando um brinde a prolixia ( se é que essa palavra existe) é MUITO grande. Pra começo de conversa, eu odeio Sinnoh kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk pra mim é a pior região, porém com os melhores iniciais. Acho o trio de protagonistas muito carismáticos, então, eu sempre tento dar uma chance a essas terras. O início não me empolgou. Acho que algo que você precisa rever em sua escrita são as constantes voltas que você dá. Acho que é automatico, um mal vício, que se veste de "estilo", sabe? Eu acho que a cena da faxina foi super explorada. Tudo para que ela achasse uma caixa de sapato, por consequência, um colar que deve ser importante para um plot futuro. Mas tipo, o restante? Acho que você mencionou por 4 vezes como ela estava entediada


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