Fanfic: Cartas Encontradas - Vondy | Tema: Vondy

Assim que levantei flashes da noite anterior vieram em minha cabeça, e rezei mentalmente para que tudo não tivesse passado de um terrível pesadelo. Porém, a trombada que demos no corredor me mostrou que tudo era real.

- Bom dia, espero que tenha tido uma boa noite de sono.

- A cama era do meu agrado, mas não consegui pregar os olhos - Confessou.

- Entendo. Me acompanha para o desjejum?

Perguntei e ofereci meu braço que ela aceitou não antes de dar uma respirada funda.
Assim que chegamos até a mesa minha mãe já estava sentada, assim que ela notou nossa presença virou a cabeça, e quando viu que ao meu lado tinha uma mulher ela engasgou com o pedaço de bolo que estava em sua boca.

- Bom dia mãe, essa é Dulce Maria, minha noiva. Senhorita, essa é Rosália minha mãe

- Oh meu Deus, finalmente, finalmente - Comemorou minha mãe enquanto se levantava para dar um longo abraço em Dulce.

- Muito simpática a senhora.

- E você é muito linda minha filha, não sei nem o que dizer, estou tão feliz.

Pena que a única feliz ali era ela, não sei se é pecado, mas por alguns segundos senti raiva de minha mãe, aliás aquilo tudo só estava acontecendo por culpa dela, por ela ficar me forçando arrumar uma mulher quando eu não queria uma.
Antes de me sentar puxei a cadeira para Dulce como qualquer homem educado devia fazer.

- Meu filho sempre se esquivou de minhas perguntas, mas agora quero que me conte tudo querida, como se conheceram?

Eu seria desmascarado em pleno café da manhã, Dulce contaria que estava ali por pura obrigação, que eu escrevia cartas a ela para enganar minha mãe, e como consequência minha mãe ficaria extremamente chateada comigo.

- Trocavamos cartas, até que em uma ele pediu minha mão.

Ela mentiu, mas por que?

- Que romântico, meu filho sempre foi um cavalheiro.

- Com certeza.

Dona Rosália não percebeu, mas obviamente que eu notei o tom irônico em sua voz.
Eu notei que a morena parecia gostar da conversa com sua "sogra", já que a respondia animada e cheia de sorrisos, muito diferente de quando falava comigo.

- Peço que me dêem licença, tenho trabalho a fazer - Me levantei e sai sem esperar uma resposta.

Eu era um homem de negócios, sempre fui apaixonado por administração. Érica minha falecida mulher também amava os números, e talvez tenha sido isso que me fez de cara me encantar por ela, era tão inteligente, tão doce...
Quando percebi algumas lágrimas rolaram e pingaram sobre os papéis que tinha em mãos, por que ela tinha que ter partido? Por que?

- Está tudo bem?

Rapidamente enxuguei o rosto e mirei a mulher a minha frente.

- Tudo, posso ajudar?

- Precisamos falar sobre... O casamento.

O tom triste em sua voz fez meu coração se apertar, pobre garota, condenada a viver uma vida de solidão ao meu lado.

- Claro - E depois que ela se sentou comecei a falar - Sei que não está animada com o casamento então se quiser eu resolvo tudo, para evitar que se chateie ainda mais.

- Eu quero que seja uma cerimônia simples, só para nossa família mesmo.

- Ok.

- E quero que me leve a algum ateliê para ver meu vestido.

- Tudo bem, que horas quer ir?

- Agora.

Mesmo não a conhecendo dava para ver que era uma mulher intensa, mandona, um tipo de mulher que eu não gostava inclusive.

Durante o percurso até a cidade não trocamos nem uma palavra. Quando chegamos ao ateliê logo fomos recebidos por Benedita, uma velha senhora elegante, mas muito, muito fofoqueira.

- Bom dia Dona Benedita, está radiante hoje - Falei e depois lhe beijei a mão, ela adorava elogios, e eu me sentia bem em saber que de certa forma consegui alegrar um pouco o dia de alguém.

- Jovem galanteador, sempre tão amável. E esta linda senhorita, quem é?

- Prazer, sou Dulce Maria.

Nunca vi alguém arregalar tanto os olhos como Benedita fez, precisei lhe apoiar a cintura para que não levasse um belo tombo no chão.

- A... A... Cantora de ópera? - Perguntou em transe.

- Eu mesma - Respondeu abrindo aquele sorriso branco imenso, que podia iluminar o dia de qualquer cavalheiro, menos o meu é claro.

- Meu Deus, não posso acreditar. Uma cantora de ópera da capital visitando meu ateliê, LOURDES! - Gritou sua ajudante que trabalhava com ela a mais de 15 anos, a pobre da Lourdes era uma coitada, trabalhava dia e noite para no final não ganhar nem meio tostão.

- Pois não, senhora?

- Traga os melhores e mais bonitos vestidos, temos uma celebridade aqui.

A coitada saiu correndo loja a dentro.

- Na verdade senhora Benedita, estou em busca de um vestido específico.

- Qual querida?

- Um de noiva.

E então ela voltou a me encarar.

- Vocês... Estão juntos?

- Sim, e se a senhora poder agilizar ficaríamos gratos - Respondi ríspido.

- Claro, pra quando é o casamento?

- Semana que vem - Respondi.

- O que? Semana que vem? Eu não consigo fazer um vestido de noiva em uma semana - Dava para ver o desespero nos olhos dela.

- A senhora vai conseguir sim, tenho certeza - Falei e lhe entreguei um pequeno embrulho com uma quantia interessante de moedas de ouro.

- É, talvez eu consiga. Agora saia senhor Uckermanm.

- Oi? - Perguntei não acreditando em tamanha afronta.

- Iremos elaborar o vestido, se o noivo ver da azar.

- Eu não ligo com essas coisas - Disse Dulce.

- Aqui dentro desse ateliê noivo nenhum verá o vestido da noiva, saia logo.

Não tinha nada que eu pudesse fazer, então tive que sair. Escorei em minha carruagem enquanto esperava, e esperei tanto que já estava para seguir embora a pé e deixar a carruagem para Dulce, mas então ela saiu. Estava diferente, os olhos avermelhados de quem havia acabado de chorar.

- O que aconteceu? Benedita lhe faltou com respeito? - Perguntei irritado.

- Não, mas ao me ver ali dentro de um belíssimo vestido de noiva, uma grinalda enorme, foi difícil conter a emoção...

Eu não sei o que me deu, mas simplesmente a abracei, sem me importar que os outros estavam a ver aquele contato tão íntimo.
Ela ficou alguns segundos entre meus braços antes de se afastar com certa brutalidade, era como se houvesse voltado a realidade.

- Vamos?

Apenas concordei com a cabeça antes de ajuda-la a subir na carruagem e partimos logo em seguida.
Respirei fundo antes de fazer a pergunta que estava entalada em minha garganta.

- Por que não contou a verdade para minha mãe?

- Deu para ver no seu rosto que ela não sabia de nada, não quis criar uma intriga desnecessária entre os dois. - Disse dando de ombros.

- Eu acabei com a sua vida, poderia ter se vingado de certa forma.

- Meu amor, quando eu for me vingar se prepare porque não vai ser só contando a verdade para sua mamãezinha.

E então ela me olhou, seus olhos pareciam estar ainda mais escuros, por alguns segundos tive medo, mas depois o medo foi dando espaço para uma sensação que eu não sentia a muitos anos, aquela famosa pressão na virilha.
Rapidamente voltei minha atenção para a janela, observando a paisagem do lado de fora a fim de tentar ignorar a presença dela ali e recuperar minha sanidade mental.