Fanfic: Este Corazón | Tema: Rebelde Ponny

POV PONCHO

Boston, Massachusetts, Estados Unidos.
2015

‘Você será um ótimo médico, igual ao seu pai’. Lembro que esses eram os comentários que ouvia nas festas que fazíamos, e sempre revidei dizendo que meu sonho era ser musico e não médico. No fundo, acho que Alfonso sabia que a medicina é algo impossível de não se apaixonar, e cá estou eu, entrando no segundo ano da faculdade e completamente encantado e deslumbrado cada vez mais com as minhas novas descobertas. Christopher afirma que a convivência com meus novos amigos-doutores tenha influenciado nessa paixão, mas não enxergo dessa forma.

— Sabia que estaria aqui.

A voz de Benjamin me assustou. Estava no andar de cima da casa, uma área que poucos veem. Mas desde que descobri este lugar, que costumo vir aqui. Para fumar, beber e admirar a belíssima vista de Boston.

— Me dá um aí.

— Mas você não fuma.

Franzi o cenho confuso com o pedido. Comecei a fumar no final do ano passado quando o período apertou, quando vi todo mundo indo curtir com a família as festas de final de ano, fiquei praticamente sozinho. Na verdade, Benjamin e eu ficamos, já que Benjamin não tinha condições financeiras de viajar. As republicas ficavam bem vazias naquela temporada e foi torturante. E então, o cigarro e o álcool me ajudavam a me acalmar.

— Torço pelo o dia em que verei você amando morar em Boston.

— Acho que superei bem esse ano que passou.

Benjamin riu tomando o cigarro da minha mão.

— Você quase foi expulso, deportado, morto, e ainda diz que superou bem?

— Dorothy tem ajudado sabe disso.

— Sei, mas não foi para ver suas lamentações que subi aqui, temos treino, lembre-se que amanha temos o primeiro jogo do campeonato, então, sem álcool.

— Pode deixar chefe.

∞

O campo estava lotado. Todas as republicas juntas, lideres de torcida gostosas, pessoas de diversos lugares. Trailer de todo tipo de alimentação. E puta merda, como estava nervoso, sempre joguei hóquei, jogar futebol americano nunca esteve nos meus planos.

Os primeiros treinos não foram tão complicados, tirando o meu péssimo condicionamento físico já que estava a beber muito nos últimos meses. David, estava ansioso e muito estressado com o atraso de James, havíamos combinado de que ninguém se atrasaria para não dar gostinho aos Snakes, nossos adversários. No time tínhamos 11 jogadores, 7 os meninos da republica e os outros quatro amigos do campus. David era o quarterback, o armador das jogadas. James e Frank jogavam como running back, responsáveis por receber a bola de David. Oliver por ser o mais rápido da equipe jogava na posição de Wide Receiver os famosos recebedores, o responsável por começar a jogada era Harry, o nosso center.

E por fim, tínhamos eu, como Cornerback, ou seja, marcava os wide receiver dos Snakes quase a mesma posição que tinha quando jogava hóquei no gelo.

— Wolves! Wolves! Wolves!

A voz da torcida comemorando a nossa vitória contra os Snake era ensurdecedora e instigante. Nunca pensei que sentiria toda essa emoção. nos corremos no campo e ainda fizemos uma dancinha em comemoração, deixando, Joe – quarterback dos Snake – muito irritado.

— Espero ser convidada para a festa de comemoração.

E lá estava ela, a mesma menina que me ignorou na festa de boas-vindas: Melanie, a capitã das lideres de torcida. Praticamente entregue aos meus braços. E aquela fora a minha vez de esnoba-la, ao menos um pouquinho.

— Todas vocês estão, ignorem esse idiota. – respondeu Frank e dei uma piscadela para Melanie que estava nitidamente envergonhada.

∞

Quando despertei o sol deixava o quarto quente e aquilo era bom, já que Boston era sempre frio mesmo no calor. Tirei devagar os braços que estavam adormecidos em baixo do pescoço de Melanie, e ao levantar o lençol percebo que ela ainda continua peladinha. Pensei em aproveitar para acorda-la, mas ela era insaciável e eu já não estava mais a fim. Não ia traze-la para dormir comigo na Wolves, mas Benjamin disse que dormiria fora aquela noite, então aproveitei a oportunidade.

Melanie poderia ser minha boa distração.

Três semanas se passaram desde da nossa primeira vitória. O segundo jogo fora interrompido porque Joe estava propositalmente cometendo faltas que geravam uma interrupção. David começou a discutir com ele ali mesmo no meio do campo e por muito pouco os dois não saíram no tapa.

— Isso não dá para ficar assim, seremos banidos do campeonato desse jeito.

— É só parar de entrar em todas as provocações do Joe. – acrescentou Frank, falando com David.

— O Frank tem razão David, fora que elas não direcionadas a você.

— O que quer dizer, Harry? – questionei confuso.

— Joe, é ex-namorado de Melanie, e ela fez questão que todo o campus soubesse que vocês estão juntos e que você a faz muito feliz. – Oliver explicou entre risos.

Como não percebi nada? Quer dizer, todos me olhavam curiosos e alguns caras me davam “parabéns”, mas achava que era pela partida do jogo.

— Você tinha que ficar com a maior mina problema da Owls. – comentou David. — Puta merda, Poncho.

— Man, não as conheço e ela é gostosa, não sabia que estava tão envolvida assim, é só sexo.

— Mas Melanie o usaria para provocar Joe, isso era previsto. – comentou Benjamin.

— Vocês poderiam ter me avisado.

— Achei que sabia. – disse Oliver.

— Não, não sabia, mas isso não é problema, posso terminar o que não existe com Melanie.

Fiquei irritado por todos estarem me culpando indiretamente pelas confusões que tem sido os jogos, mas eles deveriam lembrar que não conheço muito bem, e que nunca vi Melanie com Joe no campus, logo não tenho bola de cristal. E qual é o problema da Melanie? Ela sabe que não estamos namorando, que tudo que temos é só sexo e nada mais.

Ao chegar na republica depois do treino, tomei um susto ao entrar no quarto e vê-la mexendo na minha gaveta da cômoda. Pensei em gritar com ela, mas aquilo me parecia uma boa razão para pôr um fim nisso.

— Mel, nós precisamos conversar.

Melanie começou a chorar antes mesmo que pudesse falar algo.

— Fiquei sabendo o que anda falando pelo o campus e não gostei nada, porque sabemos muito bem que não temos um relacionamento amoroso, como transpareceu.

— É pelas confusões no time, não é?

— Não, isso foi só consequência da nossa falta de diálogo, porque como disse não temos um relacionamento, é só...

— Sexo. – Melanie gritou. — É por causa dela, não é?

Melanie segurava algumas fotos que tinha comigo de Annie, e senti meu coração acelerar. Antes que pudesse falar quaisquer coisas, Melanie começou a rasgar as fotos e aquilo fora a gota d’agua.

— Nós dois não temos nada, e sim era só sexo, mas você é problemática demais. – esbravejei, segurando-a pelo antebraço. — E você não tinha direito de fazer isso.

Melanie começou a gritar histericamente e a soltei, fazendo-a cair desequilibrada na cama de Benjamin.

— Mas o que está acontecendo aqui?

A voz de Holly ofegante entrando no quarto me fez afastar de Melanie. Holly tinha os olhos em minha direção e depois olhava para Melanie chorando compulsivamente.

— Vou leva-la para a Owls e depois nós conversamos, senhor Poncho Herrera.

Holly parecia esta brava, mas já éramos amigos a tempo suficiente para saber que ela também não aprovava esse meu envolvimento casual com Melanie. Quando as duas saíram do quarto, olhei para o chão e vi imagens do rosto da Annie espalhado, esmurrei a parede para controlar a minha vontade de gritar por ter permitido que Melanie invadisse assim a minha privacidade. Juntei todas as fotos rasgas e coloquei em uma sacola para pudesse jogar fora.

Cerca de vinte minutos depois, a porta do quarto se abre e Holly entra, me dando um tapa leve na cabeça.

E nós rimos juntos.

— Será que agora podemos conversar?

Benjamin era como meu pai em Boston, e Holly por mais maluca que possa parecer, estava sendo como a mãe que nunca tive.

— Só estava tentando terminar com ela. – me expliquei.

— Dá pior forma possível, você sempre foi assim péssimo com relacionamentos?

Revirei os olhos e ela me jogou uma almofada.

— O importante é que isso acabou. – suspirei aliviado, deitando-me na cama. — E agora nada atrapalhará o campeonato.

— Mas não acabou mesmo, você se tornou o novo desafio da Melanie.

Sentei-me rapidamente na cama olhando Holly de pé a minha frente.

— Ela não vai sossegar até que você esteja completamente apaixonado por ela.

— Isso é colegial demais, deixa de pressão.

— Não é pressão, a conheço a tempo suficiente e ela fez questão de gritar que você seria dela, dentro das Owls.

— Puta merda! O que eu faço agora?

— Fica com a Kristen, de preferência na frente dela.

— Que?

— Só isso a afastaria de uma vez. Não pense que conseguira terminar com a Melanie de boa, como amigos, ela é a Melanie.

— Onde fui me meter.

∞

Me aproximar de Kristen não foi tão fácil já que ela e Melanie eram superamigas e dividiam diversas cadeiras juntas. Kristen era uma das poucas amigas de Melanie que não fazia parte das Owls. E mesmo achando o plano de Holly ridículo para a nossa idade, tinha de tentar alguma coisa, porque Melanie estava passando de todos os limites e continuava a mentir pelo campus, deixando Joe ainda mais enciumado.

— Poncho, nem adianta. – disse Kristen, ao me ver caminhando atrás dela, insistindo para que nós dois fizemos um projeto de anatomia juntos. — Sei porque está atrás de mim, e não precisa mentir tanto assim para conseguir.

— Opa, opa. – a puxei pelo antebraço. — Do que exatamente você está falando?

— Sei que quer fazer uma surpresa para Melanie, o aniversário dela é daqui há três dias e eu sou...

Ao ver Melanie no final do corredor com Wendy e Edith, silenciei o falatório de Kristen com um beijo inesperado, mas para a minha surpresa correspondido. E até que a Kristen beijava bem.

— Sua vadia!

O grito estridente de Melanie ecoou pelo o corredor, ela correu em direção a Kristen, puxando-a pelos cabelos e a jogou contra a parede. Formou-se uma confusão no corredor e olhava com os olhos arregalados, porque não esperava que Melanie fosse reagir assim. Não demorou muito para que o supervisor do andar aparecesse e nos levasse a sala do reitor, resultado: suspensão para mostrar exemplo.

— Você me paga por isso Herrera.

A voz de Melanie saiu mais engraçado que ameaçadora. Kristen chorava saindo da sala da reitoria.

— Kristen, vai ficar tudo bem.

A abracei e desci a mão pela sua cintura finíssima, e porra fiquei curioso para conhece-la um pouco mais. Ao sair do campus ao lado de Kristen, Holly me olhava do outro lado da avenida com cara de quem não estava entendendo porra nenhuma. Mas, tudo aquilo fora um plano dela.

Não sei como as notícias corriam tão rápido, mas Alfonso, meu pai, já estava a caminho de Boston ao saber da minha suspensão. Oliver não havia ido ao campus por esta de ressaca de uma das festas, então, ele me comunicou que Alfonso já havia ido a republica duas vezes em horários diferentes.

— Kristen. – a chamei no corredor.

Kristen e Melanie continuavam sem se falar. E desde então, Kristen e eu estávamos cada vez mais próximos. Me ofereci para passar dois dias no seu apartamento, precisava fugir de Alfonso e não sabia exatamente para onde ir, e não queria gastar com hotel, porque ele olharia a fatura do cartão.

E foi assim que Kristen e eu nos tornamos amantes aquela semana, nós tínhamos uma química boa, o sexo era bom e nos bebíamos até apagar de sono.

— Não pode fugir do seu pai para sempre.

Dizia Kristen deitada nua na cama, respirando ofegante.

— Não acha que depois de te acolher tão bem, mereço saber o porquê vocês não se falam?

Kristen deitou-se apoiando o corpo sobre os cotovelos me olhando. Estava no seu apartamento há quase três dias e estávamos sempre juntos no campus, éramos quase um casal de namorados. E foi graças a ela que meus problemas com Melanie e com o time acabaram.

— Ele me mandou forçado para Boston, com o objetivo de me afastar da mulher que eu amo.

Kristen desviou o olhar e respirei fundo.

— Ele não apoiava o meu casamento. - Kristen parecia surpresa. — Dizia que eu era muito novo e dentre outros argumentos, mas o problema é que a mulher com quem iria me casar estava grávida.

— Você é pai?

Kristen sentou-se na cama, cobrindo-se com o lençol.

— Não, quando a conheci ela já estava gravida de outro homem.

Não era legal repetir a minha história com Anahí depois de tanto tempo, já faziam dois anos e ela era tão viva dentro de mim, que conto como se tivesse acontecido há poucos meses.

— Vocês se falam ainda?

— É uma longa história, mas, não nos falamos.

— Mas você nitidamente não a esqueceu.

Kristen ficou de pé pegando suas roupas espalhadas pelo chão e aproveitei para vestir o short.

— Não é tão fácil assim, morávamos juntos, e fomos afastados, não fora um termino comum.

Kristen entrou no banheiro e o silencio permaneceu no quarto.

— Acho que está na hora de você voltar para Wolves.

Fiquei de pé a sua frente e caminhei em sua direção, Kristen não me olhava nos olhos.

— Disse alguma coisa errada? Achei que quisesse saber.

Segurei o seu queixo fazendo-a olhar para mim.

— Não quero correr o risco de estragar a nossa amizade por algo que jamais irá acontecer.

— Como assim?

Kristen se afastou.

— Estou envolvida e está saindo um pouco do controle tudo isso, somos melhores como amigos Poncho, e não quero ser válvula de escape de ninguém.

Ri de canto. Porque mesmo de longe Annie continuava a intervir na minha vida, mas Kristen estava certa, não quero um relacionamento, talvez algo mais casual, e acho que estamos mesmo passando dos limites.

Depois daquele dia, voltei para a Wolves e Alfonso não voltou a aparecer, Olivia me informou que ele voltou para o Brasil irritado e chateado, mas verdadeiramente não me importava. Kristen e eu não estávamos mais transando, éramos apenas bons amigos, e para provar isso na festa de aniversario de Oliver, os apresentei, e bom, foi como amor a primeira vista.

E fiquei feliz por ter feito uma boa ação.