Fanfic: After Love | Tema: Ponny
Meu pai me abandonou instantes depois que um dos funcionários do hotel nos trouxe até o meu quarto, que na verdade deveria ser considerado mais um apartamento.
Depois disso passei doze dias numa éspecie de quarentena, ia da sala de estar para a cozinha, da cozinha para o quarto no primeiro andar e daí voltava novamente para a sala. Memorizei cada cantinho e móvel do ambiete, desde o balcão de mármore que separa a cozinha da sala de estar até as marcas nos corrimão da escada em espiral que leva direto ao meu quarto, onde só há uma cama king, um banheiro minúsculo e um compartimento que uso para guardar minhas roupas.
Hoje é meu primeiro dia no Elite Way e também a primeira vez que vou sair do apartamento desde que cheguei. Pensei que eu ia ficar mais nervosa, mas, me olhando agora pelo espelho, só penso no quanto estou rídicula usando essa gravata apertada. Não acordei com disposição para fazer nada no meu rosto além de passar meu creme hidrantante, no entanto, tirei uns dez minutinhos para fazer uma coroa de trança no meu cabelo. Calço as meias três quartos antes de colocar as botas e desço para a sala a de estar. A mala que eu preparei na noite passada me espera sobre o sofá de couro. Resolvi levar pouca coisa, afinal só vou ficar lá até sexta-feira, já que é permitido vir para casa aos fins de semana.
Chamo um táxi pelo aplicativo do meu celular e dou uma última checada para ver se não estou esquecendo nada antes de puxar a mala pela alça e seguir em direção ao elevador, rumo ao hall do hotel.
Quarenta minutos depois estou parada, de pé em frente ao Elite Way. Alguns jovens, felizmente todos engravatados como eu, estão conversando animadamente. A cerimônia de boas-vindas aos novatos aconteceu ontem, mas eu não estava com o menor ânimo, então convenci o meu pai a me deixar vir apenas hoje, no primeiro dia de volta as aulas, o que significa que eu era a única ali com bagagem e sem ter idéia de para onde ir.
Estou prestes a ir pedir ajuda a um funcionário quando meus olhos são tapados por um par de mãos.
-- Mas que diab... -- me viro de imediato e dou de cara com um Ucker bastante sorridente.
-- Mentira que você vai estudar aqui! -- exclama ele, claramente animado ao me abraçar. -- Senti saudades.
-- Eu também. -- Digo quando nos afastamos.
Ficamos bastante amigos depois do... da noite na praia. Conversamos todos os dias desde então, isso é, até eu vir para Nova York e passar a ignorar o meu celular da mesma forma que meus pais me ignoram. Não sei por que não contei ao Ucker que estava vindo para cá.
-- Por que não veio ontem?
-- Detesto cerimônias.
Christopher abre outro sorriso e passa a mão pelo cabelo castanho encaracolado. Acho que nem ele percebe, mas são nesses momentos de descaso que faz com que as meninas se derretam por ele. Não sinto paixão por Ucker, porém também não nego o quanto fica charmoso quando não está tentando de fato ser.
-- O que foi? -- Indaga, me olhando com curiosidade. -- Você estava me encarando.
Não tenho tempo para pensar numa resposta, pois somos interrompidos por um rapaz de cabelo laranja.
-- Meu rei, você por acaso sabe aonde anda... ora, ora, mas o que temos por aqui. -- Ele para diante de mim e pega minha mão, beijando as costas dela em seguida. -- Não sei quando, nem onde, mas sinto que já nos vimos antes... -- ele faz uma pausa drámatica antes de prosseguir -- em meus sonhos.
-- Qual é, Fercho, deixa pelo menos a Anny respirar.
-- Anny, é? -- ele solta minha mão e faz uma leve reverência. -- Prazer, meu nome é Christian, mas os mais próximos me chamam de Fercho, no entanto você pode me chamar de meu amor.
-- Não ligue para o Chris -- fala Ucker, virando-se em minha direção. -- Ele caiu do berço quando era bebê e bateu feio com a cabeça, por isso é assim, todo transtornado, sabe?
-- Falou o cara cuja a avó quebrou uma colher de pau na cabeça -- debocha o outro.
-- Era para ser em você, idiota!
-- Espera aí, vocês são irmãos?
Os dois se entreolham e começam a rir.
-- Não, nos conhecemos desde sempre porque nossos pais moram no mesmo condomínio. -- Explica Fercho.
-- O que acontece é que, quando tínhamos uns onze anos, fomos passar um fim de semana na casa da minha avó e o Fercho teve a brilhante ideia de assistir um filme antigo que ele achou na casa do tio dele. Bom, o filme era um pôrno daqueles bem ruins e ela nos pegou no flagra.
-- Acredita que ela passou um ano indo buscar o Ucker e eu todo domingo para irmos a missa?
Nesse momento o ruído do sinal da escola ecoa pelos corredores e todos começam a seguir em direção as salas de aula.
-- Meninos, eu não sei onde fica o dormitório feminino, vocês podem me acompanhar até lá?
-- Olha, poder não podemos, mas te acompanhamos sim.
-- Valeu mesmo.
Fercho passa o braço por cima do meu ombro e segue na direção contrária à maioria das pessoas.
-- Ucker, meu caro, não esqueça a bagagem da dama.
Olhei para trás a tempo de ver Ucker mostrar o dedo do meio para as costas de Christian.
***
-- Atrasados! -- ruge uma mulher baixinha quando Ucker abre a porta da sala.
Ela é gorducha e tem o rosto rechonchudo. O cabelo grisalho um pouco acima das orelhas enrugadas, de onde pendem brincos com pedras semelhantes a esmeraldas, está embalado em gel. Para completar ela usa um óculos com grau tão forte que os olhos parecem do tamanho de duas bolas de ping-pong, enquanto os lábios, pintados num tom forte de vermelho, são finos como uma folha de papel.
-- Bom dia, meu mel! -- deseja Chris, fechando a porta por trás de si e passando por mim e por Ucker, para abraçar a professora. -- Já disse o quanto está linda hoje, professora Adelaide?
-- Ai, ai, senhor Chávez, são os seus olhos. -- Ela dá um leve sorriso para o rapaz ao mesmo tempo em que abre o leque que esta segurando, a fim de se abanar.
-- A senhorita é um colírio para eles.
Fercho lança uma piscadela na direção dela, que fica corada de imediato, e senta na última cadeira da terceira fileira. Ucker e eu sentamos de modo que Fercho fica entre nós dois.
A professora Adelaide volta sua atenção para o quadro branco quando a porta novamente se abre. Um rapaz alto e de cabelo escuro surge sem o blazer e sem a gravata, apenas com a blusa social branca, abotoada até a metade.
-- Atrasado, sr. Herrera! -- ela bufa.
-- Bom dia, meu amor! -- ele manda um beijinho para a professora e a rodopia antes de prendê-la num abraço. -- Já disse o quanto está bonita hoje?
-- O senhor Chávez acabou de me dizer.
Os dois trocam um olhar cúmplice quando o moreno a solta.
-- Então devo reforçar que a senhorita está maravilhosa.
O tal sr. Herrera dá um beijo nas costas da mão da professora Adelaide, igual Fercho fez comigo mais cedo, e depois caminha até a carteira de frente a Ucker. Ao sentar, ele escora as costas na parede e só então me vê. Ele percebe que eu o estou encarando, mas não me intimido e sustento olhar. Ficamos nisso por alguns segundos, então ele cochicha algo para Christopher, que dá de ombros, e se vira para frente, as costas agora contra o encosto da cadeira.
Autor(a): valentinauckermann
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).