Fanfic: Apenas existindo | Tema: Depressão
Com o passar dos meses acreditava que as coisas poderiam melhorar, mas a verdade é que essa doença é uma droga, que vai sugando tudo o que te faz bem, não deixando nada além de um vazio. Não importa se você é um cara montado na grana ou um fodido que precisa trabalhar de segunda a segunda pra colocar comida na mesa, se essa doença te pegar você vai sentir o mesmo que todos os outros.
Um grande exemplo disso era o agora, estava eu junto a meus amigos…. Estava tudo muito bom, cerveja gelada e muita comida, e estávamos até pensando em convidar algumas gatas para participar.
A ideia era simples, passar a noite bebendo, comendo e jogando videogame. Afinal ninguém ali iria trabalhar no dia seguinte, tínhamos mais é que aproveitar mesmo… desde que concluímos o ensino médio aquele ritual era sagrado, era uma forma de manter o grupo unido, como se um cobrir o outro nas brigas do colégio não fossem o suficiente para provar que dificilmente iríamos nos separar.
Acreditava que ao menos em momentos como aquele eu deixaria de sentir aquilo, mas nem com bebida essa sensação de vazio ia embora, a única coisa que eu podia fazer era lidar com isso da melhor maneira possível.
O foda é que mesmo ali cercado de pessoas pelas quais eu tenho consideração pra caralho, esse vazio ainda estava comigo. Era como se apenas meu corpo estivesse ali no piloto automático.
Eles riam, eu ria.
Eles bebiam, eu bebia.
Eles falavam, eu falava.
— Tu viu o jogo de ontem? — perguntou Leandro.
— Que nada, o São Paulo só tá me dando desgosto esses dias.
— Ainda bem que meu mengão tá no auge. — falou Júnior, um de meus melhores amigos.
Bem, aqui em Manaus praticamente 80% da população é flamenguista, eu só sou são paulino por ter visto aquela fase maravilhosa que o time viveu de 2005 a 2008. Foi quando eu comecei a me interessar por futebol.
— Pow vocês acabaram a cerveja.
— É lógico pow, tu fica moscando em vez de beber. — gritou Junior.
— Bora lá comprar mais então.
Apenas me levantei, como eu era o único do grupo que não bebia pra entrar coma alcoólico eu ficava responsável por tudo, dinheiro, chaves, documentos… qualquer coisa que esse bando de imbecis pudessem perder.
— Peraí que eu vou contigo. — falou Leandro se levantando.
No fim até o Gabriel veio junto, ele tinha moto, mas eu que era o único em condições de dirigir sabia andar nela.
Uma bela curiosidade sobre Manaus é que ela é maior do que muitas pessoas do resto do Brasil imaginam. Temos tudo o que precisamos e dependendo de qual parte você mora pode achar o que quiser em qualquer horário.
O trajeto até o ponto onde iríamos comprar a bebida foi estranho… Gabriel e Leandro conversavam sobre tudo, o álcool estava começando a fazer efeito… nessas horas que eu gostaria de estar bêbado, talvez assim eu pudesse sentir um pouco da felicidade que eles estavam transmitindo.
— Pow tu foi lá com aquela loirinha?
— Fui nada pow, muito papo só pra uma mamada, imagina pra comer aquele cu. — respondi fazendo os dois rirem.
Chegando no local apenas pegandos o que mais gostamos de beber e pagamos, mas em vez de irmos para cara resolvemos ir para a ponte ficar de bobeira, era até melhor já que lá não precisaríamos nos preocupar com os vizinhos chatos, em especial com uma garota que se encarnou comigo e com leandro querendo namorar, sendo que sempre deixamos claro que não queríamos nada serio com ninguem por razoes obvias, nao iriamos abrir mão de nossa liberdade na nossa fase mais tranquila.
Não que eu não quisesse me casar e tudo mais, só que na situação atual não sei se seria uma boa ideia ficar com alguém sendo que há momentos em que eu não suporto minha própria existência.
Não que eu já não tivesse namorado antes, mas os meus relacionamentos acabaram das formas mais toscas e estranhas possíveis. Eu gostava delas mas acima de tudo temos que gostar mais de nós mesmos, isso é o mais importante em todo relacionamento.
Minha primeira namorada me deixou pra voltar com o ex, eu gostava pra caralho dela, mas aceitei numa boa, uns anos depois ela até veio atrás de mim querendo que, por mais absurdo que possa parecer, eu assumisse o filho dela já que o outro tinha dado um pé na bunda dela.
Meu segundo namoro foi o mais estranho, eu tinha dezesseis anos e a mulher tinha trinta, recém divorciada, achava que ela seria o lado maduro do relacionamento. Mas na verdade ela agia como uma adolecente mimada, exigindo que eu me comportasse como um príncipe encantado na frente de todos quando a mesma não fazia a mínima questão de conhecer meus amigos ou família.
O terceiro acabou por culpa minha, até tentamos reatar laços um tempo depois, mas acabei estragando tudo outra vez, espero que ela esteja feliz seja lá onde ela esteja.
— Sério cara, se o pastor não fosse gente fina você tava preso. — comentou gabriel.
— Pode ser, mas valeria a pena. — respondi fazendo todos rirem— Peraí que eu vou me aliviar.
Apenas fui para a beira da ponte, como não tinha ninguém além de nós ali e o posto policial ficava bem mais a frente não tinha nenhum problema de fazer isso ali, mas com o tempo uma ideia veio até mim.
Se eu me jogasse dali, tudo estaria resolvido, aquele vazio acabaria, eu deixaria de ser apenas uma casca vazia que não fazia nada além de existir nesse mundo. Não teria que lidar mais com essas crises que acordam no meio da noite.
Tudo iria acabar ali mesmo….
— Ei caralho ta batendo punheta é? — gritou Leandro.
A voz dele foi o suficiente para me fazer voltar para terra, sem dúvidas eu não teria coragem de jogar dali, ainda mais no meu caso que tenho fobia de altura… eu não tinha coragem de pular uma janela, imagina pular dali.
— Bora lá pra ponta negra? — sugeriu Junior.
— Pow agora? — reclamei. — Ninguém aqui tá em condições de dirigir.
— Bora andando mesmo pow, a gente corta aqui pela Santo Augustinho. — disse Leandro ficando de pé.
Eu não estava nem um pouco a fim de ir andando para outro lado da zona oeste, mas levando em conta que ainda ia dar duas da manhã e não tinha nenhum compromisso marcado para o dia seguinte, não tinha porque recusar a ideia.
— Bora lá, se a gente der sorte fica por lá mesmo até amanhecer. — respondi vendo todos se levantarem.
Talvez aquela ideia que eu tive momentos atrás deva ser um sinal de que eu estou piorando, mas sei lá… não quero ter que ficar pensando nisso.
Autor(a): lucasdarcry666
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).