Fanfics Brasil - Capítulo 2 All That Matters - Glee St.Berry

Fanfic: All That Matters - Glee St.Berry | Tema: Glee


Capítulo: Capítulo 2

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"Jesse St. James!" – Rachel grita, com o celular na mão. Pisco duas vezes, sem acreditar no que vejo. Rachel Barbara Corcoran Berry está aqui, no meu quarto, em carne e osso.


Quando percebo que é ela, saio correndo e a abraço.


Giramos no quarto umas três vezes, ela em meus braços, como fazíamos quando crianças. Estou tão feliz em vê-la que não me importo em perguntar como, o que está fazendo aqui. Quero apenas abraçá-la.


"Eu juro, eu juro que disse para que ele não ficasse de cueca!" – Meu pai diz, parado na porta do meu quarto.


"Como se eu não tivesse o visto só de cueca antes." – Ouço uma voz que não é a de Emma. Solto Rachel e, quando olho para a porta, Shelby está lá.


"Shelby!" – Corro em sua direção. Ela foi como uma mãe para mim até Emma chegar. Ela costumava me levantar no colo quando pequeno, mas agora, sou eu quem faz isso.


"Acalme-se, garotão." – Ela diz, e eu a ponho no chão.


"Uau, como ele cresceu, Will!" – Ela diz, para meu pai.


"Rachel também está enorme, Shelby." – Meu pai diz.


"Creio que não posso concordar com esse fato, pai." – digo, e Rachel está me dando língua. Retribuo, e começamos a fazer careta um para o outro. Nossos pais riem.


"Will, não tenho nem coragem de ver o estado do nosso apartamento." – Shelby diz. Elas duas moravam aqui, no mesmo prédio que nós, mais precisamente ao nosso lado. Espero sinceramente que voltem a morar.


"Não se preocupem. Emma está lá nesse exato momento ajeitando tudo, e eu fiquei aqui encarregado de não deixar o Jesse destruir a casa."


"Claro, por que quanto à cara dele o senhor não pode fazer mais nada!" – Rachel diz, e eu volto a lhe dar língua. Parecemos duas crianças de 10 anos novamente. A sensação que flui pelo meu corpo é indescritivelmente aconchegante.


"Sente-se um pouco, Shelby, me conte sobre a viagem. Vou ligar para Emma e pedir para que ela venha para cá. Vocês duas chegaram mais cedo do que o esperado." – Meu pai diz, enquanto ele e Shelby saem, indo para a sala. Não consigo acreditar no que vejo, minha melhor amiga escandalosa está aqui, na minha frente. Sinto-me do mesmo jeito que me sentia 5 anos atrás, quando ela foi para o Canadá. Como se o tempo não tivesse passado, e ela nunca tivesse ido.


"Raaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaach!" – Digo, girando-a no ar outra vez.


"Ok, senhor cueca samba canção, dá pra me pôr no chão?"


"Nem é samba canção." – digo, embora seja mesmo uma cueca samba canção. Não é muito agradável de se usar, mas foi a única que eu achei na bagunça do meu armário hoje de manhã. Ainda bem, pois esse tipo de cueca se parece com um short, então não estou tão ridículo assim.


Isso é o que eu penso. Até Rachel começar a rir.


"Você está ridículo, St.James!" – ela me chama assim desde antes do incidente na escola. E eu a chamo de Barbara Corcoran".


"Engraçadinha." – digo, indo até o armário procurar uma bermuda. Ao ver a bagunça, desisto, e me sento ao lado dela na cama. Rachel e eu já nos vimos em roupas íntimas um zilhão de vezes, não é agora que vou começar a ter vergonha dela.


"Gostou da surpresa?" – Ela pergunta - "Eu quem tive a ideia, e minha mãe e o senhor Schue aprovaram."


"Quase me matou do coração!" – digo – "Mas o que faz por aqui?"


"Ficamos sabendo que viríamos para cá há 1 mês. Arrumamos tudo muito rápido mesmo, nós duas quase não aguentamos de ansiedade. Quase te contei tudo por e-mail mas não queria estragar a surpresa."


"E que surpresa!" – Digo – "Mas você não respondeu minha pergunta."


Rachel encara os próprios pés. Está sentada sob eles, como uma índia.


"Jesse..."


Espero pela resposta. Temo que sua mãe tenha vindo para cá apenas para fazer alguma reportagem, que esteja apenas de férias, e que elas tenham que voltar para lá em pouco tempo. Não quero que isso aconteça. Ou que, ao menos, demore muito tempo.


Shelby trabalhava como repórter no jornal local, até que recebeu uma proposta para ser correspondente no Canadá. Obviamente, era uma proposta irrecusável, e todos nós a apoiamos.


Rachel recomeça a falar, e vejo um sorrisinho aparecendo em seu rosto.


"Minha mãe vai ser âncora no jornal local! Ela assinou um contrato de pelo menos 2 anos. Vamos ficar por aqui, Jesse!" – ela diz, e eu me jogo em cima dela, a abraçando. Ela cai na cama, e eu fico sobre ela, fazendo cócegas em sua barriga. É tão bom, tão incrível ter minha Rachel, minha melhor amiga de volta, que não consigo me controlar. Tudo que eu consigo pensar é que ela está aqui, e que ela vai continuar por aqui.


"Para!" – ela diz, rindo, e eu a deixo levantar. Ficamos os dois sentados na minha cama, rindo.


"Quer dizer, não é oficial, do tipo, todos os dias. Ela vai trabalhar mais nos feriados e finais de semana, e também vai ficar fixa no jornal da madrugada, mas isso é tão legal!"


"É, é maravilhoso , na verdade." – eu digo, e eu sei que é uma oportunidade extraordinária. Shelby é uma profissional fantástica, e eu sei que ela merece tudo isso que está acontecendo. E é ainda melhor poder ter minha melhor amiga de volta aqui comigo.


"E ela ainda precisa gravar umas matérias menores, sabe, em outros estados, coisas desse tipo. Mas, uau, a minha mãe vai ser famosa!" – Ela diz.


"E isso antes de você?" – digo, e ela me taca um travesseiro na cara.


"Rachel, Jesse, tem pizza na sala." – Meu pai aparece na porta do meu quarto. Emma está logo atrás dele.


"Ah meu Deus, Rachel!" – Ela diz, e dá um enorme abraço em Rachel, que sorri – "Jesse, por que você está só de cueca?" – Ela diz, colocando Rachel no chão. Tento disfarçar olhando para o teto, mas ela está me encarando do jeito dela, que sempre me faz confessar.


"Bagunça no guarda-roupas." – digo, e ela suspira.


"De novo? Eu o arrumei deve ter uns 3 dias." – ela diz, e meu pai ri.


"Ok. Rachel, pizza, e Jesse, guarda-roupas. Agora." – meu pai diz, gesticulando. Eles saem do quarto, e eu só consigo observar tudo, abobalhado. Essa cena familiar, ocorrendo de uma forma tão simples. É como se o tempo tivesse congelado, ou retrocedido. Como se eu tivesse 13 anos outra vez.


"Vai ficar ai parado com essa cara de idiota ou vai me ajudar?" – Rachel diz, dobrando uma das minhas camisas. Enquanto eu estava "parado com essa cara de idiota", ela desceu da minha cama, foi até o guarda-roupas e começou a dobrar as roupas em pilhas, sobre a cama. Vou até o lado dela, e começamos a dobrar as roupas. Pego uma bermuda e uma camisa e as visto, me apoiando no ombro de Rachel para vestir a bermuda.


"A pizza vai esfriar." – meu pai grita, da sala.


Rachel e eu colocamos as roupas dobradas dentro do guarda-roupas. Demoraria horas para arrumar toda a bagunça, então nós só melhoramos um pouco o estado, fazendo com que eu pelo menos conseguisse achar as minhas roupas. Nos jogamos na minha cama exatamente na mesma hora.


"Senti sua falta." – eu digo.


"Também senti a sua. Muito." – ela me diz. Estamos deitados um de frente para o outro.


"Isso me lembra de quando éramos menores. Era assim que a gente ficava até adormecer."


"Acha que sua mãe vai te deixar dormir aqui hoje?" – pergunto.


"Não sei. Ela está muito cansada, deve querer dormir lá em casa. Estamos há tanto tempo fora. E minha mãe gosta bastante daquele apartamento."


Essa era uma coisa que nós fazíamos sempre, dormir um na casa do outro, pelo menos uma vez por semana. Assistíamos a algum filme, conversávamos, comíamos brigadeiro de colher. Uma vez, quando Shelby saiu para ir à padaria, nós tentamos fazer pipoca, e acabamos colocando fogo em um pano de prato. Para nos livrarmos da "prova do crime", jogamos o pano de prato na privada, que entupiu. Meu pai teve que resolver o problema, e nós levamos uma sonora bronca.


"Lembra da vez do brigadeiro de colher?" – Rachel me pergunta. Estamos encarando o teto agora.


"E dá pra esquecer?" – eu digo, rindo.


Eu devia ter uns 12 anos na época, e Rachel, 10 anos. Estávamos aqui em casa, e tínhamos comido bolo de chocolate com chocolate quente. Meu pai estava na escola, e Emma tinha saído para ir ao mercado. Aproveitamos a oportunidade para pegar uma lata de leite condensado e fazer brigadeiro, embora soubéssemos que já tínhamos comido chocolate demais. Guardei a lata no meu armário, para jogar fora na escola no dia seguinte.


"Quanto tempo aquela lata ficou no seu guarda-roupas mesmo?" – Rachel me pergunta.


"Umas 3 semanas." – eu digo. Quando Emma achou a lata, cheia de formigas, ficamos de castigo por um mês. Obviamente, todos os nossos castigos eram em conjunto, já que um nunca aprontava nada sem pelo menos o consentimento do outro.


"Foi engraçado ver a Emma te passando um sermão sobre..."


"A importância da assepsia e da higiene!" – dizemos juntos, e caímos na risada.


"Hey, vocês dois não vão comer a pizza não?" – Shelby diz, aparecendo na minha porta – "Ou a nossa conversa adulta é chata demais pros dois jovens?"


"Nós já vamos, mãe." – Rachel diz, e quando Shelby sai do quarto, nós continuamos no mesmo lugar.


"Queria dormir aqui hoje." – Rachel diz. E é aí que eu tenho uma ideia. Corro até o guarda-roupas, e jogo algumas peças pra ela.


"Veste isso." – digo. Ela entende o meu plano, então eu saio do quarto para pegar as pizzas.


Passo pela sala disfarçadamente, indo até a cozinha. A pizza já está fria, obviamente. Sirvo dois copos de refrigerante e saio equilibrando-os em cima da caixa da pizza (uma só para nós dois, já que eu vou comer mais da metade sozinho).


"Põe no microondas, Jesse." – Emma diz, e eu nego com a cabeça.


"Ele está com cara de quem vai aprontar." – meu pai diz para Shelby. Eu apenas sorrio, e saio para o meu quarto.


Quando chego, Rachel está examinando a minha pilha de DVDs. Escolhe um que nós dois gostamos, e coloca no DVD player. Enquanto isso, pego meu edredom no armário. Nos sentamos na cama, meus travesseiros servindo de apoio para as costas, e nos cobrimos com o edredom. Comemos a pizza desse jeito.


Ficamos assistindo o filme e comendo pizza. Quando ouvimos o barulho da porta do meu quarto sendo aberta, nosso habitual plano tem início.


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"Roooooooooooooooooonk!"


Esse é o som que se escuta, dentro do meu quarto. Me esforço para ser o mais realista possível. Rachel apenas respira profundamente, inspirando e expirando.


"Rooooooooooooooooooonk!" – continuo me esforçando para parecer realista.


"Mimimimimimii" – Rachel sussurra. Se eu pudesse mexer meus braços sem estragar o disfarce, eu lhe daria um tapa. Alguém por acaso faz "mimimi" enquanto dorme?


"Ok, podem parar com a palhaçada." – Shelby diz. Abro meus olhos bem devagar.


Emma está prendendo o riso. Meu pai nos olha, também com cara de riso, e até Shelby parece estar rindo um pouco. Rachel continua com os olhos fechados, fazendo "mimimi". Dou um tapa em seu ombro.


Shelby nos encara, esperando uma resposta. E então nós partimos pro habitual plano B.


"Por favooooooooooooooor." – imploramos, com as mãos juntas. Faço minha melhor carinha de "garotinho pidão".


"Ah Shelby, deixa. Rachel já está até usando o pijama do Jesse." – meu pai diz.


"É mãe, deixa." – Rachel pede, enquanto eu continuo com a cara de criancinha.


"Além do mais, eles demonstraram uma excelente memória ao utilizarem o mesmo truque de quando tinham 8 anos." – meu pai diz, e finalmente explode em uma gargalhada. Shelby ri também, e Rachel esconde a cabeça embaixo do travesseiro.


Sim, eu sei, foi uma tentativa idiota. Mas foi a única em que eu consegui pensar tão rapidamente.


E pelo menos deu certo.


"Ok, não tenho argumentos!" – Shelby ergue os braços, e Rachel solta um gritinho de comemoração. Eu estou sorrindo como um idiota agora – "Rachel, banho, escovar os dentes e cama, ok?" – Shelby diz, e Rachel afirma com a cabeça. Estou afirmando também.


"Will, eu estou terrivelmente cansada. E tenho que levantar cedo amanhã e ir até a emissora e..." – Shelby sai, com Emma e meu pai. Rachel e eu sorrimos, e nos jogamos na cama outra vez.


Já se passaram uns 20 minutos quando meu pai abre a porta. Rachel está deitada com a cabeça e as mãos no meu peito, e eu estou mexendo em seu cabelo.


"Rachel," – ele diz – "sua mala está na sala, então eu acho que você pode dormir com suas próprias roupas." – Rachel acena com a cabeça, e meu pai trás a mala para o meu quarto. Quando ele sai, ela se deita novamente no meu peito, e boceja.


Isso é comum entre nós, esse tipo de intimidade. Nós somos absurdamente próximos, muito mais do que os melhores amigos costumam ser. Nunca tivemos a comum rivalidade entre meninos e meninas, nunca sentimos ciúmes um do outro. Para nós, e como se fossemos ambos assexuados. O gênero, idade, nada disso importa.


Rachel e eu temos gostos parecidos, mas isso não quer dizer que concordamos em tudo. No entanto, nós nunca, nem uma vez sequer brigamos. Temos o que nossos pais chamam de "relacionamento que todos os irmãos deveriam ter". Embora tecnicamente nós não sejamos irmãos.


Não a vejo como uma irmã. Embora eu tenha um instinto protetor sobre ela, não acho que seja coisa de irmão. Mais como de um melhor amigo preocupado.


"Está com sono." – eu afirmo, e ela dá uma risadinha – "Por que você não vai tomar banho enquanto eu arrumo as coisas pra gente dormir?" – eu proponho, e ela apenas confirma com a cabeça. Sai arrastando os pés em direção ao meu banheiro.


Ela vai demorar. Muito. Muito mesmo. Sei disso porque sei de quase tudo sobre ela. Rachel tem um estranho ritual enquanto toma banho, que pode levar horas, dependendo da sua vontade de relaxar. Saio do quarto e vou até o quarto dos meus pais, onde ele está deitado na cama, com o controle remoto na mão.


"Pai, onde está o colchão extra?" - pergunto, e ele aponta para cima do guarda-roupas. Com toda a minha genial destreza, eu subo na cadeira e quase caio. Pego o colchão e saio o arrastando até meu quarto. Emma traz alguns lençóis e travesseiros extras, e me dá um beijo de boa-noite em seguida.


Arrumo minha cama, para Rachel, e arrumo uma cama no chão para mim, com o colchão extra. Nós costumávamos dormir juntos, mas então, 3 meses antes da mudança para o Canadá, ela com 11 e eu 13 anos, aconteceu.


Rachel estava deitada do mesmo jeito que sempre faz – abraçada em mim, com uma das pernas em cima de minha cintura. Eu estava em um dia de sono muito leve, e embora estivesse dormindo, ainda tinha alguma percepção do que acontecia à minha volta. Eu não me lembro muito bem do que eu estava sonhando. E então, eu senti algo acontecendo comigo.


Acordei rapidamente, em um salto, só para confirmar o que eu já sabia. Meu primeiro momento como homem, por assim dizer. E Rachel estava dormindo bem ao meu lado.


Não sei explicar muito bem o que senti. Vergonha. Dúvida. Apreensão. Meu pai já havia me explicado tudo sobre isso, e eu já tinha aprendido quase tudo na escola, biologicamente falando. No entanto, foi estranho quando aconteceu comigo. E muito mais estranho porque Rachel estava dormindo bem do meu lado.


Então, a única coisa que eu consegui fazer foi ficar deitado lá com cara de idiota, com medo de fazer algum barulho ao levantar, e acabar acordando-a. Eu não queria que a minha melhor amiga, que sempre dividiu a cama comigo, me visse daquela maneira.


E foi exatamente nessa hora que ela se virou. Rachel tem um sono agitado. Rola de um lado pro outro, chuta, fala enquanto dorme. Então, quando se virou, ela esticou o braço com toda a força.


E como tudo tende a dar terrivelmente errado na minha vida, já dá pra adivinhar onde a mão dela bateu.


Eu não gritei. Não muito alto. Meu pai e Emma costumam ter um sono pesado, mas eu não queria que eles viessem aqui agora. Ter Rachel como testemunha já era mais do que suficiente. Então, para disfarçar o desconforto, eu soltei um ruído de dor.


Rachel piscou os olhos, e acordou. Seu braço já não estava mais no lugar atingido. Antes que ela pudesse ver alguma coisa, me virei e agarrei uma almofada.


"Hey, o que foi?" – ela disse, se espreguiçando.


"Coisas." – disse. Nunca fui bom em mentir para ela – "Preciso ir ao banheiro." – falei, jogando o travesseiro pro lado. Mas antes que eu tivesse tempo de levantar, Rachel se esticou para acender o abajur, que fica no criado-mudo ao lado da cama. Do meu lado da cama. Então ela viu.


"Ai meu Deus!" – ela disse, com espanto – "Jesse, você está excitado!"


E eis que toda a minha dignidade se foi.


Me joguei na cama, e enterrei minha cabeça num travesseiro.


"Caramba!" – ela disse.


"Juro que essa sua naturalidade ainda me assusta." - disse, com a cabeça no travesseiro.


"Ual! O que foi que você sonhou?" – ela me perguntou, com animação na voz. Como se tivesse visto minha primeira espinha e não minha primeira...coisa.


"Não sei." – eu disse. Ela ficou em silêncio, e como isso é quase impossível vindo da parte dela, levantei a cabeça para vê-la. Ela estava me encarando com cara de incrédula, como se eu estivesse lhe escondendo a identidade do assassino do presidente Kennedy.


"Sério, não me lembro." – disse, erguendo as mãos. Ela olhou para os pés, sentada sobre eles como uma índia. Estava usando um dos meus shorts e minha camisa favorita para dormir. Nós sempre fazíamos isso, quando queríamos que ela dormisse aqui. O velho truque de estar tão pronto para dormir que os seus pais não vão ter coragem de dizer não. Quando eu ia pra casa dela, levava uma camisa e um short na mochila, em caso de dormir lá. Ao menos que eu quisesse dormir de camisola.


"O que?" – perguntei.


"Você..."


"Eu?"


"Você sabe, teve aquela coisa que..., bem participa na formação dos bebês, não foi?" – ela perguntou, meio envergonhada.


E eu afundei minha cabeça no travesseiro outra vez.


"Isso é tão humilhante." – disse, com a voz abafada pelo travesseiro.


"Qual é, eu já aprendi essas coisas na aula de ciências." – ela disse. Continuei com a cabeça afundada no travesseiro. Quem sabe se eu ficar sem ar esse momento desapareça?


"Então foi desagradável, sim, eu sei que foi. Mas acho que há um jeito de ficarmos quites." – ela disse, e mesmo quando eu ergui a cabeça do travesseiro para olhá-la, ela não disse mais nada.


Dois anos depois, eu finalmente entendi o que ela quis dizer.


Eu estava deitado na minha cama, olhando para o teto, esperando a ligação diária dela. Ela estava 2 horas atrasada. Então, quando o telefone tocou, eu atendi no primeiro toque.


"Fala, Barbra."


"Aconteceu. Minha primeira menstruação. Enquanto eu estava dormindo." – ela disse, de uma vez. Só consegui ficar em silêncio, com a boca aberta.


"Estamos quites, agora." – ela disse, e nós dois acabamos rindo.


Desde o momento constrangedor, Rachel e eu dormimos em camas separadas. Não que ela tenha ficado muito feliz com essa história, mas eu achei melhor assim. Mais apropriado.


Quando termino de arrumar nossas camas, vou para o outro banheiro, e tomo um banho rápido. Esqueci de pegar minhas roupas, então me enrolo na toalha, e saio para o quarto. Rachel está saindo do meu banheiro nessa hora. Ela ainda está usando os meus shorts e a minha camiseta de dormir.


"Sua mala está aqui no chão." – eu digo, pegando minhas roupas no armário.


"É, eu sei. Mas eu gosto de dormir com as suas. Gosto do cheiro delas." – ela diz, brincando com o cabelo.


Corro para o banheiro, e visto minhas roupas. Quando volto, Rachel está sentada na minha cama, visivelmente cansada. Desejo-lhe boa noite, apago a luz e deito no meu colchão.


Cinco minutos se passam. E Rachel está virando de um lado pro outro na minha cama.


"Não consigo dormir." – ela diz, se sentando.


"O que há de errado?" – pergunto, me sentando também.


"Sinto sua falta." – ela diz. E não há nada mais que importe, além do fato de que eu também sinto falta dela. Sinto tanta falta dela como se ela ainda estivesse no Canadá.


Não sei se é por causa da frase, que usávamos todas as vezes que nos comunicávamos enquanto ela estava longe, não sei se é simplesmente porque eu não consigo negar nada que ela me peça, mas no próximo segundo, já me levantei do meu colchão, e me deitei ao seu lado na cama.


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Trim. Trim. Trim.


Meu despertador toca. Viro de um lado para o outro, e Rachel faz o mesmo.


"Desliga essa droga!" – ela diz, sua voz cheia de sono.


Eu também estou com muito sono. Óbvio. Ontem à noite, ao invés de irmos dormir, ficamos tagarelando feito loucos até que Emma veio nos mandar ir dormir. Estico meu braço o máximo que posso, pego meu relógio e desligo a função despertador.


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São 10 da manhã quando eu me levanto.


10 da manhã.


E hoje é quinta feira.


Levanto o mais rápido que posso da cama. Corro para o meu armário, e pego qualquer roupa que encontro pela frente. Estou atrasado, terrivelmente atrasado, mas se eu sair agora, talvez consiga chegar para o último tempo antes do almoço. Saio correndo do quarto. Estou na cozinha, travando uma luta contra minhas meias, que teimam em não entrar rápido o suficiente, quando reparo no bilhete colado na porta da geladeira.


"Pare de correr feito um louco, você já está atrasado. Me ligue." – é a letra do meu pai. Pego o telefone e disco o número dele.


"10 horas, Jesse?" – meu pai ri.


"Por que não me acordou?" – pergunto a ele. Porque todo mundo sabe que o meu despertador não tem verdadeiramente a função de me acordar, já que eu sempre o desligo e volto a dormir, não importa que horas sejam. Então, o que realmente me tira da cama, são os solavancos do meu pai e o café da manhã de Emma.


"Por que eu não resisti em imaginar você correndo pela casa como um doido." - ele diz. Espero até que ele termine de rir – "Shelby saiu super cedo para ir à emissora em que ela está trabalhando. Não queria deixar Rachel sozinha, então parabéns, ganhou um dia de folga. Já falei com o Figgins, e como você é um excelente aluno, ele vai abonar suas faltas."


"Ótimo." – digo, jogando minha camisa pro lado e me sentando no sofá.


"Tem dinheiro pra comida em cima da geladeira. Emma e eu vamos ficar aqui até tarde, então cuide direito da Rachel."


"Claro. Tchau Pai." – digo, e desligo o telefone.


Mas tranquilo, percebo que estou realmente com fome. Vou até a geladeira, e estou me inclinando para pegar o queijo, que está numa das prateleiras de baixo, quando ouço um "búu" atrás de mim.


"Por que você está sempre de cuecas quando a gente se encontra?" – Rachel diz, encostada na geladeira.


"E por que você está sempre me assustando?" – pego o queijo, e coloco-o em cima da mesa – "Por que você já está de pé?" – penso no fuso horário, na viagem, e em como ela realmente deve estar muito mais cansada do que eu.


"Você me acordou, com toda a sua correria pelo quarto." – ela diz, se sentando na mesa da cozinha. Sirvo-lhe um copo de suco.


"Sério? Tentei não fazer barulho."


"Tão sutil quanto um elefante." – ela diz, e coloca um biscoito na boca.


Passamos o resto do dia assim, sentados no sofá vendo TV. Na hora do almoço, escolhemos pizza outra vez, calabresa para mim e mussarela para Rachel, e só então percebemos que ainda estamos do mesmo jeito que estávamos quando acordamos. Visto uma camisa e uma bermuda, só porque preciso receber o entregador de Pizza. Rachel veste uma saia preta e uma camisa branca de mangas. Ficamos sentados, juntos, assistindo filmes, desenhos, jornais, eu mudando a TV de canal com o controle, ela sentada com a cabeça no meu peito.


"Jesse..." – ela me chama, enquanto eu estou mudando de canal outra vez.


"Hum..."


"Tá chato aqui." – ela diz. Abaixo minha cabeça, para olhar em seu rosto.


"O que você queria estar fazendo, então?" – pergunto.


"Sei lá. Estar em algum outro lugar, perto da natureza, não sei." – ela diz. E a porta se abre rapidamente.


"Crianças, boas notícias! Fui chamada para gravar minha primeira matéria." – Shelby diz, se sentando no sofá ao lado de Rachel – "É algo bem bobo, sobre uma cabra que teve 8 filhotes quando o normal é no máximo 3, mas já é alguma coisa. Mas é no Tenesse! E eu posso levar vocês, se vocês quiserem."


Nós não respondemos. Tudo que fazemos é ficar lá, com sorrisos incrédulos e cara de idiotas.


"O que foi?" – ela pergunta?


"Fazenda? Sério?" – Rachel pergunta.


"Você devia ter desejado um milhão de dólares." – digo, e caímos na risada, deixando Shelby sem entender o porquê.


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Tudo certo.


Meu pai, obviamente, deixou. Aliás, com exceção de coisas comprovadamente femininas, como festas do pijama na casa de Tina Cohen-Chang e idas ao, bem, ginecologista, não me lembro de quase nada que Rachel e eu tenhamos feito separados. Um dos lucros de ter pais que também são melhores amigos.


E sim, eu estava lá por ela. Na primeira vez que ela foi ao, bem, ginecologista. Ela me forçou a ir, e disse que nunca mais falaria comigo se eu não fosse. Então eu fiquei lá fora na recepção, com cara de idiota (apesar de ela ter praticamente implorado pra que eu entrasse com ela), enquanto ela e Shelby entraram. E então, depois que elas saíram, ela me contou os detalhes da consulta. Coisas de Rachel Berry: ela nunca percebe quando me deixa embaraçado.


Ela não estava bem, mocinha ainda, mas quando fez 11 anos, Shelby a levou até um. O que acabou se provando desnecessário, já que só aconteceu dois anos depois.


"Acorda, criatura!" – Escuto, enquanto recebo um tapa na cabeça. Rachel.


"Anh...?" – pergunto, com todo o meu jeito "másculo" de ser – "Onde estamos?".


"Estamos tentando ficar acordados e não babar no ombro da melhor amiga, é isso que nós estamos." – ela diz, e eu focalizo meus olhos. Estamos no ônibus da equipe de filmagem do jornal para o qual Shelby está trabalhando. É um micro-ônibus, na verdade, e nós estamos nele porque,bem, é mais barato do que levar todo esse pessoal de avião até Tennessee.


A equipe é bem grande. Tem o pessoal da iluminação, os câmeras, os maquiadores, o diretor, o pessoal responsável pelo texto, Shelby, e bem, Rachel e eu. Todos são muito legais, e muitos deles trabalhavam na equipe de Shelby no Canadá.


Estamos no ônibus há apenas 2 horas e eu já cai no sono no ombro de Rachel umas duas vezes.


"Falta muito?" – pergunto, esfregando os olhos.


"Estamos indo para o Tennessee, o que você acha?" – Rachel diz, tirando os fones do ouvido – "Agora deixa de graça. A gente vai chegar lá pela noite, ai você dorme."


"Ok, então o que você quer fazer?"


"Sei lá! Podemos cantar aquelas musiquinhas de viagem!" – ela diz, pulando na cadeira.


"Nem pensar. Eu não canto!" – digo, prontamente.


E eu não canto mesmo. Embora meu pai seja o diretor do Clube Glee, cantar definitivamente não é pra mim.


Rachel apenas me olha com sua cara assassina. Encosto minha cabeça em seu ombro e tento dormir outra vez, mas ela soca o meu braço.


"Droga, Rachel!" – digo.


"Da próxima vez não trago mais vocês dois." – Shelby, que está chegando com um copo de café, diz, sentando na nossa frente.


"Não!" – dizemos, e nos abraçamos instantaneamente.


Passamos o resto da viagem jogando cartas, conversando, rindo, e enfim, sendo nós mesmos. Até o momento em que acabamos pegando no sono juntos, nossas cabeças encostadas uma na outra.


"Rachel, Jesse, acordem!" – ouvimos, e Shelby está nos sacudindo. Chegamos ao hotel em que vamos passar a noite. A matéria será gravada amanhã, numa fazenda que é um pouco mais no interior do Tennessee.


O hotel não é luxuoso, mas também não é ruim. Shelby e a equipe tiveram seus quartos individuais pagos pela emissora. Como Rachel e eu somos os "penetras" da viagem, Shelby vai pagar do próprio bolso o que nós gastarmos, como o quarto do hotel.


"Então, meninos, só há vagas em quartos de casal. E eu definitivamente não vou pagar dois quartos pra vocês, já que provavelmente os dois vão dormir enfiados no mesmo quarto." – Shelby diz a verdade-universal-de-Rachel-e-Jesse: não importa o quanto tentem nos separar, a gente sempre acaba dormindo no mesmo quarto.


"Tudo bem, mãe, estamos de acordo." – Rachel diz, com um jeito que faz com que as pessoas ao redor até pensem que ela é um ser humano normal. O que se prova totalmente o contrário quando nós entramos no quarto, e a primeira coisa que ela faz é ficar de pé na cama, pulando.


"Destruição de propriedade privada, é?" – Digo, trancando a porta e deixando nossas malas no chão. Rachel desce da cama e me puxa para cima, e então estamos os dois pulando nela mais rápido do que eu pensei ser possível.


Faz frio no Tennessee. Rachel toma um banho quente e se enrola num roupão, para se trocar no quarto. Saio para o banheiro, para lhe dar privacidade, e tomar meu banho. Quando volto, Rachel está usando roupas comuns.


"Vem cá, você não vai dormir não?" – pergunto.


"Não agora. Depois coloco meu pijama.".


Ficamos vendo TV até que o sono começa a bater. A cama de casal é grande o suficiente para nós dois, então vamos dormir juntos, como sempre. Já estou vestindo meu pijama, que nada mais é do que uma bermuda larga e uma camisa branca de mangas, e Rachel pega seu moletom do frajola da mala. Ela o tem desde os 11, quando ele ficava terrivelmente grande.Agora ele cabe, mas a estampa do frajola está quase desaparecendo totalmente.


Quando dou por mim, Rachel está apenas de sutiã, na minha frente.


É a primeira vez que percebo como as coisas mudaram. Como Rachel e eu não somos mais os mesmos garotinhos que cresceram juntos. Eu tenho 18 anos, e Rachel tem 16. Eu sou maior de idade perante a lei. Sou um homem, por assim dizer. Rachel é uma adolescente com rostinho de criança.


E corpo de mulher.


Não fico olhando. De maneira nenhuma. Assim que a vejo sem blusa, desvio o olhar para o teto. No entanto, é impossível negar que seus seios presos no sutiã branco de renda não atrairiam os olhares de qualquer homem. Não são grandes, mas são graciosos. Preciso esquecer que os vi, e me concentrar no teto.


"Criatura, não é melhor você se trocar no banheiro não?" – digo, ainda olhando para o teto. Rachel está tirando suas calças agora, mas eu me recuso a olhá-la.


"Qual é, nós já nos vimos em roupas íntimas um milhão de vezes." – ela diz o que eu também pensava – "Além disso, você estava só de cuecas no dia que eu cheguei do Canadá."


"Eu não sabia que você estava voltando."


"Você também estava assim no dia seguinte."


Rachel não percebe. Não percebe que tudo mudou. Não importa quantas vezes eu a tenha visto em roupas íntimas antes, porque agora eu não sou mais aquele garotinho e ela não é mais a minha menininha. Agora eu sou um homem, um homem com desejos e extintos, e por mais repugnante que eu me sinta com relação a isso, Rachel é uma garota atraente que desperta sensações em mim.


E foi por isso que eu não contei a ela o que eu sonhei naquele dia.


Porque eu sonhei com ela.



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Autor(a): mikaahm

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Rachel termina de se trocar, enquanto eu ainda olho pro teto. Quando está vestida, pula na cama onde eu já estou sentado. "Já está com sono?" – pergunto, e ela responde com um aceno de cabeça, se aninhando no meu peito no mesmo instante. Com um controle remoto, é possível apagar as luzes, então é isso que ...


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