Fanfic: Até que o Amor nos Separe (Faberry) | Tema: Glee
Vá em frente e chore, garotinha
Ninguém faz isso como você
Eu sei o quanto isso importa para você
Eu sei que você tem problemas com seu papai
—Isso só pode ser piada! –Rachel bateu na mesa com força.
Todos na sala de reunião a encarou. Aquela atitude explosiva seria digna de Quinn, e talvez o convívio com a loira estivesse a ensinando como extravasar suas emoções. Mas ao receber aquele relatório da verba que Zizes a trouxe não tinha como ficar calma.
—Sinto muito, Rachel, tentei muito que ele mudasse de ideia... –Zizes tentou argumentar.
Quando pensava que não teria problemas financeiros por um tempo, seu pai armava um jeito de mostrar que estava errada. A doação que Quinn conseguiu de Sam Evans foi tudo para garantir que seu grupo de balé pudesse participar as eliminatórias em Moscou. Ficara tão orgulhosa com a notícia de que conseguiram a classificação que após sua volta ao instituto garantiu que fosse dado uma festa em homenagem. Nunca pudera gastar dinheiro com comemoração antes e foi um verdadeiro evento no instituto. Até mesmo Quinn compareceu e as duas aproveitaram aquele dia com risos e felicidade de um futuro calmo para o instituto.
Mas nada poderia ser calmo quando se tratava de Hiram Berry. Ninguém podia ser feliz sem precisar dele. E a afronta com o financiamento mensal garantia isso.
—A culpa não é sua... Eu... –Rachel balbuciou sentindo as lagrimas chegarem aos olhos. –Só estou indignada. Ele nunca deu um valor tão baixo como esse. Podemos sustentar o musical com a doação de Sam?
—Bem, poderíamos, se não tivéssemos que comprar passagens para os pais acompanharem as meninas –Explicou Tina, sua nova tesoureira.
Quinn estava certa em contratar a mulher. Quinn tinha ajudado bastante Rachel. Ao que parece Quinn ajudava mais o instituto do que seu próprio pai.
—Tem certeza que não pode ir? –Kurt questionou.
Os pais das meninas não sentiam seguro em deixa-las com outra pessoa que não fosse Rachel. Apesar de conhecem Kurt e Camila há bastante tempo era Rachel quem sempre esteve à frente do projeto e ela que tinha o nome de peso nessas apresentações. Rachel sempre acompanhava todas as apresentações com prazer, no entanto era uma mulher casada agora. Tinha compromissos além do instituto.
—É temporada de festas. Preciso acompanhar Quinn nesses eventos. Caso elas cheguem a final ficaria um mês fora –Rachel explicou os motivos pelo qual não poderia ir dessa vez.
—Nós conseguiríamos dar conta de tudo se o valor desse mês fosse ao menos o valor base que seu pai disponibiliza –Kurt balbuciou, igualmente frustrado com o corte de verba –Mas pelo visto o musical não irá acontecer.
—Sinto muito por decepciona-la, Sra. Fabray –Zizes parecia realmente desapontada com sigo mesmo.
Rachel sabia que a mulher deve ter se esforçado. Se Hiram ainda liberou algum valor, por mais misero que seja, foi porque Zizes batalhou em seus argumentos. Porque quando Hiram se ressentia de uma situação, que era claramente a recente doação, ele sempre encontrava um jeito de retalhar da pior maneira.
—Você fez o melhor que pode, Zizes. Vá com Tina até a sala dela pra discutir se com esse valor podemos ao menos reformar o banheiro masculino –Rachel deu um sorriso complacente.
Tina e Zizes se retiraram da sala, deixando apenas Kurt e Rachel.
—Por que seu pai fez isso? –Kurt questionou.
—Pra me ver humilhar –Rachel passou a mão no rosto –Provavelmente soube da doação de Sam.
—Mas é isso que deveria deixa-lo feliz! Assim não teria que liberar mais verba pra peça.
—A mente dele não funciona assim –Rachel bufou –Ele quer me ver implorar, como fiz a vida toda.
—Você é milionária agora.
—Minha mulher é. E não envolverei Quinn nisso.
—Por que seu pai é assim, Rach? –Kurt a olhou com pena –Por que ele procura te punir quando faz algo que aparentemente ele não quer?
—Porque ele me quer sob o controle –Rachel respondeu com dor. –E o Instituto é a única arma que ele ainda tem contra mim. Não basta me casar com quem eu não queria, ou não ter permitido que nada na minha vida fosse do jeito que eu decidi. Ele tem que continuar me lembrando que pertenço a ele. Que sou dele.
Porque Hiram Berry nunca aprendeu a usar coisas. Ele gostava de usar pessoas, não importava quem fosse.
(...)
Quinn olhava pra Rachel enquanto terminava de se arrumar. Rachel parecia triste, distante. Tina lhe passou a situação com a verba de Hiram e podia entender o quão frustrante deveria ser a Rachel ter que lidar com a discrepância do pai toda vez. A própria Quinn quando assumiu a Lux afastou o pai de qualquer cargo que ele tenha poder pra não lidar com ele se envolvendo no negócio. A questão é que Russel largou facilmente o negócio quando enxergou que Quinn era capaz de cuidar de tudo.
E ao que parece Hiram nunca deixaria Rachel completamente livre de seu controle. Pra melhorar as duas ainda teriam que comparecer ao jantar na mansão Berry aquela noite.
Quinn então foi até a esposa com um porta joias a mão. Beijou o pescoço nu de Rachel com carinho e a morena sorriu através do espelho.
—Pelo menos vai ser bom ter você lá pra me dar apoio –Rachel comentou suspirando. –Era terrível enfrentar essas festas sozinha.
—Espero que isso te anime –Quinn sussurrou abrindo porta–joias e colocando o colar no pescoço de Rachel.
—Um colar de presente... –Rachel tocou na joia negra, exuberante e provavelmente cara. Ela reconheceu em alguns segundos onde que ela já tinha visto aquele colar. –Da coleção de Antoine?
—Ele é um lixo, mas sabe ter joias bonitas.
—Esse colar estava na edição Premium, o segundo mais caro da noite depois do “Canto da Sereia” –Rachel recordou-se da explicação que recebeu no dia. Alguma mulher encantada demais com a permissão de Rachel em usar o “Canto de Sereia”.
Rachel desconfiou da atitude da esposa. Sabia que Rachel tinha pouco apresso por presentes tão caro, então sua intenção não era agrada-la.
—Sim –Quinn massageou os ombros dela –Em minha defesa esse colar serve pra corroborar com a história que contei a seu pai. Sobre o colar que comprei a você.
Rachel assentiu lentamente. Claro. A história que Quinn inventou pra Hiram não intervir, e certamente ele iria querer uma prova de que a história era verdadeira. O colar de quatrocentos mil dólares em seu pescoço comprovava isso.
—A última coisa que quero hoje é agradar Hiram Berry –Rachel murmurou irritada.
Estava cansada de ter tudo na sua vida controlado para servir a Hiram Berry. Era terrível que ainda tivesse um jantar com ele. Aqueles jantares anuais, pra comemorar um casamento de fachada que os pais sustentável era sempre torturante. Não conseguia fingir estar animada nem mesmo por Quinn.
(...)
Rachel foi o caminho todo sem dizer nada, trazendo pânico a Quinn. Sua esposa era sempre tão faladeira, empolgava... Era assustador vê–la tão quieta.
—Fiz algo de errado? –Quinn quis saber.
—Não –Rachel franziu o cenho.
—Então por que todo esse silêncio? Geralmente você me bombardeia com os problemas do instituto, ou alguma história engraçada das crianças, ou até mesmo reclama que estou sendo rígida com Eros.
—Não consegui um patrocinador depois do fiasco do baile de Antoine, as matronas precisam me conhecer melhor –Quinn contou um dos problemas que rondava sua mente –Me convidaram pra uma reunião.
—E um chá da tarde com as socialites é o suficiente para irrita-la?
—Não tanto quanto ter o orçamento do musical da primavera negado –E esse era outro problema.
—Mas Lauren…
—Fez o que pode. A verdade é que não importa o que eu faça meu pai nunca valorizará o instituto e a verba humilhante que ele libera é tudo que conseguimos –Rachel fechou os punhos –Ele gasta mais com seu jatinho particular no mês do que com o instituto no ano.
Quinn começou a abrir a boca para fazer–lhe uma proposta e Rachel logo se adiantou:
—Não. Nós temos um acordo.
—Mas você tem dinheiro o suficiente para fazer vinte musicais!
—Não. Você tem esse dinheiro e eu não irei aceita–lo. Só estou desabafando com você, como casais fazem.
—Gosto de estar casada com você. Além do sexo incrível, tenho conversas que não teria com mais ninguém –Quinn comentou em uma tentativa de aliviar o clima.
—Lembre–se disso enquanto estivermos lá.
—Se você ainda não fugiu quando tenho minhas crises de raiva porque eu fugiria depois de um jantar com os Berrys?
—Porque eu prefiro mil vezes enfrentar você no ápice da sua fúria do que lidar com as mentiras e falsidade da minha família. Então a situação pode se tornar caótica.
—Estou cada vez mais ansiosa por esse jantar –A Fabray soou cheia de ironia.
Rachel não iria culpa-la. Também queria que aquele jantar acabasse o mais rápido possível.
Assim que chegaram foram recebidos com olhares analisadores, principalmente no colar estupidamente caro de Rachel. Algumas de suas tias até mesmo torceram o narizes, com inveja. Claramente o status de Rachel estava elevado após casar com uma Fabray e agora ela era a esposa que tinha a companheira mais rica no ambiente.
Pra qualquer família normal isso não importaria, para os Berrys aquilo era um sinal claro de ameaça. Todo mundo queria um papel de destaque, mesmo que fosse somente para os outros sentirem inveja.
Rachel e Quinn deram um rápido aceno a todos e seguirem em direção ao casal homenageado da noite. Shelby logo tomou a filha nos braços, a apertando. Sentia uma grande falta da sua garotinha.
—Querida, você está bem? –Shelby perguntou reparando que Rachel parecia triste.
A mãe sempre soube ler seus sentimentos bem.
—Sim, mamãe –Rachel tentou acalma-la. –Depois conversamos, tudo bem?
Shelby assentiu e se dirigiu a Quinn. Rachel então foi obrigada a encarar o pai, que analisava com seus olhos frios.
—Papai –foi tudo que Rachel conseguiu dizer.
—Não ganho um beijo também? –Hiram ficou ressentido pela frieza da filha.
—Você não liberou o valor total da verba.
—Você recebeu uma quantia alta de doação –Hiram rebateu com cinismo –Seria um desperdício dar mais dinheiro.
—Seria pra outros projetos!
—Filha, o que eu te ensinei sobre ser contida? Não podemos assumir compromissos sem ter a certeza que conseguiremos cumpri-los –Hiram decidiu por fim na conversa e cumprimentou Quinn.
Rachel respirou fundo, querendo apagar a chama de ódio que nascia em seu peito. Decidiu que precisava sair um pouco, aquela noite iria requerer muito de seu autocontrole.
(...)
—Santana. Não esperava te ver aqui –Quinn comentou encontrando a amiga sozinha no canto da sala.
—Meu pai comprou minha presença –murmurou Santana cheia de mau humor.
—O que ele te deu?
—Um Audi pra Brittany.
—Uau –Quinn reconhecia que o carro era caro.
Mas ao que parecia o valor era uma boa remuneração pra ficar com a família Berry.
—Eu sou presença vip –Santana gabou-se –Mas preferi deixar Brit em casa. Honestamente nem ela faz questão de participar de um pandemônio como esse.
—Ainda não vi nada de tão amedrontador acontecendo. Não entendo porque você e Rachel odeiam tanto sua família.
—Santana –disse uma senhora parando a frente delas.
Quinn reconheceu a Sra. Berry, a avó de Rachel. Apesar de Hiram ser o CEO da empresa da família era Virginia Berry quem comandava todos, a verdadeira rainha do lugar. Quinn a cumprimentou com respeito.
—Vovó –Santana beijou o rosto da avó contra gosto.
—Já está seduzindo a esposa de sua prima? Finalmente separou–se da pobretona? – a senhora questionou sem pudores.
—Não vovó. Quinn e eu somos amigas.
—Sei… Se quer saber sempre te achei mais bonita que a Rachel. Aproveite a oportunidade, minha filha –Virginia deu alguns tapinhas na mão de Santana antes de se retirar para atormentar outra pessoa.
Quinn ficou assustada com tal cena. Como que uma avó incentivava a neta trair a confiança de sua prima assim?
E ela estava errada, para Quinn, Rachel sempre seria mais bonita que Santana.
—Está entendendo agora? – Santana serviu–se de um grande copo de whysky.
A loira pegou o copo da mão de Santana e bebeu um grande gole. Se pensava que sua família era complicada parecia que estava enganada.
Ninguém supera os Berrys.
(...)
Rachel voltou ao salão principal, mais calma e um pouco entorpecida pela bebida. Encontrou Quinn conversando com Santana e ficou feliz pela prima ter sua melhor amiga com ela. Noites como aquela era ainda mais difícil pra “renegada” da família.
Rachel iria juntar–se as mulheres quando alguém entrou em seu campo de visão.
—Noah –Rachel cumprimentou o primo com um sorriso forçado.
—A queridinha da família – o primo disse com desprezo. –E também queridinha da Quinn. Foi você que a convenceu a colocar Lauren Zizes em vez de mim?
Aquilo pegou Rachel de surpresa. Ele realmente achava que Rachel exercia algum poder sobre Quinn?
—O que?
—Não finja, Rachel. Quinn estava inclinada a me aceitar. Mas do nada ficou perguntando sobre seu instituto idiota. Foi você, você que a forçou a me tirar!
—Eu não forçaria Quinn Fabray a fazer nada, nem mesmo se quisesse. Talvez ela tenha visto que você não é o ideal pra vaga.
—Cuidado –Noah segurou seu braço com força – Pode ter a atenção de Quinn agora mas quando ela enjoar de você vai te descartar tão fácil quanto as outras.
—Não vou perder meu tempo com você, Noah – Rachel se deslanchou de suas mãos e se afastou do homem.
Ainda entorpecida com a conversa com o primo Rachel foi pega por sua tia pelo braço, fazendo-a sentar no sofá. Com sua mãe, suas primas mais novas e a mãe de Santana ao redor delas, sua tia comentou:
—Minha pobre Rachel. Soube que se perdeu na casa de Antoine.
—Mas ao menos ganhou essa beleza de colar –Cinthia, mãe de Santana revelou. Sua mão segurou a pedra maior com força. – Valeu a pena deixar a esposinha preocupada.
—Falaram que o rapaz St. James estava lá –Isabela, irmã de Noah expos com empolgação –Rachel tinha uma paixãozinha por ele quando eram crianças.
—É uma pena que sua família tenha ficado pobre –Cinthia suspirou –Um jovem tão promissor.
—Ele não deixou de ser alguém só porque não tem mais dinheiro –Rachel rebateu aborrecida.
—Querida, ele não é mais do nosso nível. Isso já é motivo o suficiente para lamentar –Cinthia acariciou o ombro de Rachel.
—Rachel não liga pra isso, ela adora viver com os de baixa classe –Maribel, sua outra prima, que exibia uma careta enojada. –É o que você faz naquele instituto, certo? Alimenta os pobres.
—Ela faz um trabalho muito mais avançado que isso –Quinn ressoou com a voz cortante. Todas as mulheres se assustaram –E tenho certeza que se ainda não conheceu o instituto é porque até os de baixa classe são mais talentosos que você.
Rachel deu um sorriso orgulhoso a esposa. Ficava encantada com a coragem de Quinn em enfrentar qualquer um, ela não tinha medo, não se importava com as consequências. Rachel desejou ser mais como ela.
—Quinn, quando me dará netinhos? Pelo que sei o seu instrumento funciona muito bem –Shelby olhou pra nora cheia de expectativas.
A pergunta embaraçou tanto Quinn quanto Rachel. Apesar de terem experimentado algumas preliminares nunca chegaram a consumar realmente o casamento. E sequer pensaram na possibilidade de gerarem uma vida juntas.
—Rachel e eu não conversamos sobre isso. Além disso já temos Eros, que nos dá trabalho como um filho –Quinn brincou para disfarçar o clima tenso entre ela e Rachel.
—Minha Rachel nasceu para ser mãe. Já que possui tantos talentos com as crianças será uma ótima mãe –Shelby deu um beijo no rosto da filha –E eu quero muito ter netinhos.
Santo Deus, Rachel pensou, ela já está até falando no plural!
—Vai que Quinn muda de ideia sobre o contrato –aconselhou Cinthia –Um filho pelo menos garante que estará sempre na família Fabray.
Rachel sequer acreditou que ela realmente disse isso, na frente de Quinn. Como se Rachel fosse essas mulheres que usam os filhos pra manter o marido presos a elas, como se Rachel fosse a própria Cinthia que teve Santana apenas pra satisfazer a vontade do marido.
Aquilo foi a gora d’agua.
—Vou levar Quinn para conhecer meu quarto, com licença –Rachel ergueu–se e segurou a mão de Quinn.
Enquanto subiam, puderam ouvir o grito da vovó Berry:
—Isso mesmo, já vão treinando!
Rachel avançou ainda mais o passo depois disso. O quarto de Rachel era o último do corredor; o mais distante possível dos pais e o que tinha a melhor vista do céu. Ela amava chegar em casa e ficar assistindo as estrelas quando era adolescente.
Assim que chegaram ao quarto, Rachel fechou a porta e respirou fundo.
—Desculpa pelo pesadelo lá embaixo –Ela transmitiu um olhar triste a Quinn.
—Você e Santana realmente não se encaixam nessa família –Quinn beijou sua mão.
O coração aliviou–se por Quinn não pensar que o comportamento condenável de sua família também era o dela. Passou a observar aquele cômodo, e estranhou como aquele lugar já não a fazia sentir–se como casa. Na mansão Fabray, por mais que a grandeza ainda a assustasse, Rachel sentia a liberdade de fazer ou ser quem ela era, Quinn sequer palpitou nas escolhas que fazia na decoração do quarto. Já na casa dos Berrys tudo ali tinha sido arquitetado por sua mãe e aprovado pelo seu pai.
Nada era dela.
—Você era a coisa a mais fofa desse mundo –Quinn estava com uma moldura na mão.
Era uma foto de Rachel vestida em roupa de balé. A morena sorriu com a lembrança.
—E a mais irritante também. Ninguém gostava de brincar comigo. Sempre dominando tudo, ordenando… como uma perfeita Berry.
Quinn procurou mais informações na cabeceira. Estava amando explorar as coisas de Rachel, o modo como tudo ali era claramente o que sua esposa gostava. Havia uma outra foto, Rachel fazia careta enquanto Jesse ameaçava enfiar a língua em seu ouvido. Quinn segurou a moldura com tanta força que quase a quebrou.
—Vocês eram próximos –Quinn comentou enciumada.
—Ele era meu melhor amigo –Rachel contou acuada. –Ainda é difícil entender como ele foi cruel com você.
Pra Quinn era bem fácil de compreender. Jesse St. James vinha de uma família tradicional, que ensinava preconceitos e vaidade. Apesar de não considerar Rachel uma afronta, Quinn que possuía sua singularidade genética e era também uma garota com um futuro poderoso resultava em tudo que Jesse aprendera a odiar.
Entretanto em sua amizade com Rachel, Jesse foi o único que não a abandonou. Era compreensível seu apego ao homem.
Quinn deixou o retrato de lado e pegou outro em sua mão, esse já era mais peculiar. Rachel estava nos braços do pai, dando seu sorriso brilhante. O homem sorria também, com os braços ao redor dela. Era estranho ver aquela aproximação dos dois, uma demonstração que nunca imaginou Hiram Berry ter.
—Ele era meu herói –O tom de Rachel foi de pura nostalgia –Eu era a princesa de seu reino e ele fazia o mundo dobrar–se a minha vontade.
—Em qual momento isso mudou? –Quinn quis saber.
—Conforme eu crescia e via que ele não estava certo. Piorou quando descobri sobre seu caso com LeRoy. Toda ilusão de salvador, de dono da verdade, foi destruída nesse momento.
Quinn podia compreender. Não idolatrou Russel, mas a mãe era tudo em sua vida. Apesar de ter sido a morte quem as separou perder uma presença constante era doloroso. Principalmente de alguém que costumava ser sua direção.
—Acho que já estou calma o suficiente pra encarar o jantar, assim podemos ir embora –Rachel segurou a mão de Quinn para saírem dali o mais rápido possível. Já sentia as memorias tristes a arrastando para uma escuridão guardada em seu coração.
Assim que chegaram a porta Quinn escutou vozes vindo do corredor. Masculinas, e uma delas era do pai de Rachel. Quinn segurou Rachel pela cintura e tampou sua boca com a mão. Talvez escutariam algo importante sobre o instituto.
—Espere – pediu a loira.
—...estar aliviado que Rachel deixou de ser seu problema –disse o Nicholas, pai de Santana.
—Mesmo casados filhos nunca deixa de ser problemas. Deveria saber já que vive comprando a atenção de Santana –Hiram falou em tom jocoso.
—Mas não sou eu quem sustenta um Instituto que não dá lucro para minha filha.
—Eles sequer pensa no bem que estamos fazendo lá –sussurrou Rachel tremendo de raiva.
—E o garoto Finn? Resolveu o problema? –quis saber Nicholas.
—Oras, meu acordo com ele acabou no momento que ela casou. Se ele aprontou algo, Fabray já deve ter lidado com ele.
—Depois sou eu quem mima Santana. Até namorado falso você já pagou pra Rachel.
Os homens riram e passos foram dados em direção a escada. Quinn ficou paralisada, observando as reações de Rachel. Primeiro o choque, a negação e lentamente a compreensão do que o pai fizera.
Ela se afastou de Quinn bruscamente, deixando as lagrimas rolarem em suas bochechas.
—Rachel, acalme–se… Rachel! –Quinn não conseguiu segura–la a tempo.
Rachel correu até o andar inferior e toda família passou a encara–la quando berrou:
—Você pagou Finn pra namorar comigo?!
Um silencio sepulcral, respirações foram contidas. Hiram virou–se lentamente sob os calcanhares, respirando fundo. Rapidamente percebeu o erro que cometeu e que aquela altura não tinha como negar o que disse.
—Rachel… –murmurou o homem.
—A verdade, Hiram, se você conseguir se lembrar como é disser isso–O tom ameaçador de Rachel fez a mãe dela estremecer. A filha já estava além da compreensão.
—Tínhamos um acordo... –argumentou Hiram.
—Meu Deus…
—Ele me fornecia informações suas, apenas pra cuidar do seus interesses.
—Do seus interesses! –Rebateu Rachel, apontando para o pai. – Porque tudo que eu posso fazer na vida é seguir os seus planos, a sua visão de vida que criou pra mim. Você controlou até mesmo quem eu devo amar.
—Filha…
—Você sabia disso? –Rachel olhou para mãe, e viu a verdade em seus olhos. –Vocês todos sabiam?
Ninguém negou. Claro que esconderiam o segredo de Hiram, todos temiam sua reprimenda. Então Rachel procurou a única pessoa daquela família que não tinha nada a perder. A pessoa que até o momento era a parente mais próxima que tinha.
—Santana? –Sua voz soou quebrada.
—Prima… –Santana olhou para baixo, entregando sua culpa.
—São todos doentes! –Rachel quase arrancou os próprios cabelos. –Um bando de bonecos na mão dele!
—Rachel, você mostrará respeito a mim nesta casa –O pai soou autoritário. Sua voz de trovão ressoou em todos.
Porém já não tinha efeito em Rachel. Naquela noite Hiram perdera qualquer respeito que a filha tinha por ele.
—Como você me respeitou? –ela foi até ele, encarando–o de igual pra igual –Você não pode mais ameaçar me jogar na rua, me deixar sem dinheiro. Garantiu que eu não fosse mais sua para controlar. E não pode me tirar do instituto, porque ele está fundado com meu contrato de casamento. O meu cargo vem do contrato, pra garantir que eu não voltaria atrás quando decidi assinar. –Ela respirou fundo –Eu vou conseguir tirar o instituto de você e depois nunca mais terá nada pra usar contra mim. Vamos ver como será depois que perder seu trunfo para me controlar.
Rachel preparou–se para sair quando Hiram a impediu, agarrando–a pelo braço. Quinn ficou em prontidão, pronta para defender a esposa no primeiro sinal errado de Hiram.
—Não de as costas pra mim, filha –Hiram pediu endurecido. Mesmo errado ele ainda agia como se Rachel devesse alguma coisa a ele.
Rachel virou em sua direção, e em seus olhos castanhos guardavam uma fúria contida. Uma magoa profunda. E uma certeza saiu de seus lábios:
—Você não tem mais uma filha.
Soltou–se de seu aperto e foi até a esposa, entrelaçando seus braços. Sem olhar para o resto da família, falou em bom tom.
—Vamos, Quinn. Deixe–me tira-la desse ninho de cobras.
E juntas saíram dali, dando as costas a família Berry. A Hiram.
E Rachel sentindo em seu coração que o sobrenome Berry não a pertencia mais.
(...)
Quinn sentou no banco do motorista e observou a esposa antes de dar partida. Rachel chorava silenciosamente ao seu lado, e aquilo doía em Quinn.
—Rachel…
—Me leve pra casa –Rachel ajeitou–se no banco e arrumou seu cinto. Deixando claro que o lugar que estavam não era mais “sua casa”.
Quinn não contestou, e passou a dirigir de volta a mansão.
—Não acredito que todos sabiam. Que Santana…
A culpa preencheu Quinn. Ela também sabia, e se aproveitou disso para afasta-lo. Como Hiram suspeitou ela cuidou do problema. Isso não a tornava nenhum pouco diferente do pai de Rachel.
—E Finn, mentiu o tempo todo. Me fez acreditar em tantas coisas… Agora eu vejo. Como ele concordava com meu pai em tudo, como se esforçou pra me fazer mudar de ideia sobre a faculdade, sobre o instituto. Tudo isso era ele. Tudo era Hiram! –Rachel fechou os punhos.
Quinn não disse nada, deixando–a desabafar.
—Ainda te coloca no mesmo nível que ele. Como se você fosse capaz de algo assim –Ela secou as lagrimas.
—Rachel… –Quinn a olhou quando foi obrigada a parar no sinal.
O chamado trouxe a atenção de Rachel a ela. A morena viu um mar de tristeza ali, e um sentimento de culpa...
—Por que está me olhando assim? Por favor não me diz que desistiu de mim agora porque eu acabei de fechar a porta da única casa que eu tinha.
—Não é isso –o sinal abriu e Quinn foi obrigada avançar. Não podia contar a verdade a Rachel naquele momento, não enquanto sofria com a decepção pelas mentiras do pai. Por isso, apoiou sua mão na dela e disse –Saiba que pode contar com a minha proteção. Sempre.
Rachel pegou a mão dela e levou até os lábios. Depositou um beijo longo, terno, um beijo de agradecimento.
—Obrigada, Quinn –Rachel a olhou profundamente. –Se consegui enfrenta–lo hoje é porque me inspirei em sua coragem.
Coragem? Quinn quis rir. Ela era uma desgraçada mentirosa, que por covardia de não ser o suficiente para Rachel pagou seu ex para sumir da vida dela. Rachel não merecia tal desconfiança, nem traição. A admiração nos olhos de Rachel fez Quinn sentir–se o pior dos monstros.
Quinn não era melhor do que Hiram Berry. Na verdade Rachel sofreu o azar de casar–se de alguém exatamente como ele. Quinn não era sua heroína.
Na verdade era sua mais cruel vilã. Pois mentia pra si mesmo que guardar a verdade de Rachel evitaria que se machucasse mais. Pois se Rachel era capaz de dar as costas ao próprio pai o que faria então com ela?
Com medo da resposta, Quinn não contou sua verdade. E no que dependesse dela, nunca contaria.
Autor(a): blacksweetheart
Este autor(a) escreve mais 5 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Na vida, no amor, não posso me dar ao luxo de perder Por um, por todos, eu farei o que tiver que fazer Você não consegue entender, é tudo parte do plano —Rachel, desfaça essa cara emburrada –Quinn mandou enquanto as duas desciam a escada. Rachel revirou os olhos, era impossível disfarçar su ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo