Fanfics Brasil - Quem sou eu? Portões da Retribuição - Akalyana

Fanfic: Portões da Retribuição - Akalyana | Tema: Fantasia, raças


Capítulo: Quem sou eu?

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Sinto frio, muito frio.


Encolho-me mais e sinto uma parede nas minhas costas, me encolho para me tentar me aquecer. Continuo com muito frio.


Sinto a água escorrer pelos meus cabelos e seguir pelo meu corpo, tudo parece girar quando tento me mexer, um vazio quente se afunda no meu peito. Que sensação é essa?


Encolho-me mais, querendo chorar. Tento me lembrar do que houve e como vim parar aqui, e minha cabeça começa a latejar. Sinto minha pele arrepiar com o vento trazido pela chuva e noto que estou totalmente nua. Tento puxar pela memória e nada. Cabeça dói intensamente.


Estranho não conseguir lembrar de nada, mexo meu braço e sinto cada pontinha do meu corpo doer. Vejo estrelas de tanta dor e paro de tentar me mover.


Ouço passos ao longe, tenho medo. Muito medo.


Sinto alguém se aproximar de mim, mantenho meus olhos fechados e a cabeça baixa. Com a dor que sinto não é difícil fingir que estou apagada. Às vezes parece que estou mesmo.


Sinto seu cheiro antes de chegar mais perto. O ar ao seu redor está quente. Ele fez algum esforço e sinto sua respiração próxima ao meu rosto. Algo cai em cima de mim e bate nos meus ombros e desliza pelo meu corpo. Calor. Aos poucos sinto o calor nascendo.


Preciso saber quem me cuida, quem me aquece. Abro meus olhos com dificuldade, está chovendo muito. Quando a chuva ficou mais forte? Há pouco era só uma garoa. Quanto tempo tinha se passado, desde a última vez que tentei me mover?


Virei meu rosto um pouco para o lado, meus cabelos estavam muito pesados e tampando quase toda a minha visão e, com a chuva, piorava ainda mais. Tentei abrir um pouco os olhos, precisava saber de quem era aquele cheiro, parecia familiar.


Então eu vi: um par de olhos escuros me encarando e, por um segundo, o tempo e o frio cessaram. Todo meu corpo se aqueceu, como se nunca tivesse estado ali naquela chuva. A sensação tomou conta de todo o meu corpo, me fazendo sentir tão bem...


Eu me senti segura. Era como se fizesse muito tempo que não me sentia assim. 


O estranho ficou bem perto de mim, tinha se encurvado. Eu olhava para ele e não queria que me deixasse assim, que levasse embora aquela sensação boa. Eu simplesmente não queria, ainda que nem lembrasse como eu havia chegado ali. E também não entendia porque me sentia assim com o estranho que só me olhava. 


Fiquei com medo. Esse estranho medo de ficar sozinha de novo no frio e, por fim, juntei toda a minha força e pedi.


– Ajude-me. – Minha voz soou estranha, não se parecia com a minha. Mas, como eu era antes? Como minha voz era antes?


Eu quero sair daqui com o estranho. Quero que ele mande o frio embora. Quero saber o que aconteceu. Dor. Minha cabeça parece que vai explodir. 


A visão dos olhos do estranho foi minha última lembrança e tudo ficou preto...


Sinto meu corpo balançar, é uma candência gostosa. Quente, me sinto quente. Aos poucos meus sentidos voltam e a minha realidade também.


A última coisa que lembro é de pedir ajuda a um estranho. Sinto muita confusão ainda. O que aconteceu comigo?


Num esforço, abro meus olhos. Vejo um pescoço e mechas de cabelo escapar por um capuz. A chuva continua apertada. Ele está me carregando. Percebo que não sou muito pesada, pois ele aparenta não se esforçar para isso.


Sigo os traços de seu rosto e chego a seus lábios, rosados e bonitos. Eles tremem, deve estar com frio. Aninho-me mais contra seu peito, chove muito forte. Não preciso olhá-lo para ter certeza de que estamos encharcados. Então ele me olha.


Eu sei que estou nua embaixo daquele casaco, mas a sensação que tenho é de que isso nada vale perante aquele olhar. É como se me desvendasse, como se quisesse respostas para coisas que eu não sei.


Continuo sustentando meu olhar. É impossível desviar, e aquela sensação de familiaridade volta. Minha cabeça dá sinais de vida, a dor começa lentamente. Eu não quero que ela vá embora, eu quero saber mais sobre ele.


Sinto que seus passos se apressam. Fico mais sonolenta. O ritmo cadenciado dos passos me deixa relaxada, meus olhos ficam pesados. Eu não quero dormir, grito para minha mente. Mas sei que ninguém escuta.


Eu continuo olhando até quando posso para o estranho e aos poucos sinto o sono me levar. Meus olhos vão fechando lentamente e é como se o frio tivesse voltado...


Sinto a água cair sobre meu corpo, é diferente da outra água. Senti-me bem, ela estava lavando meu corpo e as lágrimas que eu deveria ter derramado em algum momento.


Sinto um leve roçar de dedos na minha pele, um arrepio me sobe a espinha. Eu quase posso sentir o cheiro dele, eu sei que está perto, arrisco a dizer que muito perto e isso me incomodava. Meus olhos continuavam fechados.


Lembrei-me de como o encontrei, aliás, era só o que me lembrava. Mexi-me, me senti desconfortável, mesmo naquela água morna, eu queria lembrar, não queria me sentir estranha. E mesmo assim, ele continua perto de mim, perto demais, porque ele continuava tão perto? Isso me irritava, e os pontinhos começavam a brilhar, a dor estava ali só na espreita.


Decidi me acalmar, tudo era melhor que a dor. Relaxei, a água quente era divina. Um movimento e as palavras inundaram minha mente.


-- Não vou te fazer mal, você está sangrando muito e preciso cuidar disso. Preciso saber a extensão dos seus ferimentos para ajuda-la. – Ele me disse, e cada sílaba mexeu com minhas entranhas. Sua voz era doce e baixa, quase terna. Era como se ele estivesse realmente preocupado comigo, era estranho. Como ele reagiria quando eu não soubesse responder suas perguntas? Por que uma hora iria querer explicações, que não tinha para lhe dar e talvez nunca tivesse. Dor mais uma vez.


Queria poder retribuir o estranho bondoso, afinal de contas havia me ajudado. Mas por quê? Eu estava em sua casa, pela água quente supôs que estava no banheiro, puxei seu casaco mais para perto, estava consciente da minha nudez.


- Cuidar? – A palavra saiu mais rápido do que pude pensar, por que ele queria me cuidar?


Abri meus olhos aos poucos, pois queria decifrar cada detalhe. O que de tão especial tinha para ouvir tais palavras? Por que simplesmente não me deixou largada na rua? Por que eu nem sequer me lembro de ter chegado lá? E de todas as minhas perguntas à única que não me fazia, era se confiava nele? Por que de todas as minhas respostas, a única que diria era sim. Eu, que não sei quem sou, confiava no estranho que não sabia quem era. Estranho não? Eu sorri com esse pensamento


Voltei a olhá-lo, ele parecia esperar uma resposta. E merecia uma. E eu merecia várias.


- Não se preocupe comigo, estou bem. Onde estou? Pode me ajudar? Posso me lavar?- Tentei soar o mais normal naquele momento possível, mas minha voz saiu mais aguda do que eu queria.


- Certeza? – Balancei a cabeça concordando.


-Está bem, vou trazer toalhas e uma roupa minha para usar. Tome um banho e tente relaxar e quando terminar, conversamos melhor.


E assim o vi se distanciar e se aproximar da porta. Por um segundo, um milésimo de segundo, me senti naquele beco novamente, frio e solitário. Queria que ele não fosse embora, mesmo sabendo que era melhor, mas naquele segundo não queria que me deixasse só.


E como se lê-se meus pensamentos, ele  virou-se e me olhou, o mais profundo dos olhares. Enquanto ele me carregava mais cedo, não tinha reparado em como eram bonitos e agora me dei conta de como seus cabelos eram claros e compridos.


Chegavam até o pescoço e havia uma sombra em seu rosto, provavelmente uma barba. Ele ainda estava molhado, as roupas grudavam em seu corpo e devo admitir que era bonito, mas um bonito diferente do que eu poderia dizer.


Sinto-me ficar quente, sinto meu rosto quente. Deve ser a água, que não parava de escorrer.


Eu me sentia invadida naquela olhar, como se ele soubesse todos os meus pensamentos. Cada um deles, e isso me envergonhava. E assim ele foi embora silenciosamente, deixando-me vazia e só.



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Autor(a): akalyana

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