Fanfics Brasil - Sonhos Parte I Portões da Retribuição - Akalyana

Fanfic: Portões da Retribuição - Akalyana | Tema: Fantasia, raças


Capítulo: Sonhos Parte I

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Leve. Sentia-me leve e tonta ao mesmo tempo.


Abri meus olhos lentamente e fitei um teto branco, num olhar mais apurado pude notar pequenos desenhos, quase arabescos num tom de azul bem fraco. 


Meus lábios estavam secos, minha garganta chiava. Sede. Sentia muita sede. 


Mexi a ponta dos meus dedos e depois tomei consciência de todo o meu corpo, leve e intacto. Nenhum ponto de dor e tudo se movia normalmente. Onde o estranho estaria? Lembrei-me da nossa última cena, senti meu rosto queimar de vergonha. Não era para ele ter visto aquilo, suponha-se que um homem não entra no banheiro de uma mulher, sozinho. Mas ele entrou o que eu podia fazer? 


Eu devo ter desmaiado não me lembro de mais nada depois do banheiro. Senti-me confortável, estava deitada em uma cama enorme, travesseiros fofos recostavam minha cabeça, movi minha cabeça para o lado, os lençóis eram azuis, da cor dos meus olhos. Olhei ao redor, o quarto era branco nas paredes e  no teto, mas os móveis eram de um tom de azul diferente, junto com os desenhos do teto e a cama.


Levantei-me, aliás tentei. Uma tontura tomou conta de mim, senti pela primeira vez náuseas, e fui obrigada a me recostar nos travesseiros novamente, fechei os olhos e pela segunda fraquejei.


O que será que está acontecendo comigo? Por que estou aqui? Para onde ele me levou?


O mais estranho, é que eu não estou com medo e nem assustada. Não dele. A confiança de que ele jamais me faria mal, me assusta. Ele é um estranho para mim, tento puxar pela memória algum dado novo sobre o local ou sobre ele, para provar essa certeza toda, mas nada me vem a mente e nem a dor de cabeça habitual e isso me surpreende. 


Sinto-me ansiosa. A palma das minhas mãos suam.


Passos. Ouço passos. Viro-me rapidamente no travesseiro, acalmo meu coração e fecho meus olhos. Acho que fingir que estou dormindo é a melhor coisa agora, não sei se estou pronta para qualquer outra coisa.


Os passos param, ouço o barulho de uma porta se abrindo. Os passos retornam e se tornam mais próximos. Aproxima-se da minha cama. Sinto um peso no colchão, como se alguém se sentasse.


Então vem o toque em meus pés, como uma pena a roçar. E uma corrente elétrica passa por todo meu corpo, tudo para ao meu redor. Eu paro de respirar. Então tudo vem à tona.


Abro meus olhos, não estou mais no quarto branco com azul. Estou numa cachoeira, sinto a água fria batendo levemente pelo meu corpo, estou deitada entre as pequenas pedras. A sensação agradável da água gelada na pele me acalma.


Meus cabelos longos e rebeldes cobrem partes estratégicas do meu corpo, minhas costas estão amparadas por uma pedra maior e lisa, e posso me escorar para apreciar o Sol enquanto aquece minha pele molhada. Noto que não consigo me mover, eu não consigo fazer algo diferente do que meu corpo faz, é como se agisse sozinho.


Não posso me mover, não posso falar, nada posso fazer por mim mesma, como uma marionete. Posso apenas testemunhar os acontecimentos e se por um lado isso me inquieta por outro me deixa ansiosa, como num sonho bom.


Ouço passos, meu corpo fantasma, já que não sou mais eu, automaticamente se vira para a direção dos passos, que ficam mais próximos, chegando à frente. Uma sombra grande se põe contra a luz do Sol e meus lábios se retraem automaticamente como um sorriso, sim eu sei que estou sorrindo e me sinto muito feliz por isso. Embora não saiba por que.


Então minha cabeça é erguida enquanto a sombra se abaixa lentamente, ficando da mesma altura que eu e para minha maior surpresa, o estranho estava naquele sonho.


Sim, o estranho daquele banheiro, o estranho que me tirou da rua estava lá.


Tocou de leve meu queixo e sorriu, seus profundos olhos escuros eram os mesmos de antes, mas ao mesmo tempo não eram. Os do sonho aparentavam um brilho, que o meu estranho não tinha. Meu? Por que eu disse isso? Por que pensei dessa forma? Ele é só um estranho, não é? 


O estranho se aproximou do meu rosto e beijos meus lábios, minha boca formigou, senti minhas bochechas queimarem, um calor repetindo me assolou. O beijo foi leve e rápido, aparentando não ser o primeiro. Mas eu nunca tinha sido beijada, pelo menos que eu me lembrasse, nunca e por que o estranho estava me beijando? Eu gritava dentro da minha cabeça, mas o “eu” que estava ali não se movia, apenas sorria.


- Senti sua falta Akalyana. – O estranho disse se afastando. A voz grave tocou meu coração, lá no fundo. Carregada de uma emoção que me assombrou. Nem o estranho do banheiro tinha uma voz assim.


Senti como se pequenos pedaços quebrados se colassem dentro de mim, me senti quente novamente, muito mais do que quando me beijou ou quando estava no banheiro. Um calor mais forte que o próprio fogo, intenso, como se passasse por cada pedacinho do meu corpo.


E em meio ao calor, quem era Akalyana? Eu me chamava Akalyana? A única coisa que me lembro é da chuva e do estranho, não sei quem sou.


O meu “eu” fantasma levantou da pequena pedra, empurrando o estranho para o chão e deitando-se por cima dele, ignorando meus protestos e gritos, o fantasma parecido comigo o beijou. Numa cadência diferente do outro momento, intenso.


O beijo demorado, enfim terminou e uma voz que definitivamente não podia ser minha, saiu da minha boca: - Eu também senti a sua, Zane. – E continuou a beijá-lo.


Zane? O estranho não tinha dito seu nome, mas não houve tempo para dizer. Então ele se chamava assim? Zane?


Sombras tomaram conta da cena, eu já não era o fantasma dentro de mim e sim via de fora. Como se estivesse naquela cachoeira. E depois a visão foi se afastando, como se eu estivesse correndo. Gritei pra voltar, algo em mim queria falar com o estranho, queria falar com Zane. Gritei a plenos pulmões:


- Zaaaaneeeeeeee!!!!! – E nada aconteceu, nada havia mudado. Ele e meu “eu” continuavam indo embora.


Por que algo dentro de mim queria ficar naquela cachoeira para sempre? Quem é o estranho chamado Zane?


Então meus olhos voltaram ao quarto, pisquei algumas vezes na esperança de ver as pedras novamente, mas nada mudou. Nada além daquele branco que começava a me irritar.


O toque que era brando se tornouforte. Quando me virei, quase gritei de susto. O estranho que eu conheci na rua, que me levou para seu banheiro e que havia me beijado na cachoeira e que “eu”tinha chamado de Zane, estava sentado na minha frente e  com a mão na minha perna, me olhando profundamente.


Um olhar cansado. Quase quebrado, se fosse possível dizer assim. Eu, não sei por que, quis chorar quando o vi. Pela primeira vez desde que ele me achou na rua, eu quis abraça-lo e chorar em seus braços. Abraçá-lo até que o brilho que eu vi na cachoeira tivesse voltado.


Casa. Eu queria ir para casa, qualquer casa. Com ele. Com o estranho que eu chamei de Zane.


- Eu não tenho muito tempo, Akalyana.  Escute minhas palavras com atenção. – Disse o estranho.



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Autor(a): akalyana

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