Fanfic: Os segredos da Ópera Garnier - O Fantasma da Ópera | Tema: O Fantasma da Ópera
Estou correndo, sem olhar para trás, sinto tanto frio e medo que somente quero achar a saída desse teatro. Parece que errei o caminho e não consigo encontrar a recepção. Os pelos dos meus braços estão arrepiados e sinto o perigo eminente de estar nesse lugar. Não há ninguém aqui a não ser eu e Erik. Quero me afastar o mais rápido possível dele. Não vou ceder a minha curiosidade de conhecê-lo. Sei que isso não pode dar em algo bom.
Em pânico, consigo encontrar a saída e acho a recepção. Ainda não há ninguém no local, o que parece estranho. Saio do teatro, tropeçando em meus pés. Desço as escadas correndo e dou um encontrão em alguém. O homem que esbarrei fala algo em francês que aposto ser um palavrão. Não dou atenção e continuou a correr. Meu celular vibra no bolso da minha calça, mas não quero atender. Tremo de medo e sinto o frio percorrer minha espinha. Encontro uma praça e me largo no banco. Respiro profundamente, tentando reorganizar meus pensamentos. Lembro-me do rosto de Erik, deformado de um lado e belo do outro. Nunca vi algo parecido. Somente em meu sonho, contudo o homem que apareceu é muito mais grotesco que ele. Erik é belo e trágico ao mesmo tempo. Porém, o meu medo irracional continua presente, como se fosse um alerta do meu inconsciente para me afastar dele o quanto antes. O celular volta a vibrar, tirando-me dos meus pensamentos.
- Alô? – falo.
- Onde você está por Deus? – a voz do de Oliver sai do aparelho em tom exasperado.
Respiro fundo e tento me localizar. Não faço ideia.
- Eu não sei. Andei vários quarteirões e achei um teatro – respondo – Sai de lá e parei em uma praça. Mas não sei onde está localizada.
Ele bufa.
- Tire uma foto do local e do que estiver próximo e me envie – ele orienta.
Faço isso e envio a mensagem. Ele diz que em dez minutos irá me encontrar. Suspiro aliviada e aguardo. Ainda estou perturbada pelos últimos acontecimentos, mas saber que meu amigo está vindo me alivia. Ele chega como prometido e me fita com preocupação.
- Você está pálida – ele comenta – Parece ter visto um fantasma.
Dou uma risada fraca. Realmente eu vi um, mas não literalmente.
- É mais ou menos isso – digo.
Ele me encara, espantado. Senta ao meu lado, segurando minhas mãos.
- Como assim? Não vai dizer que acredita nessas bobagens? – ele pergunta, tentando usar um tom brincalhão, mas sei que está preocupado comigo.
- Não, claro que não – respondo tentando acalma-lo – É só que encontrei um teatro, a algumas quadras daqui. Ele estava aberto e vazio. Resolvi investigar e encontrei um camarim. Abri a porta e me deparei com um homem estranho. Ele tinha um lado do rosto deformado. Fiquei tão impressionada que sai porta a fora – omite é claro, que ele parecia com o fantasma da ópera e que seu nome era Erik. Claro que isso tudo não passa de uma bobagem.
Ele me encara, curioso.
- Esse cara não parece com a discrição daquele fantasma? – ele pergunta pensativo – Sim, do fantasma da ópera.
Ele gargalha, achando graça. Forço um sorriso. Para mim não teve graça, mas pensando bem, parece muito ridícula toda essa situação.
- É, parece mesmo. Mas ele devia estar com uma maquiagem – respondo, tentando justificar o que aconteceu – Eu só me impressionei demais.
Ele sorri.
- Que bom, pois pensei que teria que interna-la – ele brinca.
Reviro os olhos.
- Não precisa exagerar – digo, irritada – Então, quando vai me mostrar a Ópera Garnier?
- Essa noite. Comprei ingressos para uma peça – ele diz, mostrando para mim – Se chama Como Gostais, de Shakespeare. Você vai gostar, tem música na peça. Vai entrar no clima da ópera.
Assinto, agradecendo ele. Não era o que esperava, mas tudo bem. Uma comédia para rir hoje me fara melhorar o humor. Resolvemos voltar para o hotel e descansar. Vou dar inicio a escrita da peça e espero que consiga montar o enredo hoje.
***
Paris é linda a noite. Tão bela e inspiradora. As ruas continuam cheias de turistas. Caminhamos até a Ópera Garnier, pois é perto do nosso hotel. O local é deslumbrante. O estilo é neobarroco, descorada com estatuas de anjos a cima do telhado. O local está abarrotado de pessoas e temos dificuldade para entrar. Entregamos nos ingressos na entrada e tenho a visão de uma escadaria enorme. Decorando os corrimãos, há lustres, deixando o ambiente em um aspecto dourado. Subimos as escadas e somos guiados para um anfiteatro enorme. Há muitas pessoas no local, sentadas em poltronas vermelhas. Estou tão animada que não consigo descrever o que sinto. É um misto de admiração e nostalgia. Há camarotes do lado esquerdo e direito do anfiteatro, revistos em dourado e vermelho. Estou triste em saber que ficaremos na plateia hoje. Todos estão lotados. Achamos nossa poltrona, um pouco afastada do palco, com cortinas vermelhas e douradas e nos sentamos. Aperto a mão de Oliver, em um mudo agradecimento por ter me trazido aqui, na cidade da luz. Ele sorri para mim, tomando minha mão, plantando um beijo em minha palma.
A peça se inicia e o anfiteatro mergulha na escuridão e os atores entram em cena. Cada um é representado de uma forma cômica e deslumbrante. A história é sobre um irmão que rouba o ducado do seu irmão mais velho e o expulsa para a floresta. A filha do antigo duque, Rosalinda, é mantida junto a sua prima, Célia, filha do duque usurpador. Rosalinda não é expulsa pelo amor que sua prima devota a ela. Rosalinda conhece Orlando, amigo do duque exilado, seu pai. Rosalinda então é expulsa pelo tio e ela passa a se disfarçar de homem e vai procurar seu pai na floresta. Célia a acompanha. Orlando, fugindo do seu irmão Oliver, que quer assassina-lo, também vai à mesma direção. Os dois se encontram na floresta e ela finge ser homem e ensina-o a conquistar sua amada Rosalinda. É realmente uma comédia trágica e rio sem parar da história dos personagens. É trágico, pois irmãos invejosos tentam matar seus irmãos, ao invés de viver suas próprias vidas e cômico pela situação em eles estão vivendo, dentro de uma floresta e no caso de Rosalinda, interpretando um papel de um homem.
Quando começa o terceiro ato, dirijo meu olhar para os camarotes, e posso ver um vazio, exceto por uma sombra. Posso ver claramente uma mascara branca pela metade. Pisco algumas vezes, para ter certeza que não estou imaginando nada. Consigo ver ainda e os pelos da minha nuca se arrepiam. Não pode ser real, talvez seja alguém querendo pregar uma peça, se fantasiando como o fantasma. Contudo, seu rosto se vira para mim e posso ver que está fixando o seu olhar intenso. Estou incomodada e não consigo mais prestar a atenção devida à peça. Peço licença a Oliver para sair. Digo que vou ir ao banheiro. Saio do anfiteatro e busco uma maneira de achar o camarote. Contudo, apenas encontro corredores extensos e não sei para qual lado devo seguir. Sinto a presença de alguém atrás de mim, mas não me viro. Estou paralisada de medo e temo quem vou encontrar. E se for o fantasma ou se for Erik, aquele homem do teatro que encontrei hoje à tarde? Os dois parecem duas opções péssimas.
- Está perdida? – uma voz de barítono diz atrás de mim, com leve sotaque francês.
Viro-me e encaro um par de olhos azuis belíssimos. É Erik, contudo seu rosto está normal, sem nenhuma cicatriz. Seus olhos reluzem pelo reconhecimento e um sorriso petulante brota em seus lábios carnudos.
- Então é a pequena Emma – ele diz, em voz baixa – É um prazer revê-la novamente.
Eu engulo seco. Ele parece zombar de mim.
- Eu deveria saber que era você. Está sempre bisbilhotando por ai, procurando algum segredo – seu tom é sério, mas percebo uma nota de divertimento – Está procurando alguém?
Endireito minhas costas, tentando preservar o resto da minha dignidade.
- Não, apenas busco o banheiro – minto.
Ele sorri.
- Está no corredor errado, é para lá – ele aponta.
Dou um sorriso amarelo e agradeço. Caminho, tentando me afastar mais dele. Ele continua me encarando, com um ar sarcástico e posso notar que seu rosto é muito pálido, como se não tomasse sol há meses. Desvio o olhar, constrangida e continuo olhando para frente. Sua presença é sufocante, como se ele estivesse domando todo esse lugar, como se fizesse parte dele.
- Se veio buscar uma história em Paris, pequena Emma – ele diz, atrás de mim, em tom sombrio – Deveria pensar muito bem antes de investigar algo que não conhece. Eu sugiro que você vá embora depressa, ou sofrerá muitas consequências.
Paraliso no lugar. Sinto um frio intenso em sua presença. Estou suando. Contudo, não vou me deixar intimidar.
- Isso é uma ameaça? – pergunto, em tom insolente.
Viro para encara-lo e seu semblante é sóbrio, como se nada o incomodasse.
- É apenas um aviso de um amigo – ele responde – Deveria cuidar da sua vida e não buscar segredos que não pertencem a você.
Tento transparecer confiança, mas não consigo. Seus olhos são frios, dardos de gelo que me machucam. Se ele for meu amigo, quero o bem longe de mim.
- Não se preocupe, não vim aqui buscando descobrir nada sobre você – retruco, me virando para continuar meu caminho.
Não escuto nada enquanto percorro o corredor, apenas meus passos. Escuto a batida do meu coração, que está acelerado. Não me atrevo a olhar para trás.
- Emma, querida Emma. Não deveria desdenhar de algo que não conhece a natureza – sua voz ecoa – É meu primeiro aviso.
Viro minha cabeça sobre o ombro e não vejo mais ele. Estou incomodada. Este homem é petulante e ao mesmo tempo causa uma perturbação de ordem mental. Apresso meus passos, com medo que algo vá acontecer: como cair o teto sobre minha cabeça, ou ele me amordaçar e me matar. Não espero para ver e procuro o caminho da saída desse lugar. Escuto passos, mas não vejo ninguém atrás de mim. Estou sem folego e paro na escadaria da entrada. Meu alivio dura pouco, pois ele está no final da escada, me encarando com sua mascara. Está trajado do mesmo jeito que o vi no teatro. Com a camisa social branca e o coleto preto. Sua calça social combina com seus sapatos de couro lustrosos. Ele é belo, mas com certeza um psicopata. Estagno, segurando o corrimão com força.
- Emma, deveria escutar meus conselhos – ele diz. Sua voz ecoa, como música, mas ao mesmo tempo ela me assusta – Parece que você não está levando a sério meu aviso. Pare com o que está fazendo é vá embora.
Estou tremendo de frio. Seu aviso parece querer dizer que se eu continuar minhas investigações, ele fará com que eu me arrependa de fazer minha busca. Fecho meus olhos, respirando fundo, afundando as unhas na palma da minha mão. Preciso tomar coragem e descer as escadas e passar por ele.
- Emma – Oliver chama.
Abro os olhos, e Erik não está mais lá. Solta minha respiração, que estava segurando e olho para trás. Meu amigo vem em minha direção, com uma expressão irritada.
- Por que não voltou? Estava preocupado com você. Onde você estava? – ele diz, com rapidez.
Penso em algo, penso em dizer a verdade, mas não faço isso.
- Desculpa Oliver, eu não estava achando o anfiteatro – minto, tentando ser convincente.
Ele me avalia, com seus olhos ambares.
- Sei. Você estava bisbilhotando por ai – ele diz, sorrindo – Tudo bem, eu entendendo.
Sorrio, para demonstrar que tudo está bem.
- É mais ou menos isso.
Ele assente e me puxa pelo cotovelo, para que possamos voltar ao anfiteatro. Não desejo voltar, quero sair desse lugar, antes que Erik volte e cumpra sua palavra sobre eu sofrer as consequências. Contudo, Oliver continua a me puxar e vou obediente, tentando negar que tudo isso não passou de um mal entendido. Que apenas esse homem é perturbado e gosta de pregar peças. Em meu intimo, sinto que há algo de errado e só vou descobrir se tentar.
Autor(a): aline_lupin
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Uma semana se passou desde que vi Erik, no Palais Garnier. Não me atrevi a voltar e nem procurar o velho teatro que o encontrei. Minha escrita continua bloqueada e não consigo pensar em nada. Não escrevi nem uma linha sequer. O desejo que ir atrás da história do fantasma é maior. Apesar de ter encontrado sites que falam sobre isso, p ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo