Fanfic: Os segredos da Ópera Garnier - O Fantasma da Ópera | Tema: O Fantasma da Ópera
Pesquisei incessantemente sobre a história do fantasma da ópera, em sites franceses. Com a ajuda de Adam, encontramos informações diversas. Não sei se são confiáveis, pois é só uma lenda e uma história criada por Gaston Leroux. Contudo, há um escritor de um blog que jura ter visto o fantasma na Ópera Garnier e tem como provar sua existência.
Tenho que rir, mas ao mesmo tempo sei que há algo de misterioso nisso tudo. Um homem que diz ser Erik me ameaça, sonho com um homem que tem o mesmo perfil psicológico de Erik. Talvez eu esteja sendo afetada pela história e provavelmente levando a sério demais isso tudo. Contudo, isso não sai da minha cabeça, continuo obcecada por sua história e parece não ter mais conexão com a peça. Apesar de a escrita estar fluindo, meu interesse principal é no próprio fantasma. Tenho um interesse profundo sobre sua história e quero saber se ele realmente foi real.
Resolvo fazer uma caminhada pelas ruas e paro em frente à Ópera Garnier. Erik havia me advertido que seu estivesse pelas redondezas, sofreria as consequências. Senti um arrepio percorrer minha espinha. Porém, logo acho meu pensando ridículo. Ele não poderia estar morando na Ópera. E posso ir e vir quando eu tiver vontade. Dou de ombros e entre no local. Está tão lindo como sempre. Está aberto para visitas e espetáculos. Fico indecisa se assisto a uma peça ou não. Penso um pouco e decido apenas observar aos arredores. Percorro os corredores encontro uma porta aberta. Isso desperta minha curiosidade. Resolvo espiar de fora e vejo que e a entrada de um camarote. Uma ópera está sendo exibida. A música me envolve e resolvo entrar sorrateiramente. Eu deveria ter pagado na entrada meu ingresso, mas não quero ter que voltar. Talvez eu não consiga uma entrada para ver o espetáculo. Olhou ao redor e vejo que ninguém está olhando e espio dentro. Não há ninguém, está vazio. Adentro o ressinto e sento em uma poltrona ao fundo. Observo a cantora e ela é fabulosa. Tem cabelos escuros e está preso em um penteado intrincado. É uma ópera de Giuseppe Verdi, Aida. É uma história sobre uma paixão impossível, entre Aida, escrava, que antes era princesa na Etíopia. É apaixonada por Radamés, general egípcio. Mesmo ele sendo prometido a Amnéris, retribui sua paixão por Aida. Algo me desperta, pois realmente essas paixões trágicas são o meu ponto fraco. Sei que o final será triste, pois eles não vão ficar juntos. O que dói em mim, mesmo assim, assisto ao espetáculo. No final do terceiro ato, sinto um formigamento estranho em minha nuca, como se alguém estivesse me observado. Olho para o lado e não vejo nada, apenas sombras. Volto minha atenção à ópera, mas as cortinas se fecharam para um pequeno intervalo. Sinto um incomodo por ficar aqui e faço menção de levantar. Um sopro quente toca meu pescoço e sinto que há mais alguém comigo.
- Continua a ignorar meus avisos, Emma – uma voz rouca toca minha pele – Eu não sei o que mais posso fazer para que você entenda que não deve estar aqui.
Respiro fundo, tentando controlar os arrepios involuntários. Sua presença me assustada, contudo não estou sentindo tanto medo, parece até que ele deseja que eu esteja confortável.
- Não posso nem assistir uma ópera nesse lugar magnifico? – pergunto, com cinismo.
Seus dedos tocam a base do meu pescoço e percorrem minha pele. Sinto um formigamento percorrer todo meu corpo, deixando minhas pernas pesadas.
- Eu não sei se você entendeu, mas eu não estou para brincadeiras – ele diz em tom baixo e soturno – Não me provoque, pois você não sabe com quem está lidando.
Não sei se sua ameaça é vazia, mas não irei me intimidar. Ele tira os dedos do meu pescoço e segura meu pulso, pressionando com força. Sinto uma dor lancinante e tento afastar a mão.
- Estou cansado desses nossos joguinhos – ele sibila – Posso não facilitar as coisas para você, Emma. E acredito que você acredite em mim agora.
Minha respiração está acelerada. Não entendendo o motivo de tanto hostilidade, mas não vou me deixar vencer por intimidações.
- Se tocar mais uma vez em mim, farei com que você se arrependa – ameaço, tentando controlar o nervosismo na voz. Agarro minha bolsa, onde havia deixado o spray.
Ele ri, sem ao menos se intimidar. Seguro o spray com força, caso ele tome mais alguma ação contra mim.
- Você é muito corajosa, para alguém que está em desvantagem – ele zomba.
Sinto sua mão imobilizando meu braço, a qual está segurando o spray. Ele remove da minha mão com facilidade. Erik joga no chão, com um estrépito.
- Pronto, um empecilho a menos – ele diz, em tom baixo, colado ao meu ouvido – Se quer tanto conhecer a Ópera, deixe que eu te mostre.
Ele me puxa pelo braço, fazendo-me ficar em pé. Vou com ele até o fundo do camarote e ele tateia pela parede com a mão. De repente, uma passagem surge e entramos. Erik me puxa com força, como se estivesse com raiva. Andamos por um corredor e empurra uma porta e entra comigo. Ele fecha a porta com chave. Olho ao meu redor e vejo um camarim, com um grande espelho cobrindo a parede. Meu coração está saltando pela boca. Não sei qual será seu próximo movimento e temo que ele seja realmente psicopata. Ele me encara, fuzilando-me com seus olhos azuis. Parece pegar fogo, como se quisesse me estrangular. Seu rosto está coberto pela máscara branca, o deixando com aspecto gótico. Ele finalmente solta meu braço e se afasta, encarando o espelho a sua frente.
- O que você quer de mim, Emma? – ele pergunta, com voz dolorida.
Estou perplexa. Ele está perguntando o que quero dele? Espero poder permanecer viva, só isso.
- Erik, eu não quero nada. Só me deixe ir embora, tudo bem? – Peço, tateando a parede as minhas costas. Estou buscando a maçaneta da porta.
Ele vira para me encarar. Seu olhar está perdido, distante.
- Emma, sei que está aqui por um motivo, você só ainda não lembra qual – ele explica.
Ele parece transtornado, como se estivesse remoendo um segredo. Não consigo compreende-lo. Quero sair daqui, pois temo que ele esteja perdendo a própria sanidade.
- Erik, me solte, por favor – peço, tentando manter a calma – Eu não quero nada de você, tudo bem? Só abre a porta e eu vou embora e você nunca mais vai me ver.
Ele me avalia, com seu olhar frio. Parece que está pensando no meu pedido. Ele vai até a parede revistida de espelhos e com duas luminárias com aspecto antigo embutidas. Ele puxa a da direita e o espelho se abre, mostrando outro túnel. Ele me puxa com força, pelo braço, me levando com ele. Erik parece acostumado com a escuridão, pois anda sem vacilar. No meu caso, estou tropeçando em meus próprios pés. Sinto arrependimento por não o ter escutado. Ele disse o que aconteceria se eu aparecesse mais uma vez. Não exatamente em palavras, mas as consequências estão se mostrando bem claras. Caminhamos em silêncio e escuto os nossos sapatos baterem no piso de pedra. Quero voltar, mas seu aperto é muito forte. E é como se eu não tivesse forças para resistir, meu ser anseia por segui-lo. Ele tateia a parede e luzes se acendem por todo o corredor que percorremos. Sinto a luz machucar meus olhos e preciso piscar várias vezes para poder enxergar. Vejo um corredor extenso diante de nós e uma porta a nossa frente. Ele a abre com uma chave e descendo por escadas, também de pedra. Parece os túneis subterrâneos de Paris, que todos falam. Estou abismada. O túnel é revisto de pedra e tem um cheiro forte e fétido. Aqui não há luz, mas isso não é problema para Erik, que nos guia, com a precisão de um cego. Caso eu saia viva disso, quero relatar isso, quero descrever essa experiência no teatro. Eu sinto que estou contagiada demais pelo clima gótico desse lugar e por Erik. Eu deveria estar com medo, mas minha alma de artista fala mais alto dentro de mim.
Encontramos uma galeria que se estende para quatro direções. Erik me puxa para a esquerda e continuamos a andar por um corredor. Apesar do escuro, conseguido distinguir onde estou. Vou tentar lembrar de tudo, para quando eu puder fugir. Ele abre outra porta e entramos. Ele fecha com a chave, guardando-a no bolso do paletó. Noto que ele continua com a mesma roupa que estava quando nos conhecemos. Apenas acrescentou o paletó cinza. Ele tem um porte elegante e seus movimentos são graciosos. Seria perfeito, se não fosse louco e com uma cicatriz horrenda em seu rosto. Tenho certeza que esconde com maquiagem e claro, com a máscara. Sua semelhança com o Erik, o fantasma, é assustadora, contudo recuso acreditar na minha imaginação. Ele deve ser excêntrico e aqui na sala, provavelmente mata suas vítimas. Serei a próxima, se não pensar rápido. Erik acende a luz no cômodo e posso ver que o local é de bom gosto. Há um tapete persa sobre nossos pés. Posso ver um lustre moderno no teto, quadros da era da renascença pendurados na parede. Reconheço outros, modernos, surrealistas e um quadro de Rembrandt. É uma cena pintada onde vários homens observam um corpo de um ser humano. Parece ser a cena de uma aula de anatomia. Reconheço um quadro de Van Gogh, Noite Estrelada, é sinto meu coração se aquecer. Se ele é um monstro, por que tem um quadro tão maravilhoso? É claro, o gosto não influência no caráter. A minha frente há um divã, cor de vinho, decorando a sala. Estantes cheias de livros. Percorro a sala, e ele não parece se importar. Vejo vários títulos clássicos. Tolstoi, Dostoievski, uma versão completa do livro Mil e Uma Noites, peças de Shakespeare, livros de filosofia, principalmente de Platão. Esse esconderijo é perfeito. Parece algo fantástico, viver nos subterrâneos de Paris e ter tudo isso. Há uma estante com uma vitrola, com discos de música clássica, ópera e vários gêneros. Seu violino está em um pedestal, exposto. É uma peça magnifica. Um Stradivarius. Quero toca-lo e faço menção, mas Erik me lança um olhar enviesado. Paro o movimento e observo um grande espelho emoldurado na parede, com uma moldura dourada e cheia de floreios. A cima do divã há um quadro de uma mulher belíssima. Ela parece ter vivido no final do século XIX. Tem cabelos longos e loiros, que caem sobre seus seios. Está vestindo um vestido branco e diáfano, sentada sob um divã verde. O fundo da tela é uma floresta. Ela é tão bela. Seus olhos demonstram estar em êxtase. Tão verdes como as folhas de uma árvore. Estou embevecida pela beleza desse quadro, me aproximo para vê-lo mais de parte. Erik segura meu pulso e me vira para ele. Parece agoniado, como se eu fosse macular essa peça de arte. Perscruto seu olhar, mas só encontrando uma profunda dor.
- Está tudo bem, Erik, não vou toca-lo – tento acalma-lo.
Ele não solta meu pulso, mas não segura com força. É como se ele estivesse desarmado, indefeso. Parece mais humano. Sempre que o via, ele parecia fora de cenário, fora do seu próprio tempo, como se não pertencesse a essa época. Ele parecia antinatural. Hoje parece um homem cansado e solitário. Toco sua face, o lado que não está com a máscara. Sua pele é perfeita. Sedosa, sem um fio de barba. Ele fecha os olhos, sentindo meu toque, como se nunca tivesse recebido tanto carinho. Sinto uma conexão profunda com ele, nesse momento. Se antes ele me causava medo e raiva, agora ele me causa afeto e respeito. A mesma sensação bela que senti quando compartilhamos a música. Chegamos a melodias que eu não tinha consciência e não sei como tudo foi tão bem sincronizado. Parece que ensaiamos várias vezes para chegar a perfeição. O momento belo se acaba. Ele se afasta, virando de costas para mim.
- Eu disse que teria consequências por voltar aqui – ele diz, e tom baixo – E sei que em um momento você vai lembrar de muitas coisas. Por isso você não irá a nenhuma parte, agora.
Fico muda, sentindo meu sangue gelar nas veias.
- O que você vai fazer comigo? – pergunto, em um sussurro.
Seu ombro se retesa, ele está com as mãos para trás, segurando-as uma na outra.
- Não sei, Emma, mas não quero que você continue buscando segredos que não lhe pertencem e divulgue para o mundo – ele responde, sério – E há tantas coisas que você ainda não sabe. Gostaria que tivesse me escutado, quando teve a primeira chance.
Não consigo compreende-lo. Que segredos ele guarda? Estou buscando pelo fantasma, uma ficção que nunca aconteceu.
- Erik, eu não sei do que você está falando – tentando faze-lo compreender – Eu não vim buscar nada, apenas conhecer esse lugar e mais sobre a história do Fantasma da Ópera. Vim para escrever uma peça e gostaria que o elemento dela fosse sobre ele.
Ao mencionar fantasma da ópera, ele se encolhe, como se tivesse levado uma facada.
- Não diga esse nome, nunca mais – ele vocifera, irritado. Passa a mãos pelos cabelos negros, tentando extravasar suas energias – Não quero ouvir esse maldito nome.
Ele disfere um soco na parede, como se pudesse descontar toda a sua frustação. Sinto medo e me encolho. Busco a porta da saída, mas ela está trancada. Ele parece não me notar mais. Parece ser transportado para outro lugar.
- Emma, eu não queria ter que fazer isso – ele lamenta, me olhando com dor – Mas você é teimosa demais. Acabaria descobrindo em um momento ou outro. E não posso permitir.
- Permitir o que? Do que está falando? – Pergunto, mas ele finge não escutar.
Ele abre uma porta de carvalho maciço e entra. Vou atrás dele. É um quarto, sem janela, com uma cama de dossel azul turquesa. As cortinas são diáfanas. Há um grande closet no fundo.
- É aqui que você irá ficar a partir de hoje – ele diz, categórico.
Estou sem entender, parece que fui transportada para um sonho.
- Erik, por favor, pare com isso – peço, segurando seu braço. Seu olhar azul está longe de mim – Eu não vou ficar aqui. Não sei porque está fazendo isso. Mal nos conhecemos. Você vai me matar, é isso?
Ele solta uma risada frouxa.
- Eu nunca faria isso com você – ele diz, mirando seus olhos penetrantes – Contudo ficará aqui o tempo que for preciso. Cuidarei para que você tenha tudo. Pode até escrever o que tiver vontade. Mas não vai sair. Eu lhe disse que seus atos teriam consequências.
Não o compreendo. Seguro seu braço, mas ele parece um peso morto. Soco seu peito, com raiva, mas ele não se move, estoico. Ele me fita, como se pedisse desculpas.
- Por que, Erik? O que fiz?
- Você voltou, foi isso que você fez. E não vou ser assombrado pelo passado.
Ele se virá, partindo do quarto, trancando a porta. Corro, tentando abri-la. Soco a porta com meus punhos. Escorrego no chão, apoiando a testa na madeira. Sinto o desespero me abater. Grito, até meus pulmões doerem. Imploro para que Erik abra a porta. Ele finge não escutar, pois toca seu violino. Sua música abranda meus sentimentos. Parece que estou letárgica, como se tivesse tomado um calmante. Fecho os meus olhos, mergulhando em um sono profundo.
Autor(a): aline_lupin
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