Fanfics Brasil - Amizade em fragalhos Você está sozinho, parceiro!

Fanfic: Você está sozinho, parceiro! | Tema: The Walking Dead


Capítulo: Amizade em fragalhos

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 O caminho a frente era iluminado pela luz da lua cheia, deixando a floreta ao seu redor com uma aparência tão bela e fascinante, mas ao mesmo tempo, tão assustadora e sombria. Era como se a escuridão da noite mostrasse os dois lados de uma mesma moeda ao mesmo tempo, e diversas sensações diferentes passavam pelo seu corpo, correndo por suas veias na mesma velocidade que o seu sangue.


A floresta estava em quase total silêncio, exceto pelos passos ecoando por entre as árvores do grupo que caminhava cabisbaixo pela estrada de terra. Talvez fosse Deus, que depois de ver pelo que todos passaram, tenha decidido dá-los um momento de descanso, um pequeno momento em que eles não deveriam se preocupar com mortos tentando arrancar um pedaço de sua carne.


Ou talvez, fosse o barulho dos tiros, que acoaram pela floresta, a alguns minutos atrás, que atraiu os cadáveres em decomposição em direção a fazenda, na qual, parte das pessoas que caminhavam agora, foram feitas prisoneiras de uma família de canibais.


Pessoalmente, Lee acreditava na primeira opção, ou pelo menos, queria.


Gostava de pensar que havia algum propósito para tudo isso, que o que aconteceu, apesar de ter sido culpa inteiramente da raça humana, poça servir como um desafio, um teste, de que as pessoas podem ser boas, até nas situações mais difícil e inacreditáveis.


E foi por esses pensamentos que Lee, um homem que não gosta da ideia de matar, que sempre tentou manter as pessoas unidas e fazer o melhor para elas, poupou a vida dos dois homens que tentaram matá-los e transformá-los em comida.


Mesmo com aquela raiva, que queimava em seu interior, tentando o convencer a voltar a acabar de vez com os homens, ele não o fez, não a escutou, e agora, pensava em uma maneira de apagar aquele fogo de vingança que queimava em seu peito.


Seu olhar caiu sobre uma garotinha, que andava mais a frente de si, rodeada de pessoas nas quais a protegeriam, ou pelo menos, Lee gostava de imaginar que eles se importavam com ela o bastante para chegarem a esse ponto.


A conhecia a não mais de três meses, mas já a considerava sua filha, ela não era sangue do seu sangue, mas era a família que ele nunca teve, a família na qual sua esposa, ex esposa, havia negado por tanto tempo.


Ela era o motivo de ele sempre tentar se manter positivo, de ele se levantar pela manhã e tentar tirar o melhor das pessoas ao seu redor, tentar manter o grupo unido, ele prometeu para si mesmo, para ela, e para Deus, que faria todo o possível para protegê-la, e ele esperava que o grupo o ajudasse a cumprir essa promessa, apesar das constantes brigas, envolvendo duas pessoas em específico, que sempre acabavam com ele no meio, tendo que decidir em qual lado ficar.


Mas ele nunca cedeu a nenhum dos dois, nem aos apelos de Kenny, nem ao raciocínio de Lilly, pois ele sabia que ambos tinham bons pontos em seus pensamentos, e nenhum dos dois estavam errados em pensar aquilo, mas também, não estavam completamente certos.


Nunca ficou do lado de ninguém, talvez de Kenny uma vez, quando o mesmo protegeu Duck das garras de Larry na farmácia de sua família. Mas fora isso, todas as suas ações e pensamentos foram feitos com o grupo acima dele mesmo, tendo como total prioridade, as duas crianças que estavam com eles.


Mas, parecia que nem Kenny, nem Lilly, percebiam isso, não que Lee realmente se importa com o que os dois pensavam dele, se gostavam ou se o odiavam, ele não dava a mínima, mas aquela briga entre os dois estava os deixando cegos, instáveis, e eles estavam ficando cada vez mais paranoicos, mais irritados, e infelizmente, cabia a Lee resolver aquele impasse, caso contrário, os dias daquele grupo estavam contados.


O problema, é que ele não sabia como fazer isso, não de uma forma civilizada, onde eles não avançassem no pescoço um do outro por apenas dizer suas ideias. E a cada dia que passava, ele se via mais e mais forçado em usar a força contra eles, apesar de não ter chegado a esse ponto.


Não ainda.


Ele suspirou, observando algumas pessoas mais a frente pararem por algum tempo para descansar, havia sido um dia e tanto, e com certeza ficaria marcado em suas mentes para o resto de suas vidas. Mas ele não se importava se ele teria pesadelos aquela noite, ou se os olhos dos St John o assombrariam toda vez que fechasse os olhos, ou se a cena de Mark sem suas duas pernas se fixasse em sua cabeça cada vez que olhasse para a carne de algum animal, ele lidaria com isso, como sempre fez com as coisas horríveis que o mundo jogou contra si.


Ele estava preocupado com Clementine, sabia que ela era uma garota forte, muito mais forte do que qualquer garotinha de 8 anos por ai, muito mais forte do que até mesmo adultos, mas, mesmo ela sendo forte, ela era uma criança, não importava se ela já havia visto morte o bastante para perdurar em sua mente pelo resto de sua vida, ou se ela tinha uma maturidade muito mais elevada do que as crianças de sua idade, ela era apenas uma criança.


Balançou a cabeça e colocou sua mão em sua cintura, suspirando pesadamente, mais uma vez.


Lee olha para trás, observando Kenny se escorar em uma árvore, gemendo de dor, enquanto mantinha sua mão sobre o ferimento da bala que levou de Andy St John.


Kenny havia avançado, descuidadosamente, em direção a Andy, que estava armado e com seu filho Duck como refém. O homem poderia muito bem ter matado os dois, mas não o fez, seja lá qual foi o motivo, e Kenny apenas deveria ficar grato por isso, Lee sabia que ele ficaria caso fosse ele no lugar do homem em questão, mas Kenny pensava diferente, agia por impulso muitas das vezes, e ele não parecia perceber que, de todas as pessoas, ele era quem mais colocava sua família em perigo, com suas ações descuidadas, e com nenhum pensamento analítico por trás das mesmas.


Apesar de sentir que sua relação com Kenny havia mudado para o pior, ele decidiu ir checar no mesmo, ver como ele estava e mostrar que se importa.


Kenny pode não o ver mais como um amigo, ou um companheiro, mas Lee ainda o via como um, sabia que ele era um bom homem, tinha seus problemas, como todo mundo, e entendia eles.


Ele continuaria pensando assim, mesmo que Kenny não fizesse o mesmo.


Ao se aproximar, ele nota o olhar que o “amigo” lhe deu, endireitando sua postura e ignorando a dor em seu abdome.


Kenny- Duck, Katjaa, podem me deixar a sós com o Lee por um tempo?


Seus olhos cansados olharam fundo nos de sua esposa, que o olhava preocupado, como qualquer outra esposa fiel. Katjaa era uma mulher especial, Lee sentia o amor que ela sentia por Kenny, ele via ela demonstrar isso quase todos os dias, e via como ela lidava com os problemas de seu marido, que eram vários.


Lee a achava uma mulher forte, e a respeitava como uma.


Ele se aproximou de Kenny, se escorando na árvore ao lado dele.


Kenny-…...As coisas vão ficar bem mais complicadas.


Seu tom cansado e irritado não abandonou sua voz, fosse horas atrás, preso em um freezer, fosse agora, livres, sozinhos no meio de uma floresta vazia.


Lee- É, eu imaginei que ficariam, a situação toda foi fodida, pra dizer o mínimo.


Respondeu, em um tom igualmente cansado. Lee estava exausto, na verdade, toda aquela situação, misturada com as constantes intrigas entre Kenny e Lilly, drenavam toda sua energia, o deixando esgotado, todos os dias.


Todo. Santo. Dia.


Kenny- Eu fiz o certo, e você sabe.


Seu tom se tornou mais irritado, suas expressões se fecharam e seus olhos se tornaram mais afiados, Lee tentou notar algo por trás daquelas palavras duras de Kenny, talvez culpa? Vergonha? Arrependimento? Qualquer coisa que mostrasse que, no fundo, ele sabia que o fez foi errado. Que ele deveria ter dado uma chance, apenas uma chance, para que Larry vivesse. Mas ele não encontrou nada, nenhum remorso por trás de suas palavras, nenhum remorso no fundo de seus olhos. Kenny tinha certeza de que fez o certo, e isso era o que deixava Lee triste, e até um pouco irritado.


Lee- Eu entendo você ter pensado que ele estava morto Ken, entendo mesmo, tudo que eu queria era dar uma chance a ele, o benefício da dúvida, da mesma forma que sempre fiz.


Seu tom cansado não deixou sua voz, apenas a deixou mais profunda, arrastada. Ele colou a mão na têmpora, massageando-a, sentia como se fosse desabar a qualquer momento, não por cansaço físico, mas sim, mental.


Kenny- E eu to dizendo que ele não teria sobrevivido aquilo, eu esperava que você ficasse do meu lado Lee, que fosse um amigo que mostrasse que se importava comigo ou com a minha família, mas ao invés disso, você me traiu.


Disse, agora um pouco mais alto, atraindo a atenção de Katjaa, que olhou em sua direção, confusa, não entendo o motivo de seu marido estar brigando com ele, eles eram amigos.


Ou pelo menos, deviam ser.


Lee não acreditou no que ouviu, seus olhos se arregalaram, sua boca ficou entreaberta, e, depois de tanto tempo, ele finalmente sentiu sua raiva, sua frustração, bater em seu peito. Tudo aquilo que ele segurou dentro de si, toda as emoções negativas que sentia no dia a dia, emoções que ele ignorava, engolia, tudo pelo bem maior, agora, estavam se acumulando em seu peito.


Ele sentiu seus músculos se enrijecerem, seu sangue ferver, sua face se contorcer em uma expressão raivosa na qual não conseguiu controlar.


Lee- Como é?


Perguntou, baixo, olhando firmemente para Kenny, que notou sua irritação, se surpreendendo ao ver o mesmo irritado pela primeira vez.


Lee- Você ao menos escuta as merdas que você diz??


Se aproximou, dizendo entre os dentes, não querendo gritar, ou chamar a atenção, muito menos dizer palavras muito amargas pois sabia que se arrependeria mais tarde. Mas ele estava irritado, não conseguia se controlar muito bem, e sentia a vontade de simplesmente explodir, e cuspir na kcara de Kenny as belas verdades que guardou consigo durante todo esse tempo.


Lee- Quem foi que salvou seu filho na fazenda do Hershel?


Perguntou, ainda se controlando.


Lee- Quem foi o primeiro a ficar entre Larry e Duck na porra daquela farmácia??!!


Agora com um tom um pouco mais alto, sentindo seu autocontrole começar a perder a luta contra sua raiva.


Lee- Quem foi que alimentou SEU FILHO e a SUA ESPOSA quando estávamos, literalmente, morrendo de fome???!!!


Falou, tão alto quanto antes, agora, chamando a atenção do restante do grupo, que tinha olhares curiosos e confusos em sua direção. Mas Lee apenas ignorou, se focando no homem a sua frente, que ficava mais e mais acuado com suas palavras.


Lee- Eu te apoiei, te ajudei, todas as escolhas que eu fiz, foi colocando Clementine e Duck como prioridade, em tudo que eu pensava eu levava em conta não só você, mas como a PORRA DA SUA FAMÍLIA!!!


Gritou suas últimas palavras, tendo agora a total atenção do grupo, até mesmo de Lilly, que há instantes parecia presa em seus próprios pensamentos, e Clementine, que olhava assustada para Lee, devido ao súbito grito que o mesmo deu. Um grito alto, raivoso, e, com certeza, intimidador, devido a grossa e poderosa voz do homem.


Lee- Você tem o nervo de dizer que eu o traí quando na verdade você traiu a você mesmo. Diz que somos amigos, mas deixa Andy quase me matar...


Continuou, não dando espaço para Kenny dizer uma única palavra, e cuspindo aquelas frases em sua face, sabendo que iria se arrepender da forma como o tratou naquele momento, mas ele já não conseguia conter aqueles sentimentos em seu peito, não mais.


Lee- Ameaça e avança contra Danny que TINHA A PORRA DE UMA ARMA A CABEÇA DE DUCK!!!


Gritou, empurrando-o para trás, forte o bastante para fazê-lo colidir contra a árvore atrás do mesmo.


Lee- AMA SUA FAMÍLIA, MAS COLOCA OS DOIS EM PERIGO POR CAUSA DA SUA INCAPACIDADE!!! COLOCA O GRUPO TODO EM RISCO POR CAUSA DO SEU DESCUIDO, POUCO SE IMPORTANDO SE OS OUTROS VÃO SE MACHUCAR!!!


Ele já não se importava com mais nada, nem os olhares incrédulos que sentia em suas costas, nem o olhar assustado da garota que havia se tornado seu mundo.


Lee- Você quer continuar com essa merda Kenny?! Tudo bem, você sempre disse que ia pegar aquele trailer e levar sua família para um lugar seguro, pois bem, por que não o fez ainda??!!


Parou de gritar, mas ainda falava alto, se controlando aos poucos, mas ainda com vontade de dizer muitas coisas na cara de Kenny.


Mas, a pouca consciência que ainda tinha, o impediu disso.


Lee- Se você parasse de brigar com Lilly por qualquer merda que acontecesse, talvez, você teria aberto seus olhos. Ninguém aqui fora vai se preocupar tanto com sua família do que eu! Ninguém vai arriscar a própria vida para salvar Duck da forma que EU fiz! Ninguém vai abrir mão da própria comida para alimentar SUA mulher e SEU filho, como EU fiz!! Mas se ainda quer sair, então vá em frente!! É óbvio que sua família é o mais importante, que se dane o resto!!!


Respirou fundo, se afastando alguns passos, ainda incrivelmente irritado, mas, com mais controle sobre seu corpo, e com um pouco mais de consciência. E para não piorar as coisas, ele decidiu se afastar, parar com aquilo antes que fosse longe de mais.


Lee- Eu não tentei salvar Larry porque estou do lado de Lilly, ou para ficar contra você.


Sua voz rouca perfurou os ouvidos das pessoas, com a imensa irritação por trás de cada palavra, toda aquela intensidade de sentimentos que podia ser sentida pelas ondas sonoras que sua voz emitia.


Lee- Eu tentei salvar Larry, porque se eu ver alguém precisando de ajuda, eu vou ajudar! Esse é o tipo de homem que eu sou!


Terminou, caminhando a passos largos e profundos pela estrada a frente, passando pelo grupo de pessoas que o olhavam com olhos arregalados.


Mas antes de se afastar muito de Kenny, ele ainda pôde ouvir a última coisa que ele disse, as últimas palavras que fez Lee ter certeza de que seu relacionamento com Kenny, havia se quebrado para sempre.


Kenny- Você é o tipo de homem que não consegue fazer o que tem que fazer quando a situação aperta.



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Autor(a): louiz_st

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