Fanfic: Você está sozinho, parceiro! | Tema: The Walking Dead
Crista- Então, seu nome é Clementine, quantos anos têm?
A mulher se sentou ao lado da garota, que estava sentada no sofá observando Lee vigiar a janela. Eles estavam esperando os zumbis esquecerem da sua existência e saírem de frente da casa, caminharem para algum outro lugar mais ao longe, ou talvez, o sino de igreja toque novamente e eles sejam atraídos pelo barulho.
Clementine- Nove, mas Lee acha que eu tenho oito.
Respondeu, desviando seu olhar para o dela. Crista era uma mulher um tanto alta, quase tão alta quanto Lee, o que deixava Clementine um pouco interessada nela.
Crista- Você não disse pra ele?
Escorou suas costas no sofá, relaxando um pouco mais seu corpo enquanto olhava para a garota.
Clementine- Não, não achei que deveria, nós tivemos muitos problemas. Não conta pra ele.
Respondeu, voltando seu olhar novamente para Lee. Crista percebeu a forma como a garota o olhava, até um cego conseguia ver o amor que ambos tinham um pelo o outro, era algo bonito de se ver, esse tipo de vínculo, em um mundo como aquele, era tão belo quanto sempre foi, além de ter se tornado raro.
Omid- Ei Clem, ouvi que você salvou minha pele lá atrás, você é fodona menina!!
Omid se sentou ao lado de Crista, olhando para Clementine com olhos animados e com aquele sorriso largo em seu rosto, deixando a menina envergonhada com o elogio, apesar de ser um palavrão.
Clementine- Obrigada.
Agradeceu, tímida, com seu corpo um pouco encolhido.
Lee- Ah então ele pode xingar. Não é justo.
Disse alto ao ouvir que a garota não o repreendeu, cruzando os braços e lhe mandando um olhar divertido.
A garota o olhou mais uma vez, e apenas mostrou a língua para ele, devolvendo o sorriso zombeteiro.
Clementine- Você ainda não pode.
Lee- E por que não?
Perguntou, fingindo um olhar mais irritado, como se não acreditasse naquela injustiça.
Clementine- Porque não!
Fez uma cara mais brava, fingindo autoridade, rindo ao ver Lee revirar os olhos em derrota e se escorar na parede.
Omid- Onde aprendeu a atirar?
Perguntou, dessa vez, controlando um pouco mais o seu tom de voz. Clementine desviou seu olhar novamente em direção a ele.
Clementine- Lee me ensinou.
Respondeu, alheia ao olhar que Crista deu ao mencionar o homem.
Omid- Do caralho!!
Exclamou, balançando a cabeça animado.
Lee observava Clementine conversar animadamente com Crista e Omid, era bom ver ela agir daquela forma com outras pessoas, ter um pouco mais de interação humana lhe faria bem. Tinha gostado do jeito espontâneo de Omid, e Crista parecia ser uma boa mulher. Era até engraçado em como eles eram diferentes, os opostos realmente se atraiam.
Desviando seu olhar, ele logo olha para Kenny, que havia encontrado uma garrafa de bebida assim que entraram na casa, começando a encher a cara logo depois. Nesse momento, ele já se encontrava meio bêbado.
Lee o olhou em repreensão, aquela não era a melhor hora para ficar bêbado, e o pior, ele estava fazendo aquilo na plena visão de Duck, que estava sentado no sofá de frente para a cozinha onde Kenny estava.
Sentia muito por Katjaa, era uma boa mulher, mas o que ele estava fazendo era estupidez, burrice, teria hora para seu luto depois, agora, ele tinha que se manter focado em seu filho. Ou pelo menos, deveria, já que nem isso ele podia fazer no momento.
Ben estava sentado na mesa da cozinha, seu olhar estava cabisbaixo e ele parecia nervoso com alguém, mas com a situação em que se encontravam, Lee não o julgava, então, não achou muito estranho.
Carley vinha caminhando em sua direção, seus olhos castanhos caíram sobre os verdes da mulher quase que imediatamente.
Carley- Tenho que dizer, Clementine pode parecer só uma garotinha, mas Deus, ela com certeza não é só isso.
Disse com um sorriso surpreso, se escorando na parede em frente a Lee, também cruzando os seus braços enquanto mantinha contato visual.
Lee- Estou tão surpreso quanto você, pode acreditar.
Deu uma olhada rápida na garota, que estava entretida com algo que Crista dizia para ela, rindo, vez ou outra, das piadas que Omid contava. Eles estavam se dando bem, e Lee, por alguns instantes, se sentiu meio mal.
Eles pareciam como uma verdadeira família, e era daquele jeito que Clementine deveria estar se tudo aquilo não tivesse acontecido, rindo das histórias do seu pai e entretida na conversa com sua mãe.
As vezes, ele se sentia como um intruso na vida da garota, mesmo sabendo que os pais da mesma já tinham morrido a muito tempo. Mas ele simplesmente não conseguia não pensar nisso, da mesma forma que ele não conseguiu não ver a garota como sua própria filha.
Sempre quis ter filhos, formar uma família, e Clementine era o mais próximo de uma filha que ele podia pedir, ele a amava, mais do que sua própria vida, e era incrível que se sentia assim, conhecendo a garota por apenas alguns meses.
Ele esperava que ela sentisse o mesmo por ele, porém, ele já ficaria feliz em sendo apenas seu melhor amigo, caso fosse assim que ela o visse.
Carley- Eu não entendo mais o Kenny, ele simplesmente surtou.
A voz suave da mulher o tirou de seus pensamentos, e seus olhos caíram em Kenny mais uma vez, ele já tinha acabado a garrafa de bebida, e parecia um homem tão derrotado que chegava a ser uma visão dolorosa de ver.
Lee- Eu também não Carley, mas eu não me importo com o estado em que ele está, ele deveria colocar Duck acima de qualquer coisa, e não encher a cara como um maldito mendigo.
Mencionou, balançando a cabeça em repreensão, voltando seu olhar para Duck, que tinha sua cabeça baixa.
Carley- Eu tenho que dizer, eu pensei que você mataria ele pelo que ele fez.
Lee suspirou, voltando seu olhar para ela.
Lee- Eu também, pra falar a verdade, eu tenho sim uma certa vontade de enfiar uma bala na cabeça dele, mas, que tipo de exemplo seria eu se o fizesse? Clementine com certeza ficaria angustiada com isso, sem contar que eu tiraria a única família do Duck, tudo que eu posso fazer, é rezar para que ele melhore, se torne uma pessoa diferente.
Disse, fechando os olhos com força e coçando a parte de trás da sua cabeça, com as memórias do acontecido entre ele e Kenny voltando a inundar sua mente.
Carley o encarou por um tempo, convencida, era aquela parte dele pela qual havia se apaixonado, já não tinha mais desculpas para tentar negar a si mesma, muito menos queria negar aquilo.
Estava apaixonada por um assassino, um condenado a prisão perpétua.
O assassino mais bondoso, gentil e caloroso que já conheceu em sua vida.
Se alguém a dissesse que iria se apaixonar por “Lee Everett” quando a notícia do assassinato que cometeu foi a tona, ela provavelmente teria chamado essa pessoa de louca.
Mas ali estava ela, se sentindo como uma daquelas estúpidas adolescentes ao descobrir o amor pela primeira vez.
Carley-...Duck precisa de uma ajuda.
Mudou de assunto rapidamente, ainda não se sentindo pronta para dizer seus sentimentos, e percebendo que não era o melhor momento para isso. Assim como Lee havia dito, Duck era prioridade.
Lee- Não adianta querer começar uma conversa, temos que esperar ele querer conversar com a gente primeiro, deixe ele ter seu luto. O problema é que, não pode durar mais, Kenny ensinou ele a se defender pelo menos?
Se afastou da parede, com seus olhos fixos no garoto cabisbaixo.
Carley- Acho que não.
Lee- Bom, é uma oportunidade para me aproximar, ao menos o básico ele tem que saber.
Carley acenou com a cabeça em resposta, e observou o homem caminhar a passos calmos até Duck.
Lee- Ei campeão.
Se agachou até sua altura, recebendo um olhar desanimado do garoto, algo que Lee nunca pensou que iria ver, ele era sempre cheio de energia, cheio de vida, agora, ele parecia morto, desanimado.
Duck- Ei Lee.
Apesar do tom cabisbaixo, Duck estava feliz por Lee e Clem estarem bem, ainda se sentia culpado por tê-los deixado, mesmo não sendo sua culpa, mas estava verdadeiramente feliz ao ver que seus dois queridos amigos estavam vivos.
Lee- Olha, Duck, eu sei o que você menos quer nesse momento é conversar, e, acredite em mim, eu gostaria que você tivesse seu luto em paz, mas, infelizmente, isso é algo no qual nós não temos mais o luxo.
Começou, observando os frios olhos caramelo do menino.
Duck- Eu sei Lee, sei como as coisas são, eu só to...triste, só isso, já não é mais hora de ficar de luto.
Respondeu, a seriedade no tom de Duck fez Lee se lembrar de Clementine, o mundo realmente estava mudando aquelas crianças, e no caso de Duck, era algo mais perceptível. Clementine sempre foi uma garota esperta, desde o momento em que a conheceu.
Lee- É por isso que você tem que aprender a se defender Duck, cuidar de si, cuidar do seu pai. Vem, eu explico as coisas com mais detalhes no segundo andar.
Se levantou, conseguindo atrair uma pequena fragulha de curiosidade e interesse do garoto, já era algum progresso.
E a passos lentos e desanimados, Duck o segue até o segundo andar, sentindo os olhos de Clementine se focarem nele por alguns instantes.
Lee- Ok, aqui, você tem que saber ao menos o básico com essas coisas.
Pegou a pistola em sua cintura, colocando-a em frente a Duck, que por alguns segundos, o olhou meio assustado, mas logo se recompôs e se sentiu mais animado com a ideia de aprender a usar uma arma, até um pouco mais interessado.
Da mesma forma que Lee ensinou para Clementine, ele ensinou para Duck, dando as mesmas dicas, alertando sobre as mesmas coisas, e lhe ensinando da mesma maneira. Duck era maior que a garota, mas ainda sim era pequeno, apesar de ter mais facilidade que a garota em algumas coisas, a mesma coisa que Lee disse a ela, vale para ele.
Duck era um aluno bem mais atencioso do que Lee havia pensado, sempre fazendo perguntas quando estava com dúvida, e aprendendo rápido. Apesar de não ter disparado nenhum tiro, deu para ver que o garoto também aprendia rápido.
Lee- Seu pai quem devia estar fazendo isso, não eu.
Disse em meio um suspiro, logo após terminar de ensinar a Duck como usar uma faca, usando seu facão como exemplo.
Duck- Ele também só está triste. Ah, e desculpa pelo que ele fez antes, sabe, deixando vocês para trás e essas coisas.
Se desculpou triste, mas olhando firmemente para os olhos de Lee, que suavizou suas expressões com o pedido de desculpas do garoto.
Lee- Não se preocupe com isso Duck, não foi sua culpa, não tinha nada que você pudesse ter feito naquele momento. E eu já disse, eu perdoei seu pai, eu sei que no fundo ele não é um homem ruim.
“Bem lá no fundo”- Acrescentou em seus pensamentos.
Duck abaixou seu olhar, aparentemente, satisfeito com a resposta de Lee, até um pouco mais aliviado, mas ainda se sentindo mal.
Duck- E obrigado por todas aquelas vezes que você me deu sua comida, eu sei que você também estava com fome.
Lee arregalou os olhos, surpreso pelo fato de Duck ter percebido por detrás de suas mentiras, ele sempre dizia que já havia comido quando dava ao garoto suas rações.
Duck- Sim, eu percebi.
Disse com um pequeno sorriso, observando a face surpresa de Lee.
Lee- Não foi nada Duck.
Duck- É sério, não são muitos que teriam feito a mesma coisa.
O garoto estava começando a assustar Lee com toda aquela seriedade e aquela súbita maturidade, mas sorriu para o pequeno, colocando sua mão suavemente no topo de sua cabeça.
Lee- É sério garoto, não foi nada.
Os dois sorriram levemente um para o outro, e logo, o momento foi interrompido por um pequeno baque vindo de cima.
Lee se vira rapidamente e ergue seu facão, correndo seus olhos pelo segundo a andar. Ele fica confuso ao não encontrar nada que possa ter feito aquele barulho, mas logo seus olhos se focam na escada no final do corredor que dava para o sótão.
Com cautela, Lee puxa a cordinha da escada e a desce até o chão, observando o sótão pela pequena abertura que tinha.
Lee- Duck, fique aqui.
Alertou, não olhando para o garoto, subindo os degraus da escada com cuidado, e lentamente, virando sua cabeça para todos os lados, procurando por qualquer sinal de perigo.
O cheiro horrível que subiu pelo seu nariz foi a primeira coisa que notou, tão forte que fez seus olhos lacrimejarem, e seu nariz ficar irritado.
Procurando pela fonte do odor, seus olhos se arregalam e ele sente seus músculos relaxarem involuntariamente.
Lee- Jesus Cristo…
Sussurrou ao ver a horrível cena a frente. Um garoto, provavelmente não muito mais velho do que Clementine, estava parado em frente a janela, em pé. A luz que passava pelo vidro iluminava o corpo magro do garoto, que até mesmo na morte, parecia sofrer.
Lee apenas conseguiu encarar o que antes era um garoto com pesar em seus olhos, aquilo não era jeito de morrer, não desejaria uma morte como aquela nem mesmo para um inimigo, e apenas podia imaginar o quanto aquele garoto sofreu antes de morrer de fome.
Ele suspirou, se perguntando o quão cruel o mundo conseguia ser, criança nenhuma merecia passar por aquilo, morrer daquele jeito.
Seu estômago se revirou e sua garganta se fechou, ele logo imaginou Clementine naquela situação. E se ele não tivesse levado-a consigo? Talvez ela estaria da mesma forma que aquele garoto, mais magra do que alguém conseguia imaginar, presa naquela forma amaldiçoada de um zumbi após morrer de fome.
Era como se ele olhasse para o inferno.
Preferia mil vezes sofrer pela eternidade do que deixar a garota passar por aquilo
Ele ficou tão focado no garoto a frente, que nem percebeu quando Duck ficou ao seu lado, sendo apenas desperto de seus pensamentos quando ele ouviu o garoto soltar um gemido incomodado.
Lee- Duck, eu falei pra ficar lá embaixo.
Não havia raiva em sua vez, nem mesmo um tom de repreensão, apenas um pensar saindo de sua garganta, não queria que ele visse aquilo.
Duck-...Ele se parece comigo.
Mencionou, também um tom um tanto pesado, arrastado. Lee suspirou com aquela fala, era inegável a semelhança do garoto com Duck, o cabelo, e até as feições faciais, apesar de um pouco deformadas, eram similares das do garoto.
Lee deu um passo para frente com seu facão, queria acabar logo com o sofrimento daquele garoto. Porém, ele parou, e uma ideia lhe passou pela cabeça.
Lee- Aqui, você tem que começar a se acostumar.
Disse, entregando seu facão para Duck, que o olhou hesitante por alguns segundos, mas pegou a lâmina de sua mão.
Foi quase que uma ação imediata, ele caminhou até o garoto, e em um movimento rápido, fincou o facão em sua cabeça. Sem piscar, sem hesitar.
E o pior, era que parecia que ele havia matado uma parte de si com aquele facão.
Como se sua inocência havia morrido junto com aquele garoto.
Autor(a): louiz_st
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Lee encarava a lua cheia pela janela do quarto em que havia ficado. A horda de zumbis simplesmente decidiu ficar em frente a casa, provavelmente porque o próprio barulhos que eles faziam havia atraído outros zumbis para lá, e querendo ou não, eles haviam ficado cercados. Lee se certificou de levar comida consigo e com Clementine antes de entrarem ...
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