Fanfics Brasil - Não apenas uma criança Você está sozinho, parceiro!

Fanfic: Você está sozinho, parceiro! | Tema: The Walking Dead


Capítulo: Não apenas uma criança

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Lee olhava atenciosamente para Clementine. A garota dormia profundamente, puxando uma parte de sua blusa e afundando seu pequeno e delicado rosto em seu peito. Ela se recusou a dormir sozinha naquela noite, mesmo que sua cama e a de Lee ficassem lado a lado.


Ele sabia que não era exatamente por medo, Clementine era uma garota esperta, e já tinha em mente que os St John não voltariam, ela mesma havia visto ele cuidar deles, de ambos.


Nocauteando Danny com vários golpes na cabeça, e espancando Andy até a quase morte, abandonando os dois na fazenda logo em seguida, observando os geradores de energia desligarem, e os zumbis começarem a passar pela cerca elétrica, agora, sem energia.


Talvez fosse uma forma de consolá-lo, ou talvez ela estivesse com medo de que ele se machucaria, ou podia ser porque ela simplesmente se sentia mais segura em seu peito, do que coberta por um fino cobertor.


Clementine era uma garota esperta, e Lee a agradeceu mentalmente por ela não ter feito nenhuma pergunta quando chegaram no motel, ele não sabia se teria forças para respondê-las, e se as respondesse, ela não iria gostar da resposta.


Lee suspirou baixinho, ele não estava muito bem, e sabia disso, sua mente estava uma bagunça, seu ser tentava juntar as pessoas dentro de sua cabeça com certo desespero, apesar de não o deixar transparecer. O cansaço físico não era nada comparado à bagunça dentro de sua mente.


Apesar de que, fisicamente, ele não estava muito bem também. Uma cicatriz cortava sua bochecha esquerda, essa já feita a algum tempo, e uma nova cicatriz foi adicionada em sua bochecha direita, um corte lateral abaixo de seu olho, resultado da briga contra Andy, no qual tentou eletrocutá-lo na cerca.


Suas mãos estavam envoltas por algumas bandagens, visto que as machucou ao espancar os homens, por irônico que fosse, ele não sentia dor nos lugares enfaixados, apesar de estarem escorrendo sangue a pouco tempo atrás. Seria apenas mais uma adição de cicatrizes em seu corpo desgastado.


Ele agradeceu mentalmente a Carley por ter tomado seu turno na vigia, ele poderia aproveitar algumas horas de sono, e segundo a moça, Deus sabia o quanto ele merecia um descanso.


Apesar de cansado, ele não conseguiu dormir. Apertou Clementine em seu peito com força, deixando-a o mais próximo de si, como se estivesse com medo de que algo tentasse tomá-la de seus braços caso pegasse no sono, medo de que ele acordasse, e que ela não estivesse mais ali.


E com esse medo, ele não dormiu, não fechou os olhos por um minuto sequer, apenas ficou ali, protegendo a garota dos demônios da noite, os seres da escuridão.


A protegendo das consequências de seus atos.


Apesar de ter o feito para proteger o grupo, Lee sabia que não precisa chegar ao ponto de espancar os dois homens, ele o fez, porque quis, porque estava com raiva, nervoso e irracional. E ele tinha medo de que essas ações, o alcançassem algum dia.


Não temia pela sua segurança, mas pela segurança de Clementine.


E o mesmo não a soltou de seus braços, até que ela acordasse pela manhã, sentindo os raios do sol, que passavam pela janela, tocar o seu rosto gentilmente.


Os olhos de Clementine, aqueles olhos dourados tão lindos, tão únicos, tão ela, encararam os olhos cansados de Lee por um tempo.


Clementine nunca foi como as outras crianças, apesar de ser ainda uma garotinha, e muitas vezes, agir como uma, ela sempre teve um pouco a mais de maturidade, talvez fosse influência dos livros de sua mãe, que volta e meia ela pegava sem que a mesma percebesse, e passava noites vidrada nas história que eles lhes proporcionavam, sendo muitos deles, recomendados para adultos, fosse pelo vocabulário mais difícil, fosse pelos temas mais sérios, linguajar ofensivo ou qualquer uma dessas “tags” para adultos.


Ele via através dos atos de Lee, através das palavras de conforto, através da pose, sempre inabalável, que ele sempre ostentava quando caminhava, do seu esforço, de sua luta.


E ela sabia que ele estava cansado, seus olhos evidenciavam isso, sua voz, cada vez mais carregada, o entregava. Ela se cansou de observá-lo com um olhar exausto no rosto, com uma postura mais caída, e se cansou de vê-lo sempre lhe mandar um olhar de conforto, sempre fingir que estava bem quando ela aparecia, tudo para que ela não se preocupasse.


Mas ela se preocupava. Sabia o quanto ele se arriscava, sacrificava.


Ele era sempre o primeiro a sair em busca de suprimentos, sempre o homem que tinha que fazer o trabalho sujo, o trabalho pesado. Sempre o homem que sacrificava suas refeições para deixá-la de barriga cheia, tanto com ela, quanto com Duck.


Ela se cansou de vê-lo ficar sem comer para que ela e o amigo não passassem fome.


Se cansou de vê-lo ser sempre pego no meio das brigas de Kenny e Lilly, sempre sendo o homem que tinha que fazer a decisão final, sempre o que se sobrecarregava.


E aquilo a matava por dentro.


O pior, o que doía mais em seu peito, era o fato de ele sempre tentar mostrar que estava tudo bem. Sempre manter sua calma, mesmo quando os outros estavam sendo injustos com ele. Sempre tentando mostrar que não estava cansado, e fazendo coisas pensando nos outros, colocando-os acima de si mesmo.


E a principal pessoa com quem ele fazia isso, era ninguém menos do que ela.


Mas o que ela podia fazer? Era apenas uma garotinha de oito anos.


Ela apenas podia o observar, e fingir acreditar em suas mentirar. Embora, no fundo, ela desconfiava de que ele já sabia que ela não acreditava quando ele dizia “está tudo bem”, “não estou com fome”, “Não estou cansado”.


Observando o rosto de Lee, com expressões duras e cicatrizes espalhadas pela sua face, sua mente recai sobre a noite anterior, onde ela havia visto Lee irritado pela primeira vez.


Já havia visto Kenny irritado, o que acontecia quase todo dia.


Lilly irritada, e assim como Kenny, acontecia quase todo dia.


Carley irritada, apesar de raro, ela já havia ficado uma fera, sendo muitas das suas razões, as brigas entre Kenny e Lilly.


Larry, que parecia sempre irritado.


Katjaa, que parecia sempre tão calma, também havia ficado irritada várias vezes, e ela não gostava de ver uma face, normalmente, tão tranquila, se contorcer em raiva.


Mas nunca havia visto Lee irritado, o que a assustou, visto que sua voz era muito mais grossa que a voz de Kenny, ou de Larry, ou de qualquer outra pessoa do grupo. Não pôde impedir de sentir intimidada, com medo, a entonação que Lee usou era imponente, ele até pareceu outra pessoa por um momento, e por alguns instantes, ela pensou que ele começaria uma briga com Kenny ali mesmo.


Mas ela não culpava Lee, não o repreendia por ter perdido a cabeça, na verdade, ela entendia. Não precisava perguntar nada para o mesmo, ela via a resposta em sua face a todo momento.


Ele, assim como ela, estava cansado.


Farto de lidar com aquele sentimento agoniante em seu peito o tempo todo.


Ela não queria sair de debaixo de seu peito, não queria se afastar do mesmo, apesar de saber que não ajudava muito, ela ainda tentava pegar um pouco da frustração que ele sentia, um pouco da raiva que ele guardava, e a tomar para si, assim, tornando o peso daqueles sentimentos um pouco mais leve.


 


Alguns dias se passaram, e o relacionamento entre Kenny e Lee parecia ir de mal a pior. Lee até tentou fazer as pazes com o amigo, tentou ser civilizado, porém, Kenny deixou bem claro que não queria nenhum tipo de “reconciliação” com Lee, o que deixou o mesmo triste com isso, mas se esse fosse o preço a pagar para que Kenny finalmente abrisse os olhos, então, que assim seja.


Se ele não queria ser mais amigos, tudo bem, mas Lee não o deixou o tratar como qualquer um, ele deixou de ser um homem “calmo e razoável” com Kenny, agora, Lee apenas dizia o que tinham que fazer, se ele não gostasse, ou fosse contra a ideia, problema dele.


Kenny já ameaçou sair com o trailer com sua família diversas vezes, mas a esse ponto, Lee nem se importava mais. Queria que eles voltassem a ser amigos, Deus sabia que ele tentou, mas infelizmente, não era esse o caso.


Carley tentou o confortar a um dia atrás, dizendo que, mesmo que Kenny não entendesse o que ele estava fazendo, ainda sim, ele fazia o certo, sua cabeça estava no lugar certo, e ele tinha suas prioridades definidas.


Lee sabia, Kenny não precisava gostar de suas ideias, não precisa gostar dele, e tudo bem, ele ainda continuaria fazendo o que achava certo, mesmo que isso significasse em ser odiado por alguém que ele considerava muito.


Katjaa não se intrometia na briga entre os dois, como sempre, uma fiel esposa, mas dava para ver que ela estava confusa, não sabia o que fazer, ou o que pensar, seu marido havia matado Larry, e agora, brigado com aquele que achavas ser seu melhor amigo, qualquer um ficaria perdido numa situação como aquela.


Seu relacionamento com Lilly também mudou, era perceptível a mudança na forma com a qual ela o tratava agora, não só ele, mas todos no grupo. Havia se tornado um pouco mais calma, tentava se manter em seus pés, não começar uma briga com todo mundo, tentou até mesmo ter uma conversa civilizada com Kenny, o “assassino do seu pai”, mas o mesmo não demonstrou interesse em fazer algo do tipo, e ela não insistiu, odiava Kenny em seu interior, apenas o fez, por respeito a Lee, que sabia que as coisas só melhorariam se o grupo ficasse unido.


Ben, bom, ele não tinha muito o que falar, ou se intrometer, aquela não era sua briga, e era óbvio seu desconforto com a situação toda. Apesar de o mesmo ter uma ótima relação com Lee, ele era legal, sabia o escutar, sabia o que dizer, sabia lidar com diferentes tipos de situações. Era um bom homem, esse tanto, Ben conseguia enxergar, e, de todos ali, fora as crianças, claro, ele era o mais razoável a se conversar, o mais calmo, apesar da explosão de raiva que teve alguns dias atrás, e o mais racional.


No momento, Lee descia do trailer, terminando seu turno de guarda, havia passado a noite toda acordado, mais uma vez, e naquela manhã, ele finalmente saia da cadeira na qual ficou imóvel por horas, dando lugar para Ben, que já se balançava fracamente na cadeira com o rifle em seu colo.


Massageando seu pescoço, ele caminha até Clementine, não percebendo que a mesma o fitava a poucos instantes atrás, observando seus movimentos, suas expressões. Seus olhos dourados nunca pareceram tão maduros, e tão infantis ao mesmo tempo.


Lee- Ei Clem, como está?


Perguntou, tentando disfarçar o tom cansado de sua voz, no qual Clementine ouviu claramente, mas decidiu ignorar, como sempre fazia.


Clementine- Eu estou bem, Duck não parava de falar do “batman” e essas coisas, estão decidi desenhar pra ele.


Respondeu com um sorriso genuíno no rosto, gostava de desenhar, a deixava calma, relaxada, e esperava que seus desenhos fizessem Lee relaxar também. Ela levantou seu desenho, no qual Lee pegou e observou de mais de perto, com um sorriso nos lábios.


“Ela tem talento”.


Lee- Você está melhorando nisso Clem, isso está ótimo, daqui a pouco vai superar Van Gogh.


Disse sorridente, devolvendo o desenho para a garota, que olhou feliz pelo elogio, mas meio confusa.


Clementine- “Van” quem?


Virou sua cabeça para o lado, confusa, fazendo Lee soltar uma baixa risada.


Lee- Ele era um pintor, um pintor muito bom e famoso, vamos deixar assim.


Respondeu, ficando satisfeito com a compreensão da garota.


Lee- Ok Clem, eu vou me deitar um pouco, qualquer coisa, só chamar.


Se levantou, recebendo um aceno da garota como resposta, e caminhando em direção ao seu quarto. Tão cansado, que nem percebeu o olhar perfurante da garota em suas costas.


 


Algumas horas se passaram desde então, Lee se espreguiçou, sentado em sua cama, com as costas encostadas na parede, seus olhos fixos em uma parte aleatória de seu quarto.


A porta foi aberta, e por ela, passou uma Clementine com algo em suas mãos. Seus olhos castanhos caíram sobre a garota que caminhava em sua direção.


Lee- Ei Clem.


Cumprimentou, observando a garota se sentar em sua cama, de frente para si.


Clementine- Eu vi você acordado, decidir te trazer uns cookies.


Sua voz, tão doce e aveludada, era como música para os ouvidos de Lee, que sorriu caloroso com a bondade da pequena.


Lee- Ah princesa, você pode dividir com o Duck, aposto que ele vai gostar.


Recusou, seus olhos fixos nas expressões da garota, agora, um pouco cabisbaixa, mas, sem abaixar o braço que lhe estendia os cookies.


Clementine- Ele já comeu, e eu quero que você coma também.


Disse, seus olhos dourados olhando fixamente para os castanhos de Lee, sem piscar, sem recuar.


Lee- Você pode comer Clem, eu não estou…


Tentou recusar novamente, porém, foi interrompido pela voz insistente da mesma.


Clementine- Por favor.


Aquilo foi quase uma súplica, e Lee percebeu isso, a garota o olhava com seriedade, diferente de todos os outros olhares que ela já havia lhe dado, talvez, não sendo um olhar que uma criança deveria ter.


Ele ficou confuso por alguns instantes, pensando no motivo da súbita seriedade, ainda mais, vindo da garota. Sem opções, ele aceita os cookies.


Lee- Obrigado Clem.


O rosto da garota pareceu se iluminar, e aquele a sério ao redor da mesma pareceu se dissipar completamente, e agora, ela estava do jeito que sempre esteve, do jeito que sempre deveria estar. Feliz, animada, sorridente.


E aquela visão da garota estando com os espíritos subitamente levantados, fez um sorriso involuntário se formar nos lábios de Lee.



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Autor(a): louiz_st

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