Fanfic: Você está sozinho, parceiro! | Tema: The Walking Dead
A escuridão da noite escondia diversos perigos pelas ruas desertas da cidade, a completa falta de iluminação deixava o ambiente em um escuro total, impossibilitando qualquer chance de alguém caminhar naquela hora.
O céu estava negro, não havia nem mesmo uma estrela para impedir que as pobres almas desesperadas não se sucumbissem àquela escuridão, e apenas deixava o clima ao redor um pouco mais frio, sombrio.
O silêncio não ajudava, na verdade, parecia tornar as coisas até mesmo um pouco mais assustadoras, mais sufocantes.
Lee abraçava fortemente a pequena garota em seu colo. Depois do que aconteceu a apenas algumas horas mais cedo, ele foi para o único lugar no qual sabia que podia ser seguro, a farmácia de seus pais.
Ele e Kenny se certificaram de isolar o local, impedindo qualquer zumbi de entrar acidentalmente no estabelecimento. E o bom, é que eles deixaram alguns suprimentos para trás, pois não conseguiram carregar mais cedo, então, ambos tiveram uma refeição naquela noite. Não era exatamente a melhor coisa do mundo, mas, barras de cereais e chocolates eram melhores do que nada.
O ambiente dentro da farmácia, assim como em todo o resto da cidade, era completamente escuro, Lee, literalmente, não conseguia enxergar nada, não importava se estivesse de olhos abertos, ou fechados, ele via a mesma coisa.
Uma escuridão tão intensa, que parecia que ia engoli-lo por completo.
Ele não dormiria aquela noite, como nas várias outras noites anteriores a essa, mas não podia se dar esse luxo, seu corpo simplesmente não se sentia seguro o suficiente para descansar.
Ele havia se sentado no canto da farmácia, logo atrás do balcão, pois caso algum dos zubis conseguissem entrar, ele teria tempo o bastante para agir, não iria ser encontrado com facilidade pelo cadáver, e tinha uma boa visão do restante da loja, bom, não no momento.
Clementine tinha suas costas escoradas contra seu abdome, ela abraçava um de seus braços com força contra seu corpo, e repousava sua cabeça em seu peito. O pequeno corpo da garota, tão frágil, tão delicado, era um dos principais motivos de ele se manter acordado, seu corpo não se sentia seguro o bastante para deixá-la vulnerável.
Clementine- Lee…?
A baixa voz da garota ecoou pela cabeça de Lee, que abaixou seus olhos em sua direção, apesar de não conseguir ver nada. A garota não parecia amedrontada, triste, desesperada, nada, ela apenas se mantinha….neutra? Talvez essa não fosse a palavra certa, mas ela não esboçava nenhuma reação muito intensa, nada no qual seria natural para uma criança esboçar.
Tudo bem, ele percebeu ela chorando em seu ombro enquanto corria dos bandidos, mas, depois disso, ela não derramou nenhuma lágrima, nenhuma súplica.
Nada.
E isso preocupava um pouco Lee, apesar de querer pensar que ele estava sendo paranoico, no fundo ele sabia que ela estava sendo afetada mais do que deixava transparecer, os acontecimentos horríveis que ela viu e vivenciou estavam se acumulando dentro de si, e a mudando de dentro para fora.
Lee- Sim?
Sussurrou de volta, levantando sua cabeça e a escorando contra a parede, sentindo o aperto da garota em seu braço se fortalecer, mas a mesma permaneceu quieta, como se pensasse no que dizer, ou se hesitava em o fazer.
Clementine-...Por que Kenny nos deixou?
Em sua voz, não havia nenhum resquício de raiva, mágoa, ou qualquer outro sentimento com certa intensidade, na verdade, ela perguntou como se já soubesse a resposta, como se ela apenas quisesse ouvi-la da boca de Lee, e garantir que estava certa.
Lee suspirou levemente, como sempre, Clementine conseguia ser mais madura do que muitos adultos que já havia conhecido, e tudo isso, demonstrado apenas com algumas simples palavras.
Lee- Porque me odeia.
Essa foi a verdade cuspida em sua cara, nua e crua, Kenny o odiava, e havia demonstrado isso várias vezes durante os últimos dias, fosse com as tentativas de matá-lo, fosse como não ajudá-lo a lidar com zumbis quando ficaram encurralados, se preocupando apenas com sua pele.
Lee foi idiota, estúpido, ingênuo, tudo isso por ainda ter esperanças em seu peito de que ele e Kenny voltariam a ser amigos algum dia, porém, já estava na hora de se livrar daquela esperança inútil, aceitar a realidade de que Kenny o via apenas como um inimigo, um obstáculo, algo que deveria desaparecer.
E na primeira oportunidade que teve, ele o abandonou, ele olhou em seus olhos antes de arrancar com o trailer, sabia o que estava fazendo, e não sentia culpa em o fazê-lo. Ele se livrou dele.
Mesmo que isso acarretasse em se livrar de Clementine, Kenny não se importou.
Clementine-...Você odeia ele?
Ela se ajeitou em seu colo depois da pergunta.
Lee se surpreendeu um pouco, sendo pego de surpresa pela garota, mas se recompondo pouco depois, já devia esperar algo do tipo vindo da pequena.
Lee- Por ter ME abandonado? Não, eu deveria ter feito algo muito antes disso acontecer, mas em vez disso, deixei que as coisas se desenrolassem, parte do que aconteceu é minha culpa.
Explicou, fechando os olhos no processo, sentindo cada palavra ecoar pela sua garganta, como se seu coração estivesse falando no lugar de sua boca.
Era como se ele estivesse confessando o que sentia, só que em vez de ser para um adulto, ou para um padre, era para uma garotinha de oito anos, não sabia se era algo digno de algumas risadas, ou se deveria se preocupar em estar tão desesperado assim.
Lee- Agora, por ele ter esquecido de você, ou simplesmente, não ter se importado com você, sim, eu o odeio sim.
Um leve fragalho irritado percorreu sua voz e se instalou em suas palavras, não importa o quanto ele deteste alguém, ou o quanto ele quer que esse alguém desapareça, Lee nunca abandonaria uma criança, ou uma pessoa que não tem nada a ver com sua briga.
O que Kenny fez foi desumano, e ele havia se tornado exatamente igual às pessoas que sucumbiram ao mundo. Ele e os St John, não tinham diferença nenhuma, eles eram o ruim da humanidade, e infelizmente, Lee só pôde observar isso acontecer com seu amigo.
Clementine-...Você quer matar ele?
Silêncio, em um instante, eles não conseguiram ouvir nem os gemidos dos zumbis do lado de fora da farmácia. A pergunta da garota fez Lee se calar, não era tão simples assim, “eu odeio você, vou te matar”, apesar das pessoas fazerem exatamente isso hoje em dia, para Lee, era algo muito mais complicado, e por alguns instantes, ele não sabia o que responder.
E mais uma vez, ele suspirou.
Lee-...Machucá-lo, talvez, mas não matá-lo, eu não sou como ele.
Respondeu, satisfeito com a própria resposta, e feliz por pensa daquele jeito, já que era apenas o certo. Ele sempre tentou se manter ele mesmo desde que tudo começou, mesmo quando as pessoas ao seu redor começaram a mudar para o pior, e mesmo depois de tanta merda acontecer em sua vida.
Clementine ficou em silêncio por algum tempo, minutos que pareceram horas, digerindo suas palavras, ou tentando entender toda aquela situação, que era um tanto quanto complexa, em busca de algo que fizesse realmente sentido.
Nem Lee conseguia entender como as pessoas decaíram tanto, muito menos com um amigo próximo.
As vezes ele se perguntava se ele era o único que ainda estava tentando ser como era antes, ou se era o único que ainda se importava com suas morais.
É claro, além dele, havia Carley, antes, havia Mark, mas ele sentia como se ele fosse o mais testado entre todos eles, era sempre ele quem tinha que lidar com essas situações horríveis, sempre ele quem tinha que escolher em abandonar sua humanidade e fazer o que tem que fazer, ou continuar você mesmo e correr o risco de morrer alguns momentos mais tarde.
Clementine-...Por que?
A voz da pequena o tirou de seus pensamentos novamente, dessa vez, havia dito um pouco mais alto, deixando de sussurrar abaixo de si, quase como se demandasse uma resposta.
Lee sorriu sem humor, era uma situação um tanto inusitada para ele, nunca, nem mesmo em seus sonhos, pensou que teria uma conversa como aquela com uma garotinha tão nova.
Lee- Porque as coisas não são tão simples assim Clem, não é porque eu não gosto de alguém, que vou abandoná-lo para morrer. Não é porque eu odeio uma pessoa, que todos próximos a ela devem sofrer junto com ela. Não é assim que as coisas funcionam, mesmo com todas as outras pessoas pensando de forma diferente.
Respondeu quase que de imediato, sentindo a garota se encolher de baixo de seus braços, talvez satisfeita com a resposta, ou talvez muito cansada para continuar com aquela conversa.
Seja o que for, ele agradeceu pela mesma finalmente se render ao sono, ela precisava de descanso, havia passado por muita coisa, coisas de mais para uma menininha.
Seus pensamentos corriam dentro de sua mente, revivendo tanta coisa que já passou, relembrando todas as escolhas que fez, e agora, preocupado com as escolhas que ainda faria. A cidade já era, e ele tinha que encontrar uma forma de sair dela o quanto antes.
Sem muitos suprimentos.
Sozinhos.
E sem armas, além de um facão e uma pistola sem munição.
Lee riu sem humor, sua sorte era simplesmente fascinante. Mas, apesar de a situação parecer precária, e de parecer que o mundo todo estava contra ele, ele não cederia como Kenny fez, não deixaria de ser quem era só porque as coisas estavam difíceis, e ele tinha esperanças de que as coisas melhorariam para eles.
Mais cedo ou mais tarde, com certeza.
Autor(a): louiz_st
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