Fanfics Brasil - Herói aos seus olhos Você está sozinho, parceiro!

Fanfic: Você está sozinho, parceiro! | Tema: The Walking Dead


Capítulo: Herói aos seus olhos

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Carley tinha seus olhos fixos em algum ponto aleatório do trailer, seu olhar cabisbaixo e perdido a deixava com uma aparência morta. E era mais ou menos desse jeito que se sentia, vazia, como se estivesse realmente morta, como se fosse igual aos zumbis, apenas uma casca do que antes era algo vivo, vagando sem rumo pelas estradas desertas do mundo.


Sua mente vagava nas pessoas do motel, todas aquelas mortes, todas as coisas que passaram juntos, para simplesmente acabar daquele jeito, tudo ter sido em vão. Não gostava de Lilly, mas tentou ser civilizada com ela, tentou deixar as inimizades de lado, e por alguns dias, conseguiu, a mulher parecia tentar a mesma coisa também.


Mark foi um bom amigo, um bom homem, esperto, até ter tido uma parte de seu corpo servida em alguns pratos de uma família de canibais.


E claro, Lee, Deus, Carley ainda não acreditava na crueldade de Kenny, em como ele pôde simplesmente abandonar o amigo, deixá-lo para morrer. E o pior, ele nem mesmo pensou em Clementine.


Uma doce garotinha que, definitivamente, não merecia aquilo.


Ela, Lee e Clementine tinham um ótimo relacionamento, sempre que ele ficava de vigia, ou saia em busca de suprimentos, ele pedia para ela fazer companhia para a garota, e ela adorava passar um tempo com a mais jovem, era um diferencial daquele clima tão sombrio que o restante do grupo passava, e a fazia esquecer que o mundo lá fora havia acabado, pelo menos, por algum tempo.


Ela podia não ter passado tanto tempo com Lee, o conhecia a apenas três meses, mas nesse tempo, ele se provou ser um homem verdadeiramente bom, e Carley não pôde impedir de sentir atraída por ele, querer saber mais sobre ele.


Era até algo engraçado, se não fosse triste. Um assassino que espancou até a morte um senador estadual, era na verdade, uma das pessoas mais bondosas que já havia conhecido, mesmo naquele mundo tão cruel.


E talvez fosse exatamente esse o motivo de ela se atrair tanto a ele, ele não cedeu a toda aquela crueldade, não deixou de tentar fazer o certo, mesmo quando isso o colocava em perigo. Ele sempre colocava os outros acima dele mesmo, sempre tentando ajudar.


Era óbvio o amor que ele sentia por Clementine, a forma como olhava para ela, falava, sempre fazendo questão de dar atenção para a pequena sempre que podia. E assim como Clementine, ele não merecia nada daquilo.


Se não fosse pela situação, um tanto delicada, em que se encontrava, já teria se afastado de Kenny a muitas horas, teria simplesmente descido do trailer, e caminhado para o mais longe possível daquele homem.


Porém, não sentiu que seria certo deixar Duck sozinho com ele, temeu pelo garoto, mesmo sabendo que Kenny não o machucaria, mas ele era imprevisível, não dava para saber quais tipos de perigos ele deixaria o garoto exposto, tudo por causa da sua teimosia, e por achar que apenas suas ideias estavam certas, de que apenas ele sabia o que estava fazendo.


No momento, o garoto estava sentado no banco do passageiro, abraçando o próprio corpo enquanto escondia sua cabeça entre seus joelhos. Fazia apenas algumas horas desde que Katjaa havia tirado a própria vida, dizendo que não conseguia pedir a ninguém que o fizesse para ela, muito menos seu próprio marido.


Que apesar de estar diferente do que era antes, ainda era seu marido.


O veículo estava em silêncio desde então, salvo apenas pelo som do motor, que volta e meia ficava mais alto, conforme Kenny acelerava ao fazer uma curva.


Carley suspirou pesadamente, sentindo as lágrimas nas quais havia passado horas tentando reprimi-las, teimarem em escorrer pelo seu rosto mais uma vez.


Não queria chorar, mesmo sabendo que ninguém ali a notaria, Ben estava de cabeça baixa, com a parte superior de seu corpo jogada sobre uma mesa no fundo do trailer.


Ela só não achava aquilo justo, talvez Lee e Lilly tenham conseguido fugir, talvez os dois tenham morrido lá atrás, doía não saber a resposta para suas perguntas. Ela havia acabado de perder tudo pelo qual haviam lutado por tanto tempo, e ela nem sabia se ainda tinha esperanças de encontrar os outros.


Ela não conseguia ver o motivo de continuar, não sabia para onde ir, não sabia o que fazer, não sabia se valia a pena continuar vagando pela terra sem um rumo definido.


E essa foi a primeira vez em que ela cogitou a ideia de suicídio, mesmo abandonando esse pensamento absurdo alguns minutos depois.


Com o cansaço acumulado em seu corpo, tanto físico, quanto mental, ela adormece no pequeno sofá, de costas para a escuridão da floresta.


 


Lee segurava firmemente a mão de Clementine, enquanto empunhava seu mais novo facão na sua mão esquerda. Havia decidido sair cedo da farmácia e procurar por algum veículo, mesmo odiando a ideia de caminhar dentro daquela cidade infestada de zumbis, ele era praticamente obrigado a isso, sair andando sem rumo pela rodovia não era uma opção, ele tinha que conseguir um veículo, um mapa, suprimentos se pudesse, e bolar um plano para seus próximos passos, e ele tinha que fazer isso rápido, ou não durariam muito tempo.


Eles caminhavam por uma área mais afastada da cidade, onde ele sabia que moravam menos gente, então, teria menos zumbis vagando pela área. Mas ainda sim, não importava quantos zumbis ele matava com seu facão, ou quantas vezes olhava para aquela rua deserta com olhos atentos, ele nunca se sentia seguro, nunca deixava sua guarda baixa.


Clementine varria os ambientes por quais passava com um olhar atento e….curioso. Já estava acostumada em ver corpos mortos caminhando em sua direção, e já estava acostumada em ver Lee matando-os, mas não estava realmente acostumada com a visão das ruas, como se estivesse no meio de campo de batalha.


Tantos corpos espalhados pelas ruas, veículos destruídos e abandonados por quase todo os lados, a cidade tinha um ar fantasmagórico, e agora não passava de uma cidade-fantasma.


Ela se lembrou de alguns livros que havia lido, da forma com a qual eles retratavam cenários parecidos com aquele, e agora ela finalmente entendeu o que eles diziam. Entendeu o “cheiro de morte” na qual havia lido tantas vezes, e sentia na pele aquele odor horrível, que irritava seu nariz.


Uma parte de um livro na qual ela se lembrava vividamente de ter lido passou pela sua cabeça.


“Tantos corpos espalhados pelo chão, tantas almas ceifadas por algo trivial, inútil, por nada. Ao meu redor, me deparei com diversos pares de olhos vazios, de pessoas que a muito já tinham morrido, olhos que pareciam me encarar fixamente, observando cada passo, cada movimento que eu fazia. Era como se olhassem para mim, com a esperança de que eu pudesse libertá-los daquele sofrimento eterno, nunca pensei que corpos mortos poderiam desejar a morte, e hoje, eu não culpo as pessoas por me chamarem de louco.”


Realmente, ela pode ver com os próprios olhos o que personagem do livro queria dizer, o que ele havia sentido, passado.


Não pôde impedir de se sentir amedrontada, estava assustada com aquela visão, mesmo estando acostumada com a morte. Era como se ela visse um local devastado pela escuridão, onde a esperança, a muito havia perecido.


Seus olhos dourados se focaram no homem ao seu lado, seu protetor, a pessoa que havia a protegido de tanta coisa, tantos males que caminhavam pelo mundo, males que não via nem mesmo em seus pesadelos. Por algum tempo, ela pensou que ele também estava com medo, assim como ela, que ele se sentia da mesma forma que ela.


Porém, lá estava ele, com um olhar determinado, sério, focado no caminho a frente, sem um pingo de medo em seus olhos, sem um pingo de hesitação em seus passos. Ele encarava frente a frente aquela cena aterrorizadora, ele sempre avança em direção ao perigo sem pensar duas vezes, e sempre lidava com o mesmo de uma forma tão tranquila, tão obstinada, que as vezes, apenas algumas vezes, ela pensou que ele não sentia medo.


Ela o admirava, mesmo sem realmente saber o significado daquilo. Lee era forte, era esperto, e tudo que ele fez, tudo que ele fazia, toda a forma com a qual se movia, ou simplesmente, a forma com a qual dizia algumas simples palavras, o deixava com um ar tão imponente, era como se ele fosse invencível, como se fosse invulnerável aos males do mundo. Sempre sabia o que dizer, o que fazer, mesmo se isso significasse que ele seria odiado, ele não se importava, isso não o impedia de agir.


Era como se ele fosse um daqueles super-heróis nos quais sempre ouvia Duck comentar sobre.


E para ela, ele era o mais próximo de um herói que conseguia pensar, ela a salvou e a protegeu, era o que heróis faziam, certo?


Ele caminharam por mais algum tempo, evitando os poucos zumbis espalhados, ou eliminando os que estavam no caminho, até que chegaram em uma rua sem saída. Aquela era a rua onde ficava a autoescola da cidade, era o único local com chances de ainda ter um veículo funcionando que ficava perto da farmácia de seus pais, e o melhor, era que ficava em uma área mais afastada.


Já havia visitado essa autoescola uma vez, a enorme garagem do local tinha quase de tudo, motos, vans, micro-ônibus, carros, se tivesse sorte, encontraria algo que funcionasse.


Não eram muitas pessoas que trabalhavam naquela autoescola, e por se localizar em uma área mais afastada, não esperava por uma grande quantidade de zumbis no local, no momento, era sua melhor aposta.


O local não estava muito diferente dos demais, abandonado, colocando em uma palavra mais simples.


Ele entrou com cuidado, caminhando a passos lentos e correndo seus olhos por todos os lados, havia alguns poucos corpos espalhados pelo chão.


Lee parou de caminhar por um tempo, olhando para o corpo de um homem deitado no chão a poucos passos a sua frente, uma ideia lhe passou pela cabeça.


Clementine o olhou confusa ao vê-lo erguer seu facão, e logo, arregalou os olhos ao ver o homem dar três batidas no balcão com sua lâmina, fazendo um barulho alto que acoou pelo local.


Ela não entendeu o que ele queria fazer, e ficou ainda confusa ao ver a face inalterada do homem, até mesmo quando alguns dos corpos espalhados pelo local começaram a se levantar, e outros começaram a sair de algumas das salas ali próximas.


Lee se virou para o zumbi mais próximo, que se levantava lentamente ao seu lado, com um movimento rápido, ele finca seu facão em seu crânio, puxando-o com força logo após.


Depois, ele se volta para o próximo zumbi, e perfura sua lâmina bem no meio de sua testa, deixando o corpo já em decomposição cair no chão em um baque surdo.


No total, foram cinco zumbis que reagiram ao barulho que havia feito, e cinco menos ameaças que poderiam encurralá-los mais tarde, cinco zumbis neutralizados.


Clementine o olhou novamente, agora com a expressão um pouco mais calma, mas ainda com as sobrancelhas dobradas, não entendendo suas ações.


Clementine- Por que fez aquilo?


Perguntou, observando as expressões leves de Lee, como se ele estivesse satisfeito do que havia feito, ou aliviado por algo.


Lee- Porque assim eles não iriam nos pegar de surpresa, não corremos mais o risco de sermos encurralados.


Respondeu, com um pequeno sorriso nascendo em seus lábios, e um estalo pareceu ecoar na mente de Clementine, que digeria aquelas palavras.


Era da forma que Lee havia dito, zumbis eram atraídos por barulho, e se isso fosse usado de uma maneira esperta, podia salvar suas vidas.


E Lee era um homem esperto.


Ela arqueou as sobrancelhas em compreensão, andando automaticamente ao sentir lhe puxar levemente para frente, observando os corpos, mortos novamente, ao seu redor, caídos a seus pés.


Lee correu seus olhos rapidamente no interior das salas nas quais passavam em frente, uma olhada rápida em busca do lugar onde guardavam as chaves, até finalmente as encontrar, penduradas na parede no fundo da última sala no corredor. Por via das dúvidas, ele pegou todas as chaves que viu, para caso um dos veículos não funcionasse e ele não precisasse voltar esse caminho todo.


Logo depois, eles passaram por uma porta que dava ao estacionamento, no qual, aparentemente, estava vazio.


A passos lentos e cautelosos, eles caminhavam pela enorme área aberta, com seus olhos focados em alguns carros mais a frente, duas motos caídas no chão com corpos sobre, ou, próximos das mesmas, um micro-ônibus havia batido contra o muro do estacionamento, sangue manchava várias janelas do veículo.


Por sorte, a porta do mesmo estava fechada, se tivesse algum zumbi ali dentro, não conseguiria sair, pelo menos, não tão rápido, o que daria uma chance para Lee encontrar um veículo que funcionasse.


Ele se aproximou das motos caídas, fincando seu facão na cabeça dos três corpos deitados ali, se garantindo de que eles não voltariam. Depois, eles caminharam em direção a um dos carros que ainda estavam por ali, o melhor, é que eles pareciam intactos, apesar de um deles estar com manchas de sangue em seu interior.


Lee verificou o interior do carro sem as manchas de sangue, se certificando de que não havia nenhum zumbi ali dentro. Após se garantir disso, ele abre a porta do motorista e se senta, pegando uma das chaves em seu bolso.


Clementine ficou parada logo ao lado do assento do motorista, escorada na porta traseira do carro, observando Lee girar a chave do veículo e sorrir ao ver o painel eletrônico ascender. Clementine também se sente mais animada, agora eles poderiam sair daquela cidade morta, antes que eles se juntassem aos cadáveres perdidos pelas ruas.


Porém, a garota sente algo agarrar sua perna, e antes que pudesse raciocinar direito, seu corpo vai de encontro ao chão, e ela solta um pequeno grito surpreso e dolorido, sentindo suas costas doerem pela súbita queda.


Olhando para baixo, ela arregala seus olhos ao ver a boca podre de um zumbi próxima de sua perna, muito próxima. Aquela mão fria e morta puxando sua perna com grande força, aqueles olhos fantasmagóricos que pareciam olhar dentro de sua alma, que faziam seu interior tremer.


Lee fazia parecer que lidar com zumbis era algo fácil, ele não tinha medo deles, e ele sabia como lidar com eles. Mas ela não era corajosa como Lee, não era forte, nem esperta como ele.


Um simples zumbi, para ela, era um monstro muito maior do que parecia.


E sentir a morte respirar tão perto de si daquela forma, era horrível, aquele frio que sentia em seu estômago era incrivelmente incômodo, espalhando-se por todo seu corpo e lhe causando aquela intensa ansiedade, era algo que não queria sentir nunca mais.


Era assim que Lee se sentia ao colocar sua vida em risco todos os dias?


Não pensou numa resposta, seus olhos logo se focaram no facão que perfurava a face deformada do zumbi, onde o cabo da lâmina era segura firmemente pela mão de Lee.


O sentimento de alívio correu pelo seu corpo, inundando seu peito e substituindo aquele sentimento horrível de morte que sentia instantes atrás. Estava viva, havia escapado, por pouco, das garras da morte.


Era assim que Lee se sentia quando escapa da morte, todos os dias?


Lee se ajoelhou ao seu lado, ajudando-a se levantar e a olhando com um semblante preocupado.


Lee- Você está bem?!


Perguntou, um tom quase desesperado ocupava sua voz, e seus olhos vasculhavam o corpo da pequena com certo desespero, verificando-a em busca de algum ferimento. Mas logo, o desespero em seu olhar foi desaparecendo, ao ver que a garota estava bem, e o olhava com um brilho em seus olhos dourados.


Ela havia travado ao sentir o zumbi agarrar sua perna, se desesperado ao vê-lo tentando-a morder, e ele a protegeu, de novo, como sempre o fazia.


Isso apenas a lembrava de que ela não era como ele, não era uma pessoa forte.


Lee suspirou aliviado, acalmando sua respiração e abaixando sua cabeça lentamente, colocando uma de suas mãos sobre o ombro da garota.


Lee- Sabe, acho que está na hora de eu te ensinar a cuidar de si mesma.


 


 



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Autor(a): louiz_st

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