Fanfic: Você está sozinho, parceiro! | Tema: The Walking Dead
Não sabia quanto tempo havia se passado desde que havia encontrado aquele carro, talvez dois, três dias, ele havia perdido a noção do tempo desde que o apocalipse começou, agora, nada passava de “dias” e “noites” para ele, sem data específica, sem aniversário, sem feriados, nada.
Algo tão trivial, mas que Lee se arrependia de não manter registros dos dias passados, mais uma coisa de sua vida passada que não conseguiu manter.
Tudo que tinha, era a ideia de que três meses haviam se passado desde que tudo começou, só isso, não sabia quantos dias, ou quantas semanas isso fazia, era como se ele, assim como seu relógio quebrado, havia parado no tempo, apenas observando o sol nascer e se pôr, sem realmente pensar em tudo que se passava, em diversos lugares, no tempo em que isso ocorria.
Porém, nesses últimos dias, ele conseguiu encontrar bastante suprimentos para duas pessoas, ainda mais, uma delas sendo uma criança.
Devido ao tiroteio no motel, a maior parte dos zumbis que ficavam na base militar, na qual ele e Kenny tentaram saquear, mas não conseguiram por causa da enorme quantidade de mortos, foi atraída em sua direção, como resultado, o local havia ficado quase vazio, comparado à quantidade de zumbis qu estavam lá desde a última vez que visitou o lugar.
E ele conseguiu pegar bastante coisa, comida, munição, mais uma pistola, um fuzil de assalto, uma faca, alguns itens médicos, remédios, bolsas, várias coisas úteis, e ele agradecia a Deus pelo achado, assim como havia pensado há alguns dias atrás, as coisas estavam para melhorar, tanto para ele, quanto para a garota em seus cuidados.
Por conta da munição e da sua mais nova arma de fogo, Lee decidiu ensinar Clementine a atirar primeiro, depois a ensinaria a lidar com zumbis de uma forma mais silenciosa, mas por enquanto, aquilo ia servir.
Querendo ou não, uma arma era o que salvava sua vida naqueles dias.
No momento, ele olhava para as três garrafas de vidro que havia posicionado a alguns metros dali, verificando se havia as deixado a uma boa distância da garota. Eles serviriam como alvos, o primeiro treino com armas de fogo da garota, isso era, definitivamente, algo que ele nunca pesou que faria, ainda mais com uma menina tão jovem.
Lee- Primeira coisa Clem, isso é só um objeto, não vai te machucar, não vai machucar ninguém, a não ser que você faça algo para isso.
Explicou, entregando a pistola nas pequenas mãos da garota, que olhava para a arma com certa hesitação, prestando atenção no que Lee dizia.
Clementine- É pesada.
Disse, balançando a arma com suas duas mãos, fazendo Lee dar uma baixa risada com o tom usado por ela. Ele então, coloca uma mão no ombro de Clementine e a força um pouco para o lado, fazendo-a se virar de costas para si.
Lee- Você vai se acostumar. Essa é a trava de segurança...- Apontou, e a garota seguiu seu dedo com o olhar, virando um pouco a arma para ter uma visão melhor.
Lee- Agora, está destravada, sempre que estiver assim, você tem que ter certeza de que quer machucar alguém, ou quer matar algum cadáver por ai, você mira seguindo esse ponto aqui… - Apontou novamente, erguendo os braços da garota com suas duas mãos, e ajeitando a pose da mesma, que se sentia meio estranha ao fazer aquilo.
Se sentia até um pouco animada…? Em sua mente, ela ia se tornar uma pessoa mais forte, assim como Lee, e poderia se defender sozinha, sem precisar que ele se esforçasse por ela tantas vezes, e isso a deixava ansiosa, animada, e um pouco nervosa.
Lee- Não trave seus cotovelos, o coice é meio forte, devido ao seu tamanho. Ok, agora mire um pouco mais para a esquerda.
Instruiu, apoiando seus braços e ajudando-a a mirar, e assim que percebeu que estava na mira correta, ele recuou dois passos para o lado, a observando com olhos atentos.
Lee- Antes de atirar, prenda sua respiração, vai fazer você mirar com mais precisão. E assim que se sentir pronta, aperte o gatilho.
Disse, e Clementine logo o fez. O barulho do tiro ecoou por entre as árvores da floresta, tornando difícil para qualquer zumbi, encontrar a fonte do barulho. Junto com o tiro, um gritinho surpreso de Clementine ecoou pelos ouvidos de Lee, que quase riu ao ouvi-lo, e ao ver a cena da garota com os ombros encolhidos, e olhos fechados com certa força.
Porém, apesar da pose quebrada, e dos pequenos passos que ela deu para trás, Clementine acertou o alvo, a garrafa se quebrou em centenas de pedaços, e Lee a olhou surpreso, um belo tiro, para sua primeira vez.
Lee- Belo tiro.
Parabenizou, e só então a garota percebeu que havia acertado o alvo, e o medo que sentia em seu interior foi substituído por animação, e ela se virou para Lee com um sorriso feliz no rosto.
Clementine- Eu fiz como você disse, eu prendi minha respiração e a arma não tremeu muito!
Exclamou animada, voltando a mirar a pistola em direção às garrafas quase que imediatamente depois. Lee deu um sorriso de lado com a animação da garota, sentindo seu peito se aquecer com a visão do sorriso da pequena.
Lee- Não trave os cotovelos.
Lembrou, ajeitando um pouco os braços de Clementine, e ajustando sua mira. Instantes depois, mais um tiro ecoou pela floresta, e mais uma garrafa de vidro se quebrou ao contato da bala.
Lee a olhou surpreso, ela aprendia rápido, hmpf, talvez não devesse ficar tão surpreso, ela era uma garota esperta, já havia o provado isso inúmeras vezes durante aqueles meses.
E pela última, mais um tiro ecoou por entre as árvores, e a última garrafa de vidro se quebrou em centenas de pedaços, todos se espalhando pelo chão da floresta.
Clementine tinha um olhar brilhante em seu rosto, quase que orgulhoso, talvez um realizado, mas Lee não se importou muito com isso, seus olhos estava apenas admirando o pequeno sorriso que ela esbanjava em seu rosto e as feições leves se espalhando pela sua face.
Clementine- Não é tão difícil. Mas minhas mãos doem um pouco.
Disse, abaixando a arma e se virando para Lee, observando o sorriso em seus lábios se alargar, e ele se agachar até sua altura.
Lee- Você vai se acostumar. Lembre-se Clem, sempre mire na cabeça, alvos em movimento são muito mais difíceis do que alvos parados, é algo completamente diferente, mas tenha isso em mente, e você vai ficar bem.
Explicou, observando os olhos dourados da garota olharem atentamente para seus olhos castanhos, absorvendo todas as palavras que havia dito, e recebendo um aceno com a cabeça como resposta.
Clementine- E se for pessoas?
Perguntou, de forma tão natural, e tão neutra, que Lee até ficou surpreso, até alguns dias atrás, ela ficava nervosa só com o mero pensamento dele matar alguém.
Lee- Você vai lidar com zumbis, eu lido com as pessoas.
Disse em um tom sério, colocando suas mãos sobre os ombros de Clementine, que não desviou o olhar do seu, olhando-o para si de forma intensa.
Clementine- Tá, mas, e se você não puder, como alguns dias atrás, eram três contra você, eu sei que você conseguiu matá-los mas, se eu tivesse uma arma naquela hora eu poderia ter te ajudado, e se isso acontecer de novo?
A pergunta dela fazia sentido, e Lee sabia disso, mas simplesmente não parecia certo ela falar daquele jeito, pensar sobre aquilo, ainda era cedo de mais e ele já estava fazendo muito mais do que queria ao ensiná-la a atirar, mesmo sabendo que era necessário.
Lee- Clem, a sensação de atirar em uma pessoa, é completamente diferente da sensação de atirar em um zumbi, o sentimento que você tem depois de tirar a vida de alguém, é um fardo muito pesado, um fardo no qual eu não quero que você carregue tão cedo.
Eram palavras sábias, sérias, e verdadeiras, pois ele lidava com esse fardo todos os dias. Ele sempre via os olhos das pessoas que matou, ou que deixou para morrer, e o pior, era que muitos desses olhos, ele nem viu quando tirou a vida de dentro deles, olhos de bandidos nos quais ele atirou passeavam em seus sonhos, tornando-os pesadelos.
E ele nunca viu esses olhos tão perto assim, mas eles sempre teimavam em aparecer em seus sonhos.
Era horrível, mesmo sabendo que havia o feito para se proteger, proteger o que era importante para si, não podia evitar de se sentir assombrado pelas almas que ceifou.
O brilho nos olhos de Clementine pareceu se tornar mais forte, e parecia que a garota olhava profundamente em sua alma. Um olhar tão intenso, que ele se perguntou se ela era realmente só uma criança, com certeza, não parecia.
E depois de alguns instantes de silêncio, ela acenou com a cabeça.
Clementine- Ok.
“ Não, não está ok”. Lee pensou ao ouvir a resposta simples da garota, não sabia por que, não sabia como, mas sentia que ela não havia aceitado aquela ideia 100%.
Mas ele apenas suspirou, talvez fosse só coisas da sua cabeça, talvez estava só cansado. Ele então se levanta, observando a garota estender a arma para ele.
Lee- Não, essa fica com você.
A garota arregalou os olhos por alguns instantes, abaixando seu olhar para o objeto em suas mãos, hesitando por alguns segundos, mas abaixando a arma e ativando a trava de segurança, ainda olhando meio perdida para a arma em suas mãos.
Lee- Aqui, coloque em sua cintura.
Nesse tempo, ele havia conseguido encontrar algumas roupas novas para os dois, Clementine, apesar de ser uma garota bem “feminina” e protestar ao não poder usar seus vestidos, usava uma calça jeans azul e uma blusa rosa, com alguns detalhes em branco espalhados pela sua extensão.
Lee ajeitou a arma em sua pequena cintura, era até algo um pouco cômico de se ver, visto que a garota era pequena, e a arma em sua posse parecia ser maior do que realmente era.
Clementine- E se eu ficar sem munição? E você não estiver por perto, ou eu não conseguir chegar até a você?
Perguntou logo após Lee terminar de ajeitar a arma e se levantar. Seus olhos dourados seguiam com atenção todo o movimento feito pelo homem a sua frente.
Lee suspirou, apesar de serem perguntas completamente válidas e bem inteligentes, visto que ela estava se preocupando com sua segurança, ele ainda as achou incrivelmente difíceis de serem respondidas, o que era até estranho, já que as perguntas eram, na verdade, bem simples.
Se fossem feitas por alguém mais velho.
Lee- Bom, essa é a segunda parte da nossa aula de hoje, vou te ensinar a se virar com uma faca, eu até te daria o facão, mas ele é muito grande pra você, uma faca é algo mais simples, e mais fácil de manusear para alguém do seu tamanho.
Pegou a faca na qual havia encontrado na base militar, tinha um tamanho mediado, o topo de sua lâmina era serrilhado, fazendo com a luz do sol brilhasse dos detalhes prateados nas extremidades da lâmina negra.
Clementine- Ser pequena não é muito legal.
Reclamou, revirando os olhos e fazendo uma face em emburrada. Lee riu de sua reação, gravando aquele rosto perfeito em sua mente, antes de estender a faca em direção a garota.
Lee- Por que acha isso?
Perguntou, se agachando na altura da garota enquanto ela passeava com seus olhos sobre a lâmina em suas mãos. Até ela tinha que admitir que a faca era linda.
Clementine- Parece que deixa tudo um pouco mais difícil.
Respondeu, tirando seus olhos da faca e encarando os olhos castanhos de Lee, que tinha um meio sorriso em seu rosto.
Lee- Está vendo aquela pequena abertura naquela pedra mais a frente?
Perguntou, apontando para uma direção aleatória. Clementine ficou um pouco confusa devido a súbita pergunta, mas olhou para onde ele apontava, focando seus olhos na pequena abertura na pedra. Respondendo Lee com um aceno.
Lee- Você acha que um zumbi poderia passar por ali? Ou então, um homem do meu tamanho?
A garota voltou seu olhar para a abertura, parecendo um pouco pensativa.
Clementine- Não.
Voltou seus olhos para os dele, que pareciam satisfeitos com a resposta.
Lee- Exatamente. Eu não consigo passar por aquela abertura, mas você consegue.
Explicou, observando, com certo divertimento, a garota arquear as sobrancelhas em compreensão.
Lee- Ser baixinha não importa nada Clem, você tem suas vantagens, da mesma forma que eu tenho as minhas, não importa se você está enfrentando um grupo de zumbis, ou um grupo de pessoas, se você usar e abusar das suas vantagens, você vai ficar bem, só precisa ser esperta.
Clementine o olhou fixamente por algum tempo, aquele olhar intenso havia voltado para o dourado em seus olhos, e mais uma vez, eles pareceram brilhar enquanto ela digeria suas palavras, e um brilho de compreensão piscou em seus olhos.
Lee- Agora, caso não tenha um lugar para você rastejar, ou não tenha uma forma de fugir de um zumbi, o que você precisa fazer?
Perguntou, atraindo a atenção e curiosidade da garota para si, enquanto se levantava e endireitava sua postura.
Clementine- Matá-lo?
Virou a cabeça ao responder, ainda um pouco confusa, mas se aliviando um pouco ao ver Lee dar um pequeno sorriso.
Lee- Sim, e qual a forma de matar um zumbi?
Clementine- Destruindo o cérebro.
Aquilo parecia uma aula, a garota sentia como se tivesse voltado para a escola, de forma diferente, e bem mais agitada do que o convencional, mas a base era a mesma, o professor perguntava, ela respondia, o professor ensinava, ela aprendia.
Lee- Agora, você é pequena, como você vai destruir o cérebro de um zumbi da minha altura, por exemplo?
Clementine olhou para baixo por alguns segundos, voltando seu olhar para o alto, como se medisse a altura de Lee. Ele era bem mais alto que ela, ao ponto que ela tinha que levantar quase que todo seu pescoço para conseguir olhá-lo nos olhos daquela distância.
Clementine-...Eu não sei.
Respondeu derrotada, depois de passar alguns segundos pensando em uma resposta, que não chegou em sua mente.
Lee- Você o derruba, assim, a cabeça dele vai ficar em seu alcance. Como você faz isso? Como você me derrubaria
Clementine tinha seus olhos fixados na face de Lee, escutando com atenção as palavras ditas pelo mesmo, era quase impressionante, para a garota, o quanto Lee parecia saber das coisas, e ela ficava feliz ao poder ficar tão esperta quanto ele.
Clementine- Eu…bato na sua perna…?
Respondeu/perguntou, incerta do que dizer, enquanto sua mente trabalhava a mil ao processar as informações adquiridas.
Lee- Sim, minhas pernas são os pontos mais frágeis que você pode acertar para me derrubar, a mesma coisa com zumbis, com a diferença que eles vão cair com mais facilidade. Tente atacar seu joelho, seja com sua faca, seja com um pedaço de ferro, o que for, mas, apenas tente fazer isso em último caso, entendeu?
Explicou, seus olhos acompanhando o leve movimento da garota ao balançar sua cabeça em compreensão.
O tempo se passou rapidamente para os dois, que ficaram tão entretidos em ensinar e em aprender, que simplesmente não viram as horas se passarem, nem perceberam que ficaram com fome até seus estômagos vazios reclamarem em alto e bom som.
Clementine caminhava ao seu lado se sentindo bem, talvez até um pouco orgulhosa, se sentia diferente ao aprender tantas coisas, se sentia menos um estorvo para as pessoas ao seu redor, menos um estorvo para Lee. Aquela noite, apesar da posição desconfortável, ela dormiu com um sorriso no rosto, e abraçada ao peito de Lee.
Autor(a): louiz_st
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Seus olhos castanhos estavam fixados na estrada deserta na qual seguia. Apesar da atenção na estrada, volta e meia Lee se perdia em seus pensamentos, revisando o plano em sua cabeça diversas vezes e tentando se convencer de que era uma boa ideia fazer o que iria fazer. Clementine queria encontrar seus pais, ela parecia determinada a isso, e ignorou quan ...
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