Fanfic: O filho de Zatanna | Tema: Liga da Justiça

     O frio daquele corredor sempre assustou Zack, mesmo tendo superado tudo aquilo, o que dizer de alguém que cresceu longe da luz do sol? Na escuridão do inferno? A luz só tocou o rosto de Zack quando ele tinha 13 anos de idade, e aquela criança, prometeu a todos naquela cela, que voltaria. Zack agora ouvia os gritos de cada uma delas, uma sensação horrível invadiu seu corpo, sentiu uma pontada no coração, uma impotência, um pavor, o medo, o medo de não cumprir a sua promessa.

     As vozes de Trigon o perseguia o tempo todo, ele sabia que nada daquilo era real, mas não importava, esse talvez seja o grande segredo dos mágicos, dos ilusionistas, não se trata de ser ou não real, se tratar do poder de conseguir tocar as pessoas, paralisar seu público, com um número que transmite sensações, sejam boas ou más. As pessoas sabem que é apenas um truque, mas não importa, pois é forte o suficiente, para mexer com elas, assim são as ilusões de Trigon, o adversário mesmo sabendo que não são reais, fica pasmo, e não consegue reagir quando se ver nelas. Assim estava Zack, mas no fundo, ele sabia, que precisava sair dali, e a voz continuava ecoando naquele cenário.

- Você conseguiu sair da minha prisão, mas jamais sairá de sua própria mente, afinal de contas, como fugir de você mesmo?

     Ele se via naquele maldito corredor, mas todos ali estavam mortos, todos, apenas corpos dentro das celas, Zack não voltou, não salvou eles, a última cela estava aberta, caminhou lentamente até lá, quando chegou nas grades abertas, percebeu que o corpo de uma garota estava jogado naquele chão horrível, ele correu até o corpo, se agachou ao lado dele, estava de bruços, ele virou o corpo, o rosto para cima, era uma jovem, muito linda, longos cabelos lisos roxos, morta.

- Não, não, não – Zack colocou suas mãos na cabeça, repetindo freneticamente – Não, não, não – Quanto mais repetia, mais alta sua voz ficava, até chegar ao ponto de gritar – Não! Não! Não! – Correu para trás, se agachando no chão daquela fria cela, vendo o corpo de sua irmã ali na frente, com as duas mãos na cabeça, como se estivesse tendo um ataque de ansiedade – Não! Não! Para com isso! – Ele fechou os olhos, desejando que tudo aquilo passasse logo, mas não iria passar, se ele não saísse logo dali, fechou os olhos, respirando devagar, tentando se acalmar, de olhos fechados, sentiu que o ar a sua volta mudou, abriu os olhos.

     Zack não estava mais na sua cela, ele estava agora nas ruínas do mundo de cristal, o céu não era mais aquilo lindo azul, era vermelho, tal qual a Terra estava também, destruição por todos os lados, escombros. Ele se levantou, estava no meio de uma rua, aquelas ruas, do mundo de cristal, eram radiantes, mas ali, naquele momento, parecia ser o inferno, caminhou devagar, olhando a situação ao seu redor, algumas criaturas de Trigon voavam ali perto, uma menina, de uns 10 anos aproximadamente, encostou perto dele, estava toda suja de poeira, ela ergueu suas pequenas mãozinhas, uma expressão frágil no rosto, estava com fome.

- Moço, me ajude por favor, eu tô com fome – Disse ela com sua voz frágil.

     Zack levou as mãos para dentro de seu palito, tirou uma maça de dentro dele, e ergueu para a menina, que abriu a boca mais uma vez, mas não era mais aquela voz frágil, era Trigon falando, com sua voz grave assustadora, através da boca daquela criança.

- Você não conseguiu salva-la tolo!

     Zack tomou um susto tão grande que cambaleou para trás, tropeçando em pedaços de concreto no chão, caiu para trás. A criança desapareceu, mas Zack começou a ouvir passos, deitado no chão, se lamentando, seguiu com o olhar a maça que se movimentava no chão, devido a sua queda, ela parou nos pés de uma jovem, ele conhecia aqueles pés, Ravena, apareceu diante dele, ergueu a mão para ajuda-lo a levantar, enquanto Zack a agarrou e era puxado, perguntou:

- Você é real, né?

- Eu sempre serei real, onde quer que esteja.

     Zack agora de pé, encarou Ravena de ponta a cabeça, era de fato ela, com sua voz áspera, sua longa capa roxa, e sua expressão irônica no rosto.

- Você nunca tá em um dia bom, né? – Perguntou Zack.

- E você também não tá nos melhores – Respondeu Ravena.

- Como você é real aqui dentro? Quer dizer, onde eu estou mesmo?

- Na sua cabecinha oca, quer dizer, meu pai está, ele tá criando essa ilusão toda, tá brincando com você, tá te deixando instável por dentro, eu sei disso, pois foi exatamente o que ele fez comigo. Eu tô aqui, porque posso está, tenho uma conexão com os poderes dele, e você me deu um certo controle quando passou a energia da pedra das esmeraldas para mim, porque fez isso? Mal me conhece.

- Eu não conheço você, mas sei como é não saber quem é, e ter medo de quem pode ser. Você entende isso, portanto, sabe exatamente o que fazer com esse poder.

- Aprendeu tanta sabedoria na prisão de meu pai?

- Aprendi com a vida.

- Por que eu vim até você, Zack?

- Como assim? Eu te achei aqui do nada.

- Não é do nada, não é assim que funciona, Trigon está fazendo você vê seus próprios medos, eu estava com a liga da justiça na prisão do meu pai, na verdade, ainda estou lá, mas minha alma está aqui, algo me atraiu até aqui, até onde meu pai, até o que ele está aprontando, no caso, te perturbando, mas... O que me trouxe até aqui? – Zack estava confuso, olhando no fundo dos olhos de Ravena.

- Eu não sei Ravena, sinceramente, eu não sei.

- Tem medo de mim?

- Só um burro não teria.

     Ravena abriu um sorriso discreto no canto da boca, pela segunda vez, Zack a fez sorrir, ele mudou de assunto.

- Como vou sair daqui?

- Tem que parar de fugir, precisa de mais convicção.

- Convicção de que?

- De que não vai perder as pessoas que ama, de que vai proteger elas, esse é o seu maior medo, não é?

     Zack ficou sem palavras, foi como se Ravena o tivesse encostado na parede.

- Quem não tem medo disso? – Questionou ele, depois de gaguejar.

- Você, no fundo, você não tem, porque na real, nunca teve ninguém, no dia que tiver, será mais fraco, ai seus inimigos explorarão seus medos, como Trigon está fazendo agora.

- Sua fala é cruel Ravena, talvez vale a pena essa fraqueza, em troca de ter alguém ao lado.

- Se tiver que colocar alguém do seu lado, tenha convicção de que pode cuidar dela, se não, o medo de perde-la, será sua fraqueza – Ao dizer isso, Ravena, virou as costas para Zack, que observou ela se afastando, se afastando, até desaparecer de sua vista, Zack olhou para o caos a sua volta, abaixou a cabeça, deu um leve suspiro, e disse:

- Tem razão... Quer saber de uma coisa, que se dane tudo isso aqui que eu tô vendo.

     Zack decidiu fechar os olhos, se concentrar, recapitular tudo que já viveu, tentando passar por cima de seus sentimentos negativos, fazendo as contas, das pessoas que o ajudaram, no mundo de cristal, e como todos que precisavam dele, e até os que ainda vão precisar, Zack ainda lembrava do que tinha visto na árvore genealógica em ShadowCrest, futuro marido de alguém que começava com “R”, Ravena provavelmente, ou não, ou outra, mas ali naquele momento, se concentrou nas pessoas que importavam, naquele momento, sua mãe, que mal o conhecia, mesmo assim, não queria perder ninguém ali, o medo de falhar, mas ele lembrou do inferno onde nasceu, lembrou que um dia saiu de lá, e tendo saído de lá, poderia enfrentar o que fosse necessário. De repente, seu corpo foi tomado por uma sensação diferente, uma leveza, todo aquele cenário se desfez, virou poeira, ao seu redor, sua cabeça começou a doer, fechou os olhos, durante alguns segundos, quando os abriu, estava em Jump City, Trigon não estava mais ali, estava só, apesar de está um pouco confuso, sabia o que fazer abriu um portal para dentro do inferno de Trigon, o atravessou, e caiu em um grande salão onde uma batalha acontecia, ou melhor, uma surra, os monstros de estimação de Trigon machucavam ferozmente Zoom, a mando de Ravena. Todos viram quando Zack atravessou o portal e caiu ali.

- Zack – Gritou Constantine.

- Onde ela está? – Perguntou Zack.

- Ela quem? – Questionou Diana.

- Já sei.

     Zack atravessou a batalha, o salão, e correu para fora, para aquele vale escuro e frio, no qual morou por toda a infância, Zee correu para acompanha-lo.

- Essa não – Murmurou Constantine tentando seguir Zee – De novo não.

     Zack corria freneticamente por aquelas trilhas, corria, corria e corria... Até que chegou ao buraco, onde Zee e John tinham caído anteriormente, desceu em alta velocidade, adentrou a caverna até as celas da prisão, ao chegar nelas, com um toque de mágica, liberando poder de suas mãos, tocou cada uma das celas, abrindo-as, o velho que estava em sua cela sentado, se levantou, saiu e cumprimentou Zack.

- Vejo que cresceu, cumpriu sua palavra garoto, meus parabéns, tem o eterno respeito do Destino.

     Zack conhecia aquele velho, mas nada sabia do seu passado, aquela fala do velho, chamou sua atenção, ele olhou para trás, mas o velho já saía correndo com os outros para fora, mas em seu pensamento, aquela fala chamou sua atenção, “Destino? Já ouvi isso, em algum lugar”. Mas sua atenção logo se virou para a última cela, aquela jovem, acorrentada, estava viva, morta apenas nas ilusões de Trigon, que o fez dentro da mente de Zack. Ele soprou fogo de sua boca, quebrando cada corrente que a prendia, seu corpo caiu no chão. Mas ainda estava vida, Zack, se agachou, colocou sua cabeça em seu colo. Zee e Constantine chegaram na cela, se agacharam junto a ele.

- Quem é ela filho? – Perguntou Zee.

- Minha irmã – Respondeu Zack.

- Impossível, você foi o único que saiu do meu ventre naquela noite, já morto, sua alma não estava mais naquele corpinho em minhas mãos, era o único.

- Trigon deve ter transportado o corpo ainda quando estava dentro de você, eu posso senti a magia dela, é o seu corpo original, estamos ligados, é minha irmã gêmea.

- Zee – Disse Constantine – Lembra que você não queria fazer exames no mundo de cristal? Queria que fosse tudo surpresa.

- Sim, lembro.

- Não saberia se fossem gêmeos.

- Mas como Trigon a arrancou antes dela sair de mim?

- Foi o poder dele – Explicou Zack – Sua doentia ambição por poder, ela é especial, mais poderosa que eu, a fonte perfeita de poder para Trigon, ele poderia me perder, mas ela não, eu morri como todas as outras crianças que nasceram naquele inferno, e tiveram a alma transportada para sua prisão, para sua eterna escravidão, ela não, ele tinha planos para ela.

- Como soube disso? – Perguntou Zee.

- Do mesmo jeito que descobri meu passado, ligando os pontos das histórias, essa aqui, tá em uma árvore genealógica da biblioteca de ShadowCrest, estranhamente, a árvore também tem as futuras ramificações, uma tal de Zafira, apareceu como minha irmã, eu lembrei que nessa última cela, tinha alguém, alguém que Trigon nunca me deixou conhecer, em todo o tempo que estive aqui, mas eu sentia uma ligação, com essa cela.

- Entendi, amarrar ela em uma cela, para drenar seu poder – Disse Constantine – Meus parabéns para nós Zee, fizemos dois pertinhas.

- Depois a gente fala sobre isso – Disse Zee – Precisamos sair daqui, e com ela.

     Barry apareceu de repente, entrando na cela correndo, quase sem fôlego, John sorriu.

- Já pensou em se exercitar?

- Muito engraçado cara – Respondeu Barry com sarcasmo – Temos que sair, a Ravena fez alguma coisa, terminou de bater no Zoom, ela fez um ritual muito coisado, agora tá todo mundo desaparecendo daqui.

- Ela tá desfazendo o que Trigon fez, com o poder da pedra, que eu consegui desviar para ela.

- Tô orgulho de você – Disse Constantine – Como fez isso mesmo.

- Se eu te contar você vai usar esse poder pra sair por ai fazendo besteira – Disse Zack.

- É verdade – Consentiu Zee – Agora pega nossa filha e vamos cair fora daqui.

- É sério?

- Muito sério, vamos!

     O trio, ou melhor, o quarteto, contando com a moça desmaiada nos braços de Constantine, não conseguiram sair daquela caverna, foram teletransportados, de repente, de volta a terra, junto com o resto da Liga, dos Titans, e de toda a humanidade, Ravena desfazia aos poucos os feitos do pai, usando o poder da pedra das esmeraldas, que agora se enfraquecia, devido a libertação de Zafira, que também era fonte de tal poder. O céu se tornava azul novamente, a atmosfera fria e sombria dava lugar ao rotineiro tempo aberto de Jump City, e assim em toda parte do mundo, onde era noite, as estrelas brilhavam mais fortes. Aos poucos, cada um voltava a onde estava. Zoom permaneceu naquele salão, apanhando das criaturas de Trigon, os heróis, apareciam todos no topo da torre Titan, onde Zee, Zack e John que carregava Zafira, também surgiram.

- Até que fim, saímos do inferno – Comemorou John – Não que eu já não tenha ido para lá.

     Ravena pairava no céu da Cidade, concentrada em liberar sua magia para o reestabelecimento das coisas, repetindo a velha e conhecida conjuração de feitiço, usando os termos da antiga dimensão de Azarath. Zack foi até a beirada da torre Titan, olhou para baixo, para a avenida, como se procurasse alguém, lá estavam, todos os inimigos da liga, que ajudaram Trigon em seu plano.

- Quer dizer que esse era o plano de Trigon? – Perguntou Diana – Roubar uma pedra, para juntar com a força de uma menina feiticeira poderosa, e tentar dominar a Terra com tal poder.

- A terra – Respondeu Clark – Seria o menor dos mundos que ele poderia devorar com tal magia, é melhor que ela esteja dentro das pessoas certas – Disse isso olhando para Zack, que estava na beira da torre, e de repente, saltou.

- Espera filho! – Bradou Zee.

     Lá embaixo, Lex, Feliz Fausto, Solomon, Slade, pistoleiro, e outros inimigos da liga, apareceram, no meio da avenida, eles se espantaram com o barulho do salto de Zack, quando seus pés tocaram o chão da avenida, uma dor insuportável tomou conta de suas cabeças, a fúria estava no rosto de Zack, todos começaram a gritar, a gritar, alguns a se contorcer no chão, com as mãos na cabeça, Felix gritou, “Por favor! Pare! Pare! Nos mate, mas não causa essa dor horrível em nós”, Zack se aproximou de Fausto, que se contorcia no chão, se agachou perto dele, e sussurrou em seu ouvido.

- Não...

     A dor era semelhante a de uma agulha fina adentrando lentamente na carne abaixo de uma unha. Até que Zee apareceu.

- Não Zack! Não!

     Lágrimas começaram a descer do rosto de Zee.

- Eu sei que está com raiva, por tudo, mas... Precisamos conversar, para com isso.

     Zack fechou os olhos, respirou fundo para controlar sua fúria. Fez a dor na cabeça dos vilões cessar, os heróis desceram da torre para efetuar a prisão deles, Zack se levantou, ouviu alguém perguntar:

- Onde está o Trigon?

     Zack completou a pergunta.

- E o Jared, não vi aquele maldito durante a batalha – Zack olhou ao seu redor, uma velha conhecida apareceu, o atacando com um abraço, Sarah.

- Ei! Me dar um autógrafo?

- É sério? A humanidade acabou de ser resgatada de um inferno, e querem autógrafos?

     Zee caiu na gargalhada.

- Vai se acostumando.

- Sinceramente, espero não me acostumar com isso – O sobretudo do guardião das esmeraldas surgiu de repente, voando, o vestindo – Pelo menos não perdi você, onde está Zafira?

- Ainda não acordou, John a levou para uma cama dentro da torre Titan – Respondeu Zee.

- Tem certeza que ela não... – Comentou Asa Noturna, se aproximando.

- Não, ela está viva, eu sinto isso.

     Zack, em plena avenida de Jump City, observava as pessoas voltando, confusas, em desespero, com medo, assustadas, Mutano e Ciborgue tentavam acalmar um grupo de crianças que não paravam de chorar na calçada, mas sem sucesso. Asa noturna bateu no ombro de Zack.

- Achou que você daria bem em Jump City, com os Titans, é o lar dos desajeitados.

- Tô vendo, mas... Tá me chamando de desajeitado?

- Normal você não é.

     Zack ergueu o olhar para o alto, para Ravena, que terminava a correção, a magia primal, aos poucos abandonava seu corpo também, Asa Noturna ergueu uma das mãos para Zack, a pedra das esmeraldas estava nela.

- Pega, pertence a você.

- Pertence ao mundo de cristal, obrigado, não deve demorar para Ravena perder essa onda especial de poder – Disse Zack pegando a pedra da mão de Dick.

- Filho, precisamos conversar – Chamou Zee.