Fanfics Brasil - Sakurayu Sakurayu

Fanfic: Sakurayu | Tema: Sekaiichi Hatsukoi


Capítulo: Sakurayu

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Reconquistar Ritsu se mostrou ser uma tarefa mais difícil do que havia imaginado. Onodera tinha se tornado uma pessoa arredia e escorregadia, evitava descaradamente ficar sozinho com Takano e fugia sempre que possível. Takano teve que insistir muito, beirando o assédio sexual, aquilo estava em vias de se tornar um crime.


A verdade era que toda a autoconfiança de Takano não passava de fachada. Progressivamente ficava mais preocupado, talvez, ter Ritsu de volta não fosse mais possível. Mesmo tentando seguir em frente, logo ficou claro que ambos haviam sido marcados por profundas cicatrizes deixadas pela separação de dez anos atrás. Takano tinha um medo quase irracional de que Onodera pudesse desaparecer novamente a qualquer momento, assim como havia feito antes, afinal, ele poderia voltar para a empresa de seu pai, aceitar ser seu sucessor, casar e ter filhos como as malditas regras sociais ditavam. Ritsu havia se entregado ao seu primeiro amor, seu corpo, seu coração, e a sensação de ter sido traído e abandonado havia desenvolvido um mecanismo de defesa que o impedia de se entregar como antes. Takano queria demostrar seu amor, queria tocá-lo, gravar em sua mente que tudo era real, gravar em seu corpo que seu amado o pertencia, mesmo naqueles momentos breves que tinham, prender Onodera a si, fazê-lo seu e não deixar que nunca mais se fosse. Enquanto Onodera fugia como uma miragem, lutando desesperadamente contra uma queda iminente.


A primeira vez que voltaram a ficar juntos Onodera estava embriagado demais para saber o que estava fazendo. Takano se aproveitou da situação, era verdade, mas pagou o preço, pois a embriaguez que havia deixado Onodera vulnerável também havia turvado sua memória daquela noite que passaram juntos.


Com o tempo, a relação deles entrou em uma espécie de padrão, colegas de trabalho que às vezes não tinham muito para conversar além da vida profissional, imersos em um silêncio constrangedor. Mas, não era sempre assim. Às vezes, tinham conversas profundas nas quais expunham a alma, em outras ainda, tórridas noites de amor, Takano voltava a dizer que o amava e no dia seguinte Onodera agia como se nada tivesse acontecido. Também não era como se não tivessem feito nenhum avanço desde que retomaram seu relacionamento aos trancos e barrancos: haviam desfeito outro mal entendido com o “antigo” nome de Ritsu; Takano havia falado um pouco sobre seu passado, a procura por Ritsu, a separação dos pais e a época antes de entrar na Marukawa Shoten; Onodera havia reconhecido seus sentimentos por Takano para a ex-noiva e amiga de infância, e embora Takano não soubesse, para Yokozawa, também. Na verdade, só faltava fazer isso para o próprio Takano. Também haviam feito uma promessa que fariam pelo menos uma refeição por dia juntos, ou melhor, Takano havia intimado Onodera, dizendo que o supervisionaria para ter certeza que ele estaria fazendo pelo menos uma refeição decente por dia, isso depois que Onodera havia caído desmaiado na frente da empresa devido a uma combinação de gripe, falta de dormir e má alimentação. Na realidade, isso era apenas uma desculpa para estar presente na vida pessoal do outro, embora a preocupação fosse genuína.


Naquele dia estavam voltando para casa, sentados dentro do metrô, quase vazio, tarde da noite. Não estavam em nenhum ponto particularmente delicado do ciclo, havia apenas sido um dia cheio de reuniões exaustivas, planejamento, novas tiragens, além de alguns títulos da Emerald que seriam transpostos para outras mídias. Os dois haviam se visto apenas durante as reuniões no decorrer do dia e agora que estavam juntos simplesmente não tinham assunto para conversar e estavam cansados demais para voltar a falar de trabalho. Takano já estava ficando sonolento, quando viu a mão de Onodera pousada no banco no espaço entre eles, olhou para os lados e não havia ninguém que estivesse perto o suficiente para perceber alguma coisa, então, deslizou sua mão sorrateira sobre a de Onodera. Tinha uma vontade desesperada de senti-lo e estar o mais próximo possível dele, quase como se desejasse que suas existências se tornassem uma só. O rapaz reagiu no mesmo instante, ruborizando e fazendo mais escândalo do que seria necessário e prudente.


— O que pensa que está fazendo, Takano-san?! — disse num sussurro alto demais. — Estamos em um lugar público!


— Mas ninguém está prestando atenção e eu preciso recarregar minhas forças.


Aquelas palavras eram mais sinceras do que pareciam. Essa enorme necessidade que Takano tinha de ter contato com Onodera, não era de um contato de natureza sexual, mas apenas sentir seu calor, sua presença, sentir que ele estava ali ao seu lado. Sentir o quanto o amava e o quanto esse amor aquecia seu peito enchendo-o de ternura. Onodera, no entanto, pareceu contrariado e puxou sua mão do mesmo jeito, cruzando os braços sobre o peito, abraçando sua pasta de trabalho.


— Eu apreciaria se você parasse com essas brincadeiras.


— A sua reação costumava ser mais fofa antes, sabe? — respondeu Takano se lembrando da primeira vez que tentou segurar a mão de Ritsu na saída da biblioteca da escola e ele saiu correndo e gritando, literalmente.


Takano não sabia até quando precisaria lutar para ter seu amor correspondido, já havia se declarado tantas vezes que nem se lembrava de quantas foram, já havia pedido Onodera em namoro e já havia até proposto que morassem juntos. Mesmo que tudo isso parecesse derreter, pelo menos um pouco, o gelo de Onodera, ainda estava muito longe de arrebatá-lo para si novamente, não que algum rótulo em sua relação fosse o que ele queria, seu desejo ia muito além de algo tão corriqueiro.


Fizeram o resto da viagem de trem em silêncio. Onodera às vezes o olhava com o canto dos olhos como se o estivesse vigiando, provavelmente para se assegurar que Takano não tentaria mais nenhuma gracinha na frente de outras pessoas. Takano apenas suspirava quando percebia o olhar do outro. Era verdade que ele estava disposto a esperar quanto tempo fosse necessário, a tentar o quanto fosse preciso para ter seus sentimentos correspondidos, mas essa falta de perspectiva o abalava genuinamente. Quando percebeu, já estavam saindo do elevador no andar em que moravam, e havia passado o percurso todo em silêncio, perdido em seus pensamentos, ponderando sobre o futuro incerto.


Sua investida fracassada no trem só fizera com que Onodera ficasse mais alerta a sua presença do que o normal e um tanto desanimado, Takano decidiu que apenas iria para casa dormir, embora ainda quisesse passar um pouco mais de tempo com seu affair. Talvez fosse apenas o cansaço o deixando melancólico, então, uma boa noite de sono seria o suficiente para restaurar sua confiança em recuperar sua relação com Ritsu.


— Boa noite, — Takano disse enquanto tirava o molho de chaves da sua bolsa, depois se aproximou e deixou um beijo no rosto de Onodera com muita simplicidade.


O rapaz, que também estava procurando suas próprias chaves na sua bolsa, cessou sua busca e olhou para Takano, mas nada disse. Takano se virou para destrancar a porta, sem ver que Onodera corava violentamente, e já pisava dentro do seu apartamento quando ouviu a voz que lhe chamava.


— T-Takano-san! — Ele esperou que o outro se virasse antes de continuar. — Você aceitaria um chá?


Takano se lembrou vagamente que a última vez que havia consultado seu relógio que já havia passado da meia noite. Certamente era estranho um convite para um chá a essa hora, mas sabiamente optou por não tecer nenhum comentário, era tão raro que qualquer iniciativa de passarem algum tempo juntos partisse de Onodera que julgou que seria melhor não abusar da sorte, levantando uma pergunta sobre a peculiaridade desse convite. Ele, então, simplesmente aceitou.


Permaneceu sentado no sofá enquanto Onodera estava na cozinha fazendo os preparativos, que havia insistido em fazer sozinho. Ali, sem nada para fazer, Takano começou a olhar ao redor, ficando intrigado ao notar o apartamento estranhamente organizado e limpo. Não havia roupas espalhadas, nem lixo ou embalagens de alimentos instantâneos, pelo contrário, não havia nem poeira e todas as superfícies brilhavam.


Não demorou para que Onodera retornasse com um conjunto japonês de chá com delicados detalhes azuis em uma bandeja, o que era bastante surpreendente que ele tivesse um conjunto de chá e mais ainda que tivesse até uma bandeja. Ele a depositou cuidadosamente sobre a mesinha de centro e se sentou em seiza [posição em que se senta sobre os pés]. Takano também se sentou no chão, adotando a mesma postura enquanto observava atentamente os movimentos de Onodera, que pegou um chaire [recipiente onde se guarda o chá] azul índigo que estava na bandeja e deixou que caísse um raminho escuro dentro de cada chawan [pequena tigela para chá]. Enquanto ele adicionava a água quente, Takano não pôde conter um comentário:


— Não sabia que você gostava desse modo tradicional de servir de chá.


— Tive aulas de chanoyu [cerimônia do chá] quando era mais novo, isso acaba se tornando um hábito.


Hum... Ele é mesmo um obocchan... Takano refletiu, mas permaneceu calado. Pensando bem, isso chegava a ser lógico, Onodera mantinha uma postura impecável em seiza, mesmo quando estava apenas tomando cerveja.


Onodera ofereceu o chá, pousando o chawan diante de Takano sem que fizesse o mínimo ruído ao tocar a superfície da mesa com a sua base. Takano, então, olhou para o recipiente, agora cheio de água quente, e viu o raminho desabrolhar uma linda sakura ali dentro, como uma borboleta abrindo as asas graciosamente. A flor flutuava pacificamente, desprendendo de suas pétalas uma cor suave que tingia a água de rosa pálido, criando um belo contraste com a cerâmica branca e azul. Onodera havia lhe preparado Sakurayu [chá de flor de cerejeira].


Desde quando Onodera tinha um gosto tão refinado e delicado para chás? Desde quando ele entendia de chanoyu ou tinha um conjunto de chá? Poderia ser desde sempre, havia muita coisa sobre o outro que ele não sabia, e isso o enchia de tristeza. Ficou observando a flor, imaginando se Onodera fazia ideia das recordações que a sakura lhe trazia. Haviam namorado durante a primavera, quando as pétalas de sakura estavam por toda a parte, elas se prendiam em suas roupas e seus cabelos quando caminhavam juntos para sua casa, entravam pelas janelas da biblioteca, pela janela do seu quarto, iluminadas pela luz da lua enquanto faziam amor.


Permaneceram em silêncio durante todo o tempo em que Takano divagava e só então ele ergueu seus olhos do sakurayu. Takano ficou surpreso ao ver que Onodera estava olhando diretamente para ele, sentado muito formalmente com o rosto levemente ruborizado.


— Takano-san, você sabia que há ocasiões em que o sakurayu substitui o maccha [chá verde]?


— Você quer dizer, na cerimônia do chá?


— Sim. — Takano permaneceu em silêncio, esperando que Onodera prosseguisse. — Isso porque a expressão “ocha wo nigosu” [tornar o chá turvo], sobre o preparo do chá verde, acaba transmitindo uma má impressão, já que “nigosu” também pode ser interpretado como o ato de ser vago ou evasivo e não seria conveniente ter esses conceitos associados a certos tipos de cerimônia. — Takano apenas inclinou a cabeça de forma afirmativa. — O Sakurayu é servido representando o “início”.


Enquanto dava essa explicação, as maçãs de Onodera ficavam gradativamente mais rosadas e ele corajosamente sustentou seu olhar sobre Takano, abaixando-o para o chawan ao fazer uma pausa. Ele mantinha uma expressão de pura seriedade quando tomou o ar, enchendo seus pulmões para continuar a falar.


— Eu não quero mais ser como o maccha, quero ser como o sakurayu.


Takano sentiu seu coração acelerar, fazendo seus pulmões pedirem por mais ar. Toda aquela explicação sobre chá e semântica, ele estava entendendo direito?


— Onodera, como eu posso interpretar essas suas palavras? — disse enquanto suas mãos começavam a tremer.


O outro, que ainda encarava a sakura dentro do seu chawan, ponderou por um instante como continuar a conversa. Pensou em suas próprias palavras e no significado delas. Ele não daria mais respostas evasivas e vagas, ele seria claro como o sakurayu, então, havia apenas uma resposta que caberia a essa pergunta. Concentrando-se nisso, Onodera foi lentamente erguendo seus olhos, buscando os olhos de Takano, e olhando dentro deles se sentiu exposto e vulnerável, mas não tinha mais medo ou dúvidas, porque seu coração estava tomado por um sentimento a tanto negado e que agora seria libertado e ganharia o mundo. As palavras saíram de seus lábios com naturalidade.


— Takano-san, eu te amo.


Takano demorou alguns instantes para assimilar essa informação, seus olhos muito abertos, demonstravam sua surpresa por finalmente receber aquelas palavras que ele tanto queria ouvir, seu coração batia como um tambor no apartamento silencioso, alto demais para que ele percebesse que Ritsu também tinha os batimentos acelerados e a palma de suas mãos suando. Takano percebeu que segurava o tecido de sua calça com tanta força que as articulações de seus dedos estavam brancas, então, ele as relaxou, dissipando a tensão nelas e em todo seu corpo, notando que até o ar ainda estava preso em seu peito, e o soltou em um pequeno suspiro.


— Eu também te amo, Onodera, — disse sentido que um sorriso se formava em seus lábios.


Onodera também sorriu, piscou algumas vezes e tomou o chawan em suas mãos, sorvendo um pequeno gole do chá. Takano imitou seu gesto e também delibou seu chá, sentindo o sabor suave e levemente salgado. Embora houvesse uma mesa entre eles, Takano nunca se sentiu tão próximo de Onodera como naquele momento em que bebiam daquele chá especial usado em casamentos, e, com esse gesto, selaram o novo início de sua relação.


Onodera estendeu sua mão sobre a mesa, a palma virada para cima, pedindo pelo toque de Takano, tão diferente do gesto de pouco tempo atrás e de tantas vezes que Takano precisava segurá-la com firmeza para que não escapasse. Talvez fosse para mostrar que as coisas mudariam dali para frente. Takano também estendeu sua mão e retribuiu o gesto, segurando-a com carinho e sentiu sua visão embaçar, logo depois, lágrimas escaparam de seus olhos e rolaram por sua face.


— O-O que aconteceu? — Ritsu perguntou meio assustado, dando a volta na mesa e se sentando ao lado de Takano. Ele tocou seu rosto e secou suas lágrimas com o polegar.


— Não foi nada, — respondeu ainda sorrindo. — Sabe, você acabou de me ensinar outra coisa: o que é chorar de felicidade.


— S-Seu bobo.


Onodera ficou muito sem graça enquanto seu rosto ficava em chamas, ele afastou sua mão e desviou o olhar, mas voltou a fitar Takano ao ouvir a risada gostosa que ele deu. Inesperadamente, Ritsu voltou a falar.


— Por muito tempo eu não gostei de sakurayu, eu sequer, gostava da primavera. Essas coisas me traziam lembranças que doíam muito e que eu estava tentando esquecê-las. Você se lembra, Takano-san? Como as sakuras floresceram naquele ano?


Aquele pequeno não parava de surpreendê-lo.


— Como eu poderia esquecer?


Ritsu o abraçou, envolvendo seu pescoço com os braços e Takano correspondeu prontamente, enlaçando sua cintura.


— Desculpa ter feito você esperar, — Onodera sussurrou em seu ouvido.


— Eu esperaria a minha vida inteira. — E Ritsu sabia que isso era verdade.


Ele afrouxou o abraço até que pudesse olhar nos olhos de Takano, e então, voltou a se aproximar suavemente até pousar seus lábios ternamente sobre os dele formando um beijo casto. Essa era a primeira vez que Onodera Ritsu o beijava.


Sempre diziam que a felicidade era doce, mas para eles a felicidade tinha o sabor salgado de sakurayu com lágrimas.


Permaneceram abraçados em silêncio, não por não terem nada para dizer, mas porque naquele momento apenas ouvir a respiração um do outro era o suficiente. Até que o silêncio foi quebrado por Takano.


— Hoje você me fez várias surpresas.


— Hum, eu queria ter falado antes... mas nunca parecia ser o momento certo...


— Qualquer momento seria certo.


— Não! — Ritsu deu um pulo. — Eu não ia fazer isso de qualquer jeito! Eu precisava me preparar psicologicamente e precisava de uma oportunidade também!


— Então, hoje você fez a sua oportunidade, — disse Takano, provocando com uma risadinha.


— Eu não tive escolha! — disse Onodera começando a ralhar como sempre fazia. — Você já ia quebrar a nossa promessa e...! — e se calou ao perceber que tinha falado demais.


— Então você queria mantê-la. — Não era uma pergunta, mas uma afirmação e Takano a fazia enquanto voltava a puxar Onodera para si, que havia se afastado enquanto protestava. — Você sabe que seria muito mais fácil mantê-la se morássemos juntos, não é?


Pela enésima vez naquela noite Onodera ruborizou, mas deu uma resposta séria.


— Isso complicaria as coisas na empresa... teríamos que atualizar o endereço e isso seria um problema. — Ficou evidente que aquilo o deixava chateado, não era apenas uma desculpa para se esquivar.


— Eu não me importaria se todo mundo soubesse, — antes que Onodera voltasse a protestar ele continuou, — mas eu entendo a sua preocupação. Bom, não é como se morássemos muito longe um do outro... No entanto, eu gostaria que você considerasse seriamente a ideia de morarmos juntos no futuro.


— Sim, eu vou considerar, — Onodera respondeu sinceramente, abraçando Takano com mais força, o que Takano reagiu com um sorriso.


— Então, o que nós somos agora? — perguntou Takano.


— N-Não sei! O que você acha que nós somos?


— Namorados?


— Hum... — Onodera voltou a ficar de frente com Takano, foi aproximando seus rostos e antes de beijá-lo novamente respondeu: — Sim. — E mergulhou no segundo de infinitos beijos que daria em Takano, enquanto o sakurayu esfriava sobre a mesa de centro.



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Autor(a): hokutoritsuka

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