Fanfic: Quando o Helébore Florescer | Tema: Crepúsculo

—Eles já foram. Esme diz entrando no quarto.

—E o que ficou decidido? Alice pergunta apressadamente. —Quero dizer, como foi conversa?

—Anne você deve estar confusa não? Esme diz olhando para mim. Não é preciso ser um detetive para notar que eu estou totalmente por fora da conversa.

—Bem, um pouco.

—Jacob é filho de um velho amigo de Carlisle e como Sam, Jacob e Seth são amigos, naturalmente todos nós viemos a nos conhecer e ficarmos próximos uns dos outros. Eles acabaram de voltar de uma viagem para buscar Seth e vieram nos visitar. Ele esteve estudando fora e agora que conseguiu férias inesperadas, Sam e Jake querem fazer uma surpresa para a família deles no dia de natal, então vamos ajudar a manter o segredo até lá hospedando Seth por um tempo. Senti minha expressão ir mudando a cada palavra, e no final fiquei sem reação. Hospedar ele? Tipo... ele vai morar aqui?

—Ah… legal. Respondo sorrindo de um jeito que eu sei que só pode ser descrito como “mostrar os dentes”. Não é um sorriso nem de longe!

—Você vai gostar dele. Ele tem praticamente a sua idade. Talvez seja um pouco mais velho, mas tenho certeza que vocês vão se comunicar bem. Esme fala sorrindo um pouco e arrumando algo no meu cabelo. Ela não parece muito confortável com a ideia também.

—E mais, você não vai mais ficar entediada. Você vai ter com quem conversar. Alice diz sentando na cama novamente. Tenho a impressão que isso era para ser uma boa notícia.

—Eu…

—Vocês vão se dar bem Anne não se preocupe. Ele é um garoto legal você vai ver. Alice diz sorrindo. Tenho a impressão de que o sorriso dela é mais de pena de mim.

—Você deve estar com fome Anne. Vou preparar o jantar. Alice, você me ajuda? Esme muda de assunto rapidamente e sai do quarto com Alice, me deixando sozinha com meu ataque de nervos.

Morando aqui? Até o natal? ´Vou me dar bem com ele?´. Então EU vou ter que ficar conversando com ele? Oras, todos menos a Esme ficam fora o dia todo. De fato, não vejo Rosalie ou Emmett ou Jasper em pessoa há algum tempo, e não é como se Esme pudesse ficar com o garoto 24hrs enquanto eu me escondo no quarto. Argh! Quero arrancar os cabelos de tanta ansiedade.

Me debato na cama em frustração. Só de pensar nas longas pausas em silêncio entre conversas que eu sei que estão por vir já me desespero. Eu nunca tive que puxar assunto antes! Nem sei se consigo!!!

Tento me lembrar do rosto de Seth, mas nada realmente vem a mente. Me lembro do olhar dele. Como seu eu fosse a pessoa mais esquisita que ele já viu. Lembro do tamanho dele e não acredito que ele tenha quase a mesma idade que eu. Não vi ele em pé, mas tenho certeza de que ele é bem mais alto do que eu. Queria ter prestado mais atenção nele, agora é tarde.

Quando Esme me chama para o jantar não achei que seria nada diferente do normal, mas quando chego na cozinha quatro lugares então postos sobre a enorme mesa de madeira e eu mal posso acreditar.

—Sente-se onde quiser querida. Esme diz colocando a comida na mesa. —Alice, Carlisle! Vamos jantar. 

Wow. Finalmente vai acontecer? Nós vamos fazer uma refeição juntos? Eu nunca comi na mesma mesa que eles antes…

Meus pensamentos são interrompidos pela entrada de Alice e Carlisle que se sentam a mesa como se fosse normal. Para eles deve ser mesmo, eles devem fazer isso desde sempre, mas para mim é algo totalmente novo. Até hoje achei que sempre faria refeições sozinha porque… bem não sei exatamente o porque.

Eu me sento a mesa do lado de Esme e começamos o jantar. Para mim tudo parece tão novo que quando Esme pergunta sobre a comida ainda me sinto meio perdida.

—Ah… está ótima. Eu falo sem realmente ter provado nada.

—Então… como foi seu dia ahm... pai? Alice tenta iniciar uma conversa.

—Bem, eu não tenho muito que contar. O hospital estava bem tranquilo por isso consegui sair mais cedo para receber Jacob e os outros. Carlisle responde.

—Você não tinha uma cirurgia marcada? Esme pergunta colocando uma garfada na boca.

—Tinha, mas o paciente precisa de mais preparo. Ele está bem nervoso com a notícia da cirurgia e resolvi dar mais algum tempo para ele se convencer da ideia. Carlisle parece apreciar a comida melhor que eu.

—Anne. Alice já te contou sobre o Seth não? Carlisle pergunta me fazendo pular no lugar um pouco. —Vocês vão se dar muito bem eu sei. Você vai lhe mostrar a casa, não é? Carlisle fala sorrindo, mas eu não consigo sorrir de volta.

—Hum? Pergunto rezando para ter entendido errado.

—Claro que vai não é Anne? Esme fala olhando para mim. Ele falou sério.

—Mas, eu também não estou aqui a muito tempo e…

—Relaxa. É só mostrar o quarto dele a sala e a cozinha. Não tem necessidade de mostrar tudo. Alice fala revirando os olhos.

O tour dele pela casa vai ser a sala de estar, cozinha, sala de TV e o corredor do meu quarto. Esses são os únicos quartos que eu visitei desde que cheguei aqui. E depois do tour? Um mês de silêncio.

—E como vai a loja Alice? Ainda tem problemas com o fornecedor? Carlisle pergunta.

—Não está do jeito que eu quero ainda, mas vai melhorar. Os números de vendas desse mês, do jeito que estão, vão servir de pressão suficiente. Alice diz enquanto espeta as batatas. Não sei porque mais a cena me parece assustadora.

—Bem, pegue leve com o trabalho. Não é só você que fica nervosa com esses números. Seus funcionários precisam estar focados e não com medo. Esme fala dando um conselho para Alice e eu concordo com ela mentalmente.

O resto do jantar foi tranquilo e até tomamos chá juntos depois. De certa forma eles devem estar tentando compensar pela responsabilidade repentina que me deram. Eles derrubam um balde de água fria na minha cabeça e depois me oferecem uma toalha, ou algo assim, mas eu estou adorando! Essa é a primeira vez que eu sinto que estou junto deles de verdade. Passando tempo juntos e conversando e rindo juntos. Não é mais como se eles só olhassem para mim e vissem um convidado. Agora eu realmente sinto que... que.... 

Não adianta. Eles não são sua família. 

A voz na minha cabeça pisa em toda minha felicidade. Minha consciência me relembra da verdade e segura meus pés no chão. Eu vou para cama com um peso no peito. O peso da verdade que eu nunca vou poder esquecer. Eu não sou essa pessoa. Eu não sei quem eu sou.

A temida manhã chega. Eu acordo mais cedo que o normal, me arrumo como sempre e fico sentada na cama pensando em como o dia vai ser. Quando o tal Seth chegar o que eu vou falar?Como ele é? O que ele vai dizer? É só ser natural. Eu não me arrumei demais? Não, eu sempre me visto assim. Não vai parecer exagerado. Jeans, moletom cinza, cabelo solto, nada demais.

Ouço a voz de Esme vinda do pequeno robô no meu quarto me chamando para o café da manhã e saio do quarto rapidamente. Uma das portas do corredor, há três portas de distância do meu, tem uma pequena placa de “bem-vindo” nela. Esse é o quarto dele. Essa é a ala de convidados, então não me surpreende que ele vai ficar em um quarto perto do meu. Ele podia ficar em um corredor diferente pelo menos. Penso ainda mais nervosa.

Enquanto desço as escadas a campainha da porta da frente toca e me congela no lugar. Paro sobre os degraus não metade do caminho até o andar de baixo. É ele, penso já com as mãos suando.

Esme aparece para abrir a porta e me vê parada na escada. Ela sinaliza para que eu me aproxime, mas só consigo dar passos lentos até a porta. Quando a porta finalmente se abre lá está ele, com a mesma cara de bobo do primeiro dia.

—Seth! Você chegou cedo. Vamos entrando, o café está pronto. Esme fala entusiasmada ajudando-o a colocar as malas no carrier. Ele sorri para Esme e volta a olhar para mim enquanto desço as escadas quebrando a cabeça para encontrar algo pelo menos agradável para dizer. Quando fico de frente para ele só abro a boca para falar o mais seco “oi” que eu já ouvi.

—Oi ele responde tão seco quanto eu. Meu Deus eu posso tocar a estranheza no ar.

—Essa é a Jullianne, Seth. Você viu ela ontem. Sei que vocês vão se dar muito bem. Esme diz cutucando meu braço com o cotovelo. —Vamos então? A comida vai esfriar.

Nós três seguimos para cozinha. Eu praticamente agarrada em Esme e Seth um pouco mais atrás. Esme preparou o café na mesa maior hoje, e a quantidade de comida aumentou assustadoramente. Esme colocou meu prato e o de Seth um de frente para o outro para meu desespero. Vai ser muito mais difícil evitar contato visual.

—Sentem-se e comam à vontade. Esme foi preparar alguma coisa do outro lado da cozinha deixando eu e Seth mergulhados na esquisitice de estarmos sentados um de frente para o outro sem ter o que dizer e sem coragem para ser o primeiro a começar a comer.

Seja agradável. Esse era o único pensamento na minha cabeça. É natural que ele espere que eu seja a primeira a falar já que estou aqui há mais tempo então eu tenho que ser agradável, como uma anfitriã.

—Ahm… é bom te conhecer. Eu consigo falar, mas nem de longe a esquisitice melhora.

—Ah, é bom te conhecer também. Não é esquisito só pra mim. Seth parece tão desconfortável quanto eu.

—Porque não se serve? Falo empurrando a cesta de pães mais para perto dele.

—Você primeiro. Seth diz empurrando a cesta de volta. Isso vai ser complicado.

—Ahm, tudo bem. Eu falo enquanto pego uma maçã de uma das cestas. Olho para Seth e ele também pega um dos pães que eu ofereci. A atmosfera é insuportável. O desconforto pesa no ar.

Olho para Esme e ela está nos observando de trás da ilha da cozinha e rindo da minha situação.

Continuamos a refeição em silêncio até que Esme pergunta a Seth como está a comida. Vai ver ela também não aguentou o silêncio.

—Ótima Esme. Obrigada. Seth responde acanhado.

—Que bom. Coma bastante! Preparei tudo para você. Esme está distraidamente mexendo em algo perto do fogão enquanto fala. Não acredito que vai mesmo sobrar pra mim!

Termino a refeição em completo silêncio e só para sair daquela mesa me levanto e começo a recolher os pratos e copos para Esme.

—Já terminou? Pode deixar que eu pego. Esme fala pegando a louça das minhas mãos antes que eu consiga chegar até a pia da cozinha.

—Ah, você também terminou Seth? Seth está atrás de mim segurando a própria louça suja. Nem notei ele ali até Esme falar. Saio da frente dele rápido para dar passagem.

—Anne, você pode levar Seth até o quarto dele? Você deve ter visto. É o com a placa pendurada. Esme fala sorrindo para mim, mas posso ver através de seu plano diabólico. Posso ver nos olhos dela escrito “desculpa, mas ele é sua responsabilidade” como se fosse um painel de neon.

—Claro. Vamos. Falo caminhando na frente para fora da cozinha com Seth logo atrás.

—Seu quarto fica no segundo andar. Falo apontando para as escadas. —Eu ajudo com a bagagem.

—Não precisa! Eu posso carregar sozinho. Seth fala rapidamente. Esme colocou as malas mais pesadas no carrier, mas por algum motivo ele se recusa a largar uma bolsa grande que parece pesada e velha.

—Ahm… tudo bem então. Eu vou te mostrar o seu quarto. Falo subindo as escadas.

Depois da caminhada mais longa da minha vida, finalmente chegamos na porta do quarto. Eu destravo a porta e dou passagem para Seth.

O quarto dele é igual ao meu, menos a cama de princesa claro. A cama dele é grande e normal.

—Então… o banheiro fica aqui, o robô controla tudo elétrico então é só lhe dar os comandos, mas você pode usar os acionadores nas paredes também se quiser. Tento explicar o pouco que sei para Seth sobre como usar o que tem dentro do quarto.

—Os armários já tem cabides e as toalhas também estão aqui.  Falo apontando para a pilha de toalhas e cobertores no armário.

—Hum… Seth diz colocando as malas no chão.

—Bem, vou te deixar descansar então. Falo seguindo em direção a porta.

—Eu não estou cansado. Eu te disse, as malas não estão pesadas. Seth fala sorrindo.

Não é bem isso o que eu quis dizer.

—Não está cansado da viajem? Tento fazê-lo entender que eu preciso sair dessa conversa AGORA!

—Não foi uma viajem longa. Ele fala levantando os ombros levemente.

—Ah… que bom. Eu já não sei mais o que falar para esse garoto, mas por sorte, ou não, Esme entra no quarto e me permite respirar um pouco.

—Gostou do quarto? Anne já te disse como usar tudo? Esme pergunta sorrindo e com as mãos na cintura.

—Sim. O quarto é perfeito. Obrigado. Seth fala sorrindo também. Achei que eles se conheciam bem, mas porque ele parece tão desconfortável quanto eu? No fim das contas não é como se eles fossem família. Penso analisando a situação.

—Então porque não desfaz as malas? Quero mostrar para vocês dois um coisa. Ah, e vistam o nanotech, vamos para o lado de fora. Esme fala animada e logo depois sai do quarto. Sigo ela sem hesitação e fecho a porta atrás de mim com um suspiro.

—Não precisa ficar tão nervosa. Ele não morde. Esme fala rindo de mim.

—Eu sei, mas é tão esquisito. Falo colocando as mãos no rosto. 

—Vai melhorar. Vocês só precisam de tempo para se conhecerem melhor. Esme sorri e passa a mão no meu cabelo. —Vai se trocar. Você vai adorar o que eu vou mostrar para vocês.

Sigo para o meu quarto em passos lentos. Ele está só a três portas de distância. Eu não vou poder pisar fora do quarto sem encontrar com ele. Coloco minha nanotech por baixo da roupa e adiciono um casaco extra só por precaução. Enrolo mais alguns minutos e assim que acho que deu tempo suficiente para Seth já estar no andar de baixo abro a porta, mas assim que saio do quarto, boom, lá está ele saindo do quarto ao mesmo tempo que eu. Tivemos a mesma idéia?

—Ah, oi, de novo. Ele fala sorrindo.

—Hey… Ahm… vamos? Falo quase correndo para escadas tentando evitar mais uma conversa sem sentido.

Esme está na porta esperando por nós dois. Ela está usando um casaco branco lindo e é a primeira vez que a vejo como cabelo preso. Não acho que tem um roupa nesse mundo que não fica perfeita em Esme. Reparo nas roupas de Seth e não sei de onde ele tira toda essa confiança. O que quero dizer é que, não importa onde ele morou antes, nas geleiras da antártica ou sei lá, a questão é que ele está vestido com roupas leves de mais para esse frio. Mesmo a nanotech tem limites. Ele está usando um moletom fino e uma calça jeans. Esme não parece incomodada e logo vai abrindo a porta.

—Vamos, está logo atrás da casa. Eu tenho certeza que vocês vão gostar. Especialmente você Seth. Esme fala abrindo a porta e o ar frio faz meu rosto arder.