Fanfics Brasil - Ding Dong! Quando o Helébore Florescer

Fanfic: Quando o Helébore Florescer | Tema: Crepúsculo


Capítulo: Ding Dong!

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Dentro do quarto um escritório enorme foi montado. O tapete avermelhado cobre todo o chão do quarto. Duas estantes enormes estão enfileiradas atrás da mesa separada por um corredor. As estantes brilham sobre a luz no quarto. A visão daquele lugar parece que saiu de uma história.


Ando silenciosamente sobre o carpete atraída pela visão daquele lugar. Vários objetos estão organizados na mesa, mas eles não capturam meu olhar. Mantenho os olhos fixos nas estantes até finalmente ficar no meio do corredor entre elas. Isso são livros. Livros intactos e que eu posso pegar e folhear com minhas mãos. Como eles guardaram tudo isso? Penso ainda não acreditando no que vejo. 


Os livros estão separados por categoria e em ordem alfabética. Os livros sobre história são os primeiros que vejo. Pego um deles com cuidado, ainda com medo de não serem de verdade. Livros assim ficam em museus hoje em dia. O corte de árvores para papel não é mais feito a tanto tempo… esses livros são pelo menos tão velhos quanto o dia em que a lei foi aprovada, mas eu ainda consigo segurá-lo desse jeito e ele não parece que vai despedaçar. Quero abrir o livro mas não tenho essa confiança toda de que ele não vá se desintegrar a qualquer momento, então coloco-o de volta no lugar bem devagar.


Não só os livros, mas a sala toda é cheia de coisas interessantes. Nas paredes, vários quadros foram colocados retratando pessoas de pele muito branca e vestidas de vermelho. Chego mais perto do quadro que está baixo o suficiente para que eu veja os rostos e tenho uma surpresa. Quem diria. Carlisle gosta desse tipo de coisa? No quadro, homens de pele extremamente branca e vestindo as mesmas roupas de estilo vitoriano foram pintados, e um deles é Carlisle. Observo o quadro, mas não consigo entender o tema da pintura. Os quatro homens estão em uma espécie de varanda de mármore e milhares de pessoas se amontoam abaixo deles tentando tocá-los. Esse tipo de hobby é famoso entre pessoas da minha idade. Adolescentes usam realidade virtual para mergulhar em video games, se tornar outra pessoa. Alguns até mergulham tão fundo que se recusam a voltar a serem eles mesmos. 


Outros se vestem como antigamente, quando, segundo eles, o mundo era mais simples. Adultos costumam gostar desse tipo de hobby. É como voltar no tempo.


Não achei que Carlisle fazia parte dos adultos que gostam de se fantasiar e ter seus retratos pintados. Não é algo ruim ou estranho. Só estou surpresa de um médico ter tempo para isso, mas no fim todo mundo precisa se distrair.


Mas mesmo com todas aquelas pessoas fantasiadas nos quadros ainda não vejo uma foto de família sequer. Mesmo em um espaço que parece mais privado e não aberto a muitas pessoas ainda não vejo traços da família deles. Talvez na mesa? Penso andando até a mesa novamente.


Os objetos na mesa então todos muito organizados. As canetas alinhadas do lado direito, os lápis do lado esquerdo em ordem decrescente. Uma pequena torre para os disks de dados processados e os não processados. E todos eles divididos em cores e com cada sessão da torre com uma etiqueta com algumas iniciais.


Não sou médica, mas isso parece TOC. Penso vendo a forma anormalmente meticulosa como a mesa foi organizada. Mas mesmo assim, nenhuma foto. Olho por toda mesa e não vejo nem um porta-retratos sequer. Hum? Meticuloso assim e esqueceu de catalogar um disk? Vejo um dos disks soltos perto de uma das torres. Ele não tem nenhuma etiqueta e não tem a cor igual a de nenhum dos outros. Estico a mão para pegá-lo, mas Esme me assusta quando entra com um estrondo no escritório.


O que você está fazendo aqui? Ela pergunta. Apenas vi aquela expressão no rosto dela uma vez, e foi logo antes de bate em Rosalie. —Eu disse que a tesoura estava no meu quarto.


E-Eu só... a porta... As palavras se atropelam na minha boca. Eu estou assustada. Nunca achei que Esme viria para cima de mim desse jeito.


Vamos falar lá fora. Ela pega meu braço e me arrasta para fora do escritório, batendo alto a porta assim que passamos para o corredor.


Porque você entrou aqui? Eu te disse que era no meu quarto e que a porta estava aberta. Esme aponta para a porta aberta mais ao final do corredor enquanto fala. Achei que ver ela olhar assim para Rosalie era assustador, mas ao olhar diretamente para aquela… intensidade nos olhos dela… era como seu eu não pudesse respirar.


—Essa porta também estava aberta e eu... Conheço essa sensação muito bem. Senti esse aperto no peito vezes demais para me esquecer. Estou no meio de um ataque de pânico.


Mas esse não é um quarto! Ela fala gritando jogados os braços no ar em frustração.


M-Me desculpe. Eu queria me distraí… Eu já não aguento mais a pressão e começo a desabar. As lágrimas descem pelo meu rosto como se meu corpo quisesse aliviar a pressão dentro dele antes que exploda.


Não… não chore. Esme coloca as mãos nos meus ombros. —Eu…. Desculpa eu não queria gritar. É que você demorou a voltar e quando vi você aqui... Esme levanta meu queixo e passa os dedos sobre minhas lágrimas. As mãos dela são frias, como sempre.


—Esse é o escritório do meu marido e você viu como ele é chato com organização. Eu não quero que ele fique bravo com você por algo assim. Ela diz colocando as mãos no meu rosto. Olho nos olhos dela. A intensidade se dissipou e os olhos gentis dela estão de volta, mas mesmo assim não consigo me acalmar totalmente. Não sei se Carlisle ficaria tão nervoso comigo por entrar aqui quanto ela está nesse momento.


Desculpa. Não vai acontecer novamente. Eu falo tentando conter os soluços.


Esme coloca a mão sobre minha cabeça e me abraça. O mesmo abraço do dia em que ela brigou com Rosalie. O mesmo abraço que parece recolher toda a minha dor e removê-la do meu corpo. Eu me sinto como uma criança quando estou com Esme. É como se ela fosse muito maior do que eu quando ela fala comigo, apesar de ser tão alta quanto ela tenho a sensação de que ela tem que se curvar para conseguir me abraçar.


Eu é quem tenho que me desculpar. Fiquei nervosa por nada. Sinto muito. Eu vou fazer o seu preferido hoje no almoço, que tal? Esme fala levantando meu rosto. Eu aceno que sim de leve com a cabeça e ela sorri para mim antes de me abraçar novamente.


A campainha toca interrompendo nosso momento juntas. —Deve ser o Seth Esme diz descendo as escadas para abrir a porta.


Eu fico parada no corredor mais alguns segundos antes começar a andar para o meu quarto. Eu preciso ficar sozinha. Eu preciso me acalmar, mas não sei como. Ainda não sei o que fiz de errado e não consigo enter a reação de Esme. Eu entrei no espaço pessoal de alguém sem pedir permissão e já ia mexer nas coisas dele e tudo isso por impulso, mas… é o suficiente para ela explodir assim? Talvez seja. Eu não sei a importância daquele lugar para ela ou para Carlisle. O valor de cada livro naquela biblioteca é incalculável. E se eu tivesse quebrado algo? Ou visto documentos pessoais deles? —Eu devo ter algum problema na cabeça sussurro já na metade do corredor do meu quarto.


Jullianne? A voz de Seth me tira do meu transe. Ele está atrás de mim.


Está tudo bem? Ele pergunta se aproximando.


—Hum.. Eu respondo sem me virar, as lágrimas frescas pingando do meu queixo. Se eu falar ele vai notar.


—Tem certeza? Seth vai chegando mais perto e eu não vejo outra saída a não ser correr para meu quarto, não quero que ninguém me veja assim.


Hey! Ele grita enquanto corre atrás de mim. Ele já está na minha cola, mas não importa porque estou bem na frente da porta do meu quarto e agora só preciso entrar.


Eu mexo e mexo na fechadura, mas não consigo fazer o scanner funcionar. Estou batendo na porta quando Seth me alcança.


Porque você correu? Ele pergunta.


Eu encosto a cabeça na porta. Não quero que ele veja. Isso é tudo que passa na minha mente. Não quero que ele me veja assim, chorando que nem um bebê porque gritaram comigo. Seth chega mais perto e tenta ver meu rosto, mas eu coloco as mãos sobre ele.


Ele toca meus ombros de leve e me coloca de frente para ele. Você não vai querer me ver assim! Eu penso querendo que ele por favor me deixe sozinha. Mas Seth não desiste e fica esperando eu tirar as mãos do rosto. Quando eu não me movo ele toca meus pulsos e puxa minhas mãos para longe do rosto. Eu fico de cabeça baixa sentindo as lágrimas descerem.


O que aconteceu? Ele pergunta. Eu sou uma idiota chorona. Isso que aconteceu. Eu não tenho coragem de dizer então fico em silencio.


Seth limpa as gotas de lágrimas do meu queixo. As mãos dele são tão quentes.


Você não quer falar sobre isso? Eu balanço a cabeça dizendo não.


Tudo bem. Mesmo sem olhar para ele consigo ouvir o sorriso que Seth tem no rosto quando fala. Eu não sei porque ele se deu ao trabalho de me consolar, mas me sinto agradecida. Ele solta meus pulsos e eu seco a maior parte das minhas lágrimas no rosto e finalmente consigo abrir a porta do quarto. Entro devagar e falo ´Obrigado´ baixinho para ele antes de entrar.


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Esme está animada para mostrar para Anne seu novo hobby. Não é exatamente novo, mas é algo que ela pode fazer junto com ela. Espero que ela goste. A cabeça de Esme está cheia de expectativas sobre a reação de Anne. Ela se lembra da alegria que sentiu da primeira vez que sua mão a ensinou e sente que Anne vai gostar tanto quanto ela.


As duas se sentam no tapete da sala e Esme reduz as luzes. Mesmo que Edward tenha dito que é seguro, não quero arriscar. Esme não quer dar nenhuma chance para que Anne suspeite de alguma coisa. Mais seguro que confiar em tecnologia é manter os velhos hábitos.


Diferente do que Esme espera, Anne não é tão boa com as agulhas. Ela tem que ter paciência e ensiná-la por algum tempo. Eu esperei demais dela? Ela pensa. A menina parece curiosa com tudo que vê e o sorriso em seu rosto é largo e brilhante.


Vou ter que cortar isso. Esme fala olhando para a linha completamente destruída e procurando a tesoura na cesta. —Hum? Cadê a tesoura? Será que ficou no quarto?


Esme está pronta para se levantar, mas Anne insiste em pegar a tesoura por ela. Esme não gosta da ideia dela andando sozinha, mas se rende aos pedidos dela. Anne sempre parece ansiosa para ser útil, para ajudar.


Esme fica atenta ao som dos passos de Anne pela casa para ter certeza que ela não vai encontrar nenhum problema no caminho. Não vou me distrair mais.


Os passos de Anne ficam baixos demais, como se estivesse pisando no carpete. Os batimentos dela soam um pouco acelerados. Esme já estava acostumada ao som do coração de Anne e sabia cada emoção que se passava dentro dele apenas ouvindo seus batimentos. Agora ela soa… feliz ou interessada.


Esme é distraída pelo telefone.


—Alô?


Esme? Sobre no escritório agora. A Anne vai ver o disk dela!


Esme não espera Alice continuar e sobre imediatamente atrás de Anne. Como Alice disse lá está ela, dentro do escritório de Carlisle, com uma mão sobre a mesa tentando alcançar alguma coisa.


O que você está fazendo aqui? Esme fala alto demais e assustando Anne. 


Esme está muito agitada para convencer Anne de forma amigável a sair e acaba arrastando ela para fora. Anne não pode ver aquele disk. O conteúdo daquele aparelho insignificante pode destruir toda a felicidade que ela sente agora. Se Anne ver o que está naquele disk ela nunca vai olhar para Esme da mesma maneira. Ela provavelmente vai querer ir embora no mesmo momento.


Convencer Anne de que aquele é um lugar completamente proibido para ela estar é a melhor ideia que Esme tem no momento, então inventa alguma mentira sobre Carlisle não gostar que outras pessoas entrem em seu escritório.


Esme se afasta dela por um momento. Eu preciso me me acalmar. Mas o corpo de Esme não consegue deixar de tremer, ela jura que pode sentir o coração sem vida apertado e batendo mais rápido que o de Anne.


Essa porta também estava aberta e eu... Anne está abalada. Seu corpo treme e algo como medo pode ser visto em seus olhos.


Mas esse não é um quarto! Esme grita e se arrepende imediatamente. 


Ela vê os olhos arregalados de Anne e percebe que a menina está com medo dela. Isso é tudo que ela não queria!


Anne começa a se despedaçar em lágrimas e Esme sente a própria alma se despedaçar junto. Ela quer proteger a menina, mas acabou deixando esse desejo sufocar Anne ao ponto de deixá-la encurralada. 


Não… não chore. Esme fala colocando as mãos dos ombros de Anne. O que eu estou fazendo?


Desde o dia em que Anne chegou Esme nunca tinha se sentido tão feliz. Sua vida com sua família até hoje é mais do que ela poderia pedir, mas Anne despertou algo nela. Um sentimento que ela achou que tinha perdido no dia em decidiu que queria morrer.


Esme abraça Anne tentando remendar a situação. Ela não se lembra da última vez em que teve que consolar um vampiro, quem diria um humano. Na família deles não existe motivo para brigas, mas quando elas acontecem, como com Rosalie, e reconciliação é rápida. Eles não tem mais ninguém no mundo em quem confiar a não ser eles mesmos, não existe motivo para ficar brigado ou guardar rancor. Ficar juntos é a única forma de sobreviver.


Esme oferece cozinhar Anne sua comida favorita, mas ela sabe que o argumento é fraco. Ela quer explicar tudo. Falar a verdade. Mas a verdade vai fazer tudo desmoronar. A verdade pode matar Anne e destruir Esme.


Seth bate na porta antes que ela possa pensar em algo melhor para dizer e Esme deixa Anne sozinha. Ela pode sentir que Anne quer um tempo para se acalmar. Desde que ela chegou aqui Esme consegue ouvir, quase todos os dias, o coração dela batendo de forma irregular. Isso acontece quando ela fica sufocada pelo medo. Ela se acalma mais rápido quando está sozinha então Esme faz exatamente isso. Dá espaço para ela. Essa parece a melhor opção por agora.


Esme estaria mentindo para si mesma se dissesse que não se sente ameaçada por Seth. Ela agora sabe como Bella se sente com relação a Jacob e Renesmee. Ele fica com essa cara de bobo para ela...


Mas Esme também sabe que não tem como Seth evitar o que ele sente por Anne. Ele ainda é jovem, mesmo considerando sua condição atual. Seth é mais inocente que os outros. Ele teve que abandonar os estudos já que os lobos são se movem como os Cullens, mas ele sempre foi mais amigável com eles do que os outros da tribo dele. Ele sempre pareceu curioso sobre eles ao invés de cauteloso como Sam. Não foi exatamente uma mentira quando falaram para Anne que Seth estava estudando no exterior. Esme sabia o quanto ele gostava de flores então arranjou para que ele visitasse uma universidade de botânica por alguns meses. Ele tinha acabado de voltar, logo antes de Anne aparecer na floresta.


Como ele mudou tão jovem ele não teve a chance de experimentar tudo. É claro que ele poderia passar por um adulto jovem, mas existe um limite para o tempo que ele tem com humanos, assim como os vampiros. Esme nunca ouviu ele falar sobre amigos fora da tribo de lobos ou de garotas, então ela meio que sabe da inexperiência dele com pessoas fora do círculo de amigos dele. Mas mesmo assim ninguém vai experimentar nada aqui! Ela pensa tentando conter a cara feia que quer fazer para Seth quando abre a porta.


Seth faz rotas regulares ao redor da casa por ordem de Sam. Ele reporta tudo que acontece na casa, tudo que acontece com Anne. Por causa da presença dele aqui os ares tem estado agitados e todos precisam caçar mais regularmente para manter a calma.


Ela está no andar de cima. Esme fala para Seth. Ela está… nervosa. Algo aconteceu mais cedo, mas não é minha decisão falar sobre isso com você então pergunte-a você mesmo.


Esme sai antes de ouvir a resposta de Seth. A neve vai voando ao seu redor enquanto ela corre para a parte mais profunda da floresta. Anne iria adorar ver isso. Ela pensa admirando o manto branco que cobre a floresta brilhando sobre a fraca luz do sol, exatamente como a pele de Esme.


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Assim que fecho a porta atrás de mim sento no chão do quarto em frente a porta com a cabeça apoiada nos joelhos. As lágrimas pararam, mas minha mente ainda está girando.


Me levanto e lavo o rosto até todo o inchaço passar e me deito na cama olhando para o tecido branco no teto. Essa cama parece uma caixa de vidro com essa cortina branca e transparente. Esse tecido foi a primeira coisa que eu vi quando abri os olhos aqui. A minha primeira memória desse lugar. Foi aqui que eu vi a Esme pela primeira vez também. Onde eu prometi a mim mesma que não seria um empecilho para os Cullens. Sinto que já quebrei essa promessa tantas vezes. 


Tudo que eu fiz desde que cheguei aqui foi causar problemas. Uma simples tarefa virou o pior dia da minha vida. Se eu fosse mais forte e tivesse segurando o choro eu não estaria me sentindo tão patética agora. Bem, não mais tão patética assim. Graças ao Seth...


Só de pensar nisso começo a me contorcer na cama de vergonha. O jeito que ele tocou os meus ombros e depois minhas mãos e meu rosto... Aaaaargh! Como eu vou olhar na cara dele agora? Eu não tenho nada preparado para falar ou ideia de como agir. Isso parece a regra com Seth. Tudo que ele faz me pega de surpresa e eu não sei como responder. Mas, pensar nele me acalma. Ele me faz sentir… normal, como se eu não tivesse perdido a memória, como se eu soubesse exatamente o  que o futuro aguarda, como se não existisse a possibilidade de eu não ser quem eu acho que sou. 


Pulo da cama quando ouço a porta abrir. É Esme. Olho para o robô perto do closet, mas ele não se mexeu apesar de estar piscando verde. Achei que Esme ia usar o sistema de notificação como sempre, mas aparentemente não.


Hey… ahm… a comida está pronta. Esme parece cautelosa. Ela fica parada na frente da porta sem entrar no quarto.


Ok… Eu vou lavar as mãos. Falo me virando para entrar no banheiro.


Anne. A voz dela me faz parar. Ela entrou no quarto, mas ainda mantém alguma distância de mim. —Me desculpe. Eu não tinha que ficar brava daquele jeito com você. Eu não devia ter gritado. Você não fez nada de errado.


—Eu também… sinto muito. Não devia ter entrado no quarto sem permissão. Eu não consegui dar o primeiro passo, mas Esme diminuiu a distância entre nós e me abraçou. Eu abracei ela de volta o mais forte que consegui, em parte porque bem… é Esme e em parte porque queria evitar que as lágrimas voltassem aos meus olhos.


Esme colocou as mão em meu rosto e me deu um beijo na testa antes de suspirar um desça quando estiver pronta e sair do quarto. Passo as mãos no rosto ainda sentindo o toque dela e vou até o banheiro com o coração leve. Fazer as pazes com alguém é… estranho. Não é como se o tudo tenha desaparecido, você apenas passa a se sentir diferente em relação ao que aconteceu. Antes eu sentia como se eu fosse a pior pessoa do mundo e que eu perdi tudo que tinha construído aqui, mas agora tudo parece apenas um mal entendido que foi resolvido.


Assim que saio do quarto vejo Seth saindo do quarto dele ao mesmo tempo. Ele me olha e sorri, mas eu não consigo olhar diretamente para ele. Sinto meu rosto arder e espero que ele não perceba a vermelhidão nele.


Está se sentindo melhor? Ele pergunta, como se tudo estivesse absolutamente normal.


Hã? Hum... Respondo sem de fato responder e continuo andando sem olhar para trás em direção a cozinha.


Sentem-se. Eu fiz o seu favorito Anne. Como prometi. Escolho o lugar de sempre e me sento rapidamente. Seth senta bem na minha frente com Esme a minha direita.


Parece delicioso. Falo me acomodando.


A refeição foi silenciosa, apenas alguns comentários sobre o tempo e coisas aleatórias nas quais eu não prestei atenção. Quando terminamos, vamos para a sala de estar e como de costume Esme prepara o chá.


Nevou bastante ontem não foi Seth? Esme fala enquanto tomamos chá na sala observando a neve cobrir o jardim.


Eu e Esme estamos sentadas no sofá enquanto Seth está sentado no chão logo do meu lado, seus ombros quase tocando meu joelho. A cena do lado de fora da janela é de impressionar. A neve brilha sobre o chão e toda a grama desapareceu. O gazebo, antes ainda visível sobre a neve agora parece enterrado sobre o gelo.


Foi. Em alguns pontos onde ficam as colinas a neve acumulou bastante. Estou tão ciente da distância que os ombros de Seth estão de mim que quase sinto o calor do corpo dele. Só ouço a resposta dele, mas não tenho coragem de olhar para o rosto dele.


Está tão bonito. O que você acha Anne? Esme fala sorrindo para mim.


Hum? Oh.... hum. É mesmo muito bonita. Quando eu olho para aquele cobertor branco sobre as árvores não consigo deixar de sorrir. Eu não amo o frio, de fato eu trocaria essa neve por algumas horas debaixo do calor do sol, mas existe beleza no inverno, quase como algo misterioso, perigoso mas magnético.


Eu tive uma ideia! Esme fala animada enquanto se levanta. —Vamos lá pra cima. Lá tem o lugar perfeito para observar a neve. 


Esme segue em direção as escadas e eu e Seth a seguimos. Viramos à direita e passamos pelo corredor do escritório do Sr. Cullen. Seth está andando do meu lado e posso até estar confusa, mas tenho a impressão de que ele está bloqueando a visão do quarto de propósito. 


Caminhamos até o final do corredor e varamos a esquerda entrando em mais um longo corredor  que nos leva até um cômodo amplo, tão amplo quando a sala de estar. A sala é como um grande círculo. Uma mesa de centro e várias cadeiras e sofás ao redor, algumas mesas encostadas na parede a nossa esquerda e duas grandes janelas, agora com as cortinas fechadas no canto direito mais afastado. Imediatamente a nossa direita alguns quartos estão enfileirados, cada um com uma porta de cores ligeiramente diferentes. 


Você ainda não tinha vindo aqui não é Anne? Esme fala seguindo ao longo das portas. —Aqui é como o salão de jogos eu diria. Cada porta tem um nome escrito identificando o que está lá dentro. Passamos pela Arcade, Sala de música e paramos na frente da porta escrita Observatório.


Esme abre a porta e eu e Seth entramos no cômodo primeiro. Assim que entramos a claridade me cega um pouco. O quarto tem um enorme teto de vidro levemente inclinado e por ele é possível ver a neve cobrindo toda floresta.


Legal, não é? Esme fala da porta de entrada da sala. —Mesmo que a neve caia no vidro ela não fica acumulada ou molha o vidro. Foi ideia da Rose criar esse espaço. Ela tira fotografias maravilhosas aqui. A neve ainda é impressionante, mas a conversa de Esme sobre Rosalie me chama atenção. Fotografia? Rosalie é fotógrafa? Não achei que ela tivesse um emprego assim. Talvez algo com moda como Alice.


Bem, eu tenho coisas a fazer. Vocês dois se divirtam. Qualquer coisa é só me chamarem. Esme fala piscando discretamente para mim e saindo da sala sem olhar para trás. Eu quase não consigo acreditar que ela fez isso. Quase. E agora não tem como eu sair dessa sala sem ficar na cara que eu estou evitando o Seth.


Vocês vão se dar bem. A voz de Esme ecoa na minha cabeça. Ela vem me empurrando para fazer amizade com Seth desde o dia em que ele chegou, como se fosse absolutamente necessário que nos tornássemos amigos.


É muito bonito. Seth fala comigo pela primeira vez desde que nos encontramos no corredor. Os olhos castanhos brilhando sobre a luz e me fazendo suar.


Hum? Hum... é mesmo. Respondo enquanto limpo as mãos suadas na calça. Ficamos alguns segundos em silêncio e eu faço a primeira pergunta que me vem a cabeça. O silêncio pode levar a conversa de volta para o que aconteceu essa manhã e eu ainda não estou pronta para falar sobre aquilo.


—O que você estudou? Quero dizer, enquanto esteve fora. Falo desviando o olhar para a enorme janela.


Hum. Eu estudei várias coisas. Entre elas sobre flores e também sobre animais. Ele fala sentando em um dos puffs baixos no chão, colocados ali justamente para observar a vista na posição mais confortável possível. Ele se estica e fica olhando o céu. Eu fico olhando para os lados sem saber o que fazer comigo mesma por alguns segundos. Observo um cadeira mais afastada de Seth e decido me sentar, mas a voz dele me faz parar.


Senta nesse aqui. Eu vou arrumar para você. Seth aponta para o puff imediatamente do seu lado e depois o molda de forma que fique fácil para sentar e me deitar na mesma posição que ele.


Eu dou um sorriso pequeno para ele e fico de frente para o puff. Ele é baixo. Se eu não calcular o ângulo centro, eu vou sentar muito para cima e tombar a coisa ou sentar muito baixo e escorregar. É claro que a situação mais embaraçosa foi a que aconteceu. Sentei muito alto e o puff foi inclinando para trás. Sem ter onde segurar meus braços se levantaram no ar e Seth me segura evitando a queda certa. 


Te peguei! Ele fala me ajudando a sentar direito.


Obrigado. Falo. Quem senta errado?!?!


—Tudo bem. Ele responde sorrindo. Não sei se ele é só sincero ou está rindo de mim. Penso enquanto tento decidir o motivo daquele sorriso.


Eu e ele agora estamos deitados olhando pelo vidro o céu cinzento de onde alguns flocos de neve ainda caem.


Por isso você ficou tão animado na estufa. Você estudou sobre todas aquela flores. Continuo nossa conversa. Já que não tem como piorar mesmo vamos com a maré.


—Foi. Ele responde sorrindo um pouco. —Passei algum tempo observando-as ao redor do mundo. Elas mudaram tanto durante os séculos que é difícil acreditar na quantidade de espécies que ficaram extintas.


Não entendo de flores, mas sei o que ele quer dizer. Quase tudo mudou. Mudar, ultimamente, quer dizer desaparecer ou adaptar. Algumas espécies se adaptaram, como os humanos e animais, e outras simplesmente desapareceram. No meio disso vida nova nasceu e tomou o lugar dos que partiram.


Quanto tempo você ficou estudando? Pergunto.


Ah… não foi por muito tempo. Ele responde vagamente.


—Você deve ter sentido saudades da sua família.


—Hã?


Foi por isso que você voltou não foi? Eu deito de lado para olhar para Seth enquanto falo.


Ah, claro. Seth coloca os braços atrás da cabeça e continua a olhar para o céu.


Como eles são?


Minha família? Seth sorri um pouco antes de falar. —Eles são barulhentos.


Você tem irmãos? Pergunto imaginando Seth sorrindo junto com sua família em uma casa aconchegante.


—Tenho uma irmã mais velha e irmãos demais para ser sincero.


—E seus pais?


Meu pai morreu quando eu era menor e minha mão também morreu há algum tempo. É só eu e a Leah agora. Seth tem uma expressão séria no rosto enquanto olha pela janela, não para neve, mas para algum ponto mais distante em sua memória.


Eu sinto muito...


Não se preocupe. Eu tenho uma nova família agora. Tenho muitos irmãos mais velhos. Seth abre um largo sorriso olhando para mim. —Jake e Sam são dois deles. Tem o Embry, e o Quil. Você vai conhecer todo mundo na festa de natal.


Seth perdeu os pais, mas parece muito feliz com a nova família. Vejo os olhos dele brilharem enquanto fala dos irmãos.


Eu não consigo imaginar a felicidade dele, não realmente. Ele parece feliz, mas não sei dizer como ele se sente quando está com a família dele. Talvez eu me sinta assim um dia, no dia em que me lembrar quem eles são. Eu não tenho rostos para recordar então tento imaginar como seria pela descrição de Seth. Com seria ver o sorriso deles, conversar e rir com eles.


Que bom. Eu quero conhecer todos eles. Se eu fechar os olhos eu ainda me lembro do rosto de Jacob e Sam e da cara de bobo que Seth tinha quando chegou. Eu não achei que poderia ter uma conversa assim com ele. Achei que seria esquisito para sempre, mas agora parece que eu sempre conversei assim com ele.


Você vai gostar de todos eles. Eles são animados, até demais as vezes, e falam demais, mas sei que você vai gostar deles. O Paul é meio emburrado, mas não vai ter como ele ficar de cara feia com você. Seth articula com os braços para todos os lados falando de sua família. Ele está sorrindo e continua a contar histórias de reuniões de família. 


Não sei em que momento, mas eu já não ouço mais a voz de Seth e estou de volta ao meu oceano de bolhas. Mas Seth deixa sua marca. Hoje as bolhas estão recheadas de pequenas flores.


Abro os olhos e vejo Seth ainda deitado no mesmo lugar olhando para mim. Não sei quanto tempo dormi, mas sei que foi enquanto ele falava.


Desculpe. Falo ainda tentando acordar, passando as mãos no rosto. —Dormi enquanto você falava. Foi mal.


Não era importante mesmo. Ele fala sorrindo. —Você devia estar cansada.


Ele tem razão. Aquela choradeira me deixou exausta. Meus músculos estavam duros. Sempre que eu tenho um ataque de pânico é como se um touro tivesse acertado meu corpo em cheio.


Um pouco. Que horas são? Pergunto olhando para o vidro acima de nós. No inverno aquele céu cinzento não muda de cor conforme as horas passam. É impossível dizer se são onze horas da manhã ou seis horas da tarde.


Você não dormiu muito tempo. Ainda está claro. Seth fala apontando para o tom alaranjado flutuando nas nuvens. Olho para o relógio projetado no canto da janela e já são quase quatro horas da tarde.


Já está quase de noite! falo tentando acordar. Me sento e sinto um cobertor cair no meu colo. Seth colocou um cobertor em mim?


Quando olho para ele, Seth ainda está sorrindo e olhando para mim. A pele dele brilha sobre a luz do sol. Ele sempre parece tão pacífico. Como se a vida fosse fácil assim. Olhar para ele me dá a sensação de que talvez ele esteja certo. Talvez a vida seja simples assim e eu complico tudo pensando demais.


Você está rindo porque tem baba na minha cara, não é? Falo a primeira coisa que vem na minha cabeça porque não sei bem como lidar com isso. Com essa estranha tensão no ar e meu coração batendo forte assim. Passo a mão sobre meus lábios tentando limpar qualquer traço de baba existente ou não nos meus lábios.


Não é isso! Eu não estava rindo de você... Seth se senta rápido tentando se explicar e desvia o olhar. A piada virou a maré ao meu favor.


É brincadeira. Falo sentando também, mas ainda limpando meus lábios um pouco mais. 


Anne. A voz de Seth soa mais séria. O olhar dele mais pesado. —O que aconteceu? Hoje de manhã, antes de eu voltar.


Abaixo a cabeça e fico em silêncio. Foi, em parte, graças a ele que eu consegui me acalmar tão rápido. Foi porque ele me ajudou, limpou minhas lágrimas. Talvez esteja tudo bem falar com ele.


Foi só um mal entendido. Entrei onde não deveria e como uma idiota fui mexendo em tudo como se fosse minha casa. É claro que Esme ficou brava comigo. 


Como assim brava? Seth pergunta chegando mais perto, como se ele já não estivesse praticamente encostado em mim.


Se ele não me achava uma bebê chorona antes, agora ele com certeza vai.


—Ela meio que gritou comigo, mas ela tinha razão. Eu não tinha permissão para entrar lá.


—Ela… Ouço Seth respirando fundo antes de continuar machucou você?


—Me machucar? Olho para ele sem entender. O que ele quer dizer com isso?


Quando vi você no corredor… bem… você mal conseguia parar de tremer…


—Não! Claro que não! Falo sem acreditar que ele me perguntou algo assim. —Eu… eu estava chorando porque… porque… eu não queria… respirei fundo procurando as palavras certas. Poderia dizer que me assustei com os gritos dela, mas não é verdade. Poderia dizer que tinha medo de que ela ia me bater como fez com Rosalie, mas eu nunca realmente acreditei que ela fosse me machucar. Nunca poderia sentir que Esme é uma ameaça, mesmo que ela venha correndo na minha direção com uma faca e um olhar maníaco no olhos não acharia que ela ira me machucar. Eu chorei porque… —Eu desapontei ela. Tive uma chance de ajudar ela e estraguei tudo. Estou viva graças a Esme. Eu só queria ajudar.


Falo finalmente a verdade, para Seth e para mim mesma. Eu estava arrependida de ter jogado a oportunidade de finalmente ser útil por uma curiosidade inútil. Eu me sentia burra e fraca por ter chorado na frente dela daquele jeito.


De alguma forma consigo segurar as lágrimas dessa vez olhando para fora da janela, para o sol começando a se por na tarde de inverno. A cor alaranjada dançando dentro das nuvens como se estivessem pegando fogo. Seth coloca a mão sobre a minha. O calor da mão dele é um contraste estranho com as mão frias de Esme. Os olhos dele, os olhos de cachorrinho perdido olhando para mim como que pedindo alguma coisa, como se pedindo para chegar mais perto.


Já acordou? Esme fala abrindo a porta da sala de jogos fazendo Seth soltar minha mão rápido e nós dois levantamos em um pulo. 


—Se já está de pé vamos descer. Rosalie e Emmett voltaram mais cedo hoje.


Quando ouço o nome de Rosalie sinto meu estômago revirar. Não vejo ela desde a briga entre ela e Esme e ainda não sei bem o que dizer. Eu disse à mim mesma que provaria para ela que não sou um peso morto, mas não consegui nenhum resultado até agora. Continuo o mesmo problema que ela viu da última vez.


Enquanto andamos pelos corredores e vamos descendo as escadas tento pensar em como posso me aproximar de Rosalie. Esme disse que ela é fotógrafa. Talvez, se eu perguntar sobre as fotografias dela, eu posso começar uma conversa amigável.


No andar de baixo Rosalie e Emmett então sentados apreciando a vista da janela. Quando entramos Emmett fica animado como sempre, mas Rosalie só me olha por um momento e volta a apreciar a vista.


E aí baixinha! Quanto tempo! Emmett fala bagunçando meu cabelo como de costume e também cumprimentando Seth com um aperto de mão complicado.


Oi Emmett. Falo tentando arrumar o ninho de passarinho que ele fez com meu cabelo.


Vocês dois. Na frente da janela. Rosalie fala surpreendendo a todos na sala.


Eu olho para Seth e ele só dá de ombros e vai andando até a janela. Sigo ele ainda sem entender mas paro ao lado dele na frente da janela como Rosalie pediu, ou melhor, mandou. Ela nos olha por um momento virando a cabeça um pouco para os lados.


Algum problema? Seth pergunta. Ele tem muito mais coragem que eu. Nos termos em que estou com Rosalie se ela me pedisse para ficar parada ali o resto do dia eu ficava, só para que a raiva dela diminuísse pelo menos um pouco.


Eu quero um foto. Vamos lá para fora. Rosalie fala pegando uma grande bolsa preta que está no chão perto de seus pés.


Como assim Rose? Está frio lá fora. E você nem perguntou se está tudo bem com eles... Esme fala fazendo uma cara azeda para Rosalie. De novo não! 


Por mim tudo bem. Falo antes que Esme diga alguma coisa que deixe Rosalie brava e outra briga comece.


Você tem certeza? Esme pergunta.


Claro! Falo tentando parecer mais animada do que ansiosa. Olho para Rosalie e ela tem um pequeno sorriso no rosto. Não sei dizer se é porque ela está feliz ou se está se gabando do fato de que tenho medo dela.


Eu também. Seth fala. Respiro aliviada que ele está indo com a maré.


Pego um dos casacos pendurados perto porta e minhas botas. Achei que Rosalie ira pedir para que trocássemos de roupa ou algo do tipo, mas ela disse que quer algo “natural”.


Com tudo pronto agora estamos do lado de fora, no jardim. A neve vai até meus tornozelos e o frio é terrível, esqueci que não estava usando a nanotech antes de sair, mas a visão é tão perfeita que quase me esqueço do frio. Entendo porque ela quer uma foto aqui. Penso olhando para o cobertor branco sobre os arbustos cuidadosamente cortados. A cena parece algo que acabou de sair de uma pintura.


Quero vocês sentados no balanço. Rosalie fala apontando para o balanço enquanto prepara a câmera. Ao lado do gazebo um balanço longo o suficiente para três pessoas tem pelo menos dez centímetros de neve empilhada em cima dele.


Tudo bem. Eu respondo sem hesitar e sigo em direção ao balanço. Seth me segue e me ajuda a limpar a neve do lugar onde temos que sentar. Assim que o banco parece limpo o suficiente sento em uma das pontas e Seth senta na outra.


Bem no meio. Rosalie fala se preparando para achar o ângulo certo. Me movo mais para o centro assim como Seth.


Assim? Seth pergunta. Eu e ele estamos sentados um do lado do outro no balanço.


Mais perto. E sem sorrir. Rosalie continua a dar instruções.


Chego um pouco mais perto de Seth, evitando encostar dele. A posição estranha me faz lembrar da mão dele sobre a minha no observatório. A distância que escolho não parece o suficiente para satisfazer Rosalie, que entrega a câmera para Emmett e vem na nossa direção.


Assim! Ela fala nos colocando literalmente colados um no outro. —Agora não olhem para câmera. Escolha um ponto atrás de mim e olhe apenas para ele.


Fixo os olhos em um ponto da floresta tentando ignorar o fato de que Seth está bem do meu lado, nossas coxas se tocando e meu coração parece que vai sair pela boca.


Não tão tenso! Rosalie reclama. —Natural, como se estivessem apreciando a neve.


Olho para Seth e ele não parece satisfeito com Rosalie dando ordens, mas ele não parece tão tenso quanto eu. Eu me arrumo do lado dele e tento fazer o que ela pede e acabar logo com isso.


Eu respiro fundo e relaxo o corpo. Escolho outro ponto atrás de Rosalie. Agora eu estou olhando para uma arvore em particular. Um pinheiro alto que parece pesado com a neve sobre seus galhos. Observo a neve brilhando sobre os galhos da árvore e presto atenção no som dos pássaros ao nosso redor tentando relaxar. Tento me concentrar nisso e aliviar a tensão enquanto Rosalie tira as fotos.


Agora eu quero que você coloque a cabeça no ombro dele Anne. E feche os olhos também. Rosalie fala me surpreendendo. Já não basta a distância desconfortável agora eu tenho que encostar nele desse jeito?


Ahm… Mas... Eu ia tentar argumentar, mas Rosalie foi mais rápida.


Porque? Eu estou pedindo demais? Você disse que ia tirar as fotos. Ela coloca a mão na cintura e fica me encarando. Aquele olhar me faz engolir seco. Eu olho para Seth e ele também parece desconfortável. Quase vejo um tom avermelhado no rosto bronzeado dele, mas também, daquela distancia posso até ver a barba dele crescendo no queixo. Vamos acabar com isso. Não é como se ela estivesse me pedindo para beijar ele.


Coloco a cabeça de leve no ombro de Seth e sinto o corpo dele enrijecer. Ele não gosta disso tanto quanto eu. Penso de olhos fechados.


Vocês estão de brincadeira, não é? Rosalie fala me fazendo abrir os olhos e sentar direito. —Já falei que quero algo natural, não um com os olhos apertados e o outro com cara de quem vai para o corredor da morte.


Eles não são profissionais Rose. Esme fala com um tom ligeiramente irritado. Rosalie é do tipo que desafia qualquer pessoa, seja lá quem for. O filme da briga delas passa na minha mente novamente e eu pulo no meio da conversa.


Tudo bem! Desculpa. Vamos tentar de novo. Falo tentando parecer totalmente relaxada.


Vai acabar logo então aguenta um pouco mesmo que seja desconfortável. Por favor. Sussurro para Seth. Ele não parece gostar de ouvir as ordens de Rosalie ou da posição em que estamos, mas conto com ele para me ajudar.


Seth me olha e só responde um “Hum” baixinho. Eu sussurro de volta “Obrigado”.


Dessa vez eu apoio a cabeça no ombro de Seth e fecho os olhos com cuidado, como se quisesse dormir. Seth parece mais relaxado, mas não sei como está a expressão no rosto dele.


Isso. Fiquem parados. Rosalie tira várias fotos e agora parece satisfeita. 


Tudo bem, antes de perdermos a luz. Mais uma de vocês se olhando, em pé. 


Me levanto e sinto o vento frio no ponto onde meu corpo encontrava o de Seth.


De frente um para o outro. Rosalie fala enquanto eu e Seth seguimos suas instruções. Ainda não consigo olhar para ele. Estou esperando ela dar o sinal porque não sei quanto tempo vou conseguir segurar o olhar.


Ok. Agora olhe para Seth e fiquem parados. Respiro fundo e olho para cima. Seth é muito mais alto do que eu então estico o pescoço para olhar para ele. Prendo a respiração e tento me manter calma. Seth parece indiferente a situação e isso me incomoda. Eu sou a única tendo um ataque aqui??


Pronto. Rosalie fala enquanto guarda o equipamento.


Finalmente consigo respirar e dou um passo largo para longe de Seth enquanto limpo a neve do casaco.


Que é?! Ouço a voz de Rosalie reclamando. Ela tem uma das mãos na cintura e olha nervosa para Emmett.


Como é que se fala? Ele pergunta arrastando as palavras e olhando para Rosalie que parece ficar mais nervosa e começa a guardar o equipamento mais rápido. Ela parece que ela está resmungando alguma coisa.


—Ninguém está te ouvindo irmãzinha! Emmett fala batendo o pé nas botas de Rosalie.


Obrigado! Ela fala brava. —Pronto falei! Feliz?


Não sou eu que você tem que agradecer. Emmett aponta para mim e Seth.


Obrigado… pela ajuda. Rosalie fala agora quase olhando para nós. Então ela está agradecendo?


—De nada. É um prazer ajudar. Eu falo não perdendo a rara oportunidade de falar com ela.


Rosalie apenas pega sua bolsa e volta para dentro da casa sem olhar para trás.


Não se preocupem com ela. Ela já se acostumou com vocês. Se ela não estivesse de acordo com vocês ficarem aqui ela não pediria uma foto. Emmett fala sorrindo.


É verdade. Esme complementa. —Agora vamos para dentro. Está frio demais aqui.


Enquanto caminhamos para dentro da casa vejo o carro de Alice se aproximando.


Alice. Eu falo olhando ela parar o carro e descer correndo em nossa direção.


Seth, o Sam tem que falar com você. Ele quer que você vá até a casa dele. Alice fala.


Sam? Mas ele...


Encontrei com ele no caminho e ele me pediu. Parece urgente porque você não vai logo? Pode usar o meu carro.


Ahm… Tudo bem então. Seth fala olhando para mim por um momento e depois para Esme. —Eu não devo voltar para o jantar então não precisa me esperar. Até depois então. Ele fala para mim.


Até. Eu respondo sorrindo um pouco. Seth não parece querer ir ver Sam e se demora caminhando até o carro e olhando para trás várias vezes. Finalmente ele dirige o carro em direção a trilha que leva para fora da floresta. Fico olhando para o carro até que suma de vista.


Esme, temos que conversar. Alice fala séria.


Vamos para dentro primeiro. Esme fala abraçando meus ombros e me colocando perto dela. Não é que eu não goste do gesto, mas ela me parece... tensa.


De repente a casa parece cheia de vida. Rosalie, Alice, Emmett e agora Carlisle que já está na sala quando entramos então todos reunidos.


Quero perguntar a Carlisle sobre o resultado dos exames e me desculpar pelo incidente com o escritório dele, mas a conversa continua sem parar, sem me dar uma chance de falar sobre o que me incomoda.


—Agora podemos ter um jantar em família. Carlisle tem um grande sorriso no rosto enquanto olha para cada um de nós sentados na mesma de jantar. Todos juntos. Pela primeira vez desde que cheguei na casa.


O jantar acontece como se fosse algo comum. A conversa pula de um assunto mais aleatório para o outro. Falam sobre o tempo, sobre como andam ocupados ultimamente, mas ninguém fala diretamente comigo.


Assim que terminamos, como de costume, pelo menos para mim e para Esme, tomamos o chá na sala de televisão e observo os Cullens interagindo pela primeira vez. Alice e Rosalie estão sentadas na mesa de vidro conversando, Emmett assiste televisão distraído e Carlisle e Esme estão sentados um do lado do outro conversando, talvez, sobre o dia que tiveram e falando comigo as vezes. Não tenho nada mais que respostas curtas. Ainda estou tentando absorver a cena.


Isso deve ser tão natural para eles. Penso observado as conversas na sala. Talvez seja isso que Seth quer dizer quando ele descreveu uma reunião de família. Todo mundo junto, conversando, o barulho das conversas se misturando dando vida ao ambiente. Queria poder me lembrar, mas estar aqui é o suficiente por enquanto. É claro que gosto de ver eles juntos, mas essa cena me faz pensar na família da qual não me lembro. Decidi não pensar nisso, pelo menos por agora. Vou me entregar a esse sentimento hoje. Vou sorrir como se estivesse com minha família, como se eles fossem a única família que eu tenho. Pelo menos por hoje. Pelo menos nesse momento eu quero sentir como se eles fossem ficar comigo para sempre, como se essa felicidade pudesse durar para sempre.


Já é tarde da noite quando subo para meu quarto. Seth ainda não voltou, mas eu vou vê-lo amanhã. Quero ver como as fotos ficaram. Quero guardar uma e pedir para Rosalie uma foto de mim e Esme juntas, e outra com todo mundo junto. Olho para as paredes do quarto tentando escolher o melhor lugar para colocar as fotos. Talvez logo na frente da janela, sobre o peitoril, enfileiradas para que eu possa me sentar e olhar para elas de perto.


Me jogo de costas na cama e o sorriso no meu rosto fica mais e mais largo. Abraço meu travesseiro pensando nos dias que estão por vir. Penso na primavera, no verão, no outono. Imaginando caminhar pela floresta em todas as estações, nas comidas deliciosas que Esme ainda não preparou para mim. Penso nas conversas que ainda não tive com eles. Imagino trocar palavras amistosas com todos eles, viajar juntos, rir juntos. Eu mergulho fundo na fantasia, na felicidade que aquelas imagens me dão. Eu cortei todos os avisos de ´não ultrapasse´ que coloquei na minha mente para me manter longe desse tipo de esperança. Ignorei todos os alarmes na minha mente e nadei até o fundo daquela felicidade, onde eu ficaria com os Cullens para sempre, com Esme para sempre. Naquele lugar, no fundo mais profundo daquela felicidade, todos os problemas parecem insignificantes.


O som de sinos me assusta e eu sento na cama rápido. O pequeno ovo branco ao lado da minha cama pisca as palavras ´campainha´ no visor.



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Autor(a): purplehelebores

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Acordo sem fôlego, suada e muito assustada com o sonho perturbador. Levo um minuto para me situar e notar que estou ligada a diversos aparelhos de monitoração. Observo o quarto vazio sem entender que está acontecendo. Minha cabeça dói e meu rosto está molhado de suor. Sinto meu corpo mole e tenho dificuldade em manter os olhos ...


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