Fanfic: Quando o Helébore Florescer | Tema: Crepúsculo
Quando eu acordo tudo continua na mesma. Nada faz mais ou menos sentido.
Me sento na cama com cuidado sentindo minha mão arder. A essa altura, todo o efeito dos analgésicos já passaram. A dor não fica só na minha mão, ela também sobe para meu braço até meu ombro. Noto um pequeno oval branco segurando uma bandeja de café da manhã do meu lado, mas nem sinal de Esme.
Ao lado da bandeja um pequeno copo com pílulas dentro e um note com meu nome está piscando de leve. Toco o pequeno objeto e ele exibe a mensagem.
Tome seus remédios depois de comer alguma coisa. São analgésicos e antiinflamatórios. Se você precisar de alguma coisa é só falar meu nome. Quando terminar mande o robô de volta para o andar de baixo. Leve seu tempo para pensar e descansar.
Esme.
Sento na beira da cama e olho para bandeja novamente. Não estou com fome, mas a dor no meu braço é irritante. Como uma das torradas apenas para evitar tomar o remédio de barriga vazia e fico pensando no bilhete de Esme. Carlisle não me explicou muito ontem, mas ele fez questão de enfatizar que eu tinha uma escolha. Se eu escolhesse ir embora eles iam me ajudar, se eu ficasse nada ia mudar, bem, quase nada.
Pego outra torrada na bandeja. Estariam eles com medo de mim? Por isso Esme não está aqui? Ou eles acham que eu estou com medo deles? A imagem de Rosalie me atacando ontem me vem a mente. Certamente eu estava com medo. Tive medo de morrer quando ela me atacou, mas também sei que ela não era ela mesma quando me atacou.
Por mais estranho que pareça não consigo achar em mim motivos para ter medo deles por serem o que são. Nesse exato momento tudo que eu quero é ver Esme e Alice e Carlisle e todos eles novamente. Quero que tudo volte ao normal.
Eu faço algum barulho de propósito no quarto, mas ninguém vem me ver. Talvez se eu falar o nome dela com ela disse penso sentindo o nome de Esme subir até a ponta da minha língua, mas sem coragem de falar em voz alta.
O que ela vai falar… quando me ver? O que eu vou falar? A dor no meu braço vai ficando mais aguda. Sem notar comi quase toda a bandeja. Estico meu braço esquerdo e tomo as três pílulas de uma vez. Olho para bandeja e penso em mandar o robô para o andar de baixo, mas eu tinha que sair daquele quarto em algum momento.
Me levanto e lavo meu rosto antes de sair do quarto. Ainda consigo ver olheiras sobre meus olhos cansados. Tento pegar a bandeja com cuidado, mas não confio que minha mão boa vai aguentar o peso até o andar de baixo. Me siga falo para o pequeno robô enquanto saio do quarto. Caminho devagar pelo corredor e noto que a porta de Seth está fechada. Passo por ela e caminho até a beira das escadas. Esme está na frente da porta principal olhando para cima, como se estivesse me esperando. Olho para ela ali, com a luz do dia brilhando atrás dela, como a primeira vez que a vi naquela noite. Eu respiro fundo e desço as escadas com cuidado, com o robô ainda na minha cola.
—Bom dia. Falo sorrindo para Esme. Ela me parece apreensiva. As mãos na frente do corpo sem saber exatamente o que fazer. Essa é a primeira vez que Esme parece tímida para mim.
—Bom dia. Você deveria dormir mais. Como está sua mão?
Eu olhei para ela mais uma vez. Realmente olhei para ela. Esme passou de uma estranha a quem eu devia minha vida, para alguém de quem eu não posso e não quero abrir mão. A todos os momentos a única coisa que importava para mim era ela. O que ela vai pensar, o que ela vai falar, o que ela vai fazer. Eu estou cansada de questionar minha afeição por ela, por esse lugar. Tem alguma coisa me puxando para essa casa e eu me sinto tão… bem aqui que, a ideia de ter que ir embora, mesmo que por uma causa ´nobre´, foi tão dolorosa que eu senti meu coração partir em dois. Eu não quero me separar deles. Dessa vez, eu só vou embora se eles me pedirem para ir. Não vou mais ficar mergulhando em um mar de auto piedade achando que me sacrificar por eles é a única coisa que eu posso fazer porque eu sei que não é. Seja o que for, vou enfrentar junto com Esme.
Eu abracei Esme com a toda a força que encontrei em mim e ela me abraçou de volta, sem falar nada. —Eu quero ficar. Falei tão baixo que achei que ela não tinha ouvido, mas eu senti ela me apertar com mais força. Eu poderia ficar naquela posição para sempre.
Ela se afasta e coloca as mãos sobre meu rosto. —Eu prometo. Ninguém vai machucar você. E assim eu tomei a decisão mais egoísta da minha vida porque não quero mais sofrer. Eu decidi morar com eles, pelo tempo que me for permitido.
Sento na sala de estar com Esme observando a neve encostada nela. Não falamos nada, apenas apreciamos a vista. Esme, como sempre, tem um bule de chá pronto para servir. A xícara fumegante nas minha mãos é reconfortante.
—Sabe, Esme fala segurando a própria xícara —eu não tenho idéia se esse chá é bom ou não. A vendedora da loja me recomendou essa marca, mas não sei se realmente é saboroso.
—Você são sente gosto? Perguntei curiosa. É a primeira vez que Esme fala comigo sobre não ser humana. Tudo que eu ouvi até agora foi explicado por Carlisle.
—Hum… comida normal parece serragem na minha boca. Eu bebo por hábito, e para te acompanhar é claro. Ela sorri para mim.
Eu tenho outras perguntas. Quero saber tudo, mas ainda não tenho coragem de perguntar coisas tão… bem… pessoais para ela, então pergunto algo completamente diferente.
—Onde está Seth?
—Ahm ele deve chegar a qualquer momento. Ele queria voltar ontem, mas depois de toda aquela confusão pedi para que ele esperasse, então Sam amarrou ele na cama. Esme fala rindo e balançando a cabeça.
Mal posso esperar para vê-lo. Preciso urgentemente de alguém com quem ter uma conversa normal e Seth é a única pessoal na qual consigo pensar.
—Onde fica o banheiro? Me levanto e pergunto a Esme. Quero ter certeza de que não pareço pior do que realmente me sinto. As olheiras podem assustar ele.
—Atrás da escada do lado da sala de TV. Esme aponta para a pequena curva entre a sala de TV e o vaso de flores do lado oposto da escada.
Vou caminhando até a o hall de entrada e me viro quando noto a porta abrir com um barulho alto. É Seth. Ele está ofegante e descabelado.
—Anne! Ele fala quando me vê e pula na minha direção com as botas deixando lama para todo lado e me abraça, bem, me esmaga. O abraço dele é tão apertado que mal consigo respirar.
—Seth… falo tentando respirar, mas ele não parece me ouvir.
—Seth ela não consegue respirar… Esme fala. Vejo ela colocar a mão no ombro de Seth e ele a afastar violentamente. Ele finalmente alivia o abraço, mas não me solta. Ele olha ameaçadoramente para Esme mas ela não parece incomodada.
—Vai com calma cowboy. Ela está inteira, e segura.
Seth ignora Esme e me segura pelo ombros fazendo perguntas rápido demais para que eu possa responder.
—Você está bem? E sua mão? Se machucou em algum outro lugar? Você está parece cansada. Vamos, vou te levar para o quarto.
Seth me coloca no colo antes que eu pudesse responder quaisquer de suas perguntas e vai subindo as escadas rápido.
—Pelo menos tire as botas! Ouço Esme reclamando do andar de baixo. Seth já está na metade do corredor e continua a caminhar a passos largos deixando lama para todo o lado. Ele para por um momento na frente da minha porta, o suficiente para eu possa falar alguma coisa.
—Suas botas…
—Ah…. Certo. Ele tira as botas logo na frente do meu quarto e depois que entramos, fecha a porta. Ele observa o quarto por um momento e me coloca no sofá abaixo da janela.
—Seth… está tudo bem?
Ele coloca um dos cobertores em cima de mim e se senta do meu lado segurando minha mão machucada.
—Está doendo? Ele pergunta olhando para as ataduras.
—Não. Falo calma. Pelo menos não tanto quanto antes.
—Deixa eu ver. Seth vai abrindo as ataduras até que o corte fique exposto.
—Seth está tudo bem. Carlisle limpou e costurou o ferimento. Não é nada demais. Seth parece aliviado ao olhar para o corte limpo e sem sinais de sangramento. A reação dele deixa claro que ele sabe sobre os Cullens. Ele não reagiria tão assustado se não soubesse o que realmente aconteceu. Me pergunto o quanto ele realmente sabe, mas especificamente se ele desconfia que tive alguma coisa haver com o que aconteceu. Ele coloca minha mão devagar no rosto. Eu posso sentir o calor do toque dele sobre minha pele. A ferida exposta arde um pouco ao tocar a pele dele.
—Seth… Não entendo a reação dele, mas imagino que estivesse preocupado. Eu também estava preocupada com o desaparecimento dele.
—Eu deveria ter ficado aqui. Eu deveria ter ficado ao seu lado. Ele ainda está de olhos fechados e parece difícil para ele falar.
—E o que você ia fazer? Boxear Rosalie? Falo sorrindo um pouco da imagem de Seth tentando parar Rosalie apenas com os punhos.
—Sim. Seth fala com plena convicção nos olhos. O olhar dele é… intenso. Não gosto daquele olhar nele. Prefiro os olhar inocente que ele sempre tem.
—Sam e Jacob, eles não me deixaram vir. Seth fala levantando a cabeça e olhando para minha mão novamente.
—Esme falou que ele te amarrou na cama? Pergunto rindo.
—Algo assim.
Deixo um bocejo escapar e Seth percebe.
—Você tem que dormir. Ele fala recolocando as ataduras na minha mão. Ele não é tão habilidoso quanto Carlisle, mas fica bom o suficiente.
Os analgésicos estão fazendo efeito e eu sinto meu corpo ficando mole. Seth coloca o cobertor sobre mim e se senta do lado do sofá.
—Pode dormir. Eu vou ficar de guarda. Ele fala olhando para a porta.
—De guarda? Pergunto rindo, mas já sentindo dificuldade de manter os olhos abertos. O cabelo bagunçado de Seth tem alguns galhos pendurados. Me pergunto porque ele parece que correu pela floresta.
—Isso. Pode ficar tranquila. Sorrio ouvindo as palavras dele. Ele fica em posição de guarda olhando para a porta como se algo fosse pular de lá. Estico o braço e tiro um dos galhos do cabelo dele. Ele me olha, os olhos castanhos e brilhantes de sempre, e eu finalmente caio no sono.
Quando abro os olhos Seth está com a cabeça apoiada no sofá e dormindo. Seu cabelo toca meus dedos de leve. Não me mexo para não acordá-lo, mas o latejo na minha mão me incomoda. Olho para cabeceira e são pouco mais de nove da manhã. Não me lembro exatamente de quando acordei, mas provavelmente dormi apenas algumas horas. O céu continua cinzento como sempre, mas hoje a neve parou de cair, pelo menos por hoje. Me mexo o que me pareceu apenas um milímetro mas Seth acorda com um pulo.
—Quem é? Ele fala olhando para o quarto como se estivesse procurando alguém.
—Foi eu. Desculpa se ter acordei. Me arrumo melhor no sofá massageando o braço.
—Eu não estava dormindo. Ele fala arrumando as roupas. Seth nota quando massageio meu braço mais uma vez e volta a fazer perguntas demais de uma vez só.
—O que foi? Está sentindo dor? Onde está o remédio? Cade aquele robô estúpido? Seth pega o pequeno ovo e começa a chacoalhar a coisa como se o remédio fosse cair de dentro do robô.
—Seth! Falo chamando a atenção dele. —É só colocar os dedos na parte de cima, assim. Mostro para ele como deslisar os dedos sobre o robô para acioná-lo. Seth tenta algumas vezes mais sem sucesso.
—Argh! Odeio essa coisa. Nunca consegui usar esse negócio. Faço um gesto para que ele traga o robô até mim e passo os dedos da forma correta. A luz do robô se acende, esperando o comando.
—Agora é só falar o que você quer. Encorajo Seth a dar a primeira ordem.
—Onde estão os remédio de Anne? Ele fala alto demais me fazendo rir.
—Nenhum resultado local encontrado. Gostaria de procurar por toda rede? A voz mecânica responde.
—Não está tudo bem. Respondo. O robô volta a posição inicial logo ao lado da minha cama.
—Vamos lá para baixo. Esme deve saber onde eles estão. Começo a me levantar do sofá, mas Seth me pega no colo novamente.
—Não… não. Eu posso andar Seth, pode me por no chão.
—Não é problema para mim. Eu consigo te carregar. Ele fala sorrindo como que se gabando do fato de que pode me levar pra lá e para cá como um saco de farinha.
—Ah é?
—Claro. Eu treino todos os dias com Jake. Ele fala achando que está ganhando essa discussão.
—Você deve precisar treinar muito para carregar alguém tão pesada como eu não é? Você deve ter que treinar horas e horas para conseguir levantar todo esse peso e sair carregando por aí não é. Vejo o sorriso dele desaparecer a cada palavra e mal consigo segurar a risada.
—Não é isso que eu quis dizer. Eu treino porque…
—Você já está quase sem fôlego com tanto peso que está carregado não é? Melhor me colocar no chão antes que o peso enorme danifique seus braços de boxeador. Continuo falando e esticando corpo nos braços dele. Arrasto todas as palavras olhando para os lados e revirando os olhos até que ele me coloca no chão e me faz olhar para ele diretamente.
—É um mal entendido. Não é isso que eu quis dizer Anne eu… Começo a rir alto da cara de cachorrinho dele. Essa era a expressão da qual eu sentia falta. Do Seth inocente, que se preocupa demais e é demasiado sincero as vezes.
—Eu estou brincando. Falo entre sorrisos. Seth não parece achar muita graça.
—Foi culpa sua por não me colocar no chão. Dou um soco de leve no braço dele e sigo para a porta do quarto com Seth logo atrás de mim.
O corredor antes sujo de lama agora estava brilhando novamente. Seguimos até as escadas e Alice está limpando as últimas manchas de lama no chão.
—Olha o senhor cascão resolveu aparecer. Ela fala sarcástica olhando para Seth e limpando o chão.
—Anne está sentindo dor. Ele fala sem se desculpar pela bagunça.
Alice checa o relógio dela e olha para mim. —Anne, está doendo muito?
—Não muito, não acho que preciso do remédio, mas estou com um pouco de fome. Respondo imaginando um delicioso almoço preparado por Esme.
—Bem sinto informar mas a cozinha está vazia ainda. Esme foi ao supermercado, mas não sei quanto tempo vai demorar.
—Eu vou correndo até a loja então Seth fala terminando de descer as escadas em um pulo, mas Alice o bloqueia antes dele sair pela porta.
—A loja mais próxima fica a vinte minutos de carro Seth. Não tem como você correr e voltar antes de Esme chegar. Alice me soa aborrecida. Só posso imaginar que tenha algo haver com fato dela ter que limpar a sujeira dele. —Acho que vi alguns biscoitos em algum lugar.
Sigo Alice até a cozinha e mal posso acreditar que ontem aquele lugar tinha sido destruído.
—Como… deixo escapar minha surpresa ao ver o lugar impecável novamente.
—Arrumamos tudo ontem. Aquela mesa era madeira genuína e Emmett vai tentar salvá-la mas não tenho esperanças. Essa também é boa… Alice vai revirando os armários em busca de alguma comida. Ela abre a geladeira e sorri.
—Olha só Esme fez ahm… trinta e seis sanduíches para vocês. Alice carrega uma bandeja enorme de sanduíches até a mesa. —Bon Appétit.
Pego um dos sanduíches e começo a comer. Minha mão ainda lateja, mas a comida bate no ponto certo. Estava mais faminta que imaginava. Alice coloca um grande copo de água do meu lado.
—Como eu disse, Esme está fazendo compras. Só temos água por enquanto.
Agradeço Alice pela água e tomo um longo gole. Perder sangue dá sede. Penso enquanto tomo metade do copo sem nem piscar.
—Bem eu tenho que sair então vocês dois se comportem. Alice vai caminhando para fora da cozinha e olhando seu celular enquanto fala. —Especialmente você Seth. Ela fala apontando o dedo comprido na direção dele.
Seth não responde e nem olha para Alice.
—Te vejo mais tarde então. Ela fala saindo da cozinha. Ouço a porta da frente bater e depois só o silencio.
Empurro a bandeja na direção de Seth. —Esme preparou o suficiente para nós dois.
Seth não me responde e fica olhando a bandeja. —Você também está com fome não é? Me levando e sento do lado dele, lhe entregando um dos sanduíches. Ele me olha e parece que vai falar alguma coisa então empurro o pão na boca dele antes que ele possa fazer qualquer som.
Como até sentir meu estômago doer e relaxo na cadeira por um momento olhando para a cozinha.
—Você tinha que ter visto falo para Seth enquanto aponto para o espaço ao redor de nós. —Rosalie quebrou essa mesa em duas como se não fosse nada! Bam! Eu estava sentada bem ali perto da pia e mal consegui mexer. Esme foi arremessada para cima de uma das geladeiras e destruiu ela completamente, mas ela se levantou como se não fosse nada. A visão daquele lugar perfeitamente restaurado como se nada tinha acontecido era estranha demais. Tentei explicar para Seth a cena para que ele tenha pelo menos uma idéia de como aquele lugar pareceu para mim ontem.
Seth não falou nada e quando olhei para ele seu olhar para mim era duro e ele parecia assustado.
—Ahm… não foi tão ruim assim, quero dizer, foi tão rápido que eu mal vi o que realmente aconteceu. Além do que, não vai acontecer de novo então pode ficar tranquilo. Era óbvio que Seth sabia sobre os vampiros mas imaginei que ele já estava, bem, acostumado com isso. Mas ele parece ter… medo ou talvez não se sinta tão seguro com os Cullens quanto eu me sinto.
—Como você sabe? Ele pergunta. O olhar ainda rígido demais.
—Como eu sei o que?
—Que não vai acontecer novamente? Que você não vai se machucar novamente?
—Ahm… eu não sabia. Não tinha uma resposta para ele, mas eu sentia que ia ficar tudo bem. O mundo caiu na minha cabeça ontem e eu sobrevivi. Para mim era o suficiente. —Eu tenho um… bom pressentimento? Falo dando um sorriso amarelo. Seth não me responde de imediato.
—Você vai ficar aqui? Com os Cullens?
Eu balanço a cabeça que sim. Já tinha tomado minha decisão e francamente não poderia estar mais feliz com ela.
—Vou. Além do mais eu não tenho para onde ir. Você sabe, não é? Que eu não tenho memórias de quem eu sou.
Minha pergunta parece pegar Seth de surpresa. Eu tinha a impressão de que ele sabia de tudo, mas nunca achei relevante falar sobre isso. Se ele sabia sobre os Cullens serem vampiros é pouco provável que ele não saiba tudo sobre mim. Ele nunca perguntou sobre mim, sobre minha família. Mesmo depois das infinitas perguntas que fiz sobre a dele ele nunca pediu para ouvir minhas histórias.
—Está tudo bem. Falo quando ele não responde. —Eu tinha a impressão de que você sabia.
—Está brava comigo? Por não ter falado nada?
—Não.
—Você está brava comigo agora?
—Não.
—Então no que está pensando?
Olho para Seth e penso na pergunta dele. Não estou pensando em nada em particular. Olho ao redor da cozinha e de volta para ele.
—Estava pesando… a quanto tempo você sabe? Sobre os Cullens?
—Faz tanto tempo que mal me lembro. Ele responde. —Desde que nasci ouvi das pessoas a minha volta que os Cullens são diferentes. Não entendi exatamente até ver com meus próprios olhos.
—O que você viu? Pergunto interessada, mas receosa de que não vou gostar da resposta. Seth me olha por um longo momento, como se estivesse pensando bem na resposta que ia me dar.
—Não foi um dos Cullens. Foi outro. Eu o vi na cidade, há noite. Os olhos vermelhos brilhando enquanto bebia o sangue de uma mulher em um beco escuro.
—Vermelhos? Não achei que vampiros tivessem cor de olhos diferentes.
—É o que acontece quando eles bebem sangue humano. Os olhos ficam vermelhos e eles não conseguem controlar a sede.
—O que aconteceu? Com o… outro?
—Os Cullens o expulsaram da cidade. Vampiros geralmente andam sozinhos ou em grupos pequenos, exceto os Cullens. Ver um grupo tão grande de vampiros na cidade os afastou completamente.
Não consigo imaginar a criatura que Seth descreve como um vampiro semelhante a Esme e os outros. Na minha mente ele parece apenas um animal, sem forma humana. Lembro dos olhos de Rosalie naquela noite, negros e profundos me encarando.
—E se os olhos forem pretos? Pergunto sentindo um calafrio descer pela minha espinha.
—Então quer dizer que estão com fome. A resposta dele foi curta e direta e me acertou em cheio. Rosalie me atacou porque estava com fome. Ela queria beber meu sangue. Desvio o olhar para minha mão machucada e percebo quanto fui sortuda de sair dali sem nada mais que um arranhão.
Seth passa o braço nos meus ombros e me abraça. Talvez ele tenha sentido o tremor leve do meu corpo ou o medo nos meus olhos. Não tenho certeza de como devo reagir ao novo… ahm… hábito dele. Eu admito que não é exatamente desconfortável, mas é embaraçoso quando ele me abraça do nada assim. Talvez ele só precise de tempo para se acalmar. Eu sei que eu precisei. Mas é sufocante como ele me… vigia daquele jeito.
—Você vai ficar bem. Eu vou ter certeza disso. Esme me disse a mesma coisa. Eu me pergunto de quem eles acham que precisam me proteger. Seth disse que não há outros na cidade e Esme e os outros nunca me machucaram, não de propósito, então de quem ele está falando?
Vejo um carro se aproximando da casa pela janela da cozinha e me levanto indo em direção a porta de entrada. Esme está de volta!
Seth me segue é claro e Esme abre a porta com duas caixas enormes nas mãos e sacolas penduradas nos braços.
—Anne você acordou! Como está se sentindo? Esme fala com um tom de voz calmo, como se não estivesse carregado vinte quilos nas mãos.
—Estou bem. Deixa eu te ajudar com as sacolas. Agarro uma das sacolas das mãos dela, mas não acho que realmente estou aliviando o peso que ela tem que carregar. Olho para Seth e de volta para as caixas. Ele pega a caixa mais alta das mãos de Esme e a carrega para cozinha.
—Obrigado Seth. Esme fala enquanto caminhamos para colocar as compras sobre a ilha da cozinha.
—Anne, Alice falou que seu braço está doendo? Esme fala olhando para o relógio no pulso.
—Um pouco. Falo sentindo o latejo insistente do corte.
—Já está na hora de tomar outro comprimido. É melhor trocar o curativo também. Vamos, Carlisle deixou o kit de primeiro socorros na sala de TV.
Sigo Esme até o grande sofá na sala de TV e me sento. Ela tira uma caixa branca de dentro de um dos armários e se senta no chão na minha frente. Seth senta logo do meu lado e fica observando atento Esme tirar minha atadura.
O corte fica exposto novamente e a pele ao redor está avermelhada. Sinto o latejo mais forte agora sem a pressão das bandagens.
—Eu vou limpar o corte. Isso pode arder. Me preparo para a ardência e ela não decepciona. Agarro a borda do sofá tentando me distrair da dor. A queimação passa logo e eu posso respirar novamente.
Esme coloca novas bandagens e me dá mais três comprimidos iguais aos que tomei de manhã. Sei que eles vão me deixar sonolenta novamente e eu não quero dormir mais. Estou descansada o suficiente. Hesito enquanto giro os comprimidos na palma da mão.
—Algum problema? Seth pergunta notando que estou enrolando para tomar os remédios.
—Não… nada. Falo engolindo os pequenos comprimidos com um pouco de água. Eu posso resistir a um comprimido idiota.
—Tudo pronto. Eu vou arrumar as compras. Seth, posso falar com você? Esme sinaliza para Seth sair com ela da sala.
Abro os ouvidos, quase literalmente, tentando ouvir o que eles estavam falando, mas não escuto nada. O que Esme quer falar com ele? Provavelmente é a atitude dele. Seth não tem sido exatamente amigável com ninguém desde que chegou e eu não sei porque. Ele foi extremamente rude com Esme e Alice o dia todo e sinceramente ele não foi exatamente um raio de sol comigo, sempre me cercando, como se tivesse que vigiar o que estou fazendo a cada segundo.
Seth volta sozinho e senta do meu lado no sofá. Cutuco ele com o cotovelo e pergunto o que aconteceu.
—Ahm.. Esme queria me perguntar se Jake e os outros vão vir para a festa de natal. Eu disse que sim. Seth mente tão bem quanto eu. Não perguntei mais nada, apenas acenei com a cabeça. Se ele quisesse me falar já teria me contado.
Emmett sai de uma das portas que conectam a sala de TV com a garagem junto com Rosalie. Ele está coberto de sujeira, mas Rosalie parece impecável como sempre.
Seth se levanta com um pulo quando vê os dois. Não devia ter contato a história em tantos detalhes penso vendo o rosto assustado de Seth. Me levanto também e cumprimento eles primeiro.
—Emmett, Rosalie. Estavam na garagem? Rosalie está encarando Seth com uma cara nada boa.
—Estávamos tentando consertar a mesa, mas parece que não vai ter jeito. Emmett fala limpando as mãos manchadas de algo marrom com um pano velho. —Como está sua mão?
Sinto a mão de Seth no meu cotovelo me movendo para trás dele, mas me recuso a me mover.
—Está ótima. Talvez eu ganhe uma cicatriz legal. Falo rindo e abanando a mão. Os remédios já fazem efeito e o latejo doloroso se transformou em apenas uma leve pressão no meu punho.
—Legal. Emmett é a pessoa mais calma que já conheci. Ele não se abala nem por um momento com os olhares raivosos de Rosalie para Seth, que, a julgar pela aparência, querer sair de perto dela o mais rápido possível. Achei a história dele muito mais assustadora que a minha então porque parecesse que ele está apreensivo vendo Rosalie?
Emmett e Rosalie passam por nós e seguem escada acima. Seth ainda segue eles com os olhos até que toco seu ombro e ele olha par mim.
—Seth… está tudo bem? Você não tem que ter… medo da Rosalie. Ela…
—Eu não tenho medo dela! Seth fala alto o suficiente para me assustar. Eu dou alguns passos para longe dele. A respiração dele é pesada e ele parece… instável.
—Algum problema? Esme está parada na entrada da sala de TV olhando para mim e Seth. Não faço idéia de onde ela veio.
—Está tudo bem falo olhando para Esme e depois para Seth —não está? Seth parece estar se acalmando, mas a respiração dele ainda parece pesada.
—Talvez.. eu deva ir para o meu quarto. Seth fala sem olhar para mim e anda direto para fora da sala quase atropelando Esme. Ando atrás dele, mas Esme coloca a mão na minha frente me impedindo de segui-lo.
—Deixe ele sozinho por um momento. Ela fala olhando Seth subir as escadas até finalmente desaparecer dentro do corredor de quartos.
—O que aconteceu com ele? Pergunto sem entender o comportamento de Seth. Esme me olha como se eu tivesse falado a frase mais idiota do mundo.
—Você… você não vê? Esme fala como se a resposta para minha pergunta fosse tão obvia quanto o fato de que céu é azul. Dou de ombros olhando confusa para ela.
—Seth achou que nunca mais ia ter ver. Ele provavelmente achou que você tinha morrido Anne. Mas agora aqui está você viva e inteira, mas, na mente dele, você está literalmente dormindo com o inimigo e não parece sentir medo. Eu mal entendo como você está tão calma sobe tudo isso, imagina ele. Ele não quer te perder mas não sabe como te manter segura com você tão… confortável com o que aconteceu. Seth teve uma experiencia muito diferente da sua com vampiros. Talvez seja bom mostrar para ele que você entende a situação em que está e os riscos também. Ele só não quer perder a… a amiga dele.
Ouço as palavras de Esme cuidadosamente e, perceber o quanto elas fazem sentido me faz sentir uma idiota por não notar antes. Ele não estava com medo dos Cullens ele estava com medo por mim, pela minha escolha. Na minha mente ficar nessa casa me parecia a melhor das duas opções, mas isso é porque eu tenho uma… ligação especial com esse lugar. Mas como alguém vendo a situação pelo lado de fora, entendo como Seth acha que sou louca por decidir ficar. Até eu cheguei a achar o mesmo! Dormindo com o inimigo é a metáfora perfeita para essa situação. Para mim, tudo que eu quero é ficar ao lado de Esme, mas para Seth aquilo não deve fazer o menor sentido. Lembro da história de horror que ele me contou sobre o vampiro de olhos vermelhos. Ele já experimentou o medo de frente a um vampiro, mas eu só conheço os Cullens, a família gentil de vampiros que não consome sangue humano e ajuda garotas perdidas na floresta.
Seth é a única pessoa com quem eu falei livremente sobre bem… praticamente tudo que me incomoda ou apenas coisas sobre as quais estou curiosa. Se eu não ajudar ele no momento em que ele mais precisa que tipo de amiga eu seria?
Subo as escadas com calma e hesito por um momento na frente da porta dele. Talvez ele precise de mais tempo para pensar? Ou ele precisa de alguém para conversar? Se ele me pedir para ir embora então… Bato na porta e chamo o nome dele, ainda sem idéia do que vou falar.
Autor(a): purplehelebores
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).