Fanfics Brasil - Quem é você? Quando o Helébore Florescer

Fanfic: Quando o Helébore Florescer | Tema: Crepúsculo


Capítulo: Quem é você?

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Eu morri. É a primeira coisa que vem a minha mente quando recupero a consciência.  Imagens da noite anterior ainda dançam na minha mente. O rosto angélico, o frio cortando minha pele, a mão estendida para mim. Foi tudo bom demais para ser verdade. —Não, eu não morri. Ainda não.


Eu não morri, mas algo não estava certo. Meu corpo está leve e aquecido. Nada como a sensação cortante do frio que senti correndo sem rumo por aquela floresta assustadora. Eu podia sentir o toque dos lençóis sobre meus dedos, o travesseiro apoiado minha cabeça, o peso do cobertor sobre meu corpo. Tudo perfeito, não fosse a dor latejante na minha cabeça.


A dor é pulsante dentro do meu crânio e estraga o momento perfeito. Por fim, abro meus olhos. Não existia mais o momento de paz a ser preservado. A dor continuava a pulsar dentro do meu crânio como se minha cabeça fosse explodir.


Quando abro olhos a luz branca me cega por um momento. Cortinas delicadas  penduradas no teto parecem nuvens brancas passando pelo céu. As delicadas fitas brancas descem ao meu redor e refletem a luz do ambiente dando um tom angelical a cena. Minhas mãos acariciam o cobertor de leve e noto um peso extra sobre minha mão direita. Levanto o braço levemente e vejo uma tira branca de onde um longo tubo transparente vai subindo. Minha cabeça latejando num ritmo constante me distrai novamente. Pisco os olhos demoradamente e os abro para finalmente notar a presença dela. Ela está sentada do meu lado e quando percebe que estou consciente abre um sorriso largo e eu não consigo respirar.


Se sente melhor? Ela disse.


Nem mesmo o doce tom da voz dela impede que eu me sente rapidamente na cama. Minha cabeça gira violentamente e sinto meu estômago revirar. Coloco minhas mãos sobre meu rosto tentando não vomitar. Olho para ela novamente sem conseguir responder. A pálida luz da lua não fez justiça a beleza dela. Os cabelos ondulados, os olhos cor de avelã que fizeram minhas pernas fraquejarem, tudo ampliado mil vezes. Olho para ela por alguns segundos, observando, tentando por meus pensamentos no lugar. É ela. Quem é ela? As perguntas gritam na minha mente, mas tudo que eu consigo fazer é olhar de volta para ela sem dizer uma palavra.


Está sentindo dor?


É como se meu corpo estivesse congelado. Eu não entendo porque a presença dela me afeta assim. Seria a experiência quase morte da qual ela me salvou? Seria a aparência dela, tão angelical que era difícil acreditar que fosse humana?


Sem tirar os olhos dela, balanço a cabeça de leve e reúno alguma coragem para responder.


Não. Falo baixinho ignorando o latejo incessante na minha cabeça. Ela está falando comigo.


Depois que respondi ela abriu um largo sorriso que faz meu coração pular uma batida.


Ainda bem. Fiquei preocupada quando te vi ontem sozinha. Qual o seu nome? O que você estava fazendo na floresta?


Pisco algumas vezes tentando me concentrar. Levei alguns segundos para mover minha concentração daquele brilho que ela emitia para a primeira pergunta. Qual o meu nome? A pergunta fica flutuando na minha mente por um tempo: 


Meu nome? Oras... meu nome, meu nome…


Contudo, eu não consigo terminar a frase. Eu não sei meu nome. Procuro em cada canto da minha mente, mas não acho nada. A verdade me faz sentir gelada por dentro. Eu não faço ideia de qual é meu nome.


—Eu não sei. Respondo de cabeça baixa.


Sinto que minha cabeça vai explodir e tudo começa a girar novamente. Tento mais uma vez achar uma resposta para aquela pergunta tão trivial. Essa deveria ser a pergunta mais fácil do mundo de responder. A palavra que eu ouvi desde o dia em que nasci. A palavra que as pessoas usam para se referir a mim.


Ontem, na floresta, estava tão assustada que só pensava em fugir. Sobreviver era a prioridade. Nem por um momento questionei como cheguei ali. Porque não pensei nisso? Porque não questionei minha situação? Estava atordoada demais. Assustada demais. Procurei na minha mente qualquer lembrança antes de acordar naquela floresta, algo que pudesse me ajudar a lembrar meu nome ou qualquer outra coisa, mas minha mente era como um paredão preto. Absolutamente nada. Qualquer coisa antes de abrir os olhos naquele chão molhado, para mim, simplesmente não existe. 


Sinto o pânico no meu peito me sufocando. Levanto meu olhar e balanço a cabeça de leve. Ela percebe o pânico no meu olhar e sua expressão vai de alívio por eu ter acordado, para preocupação pela estranha entrando em pânico na casa dela.


—Calma ela diz colocando as mãos frias sobre as minhas, —Vai ficar tudo bem. Você passou por muita coisa ontem, se descansar mais um pouco vai conseguir se lembrar. 


Ela segura meus ombros e suavemente me deita na cama novamente, mas eu não volto a dormir. Minha cabeça lateja dolorosamente e eu não consigo me concentrar. Encaro a seda branca que cobre o teto da cama, tentando me lembrar de alguma coisa, qualquer coisa que possa me dizer quem sou, mas o paredão preto não se dissipa. Só as memórias mais recentes tocando em repeat na minha mente. Perguntas perfuram minha mente, mas novamente sem resposta. Finalmente não aguento mais a dor e fecho os olhos. Rapidamente, vencida pelo cansaço e frustração, caia no sono novamente.


Não sei por quanto tempo dormi. Quando senti minha consciência retornar a dor havia melhorado. Não sonhei, apenas apaguei, como uma lâmpada sem bateria. Abro meus olhos devagar esperando a luz me cegar novamente, mas o quarto está escuro. Demora alguns segundos para meus olhos se adaptarem e finalmente começo a enxergar graças a uma luz azulada que preenche de leve o quarto. 


Olho em volta e noto duas grandes janelas que deixam a luz da lua entrar e iluminar os objetos ao meu redor. Estou sozinha. As janelas a minha direita são emolduradas por delicados desenhos de folhas e flores encravados em uma moldura cor de madeira. Abaixo delas um sofá para dois com algumas almofadas, o local perfeito para sentar e apreciar as estrelas ou ler um livro numa tarde de verão. 


Um closet enorme a minha esquerda toma a maior parte da parede. Uma pequena figura oval, que emite uma luz verde artificial que forma as palavras ready, flutua silenciosamente na frente do closet. Eu me sento na cama para observar o lugar melhor. Alguns quadros pendurados nas paredes são a única decoração a vista. Fora a cama, extravagante demais na minha opinião, o quarto é bem simples e quase vazio. O pequeno relógio na cabeceira marca 3 e meia da manhã. Observo a data. Novembro. Por isso estava tão frio lá fora. Segundo o relógio, no quarto a temperatura era de agradáveis 24 graus Celsius, mas lá fora a chuva constante fazia a temperatura cair para 5 graus. Estremeci um pouco pensando que corri sei lá quantos metros, de maiô e na chuva naquela temperatura. É um milagre eu não ter morrido.


Não sei se foi a luz baixa ou o fato de finalmente minha cabeça ter parado de latejar, mas agora, sobre a luz da lua, meus pensamentos pareciam menos caóticos. Ainda não faço ideia de quem sou, mas não sinto como se fosse vomitar. Massageei as têmporas tentando pensar mais claramente. Nada. Não me lembro de absolutamente nada. Porque?!?? Sinto minha garganta se fechar e respiro fundo, controlando o pânico.


Tento adivinhar quais seriam os motivos de não me lembrar. Talvez eu tenha batido a cabeça ou sofrido um acidente. Automaticamente procuro por hematomas no meu corpo. Passo as mãos na cabeça tentando sentir algum ferimento, algum ponto onde a pele está esfolada ou dolorida ao toque, mas não sinto nada de mais. Passo minhas mãos pelos meus braços, pernas e pés. Meu corpo está cansado, mas não machucado. Nenhum indício de que a perda de memória foi causada por uma queda ou batida forte. Continuo a examinar meu corpo ate que sinto o toque frio do metal na base do meu pescoço. Não consigo enxergar o que é, mas me lembro da sensação de tê-lo tocado pela primeira vez na floresta. Algo metálico, como um anel costurado à roupa que vestia. É relativamente grande e eu podia sentir a pele nua do meu pescoço no centro do anel, mas ele não me machuca. Não sinto cicatrizes ou dor na pele fria que toca o metal.


Como posso ter perdido a memória sem ter sofrido sequer um arranhão? E todos aqueles galhos e pedras no chão ontem à noite? Nem um deles sequer arranhou meus pés?


Antes que minha mente entrasse no mesmo estado de pânico 3 vezes no mesmo dia respirei fundo 3 vezes. A cada respiração meu coração batia um pouco mais devagar.  Até que, finamente me acalmei. O relógio ao lado cama marca 5 horas. Olho automaticamente para a janela a minha direita esperando ver o nascer do sol, mas a névoa grossa não permite que a luz ilumine a floresta. A luz parece presa na névoa, sem conseguir escapar, apenas dançando na massa cinza. 


Não me levanto e fico encarando relógio. Cinco e meia, cinco e cinquenta, seis, seis e vinte, seis e quarenta, sete horas. No momento em que o número 7 aparecei no visor digital a porta do quarto desliza cuidadosamente para o lado e ela espia no quarto.


Ela entra devagar, como se não quisesse fazer barulho e me acordar. Quando me vê sentada na cama abre um sorriso e como da primeira vez, meu coração pula no peito.


—Bom Dia! Dormiu bem? Eu te acordei? Eu só queria saber se você estava bem.


Logo atrás dela uma pequena figura oval, não mais alta que os joelhos dela trazia uma bandeja elevada sobre seu corpo. Algumas frutas e dois copos, um como um líquido transparente e outro alaranjado. O pequeno robô parou bem ao lado da cama segurando a bandeja, imóvel.


—Eu não tinha certeza do que você gosta, então preparei algumas frutas, água e suco de laranja.


Eu ainda não consegui superar a presença dela. Ela parecia mais baixa do que quando a vi pela primeira vez. Um truque da minha mente cansada naquela noite fez ela parecer uma figura celestial, enorme e inalcançável. Agora ela se parece com um humano qualquer. Se não fosse a beleza e o sorriso de tirar o fôlego, ela seria quase… normal. 


Quem é ela? Penso olhando para a variedade de frutas na bandeja e depois olhando para ela sorrindo para mim. Será que devo aceitar? Está tudo bem confiar nela? 


Meu instinto diz que eu deveria ser cuidadosa. Por mais perfeita que ela pareça, eu não conheço essa pessoa. Confiar em alguém assim a primeira vista não é sábio ou seguro. Contudo, meu corpo, como um ímã, está sendo puxado na direção dela. Meu cérebro diz tenha cuidado, mas meu corpo diz vá até ela. Por fim decidi chegar a um meio-termo, ou foi a mentira que disse a mim mesma naquele momento. Na minha situação confiar nela é tudo que posso fazer. Não tenho para aonde ir. Ela é minha única esperança.


—Quem é você? A pergunta sai quase como um grunhido. Minha garganta está muito seca e é doloroso falar. Tive discussões sem fim dentro da minha mente, mas não cheguei a usar minha voz mais de uma vez desde que acordei. Ela rapidamente pega um dos copos na bandeja, o com água, e me entrega cuidadosamente. Bebo tudo de uma vez só. O líquido gelado e refrescante hidrata minha garganta e eu me sinto viva. Quando finalmente paro para respirar ela me responde:


—Meu nome é Esme Cullen.


Esme… O nome dela flutua na minha mente por um segundo. Um nome único, mas que combina com ela perfeitamente.


—E onde eu estou? Sentir a água correr pela minha garganta acorda meu corpo e estou me sentindo mais alerta. As perguntas fluem naturalmente pelos meus lábios.


—Você está em Forks, no estado de Washington querida.


A imagem do estado de Washington no mapa é clara na minha mente, mas não localizo a cidade. Washington é um dos estados onde o clima é frio e chuvoso mais da metade do ano, salvo alguns curtos dias de verão e céu claro. A névoa do lado de fora da janela e a chuva não vão parar tão cedo. Saber onde estou não faz diferença. Não sei se estou ou não longe de casa. Nem sei se nasci nesse estado. A informação não me ajuda em nada.


—Você se lembra de algo? Qualquer coisa? Ela, ou melhor, Esme me olha com um misto de preocupação e esperança. Preocupação pela minha situação e esperança de que eu me lembre de algo.


—Não, falo olhando para minhas mãos. Não consigo olhar para a decepção na expressão dela.


—Não se preocupe ela diz e eu sinto a cama se mover suavemente, me fazendo olhar para cima. Esme está sentada bem na minha frente agora. Os olhos cor de avelã me encarando de perto. As mãos dela segurando as minhas. O toque dela é frio, mas estranhamente reconfortante. —Vamos resolver isso. Eu vou ajudar você.


Ela tem um cheiro bom. Parece menta. Refrescante e doce. Olho para baixo e encaro as mãos dela sobre as minhas e sinto minhas dúvidas sobre ela sumir como uma vela se extinguindo lentamente. Eu me sinto agradecida por ser ela quem me achou naquele dia.


A sinceridade nas palavras dela faz meus olhos arderem. Esme está me ajudando por que ela quer. Ela sinceramente quer me ajudar e mesmo que meu cérebro ainda pedisse cautela eu não consigo evitar me apoiar nela nesse momento. Além disso, mesmo que ela estivesse mentindo eu não poderia dizer a diferença. Eu mal entendo o efeito dela em mim ou, porque meu corpo reage assim, só sei que quero acreditar nela. 


Balanço a cabeça para cima e para baixo devagar e respiro fundo. Tenho que falar algo, penso enquanto escolho palavras cuidadosamente. Quero agradecê-la, quero que ela saiba o quanto estou grata, mas não quero parecer… sabe… que estou desesperada? Ou esquisita. Ou dramática. Basicamente não quero soar como uma idiota. E seria possível soar normal nessa situação? Imagino as palavras na minha cabeça primeiro antes de falar. Agradecida, não louca ou desesperada. Observo as mãos de Esme nas minhas. Uma fina aliança no dedo anelar dela brilha sobre a luz. A frase Sra. Cullen me vem a mente. Ela é casada é claro. Como poderia morar sozinha nessa casa enorme? O diamante no anel reflete a luz um pouco mais forte que o metal, bonito e elegante. As palavras não são fáceis de achar e eu decido ser o mais direta possível ao invés de me enrolar toda com palavras demais ou de menos.


—Muito obrigado por ter me ajudado Sra. Cullen. Falo olhando nos olhos dela e tentando expressar minha gratidão com meu olhar ao invés de minhas palavras fracas e sem impacto. Minhas palavras soam tão tediosas na minha cabeça quanto em voz alta. Contanto que ela entenda que estou agradecida… pensei esperando a resposta dela.


Esme me olhou de volta, mas não sorriu ou me respondeu. Ela soltou minhas mãos e piscou algumas vezes como que sem saber o que responder. Será que ela se ofendeu? Pensei nas palavras novamente e não achei motivos para ela se sentir ofendida por elas, mas a expressão de Esme era confusa. As sobrancelhas juntas e a boca ligeiramente puxada distorciam o rosto bonito dela. Algo como um misto de preocupação, confusão e… tristeza?


Ela abriu a boca para falar algo, mas uma batida na porta a interrompe. Ambas olhamos para a porta e ouvimos uma voz feminina delicada vindo do outro lado.


—Ela acordou? Pergunta a voz.


—Sim Responde Esme. —Pode entrar Alice.


 


 



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Autor(a): purplehelebores

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Alice. Esse é o nome mulher que entra no quarto. Ela também desliza a porta cuidadosamente e espia dentro do quarto por um momento. Um sorriso enorme se abre quando ela encontra meus olhos. Ela tem os mesmos olhos dourados de Esme. A pele dela é branca como porcelana e longos cabelos pretos estão presos em um alto rabo de cavalo com apenas uma fra ...


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