Fanfics Brasil - Deja Vu Quando o Helébore Florescer

Fanfic: Quando o Helébore Florescer | Tema: Crepúsculo


Capítulo: Deja Vu

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No momento em que entro na sala a atenção de todos cai sobre mim. Todos aqueles olhos dourados me encarando faz com que meu corpo congele e minha cabeça fique em branco. Carlisle, Jasper e mais duas pessoas estão na sala de estar quando entramos. Sinto a mão de Esme apertando meu ombro de leve e respiro fundo.


Para minha sorte, ou não, não sou o centro das atenções por muito tempo. O silêncio fica desconfortável bem rápido e Carlisle trata de falar alguma coisa para melhorar o clima.


Vocês voltaram. Ele disse sorrindo. —Como foi o passeio? Se divertiu? ele faz a pergunta para mim.


Hum… O passeio foi... ótimo respondo mais calma do que realmente me sinto. O nervosismo me deixa sem reação, só estou parada sem sorrir ou me mexer. Todos estamos reunidos na sala de estar. Carlisle a nossa frente, e as outras duas pessoas perto do piano. Evito contato visual direto, mas meus olhos viram na direção deles a todo momento apenas para desviar o olhar mais uma vez.


Que bom. Carlisle diz estendendo o braço na direção das pessoas perto do piano. Ele aponta para um homem e uma mulher dizendo —Esses são Emmett e Rosalie.


E aí baixinha? Emmett diz sorrindo. Ele é um homem… robusto. Ele é pelo menos 10 centímetros mais alto do que eu e tem um sorriso largo no rosto. Emmett tem curtos  cabelos castanhos e os olhos cor de avelã da família Cullen. Ele não parece irritado ou incomodado em me ver, mas também não é super amigável como Alice. Ele é como Carlisle então, amigável mas distante. É um alívio que a maior e obviamente mais forte pessoa no cômodo não me vê como uma ameaça.


Já a mulher ao lado de Emmett não parece estar nada satisfeita em me ver. Ela dá passos lentos na minha direção até ficar bem na minha frente. Ela não é seu típico rostinho bonito. Dos pés à cabeça tudo nela parece perfeito. O cabelo loiro liso e comprido, os lábios rosados, os olhos dourados com um brilho fora do normal. Sinto minha confiança encolher até ficar do tamanho de um grão de feijão que se esconde diante do olhar frio dela. Em toda sua perfeição, a expressão no rosto dela parece destorcida e fora de lugar. Olhar de desprezo que ela me dá me faz suar. Ela me olha dos pés à cabeça com uma clara expressão de desaprovação no rosto, e não é só comigo. Ela olha assim para a mãe e para a irmã também.


Só pode ser brincadeira… Rosalie diz passando por mim e ficando de frente para Esme.


Como se fosse a minha deixa, Alice recebe um sinal no celular do carregador. As roupas já estão no quarto.


Ooookay, vamos lá pra cima Alice fala me empurrando de leve para longe de Esme e Rosalie em direção as escadas. Estou sem reação. Não sei como reagir a essa briga de família começando bem na minha frente.


Não aprendeu nada? Vai nos fazer passar por isso de novo? Rosalie fala desafiando Esme.


Rose… Esme fala encarando Rosalie. Alice e eu já começamos a subir as escadas, mas não consigo tirar os olhos da briga. Resisto o máximo que posso ao empurrões de Alice.


Eu não vou ver isso acontecer. Devolva ela para o lugar onde encontrou antes que cause mais problemas. Não vou deixar outra... outra... coisa nojenta como ela fazer isso conosco.


Rosalie aponta para mim quando fala “coisa”. O olhar dela é cheio de desprezo. Não sei o que ela ouviu sobre mim, mas não parece importar para ela. Ela só quer que eu saia da casa dela.


Alice me empurra pelos ombros tentando me apressar e eu tento me virar por um momento para pegar um último relance da discussão quando ouço um alto estalo vindo da sala de estar. Na verdade o barulho me parece tão alto que se houvessem vizinhos, eles teriam ouvido também. Alice para de me arrastar e assim como eu fica encarando, de boca aberta, a cena.


Esme bateu em Rosalie. Mais especificamente ela deu um tapa na cara dela, e pelo barulho, não foi suave. Rosalie fica surpresa, ela está com a mão no rosto e encarando Esme de olhos arregalados.


Peça desculpas, agora. Esme usa um tom de voz estranho para mim. A determinação e a raiva na voz dela... quase não dá para acreditar que é ela quem está falando.


Todos na sala estão tão surpresos quanto Rosalie. Acho que Esme nunca bateu nos filhos antes. Carlisle, Jasper e Emmett também estão parados, olhando a cena. Rosalie encara Esme por um momento e sai de perto dela batendo os pés até uma porta do outro lado da sala.


Assim que Rosalie bate a porta Alice acorda e volta a me empurrar escada acima em direção ao meu quarto, agora ela praticamente me levanta do chão e me carrega.


Já dentro do quarto Alice encara a porta fechada por alguns segundos antes de falar comigo. Ela tenta me convencer de que está tudo bem.


Não se preocupe com aquilo. Rose sempre teve um temperamento difícil. Não tem nada a ver com você, ela e Es... hã... ela e mamãe já estavam meio que brigadas antes de você chegar sabe? Alice abre o armário e o carrier coloca todas as sacolas no chão. Alice manda o robô para um canto do quarto e começa a abrir as sacolas.


Então, como você prefere organizar as roupas? Eu me sento na cama e fico encarando o chão. A voz de Alice é nada mais que um som abafado.


As compras de hoje parecem uma memória distante. Tudo que eu consigo ouvir é o barulho que o tapa de Esme fez. Ela bateu na própria filha. Porque? Eu já não conseguia ouvir meus pensamentos. Alice fica na minha frente e tocou meu ombro de leve.


Por que você não senta no chão, tira as etiquetas das roupas e eu coloco no armário? Tudo bem?


Concordo com ela com um aceno fraco e me sento no piso aquecido ao lado das várias sacolas de roupas e começo a tirar as etiquetas, uma por uma, e entregar as peças para Alice que as coloca no armário para serem separadas. 


Meu corpo está no quarto mas minha mente está no andar de baixo. O que será que aconteceu? estou preocupada em que termos Esme e Rosalie ficaram depois daquele tapa. Porque Esme bateu nela? Por uma estranha? Isso não faz sentido. Não importa o quão rude ela foi isso não se justifica. Sinto calafrios descendo pela minha espinha. Nada naquela situação faz sentido para mim, então tento listar fatos na minha mente.


Rosalie falou sobre “aprender” e “passar por isso de novo”. Será que eles já receberam alguém em uma situação parecida com a minha antes? O que será que essa pessoa fez? Roubou? Enganou eles? 


Quando os fatos não fazem sentido, entro em um estado de negação.


Seja o que for não tem nada haver comigo. Elas não brigaram por minha culpa, Alice disse que elas já estavam em maus termos antes de eu chegar. Se a briga não é por minha causa eu não tenho que fazer nada não é? Eles não me pediriam para ir embora se não é minha culpa não é? E Esme não pode me mandar embora. Ela prometeu me ajudar. Ela prometeu…


Sinto uma bola de basquete na minha garganta me engasgando. Meus olhos ardem e eu não consigo enxergar as roupas ou etiquetas no chão. Sinto gotas pingando na minha mão. Levo meus dedos ao rosto e sinto as lágrimas quentes rolando pela minha face. Eu não chorei nenhuma vez. Nem quando estava fugindo da morte certa naquela floresta, ou quando percebi que não tinha memórias. Ou quando Esme me abraçou pela primeira vez. Parece que todas as lágrimas que segurei até agora vieram como uma enchente de uma vez e eu não consigo segurar os soluços.


Alice está em silêncio. Talvez ela saiba que nada que ela disser vai ajudar. No momento em que as lágrimas se intensificam Esme abre a porta do quarto me fazendo levantar a cabeça e encontrar os olhos dela.


Ela só hesita por um momento antes de se sentar ao meu lado e me abraçar.


Está tudo bem, querida. Não é sua culpa. Eu não poderia te abandonar.


Quando Esme fala em voz alta a verdade por trás das minhas lágrimas o nó na minha garganta finalmente se desfaz. O que antes era um soluço sufocante agora é um rio de lágrimas incontrolável. Tudo que ela disse é verdade. Tentei me controlar todo esse tempo. Me convencendo de que chorar e gritar a plenos pulmões não ia resolver minha situação por isso deveria agir como uma adulta e ficar calma, mas a verdade é que essa situação era intensa demais desde o começo. Tenho tentado evitar que um gêiser de emoções exploda usando com uma toalha de papel e agora, finalmente tudo explodiu de uma vez na minha cara.


Todo o medo e o pânico. Eu não quero ficar sozinha novamente. Não quero voltar para o nada daquela floresta onde eu não podia confiar em nada, nem em mim mesma. Não quero ser abandonada em um posto policial a própria sorte cercada de estranhos me jogando de um lado para o outro como um fardo.


Eu preciso me sentir segura. Esme se tornou meu porto seguro. Minha corda guia de volta para a segurança. O motivo pelo qual não tinha desabado… até agora. A idéia de perder ela foi o dedo no gatilho que explodiu minhas emoções.


Me afundo no abraço de Esme como se quisesse preencher cada pequeno espaço que nos separa. Quero ficar o mais perto possível dela.


Não sei quanto tempo ficamos abraçadas até que eu finalmente paro de chorar. Esme acaricia meu cabelo de leve e não se move até que a cãibra nas minhas pernas é demais para mim e eu me levanto.


Está mais calma agora? Esme diz na voz doce dela se levantando comigo.


Hum… Respondo calma, mas com uma pergunta que ainda me incomoda na ponta da língua. Você pode falar o que está sentindo. A voz de Esme ecoa na minha mente.


Por que você fez aquilo? Eu pergunto olhando para o chão. Não tenho coragem de olhar nos olhos dela ou dizer claramente o que aquilo é.


Hum? Esme me olha confusa.


Com Rosalie. Por que… Mais uma vez não consigo completar a frase, mas eu preciso saber. Por que ela fez algo assim com a filha por uma estranha?


Esme levanta meu rosto. Os olhos dourados dela parecem enxergar dentro da minha mente.


O que ela disse foi desnecessário. Ela foi rude e egoísta, um comportamento que eu nunca aprovei, e hoje ela passou do limite.


Esme pega uma mecha do meu cabelo e coloca atrás da minha orelha antes de continuar.


Não foi só por sua causa. Rosalie tem… dificuldade de aceitar outras pessoas se aproximando da nossa família. Pode-se dizer que ela tem ciúme, mas eu sinto que é… cautela. Esse sentimento faz dela um pessoa reservada, que não sabe lidar com outras pessoas direito, por isso usa palavras duras e as vezes, que machucam. 


Esme suspira fundo e continua.


Alguns anos atrás, quando meu filho mais novo se casou ela também teve… dificuldade em aceitar a esposa dele na família. Elas não são exatamente melhores amigas agora, mas Rosalie aceitou ela. Ela só precisa de tempo. Você não pode ser julgada pela situação em que está agora e ninguém vai me fazer voltar atrás na promessa que eu te fiz. Eu vou te ajudar.


Esme não entrou em detalhes sobre o que Rosalie falou. Ela se desviou do assunto tentando explicar o lado dela. Eu entendo bem o lado dela. Eu mesma sinto que não aceitaria essa situação se fosse Rosalie, por isso me sinto ainda mais culpada pela briga que minha presença causou. Quero saber mais, mas não tenho o direito de perguntar algo tão pessoal para Esme.


Bem está ficando tarde Esme diz tentando me animar e deixar o clima mais confortável. —Por que não toma seu banho enquanto eu preparo alguma coisa para você comer?


—Hum… estou faminta. Esme me olha com o sorriso mais largo que eu já tinha visto.


Você sorriu!! Ela fala me abraçando novamente. 


Sinto os cantos da minha boca se esticando mais alto ouvindo a alegria dela. Nada mal para o primeiro sorriso penso feliz de ver ela feliz.


Esme sai do quarto aos pulos e eu preparo meu banho. Enquanto tomo banho, apesar de mais calma, ainda tenho muita coisa na cabeça. Esme está do meu lado, mas não tenho mais certeza sobre os outros. Não sei como encarar eles depois de tudo isso. Um tipo de barreira invisível se formou entre mim e eles. Sinto que talvez eu nunca mais me sinta confortável do lado deles. Eu não posso mais ser eu mesma na frente deles de agora. Acho que nunca poderia ter sido assim desde o começo. Afinal, eu não sei quem eu sou.


Esme trouxe comida para mim e para ela. Comemos no meu quarto. Falamos sobre as roupas, sobre o clima em Forks de agora em diante, sobre como ela tem uma estufa com flores que ela quer me mostrar, os hobbies dela, a tão esperada visita do filho mais novo para a festa de natal e muitas outras coisas. Naquele curto tempo com ela sorri, provavelmente mais do que sorri a vida inteira. Tenho certeza de que se me lembrasse encontraria outros momentos em que sorri, mas no meu mundo, nesse momento, esta noite é a mais feliz na minha memória.



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Autor(a): purplehelebores

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Assim que terminamos de jantar e Esme sai do quarto, escovo meus dentes enquanto observo meu rosto no espelho. Olho para cada detalhe do meu rosto. Minhas sobrancelhas, meu nariz, bochechas, lábios, queixo. Eu deveria reconhecer esse rosto, saber cada detalhe sobre ele, enxergar o rosto dos meus pais em cada curva, mas para mim aquele rosto no espelho ainda é e ...


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